Como explicar o que é crase?

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A crase, grosso modo, nada mais é do que a fusão de um "A" com outro "A". Trata-se, portanto, da fusão de dois sons iguais. Para ser mais exato, podemos dizer que a crase é um fenômeno linguístico de natureza fonética (assim como muitos outros fenômenos fonéticos). Lindo!

A CRASE E O ACENTO GRAVE

A crase é representada pelo "a" grafado com o acento grave ("à"). Portanto, não confunda: o nome do acento é acento grave, enquanto que o fenômeno da fusão ("a+a") é chamado de crase. É preciso tomar cuidado com isso. 

Repetindo mais uma vez: crase é um fenômeno linguístico (fusão de dois sons iguais) representado graficamente pelo "a" grafado com acento grave ("à"). Antigamente (mais de 100 anos atrás) quem cumpria esse papel era o acento agudo, mas hoje é o acento grave.

TRÊS COISAS FUNDAMENTAIS PARA ENTENDER A CRASE

Antes de partirmos direto para as regras de uso da crase, peço um pouco de paciência, pois é preciso que você entenda três coisas primeiro:

1) entender o que são preposições

2) entender o que é regência verbal

3) entender o que é combinação e contração de preposições

1) PREPOSIÇÕES são usadas para ligar palavras entre si (quando elas se juntam e formam frases, locuções etc). Exemplos de preposições: de, com, a, para, entre... 

Se eu juntar "eu + gostar + tomate", não posso dizer "eu gosto tomate", mas sim "eu gosto de tomate" (mentira, não gosto não!). Esse "de" é uma preposição usada para fazer a ligação entre o verbo e o seu complemento, pois o verbo "gostar" exige o uso da preposição "de". Ou seja:

2) Os VERBOS, ao serem usados nas frases, podem exigir o uso de preposições específicas. Estudamos isso num assunto chamado regência verbal. 

Por exemplo: o verbo "gostar" exige a preposição "de" (eu GOSTO DE pandas), o verbo "morar" exige a preposição "em" (eu MORO EM Pandalândia), o verbo "ir" exige a preposição "a" (eu VOU A Pandalândia) e o verbo "amar" não exige nenhuma preposição (eu AMO pandas, pois eles são bem tranquilos e legais).

3) Acontece que, depois da preposição, pode aparecer algum artigo ("o", "a", "os", "as", "um", "uma", "uns", "umas") ou então algum pronome demonstrativo ("esse", "este", "aquele" etc). Quando isso acontece, a preposição se une aos artigos e aos pronomes num processo de contração (quando as duas palavras originais sofrem alterações na nova palavra formada) ou combinação (quando duas palavras se mantêm juntas na nova palavra sem se alterarem, preservando suas sílabas). 

Veja, agora, os exemplos abaixo. Olha que coisa emocionante:

Eu moro em + essa cidade = eu moro nessa cidade (contração)

Eu vivo em + um apartamento = eu vivo num apartamento (contração)

Eu preciso de + a chave do carro = eu preciso da chave do carro (contração)

Eu vou a + o teatro = eu vou ao teatro (combinação)

Eu vou a + a praia = eu vou à praia (contração)

Eu gosto de + aquele livro = eu gosto daquele livro (contração)

Eu vivo em + aquele apartamento = eu vivo naquele apartamento (contração)

Eu vou a + aquela praia = eu vou àquela praia (contração)

Eu vou a + aquele bairro + eu vou àquele bairro (contração)

Como você pode ver, a crase nada mais é do que um caso de contração que ocorre, na maior parte das vezes, entre a preposição "a" e o artigo "a", ou então entre a preposição "a" e o "a" inicial dos pronomes "aquele", "aquela" ou "aquilo". Como não existe "aa", nós representamos essa fusão com o "a" grafado com o acento grave. 

Agora, SORRIA, pois veremos duas dicas importantes que nos ajudarão a resolver muitos casos envolvendo a crase!

DUAS DICAS FUNDAMENTAIS PARA O USO DA CRASE

 Dica 1: trocando pela palavra masculina 

Você já sabe que a crase corresponde à fusão da preposição "a" com o artigo "a". Portanto, a crase se comporta como a versão feminina do "ao" (a + o). Exemplo:

Vou a + o museu = vou ao museu. 

Vou a + a praia = vou àpraia.  

Portanto, nas situações em que usamos a combinação "ao" (a + o) diante de palavras masculinas, usamos "à" (a + a) diante de palavras femininas. É daí que vem a dica da troca: se você ficar em dúvida se deve usar a crase ou não numa frase, troque a palavra feminina por outra masculina. Se usamos "ao" diante da palavra masculina, usaremos a crase diante da palavra feminina.

Exemplo 1: será que existe crase em ELE DEU UM COELHO A MENINA

Troca: ELE DEU UM COELHO AO MENINO

Se nós escrevemos "ELE DEU UM COELHO AO MENINO", significa dizer que houve união entre a preposição "a" e o artigo "o" (a + o = ao). Portanto, se usarmos uma palavra feminina (que admite o artigo "a"), haverá a união entre a preposição "a" e o artigo "a". Ou seja: haverá crase (a + a = à)

Masculino: Deu um coelho ao menino (a + o = ao).
Feminino: Deu um coelho à menina (a + a = à).

Exemplo 2: será que devemos usar a crase em DEU UM COELHO A SENHORA

Troca: DEU UM COELHO AO SENHOR.

Portanto, usaremos crase:

Masculino: Deu um coelho ao senhor (a + o senhor).
Feminino: Deu um coelho à senhora (a + a senhora).

Esse coelho está meio diferente...

Exemplo 3: será que devemos usar a crase em  TENHA RESPEITO AS REGRAS?

Troca: TENHA RESPEITO AOS REGULAMENTOS

Usamos "ao" diante de "regulamentos", então usaremos a crase diante de "regras". 

Tenha respeito aos regulamentos.

Tenha respeito às regras.

Basta pensar em como ficaria a frase se usarmos uma palavra masculina para verificar se há combinação da preposição com o artigo.

Exemplo 4: será que devemos usar a crase em  VAMOS RESISTIR AS DIFICULDADES?

Troca: VAMOS RESISTIR AOS...

Usamos "resistir aos" ou "resistir ao" diante de qualquer palavra masculina. Sendo assim, devemos usar a crase diante da palavra feminina ("resistir às" ou "resistir à")

Vamos resistir às dificuldades, às guerras, à situação.

Vamos resistir aos problemas, ao caos, ao desafio. 

Exemplo 5: será que devemos usar a crase em  VAMOS RESISTIR A ESSAS DIFICULDADES?

Troca: VAMOS RESISTIR A ESSES...

Diante de alguma palavra masculina, usaremos "resistir a esses". Portanto, não usamos "ao", não há contração da preposição "a" com nenhuma palavra. Logo, se usarmos alguma palavra feminina, não usaremos crase (a preposição "a" ficará solta, sem se juntar a nenhuma palavra). 

Vamos resistir a essas dificuldades, a essas guerras, a essa situação.

Vamos resistir a esses problemas, a esse caos, a esse desafio. 

Exemplo 6: será que devemos usar a crase em  NÃO PODE VIAJAR DEVIDO A FALTA DE DINHEIRO?

Troca: NÃO PODE VIAJAR DEVIDO AO...

Nesse caso, usamos "ao" (a + o), portanto, usaremos a crase  (a + a) com palavras femininas ("devido à" ou "devido às").

Não pode viajar devido às dificuldades, à falta de dinheiro, à chuva,  

Não pode viajar devido aos problemas, ao pouco dinheiro, ao mau tempo, ao cancelamento do voo.

Portanto, quando tivermos, numa sentença, a combinação "ao" ou "aos" (diante de palavras masculinas), teremos a crase "à" ou "às" diante de palavras femininas (na mesma sentença). Caso contrário, a preposição "a" ficará sozinha (sem combinação, sem crase). 

Veja outros exemplos 

Deu continuidade ao estudo / às leituras (com crase)

Deu continuidade a vários estudos / a várias leituras (sem crase)

Ele é insensível ao problema / aos problemas / à situação / às situações (com crase)

Ele é insensível a esse problema / a esses problemas / a essa situação / a essas situações  (sem crase)

Ele se refere ao problema / à solução (com crase)

Ele se refere a um problema / a uma solução (sem crase)

Costumo ir aos museus da cidade / às praias da cidade (com crase)

Costumo ir a museus / a praias (sem crase)

Observação: existe uma diferença de sentido quando digo "vou aos museus" e "vou a museus". No segundo caso, estou indicando que "vou a museus" de uma forma genérica (serve qualquer museu em qualquer lugar), enquanto que, no primeiro caso, o uso do artigo "os" (que está combinado com a preposição "a") está especificando a palavra "museus" (ou seja: não vou a qualquer museu). O mesmo ocorre com "vou às praias" (sentido específico, ou seja: vou às praias de um determinado lugar) e "vou a praias" (sentido genérico).

 Dica 2: "vai e volta" 

Uma dúvida clássica diz respeito ao uso de crase com verbo indicando movimento (ir, viajar, voltar etc) para algum lugar (cidade, país, bairro etc). Com essa dica, usaremos a crase só se pudermos dizer "VOLTO DA".

Exemplos: 

Devemos usar crase em VOU À BAHIA porque dizemos "volto DA Bahia". 

Não devemos usar crase em VOU A SÃO PAULO porque dizemos "volto DE São Paulo".

A lógica da regra é a seguinte: se eu posso dizer "volto DA", então houve contração da preposição "de" com o artigo "a" (de + a). Portanto, nesse caso, haverá crase se eu utilizar verbos que exijam a preposição "a" (geralmente verbos de movimento). 

Estou em + a Bahia = estou na Bahia (em + a)

Gostou de + a Bahia = gosto da Bahia (de + a)

Vou a + a Bahia = vou à Bahia (a + a)

Como Bahia admite o artigo "a" (ex: "A Bahia é muito bonita"), então as preposições exigidas pelos verbos ("em", "de", "a") vão se unir com esse artigo, gerando contrações ("na", "da"), bem como a crase ("à"). 

Agora vamos a São Paulo:

Estou em + São Paulo = estou em São Paulo (prep. "em" fica sozinha)

Gosto de + São Paulo = gosto de São Paulo (prep. "de" fica sozinha)

Vou a + São Paulo = vou a São Paulo (sem crase, pois a prep. "a" fica sozinha)

Como "São Paulo" não admite artigo "a" (ninguém diz "A São Paulo é muito bonita", mas sim "São Paulo é muito bonita"), então a preposição exigida pelos verbos ("em", "de", "a" etc) ficarão sozinhas. Logo, não teremos crase, nem nenhum outro tipo de contração ou combinação, já que falta o artigo. 

Atenção (1)

Tenha cuidado: o nome de algum lugar pode admitir artigo se vier caracterizado com outras expressões. Veja, com cuidado, os exemplos abaixo:

Eu volto de São Paulo (a prep. "de" fica sozinha)

Eu vou a São Paulo (a prep "a" fica sozinha, sem crase)

Seja bem-vindo a São Paulo (a prep. "a" fica sozinha, sem crase)

Eu volto da bela São Paulo (volto de + a bela São Paulo)

Eu vou à bela São Paulo (vou a + a bela São Paulo)

Seja bem-vindo à bela São Paulo (bem-vindo a + a bela) 

Eu volto da São Paulo dos bandeirantes (volto de + a São Paulo dos bandeirantes)

Seja bem-vindo à São Paulo dos bandeirantes (bem-vindo a + a São Paulo dos bandeirantes)

Atenção (2)

Tenha cuidado: se trocarmos a preposição "a" pela preposição "para", não teremos crase, certo? Afinal, estaremos usando a preposição "para" no lugar da preposição "a". Veja:

Vou para + a Bahia = vou para a Bahia. 

Vou para + São Paulo = vou para São Paulo.

Vou a + a Bahia = vou à Bahia. 

Vou a + São Paulo = vou a São Paulo.

Depois de toda essa explicação, será muito melhor entender as regras de uso da crase. Vamos, agora, para o próximo post. Clique abaixo para continuar:

parte 2

O que é crase e dê um exemplo?

A crase é o fenômeno da contração da preposição "a" com o artigo feminino "a" e com certos pronomes cuja letra inicial também é o "a". O fenômeno da crase é indicado ortograficamente através do uso do acento grave. Exemplos: Gosto de comida à mineira.

Como saber se uma frase tem crase?

Uma boa dica para saber se deve ou não usar crase, é substituir a palavra feminina por uma masculina. Na frase "fui à feira", por exemplo. "Substitua 'feira' por 'supermercado'. Se o 'a' virar 'ao', o 'a' em questão tem que receber o acento grave.

Como aprender crase fácil?

Para identificar se a crase é necessária, uma das maneiras possíveis é trocar a palavra que acompanha o A por uma palavra masculina. Se o À se transformar em AO, significa que se trata da fusão entre uma preposição e um artigo. Se o A se mantiver mesmo ao lado de uma palavra masculina, ele não leva crase.

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