A curiosidade de transar com o mesmo sexo

Ingerir bebida alcoólica aumenta a atração de homens que se dizem heterossexuais por mulheres, mas também por pessoas do mesmo sexo. É o que aponta um novo estudo, publicado no “Journal of Social Psychology”, feito nos EUA. Segundo a pesquisa, no caso do público feminino, apesar de haver uma maior abertura, a prevalência continuou sendo o interesse no sexo oposto.

Para chegar a esse resultado, as equipes da Wayne State University e da Western Illinois University, abordaram 83 universitários que se declaram heterossexuais em um bar, entre 22h e 1h, nos Estados Unidos. Os participantes – homens e mulheres – foram convidados a ver dois vídeos, de 40 segundos cada, sendo um com um ator atraente e outro com uma atriz igualmente charmosa, ambos bebendo num bar e conversando com o garçom.

Depois, todos tinham que responder a um questionário sobre quantas doses haviam ingerido até aquele momento, o quão atraentes eles achavam a pessoa no vídeo e o quanto estavam dispostos a realizar atos sexuais com ela. Quanto maior era o grau de embriaguez dos estudantes – conforme determinado por um bafômetro –, maior era a pontuação dada.

Com base nesses dados, os cientistas analisaram como a quantidade de álcool consumida estava relacionada ao interesse sexual no alvo e descobriram que os homens que haviam ingerido dez doses ou mais sentiram atração pelo ator do vídeo. Já os participantes que não tinham bebido nada não demonstravam nenhum interesse. Entre o público feminino, permaneceu a preferência pelo sexo oposto.

Por esse motivo, os pesquisadores acreditam que os homens declarados heterossexuais, sob efeito etílico, estavam propensos a ter relações sexuais com indivíduos do mesmo sexo na mesma proporção que com mulheres. “Isso sugere uma possível mudança no comportamento sexual casual normativo entre homens heterossexuais diante desse tipo de situação”, escreveram os autores no estudo.

De acordo com o psicólogo Daniel Saraiva, especialista em sexualidade, o consumo de álcool pode levar a comportamentos sexualmente fluidos e menos inibidos. “A influência do álcool em circuitos cerebrais específicos reduz nossas ansiedades e inibições em geral, levando-nos a considerar experimentar todos os tipos de coisas que normalmente não tentamos, sexualmente ou não. Em outras palavras, quando estamos bêbados, paramos de nos preocupar com o que ‘devemos’ fazer”, explica.

Para o especialista, há muito interesse e curiosidade por pessoas do mesmo sexo borbulhando sob a superfície em muitos homens que são reprimidos pelo contexto social. “Como há muito estigma associado à bissexualidade masculina, esses desejos permanecem ocultos na maior parte do tempo, ou seja, quando estão sóbrios”, afirma Saraiva.

Segundo o psicanalista Rubens Fonseca, os seres humanos são flexíveis em diversas formas, incluindo a sexualidade. “Existem pesquisas que buscam confirmar a fluidez da nossa sexualidade, ou seja, ela pode variar entre a hétero e a homoafetividade, tanto com homens quanto com mulheres. Fomos e somos doutrinados a regular a nossa sexualidade para seguir um padrão fixo e reto. Quando há o efeito do álcool no cérebro, ele simplesmente abre uma porta”, afirma.

Tecnologia e bebida são usados para encontros

De maneira discreta, o publicitário Rodrigo*, 28, que publicamente se declara como heterossexual, utiliza aplicativos de internet para conhecer outros homens há dois anos. Mas, para que o encontro dê certo, a bebida alcoólica deve fazer parte do roteiro. 

“Eu não consigo flertar com um cara se eu não tiver bebido alguma coisa antes. O álcool faz com que eu me sinta mais livre, sem medo das consequências”, afirma. Para Rodrigo, essa mesma dificuldade não se aplica na hora de paquerar as mulheres. “Eu já me comporto de um jeito automático e não tenho timidez na hora de abordar uma garota. Fiz isso a vida inteira”, conta. 

O rapaz diz que já tentou se relacionar com o mesmo sexo sóbrio, mas não teve êxito. “Encontrei com ele num bar e conversamos muito. Achei que, com o tempo, eu pudesse tomar a iniciativa, mas não deu”, diz. Rodrigo enfatiza que gosta mesmo é de mulheres. “Ter curiosidade de experimentar o outro lado de vez em quando não me torna homossexual. Mulheres ainda são a minha preferência”, garante.

Para o administrador de empresas Paulo*, 34, que afirma ser heterossexual publicamente, a bebida impede que ele se sinta culpado no dia seguinte. “Se passo a noite com outro homem depois de beber, vou me sentir bem lembrando daquilo. Porque já fiz sem ter bebido nada e não curti a experiência”, explica.

Paulo também prefere os aplicativos pela praticidade oferecida. “Se acho um cara atraente, começo a conversar e marco o encontro. Chego antes, bebo algumas doses para me soltar e, pronto. Faço tudo escondido, ninguém sabe, e me sinto bem assim”, diz.

* Nomes fictícios

A sexualidade e as diferentes formas de vivência das relações afetivas são aspectos da vida humana que despertam a curiosidade e geram polêmica em alguns grupos sociais. Para entender como o ser humano relaciona-se, é preciso conhecer os conceitos de orientação sexual e gênero, primeiramente.

Orientação Sexual

A orientação sexual é a atração ou ligação afetiva que se sente por outra pessoa. Indivíduos que gostam de outros do sexo oposto (homem que se interessa por mulher ou mulher que se interessa por homem) são chamados de heterossexuais (ou heteroafetivos).

Quando o interesse é por uma pessoa do mesmo sexo, a pessoa é denominada como homossexual (ou homoafetiva). No caso dos homens, são popularmente chamados de gays, enquanto as mulheres são conhecidas como lésbicas.

Existem as pessoas que sentem atração por homens e mulheres. Trata-se dos bissexuais (ou biafetivos). Há também os assexuais, indivíduos que não se interessam sexualmente ou de forma afetiva por nenhum gênero.

A orientação sexual (hétero, homo ou bi) não possui explicação científica e também não é uma escolha, por isso o termo “opção sexual” não é correto. A pessoa descobre-se ao longo de seu desenvolvimento e, a partir daí, tem noção de sua atração por um ou mais gêneros.

Outro termo que não deve ser utilizado é “homossexualismo” ou “bissexualismo”, já que o sufixo - ismo refere-se a doenças. A mudança na nomenclatura para o sufixo - dade, que significa vivência ou prática, foi estabelecida em 1993, após a Classificação Internacional de Doenças (CID) deixar de considerar as práticas homoafetivas como doenças.

O reconhecimento da homoafetividade como prática normal ligada à orientação sexual do ser humano sofre constantemente com o preconceito. Em 1999, gays, lésbicas e bissexuais ganharam uma importante luta: a proibição da realização de terapias curativas feitas por psicólogos, decisão tomada pelo Conselho Federal de Psicologia.

Gênero

Outro fator fundamental para entendermos as relações humanas e a forma como o ser humano define-se como “persona” é o gênero.

O gênero é o sexo (do ponto de vista físico) com o qual a pessoa nasce, ou seja, masculino e feminino. Há as exceções, como os hermafroditas (intersexo ou terceiro sexo), pessoas que possuem as duas genitálias ou sistemas reprodutores mistos.

No entanto, a forma como uma pessoa sente-se em relação ao próprio corpo e como ela define-se vão além do seu “sexo” de nascimento.

Identidade de Gênero

Apesar dos padrões heteronormativos da sociedade, existem as pessoas que não se identificam com o seu gênero. Os transgêneros são pessoas que nascem com um determinado “sexo”, mas se enxergam com o gênero oposto. Eles dividem-se em transexuais e travestis.

As travestis nascem com o corpo masculino, mas se identificam com a figura feminina. Com isso, elas optam por fazer modificações que vão desde o vestuário até o uso de hormônios, por exemplo. Apesar da identificação com o gênero oposto, as travestis reconhecem seu sexo de nascimento e costumam permanecer com a sua genitália masculina.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

As (os) transexuais, por sua vez, não conseguem conviver de forma saudável com o seu gênero, já que, do ponto de vista psicológico, essas pessoas sentem-se como se tivessem nascido em um corpo errado. As (os) trans fazem tratamentos hormonais para alcançar a aparência desejada, modificar a voz e, com a autorização psiquiátrica, realizam a mudança de sexo e outras intervenções cirúrgicas.

Vale lembrar que transgêneros costumam procurar atendimento especializado para que as mudanças possam ser feitas em seu corpo. Os acompanhamentos psiquiátrico e psicológico são fundamentais para que a pessoa tenha certeza de sua necessidade em encontrar o seu novo gênero.

Uma confusão muito comum é entre os conceitos de travesti e drag queen. As travestis são pessoas que levam a figura feminina para o seu dia a dia por identificação pessoal. Já as drag queens são artistas (homens ou mulheres) que se “montam” (cabelo, maquiagem, roupas e acessórios) com a intenção de divertir e expressar sua arte. Ser drag não está relacionado à orientação sexual, já que héteros também podem incorporar tais personagens.

Nomenclatura


Bandeira LGBT representa lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros

Desde 2008, o Brasil adota como nomenclatura oficial o termo LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros). O T da sigla representa as travestis e transexuais. Antigamente, era comum o uso da sigla GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes), mas as demais orientações eram excluídas e optou-se por uma reformulação dessa nomenclatura.

Outros países utilizam siglas diferentes, agregando o I ao LGBT para representar os intersexuais. Há, ainda, grupos representativos que acrescentam o Q para referir-se também aos chamados "queers", pessoas que não se limitam a nenhuma nomenclatura (binária ou não) e estão abertas a relacionarem-se com diferentes gêneros. Os queers vão além da sexualidade e da aparência física, eles discutem os papéis sociais de homens e mulheres e representam o desvio do que é condicionado pela sociedade conservadora.

Com a vasta quantidade de nomenclaturas, muitas dúvidas surgem sobre como se referir à pessoa, se deve-se usar ele, ela, o ou a. Por exemplo, o correto é falar “a” travesti, já que a figura social é feminina, a pessoa identifica-se como mulher. Já em relação ao transexual, o tratamento vai depender se o indivíduo identifica-se como homem ou mulher.

Novas nomenclaturas podem surgir nos próximos anos, o que mudará o que conhecemos atualmente. Independentemente de orientação sexual ou identidade de gênero, deve prevalecer o respeito ao indivíduo pela maneira como ele ou ela se identifica.

É normal sentir tesao por pessoas do mesmo sexo?

É comum podermos sentir-nos atraídos ou termos pensamentos sexuais sobre pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto. É uma forma de irmos descobrindo e pensando sobre os nossos sentimentos sexuais. Por isso, sentirmo-nos interessados por alguém do mesmo sexo não significa necessariamente que somos homossexuais.

Sou mulher e tenho tesao por mulheres?

Existem vários tipos de bissexuais e é comum existir desejo sexual, mas não amor real, ou seja, uma mulher pode ficar fisicamente atraída por outra mulher e ter relações sexuais, mas não irá ter uma relação de amor necessária para uma relação a longo prazo. Não há uma regra!

Como se relacionar com uma pessoa do mesmo sexo?

A atração por pessoas do mesmo sexo é vivida de acordo com um espectro de intensidade e não é sentida de igual forma por todas as pessoas. Alguns são atraídos por pessoas de ambos os sexos, e outros são atraídos exclusivamente por pessoas do mesmo sexo.

Como saber se você gosta de uma pessoa do mesmo sexo?

Certamente você não tem esse aspecto específico (atração pelo mesmo sexo). Mesmo sexo, a rigor, não existe. Cada pessoa constrói uma identidade sexual, cada pessoa nasce de um homem e de uma mulher, cada pessoa é única. O que você tem é necessidade (saudável) de dar sequência à sua caminhada sexual.

Toplist

Última postagem

Tag