O que é cuidar do bem comum?

As pessoas, convivendo em sociedade, desejam alcançar metas comuns, desenvolver-se, melhorar. Ninguém se conforma em ver seu bairro, sua cidade, seu estado, seu país estagnado, apenas subsistindo ou mantendo seu momento presente. E apenas uma concepção abrangente de bem comum, de desenvolvimento humano e social – e que tem também uma inescapável dimensão ética – dá conta dessas expectativas. A expressão “bem comum” e algumas de suas variantes estão na letra da lei e na boca dos políticos; mais complicado é saber exatamente no que consiste esse bem comum.

Um equívoco frequente é o de associar o bem comum apenas à prosperidade material, com base na mera soma dos bens disponíveis que compõem uma sociedade – quase como se fôssemos usar o PIB per capita como critério para avaliar o bem comum. Como veremos, os bens materiais compõem, sim, o bem comum, mas são apenas uma parte dele – e nem mesmo a parte mais importante. Outro engano consiste em acreditar que o bem comum é “a felicidade do maior número de indivíduos”, como defendem os utilitaristas: essa mentalidade justificaria inclusive desrespeitos aos direitos básicos de alguns, se isso viesse a beneficiar um grupo maior. Isso talvez fosse o “bem da maioria”, mas não o “bem comum”. Este é um projeto coletivo que inclui a todos.

Um equívoco frequente é o de associar o bem comum apenas à prosperidade material

Excluindo algumas possibilidades, fica mais fácil definir o que é o bem comum. Ele é uma situação, um estado de coisas que facilita – ou pelo menos não dificulta – a cada indivíduo a possibilidade de perseguir, se assim o desejar, o próprio desenvolvimento integral (isto é, do caráter, profissional, econômico, social etc.) e sua realização por meio da busca da excelência.

E, infelizmente, são muitas as circunstâncias que dificultam o desenvolvimento integral de cada pessoa. Pensemos na ausência de referências morais e estéticas, no caos normativo e institucional, na insegurança jurídica ou naquela que deixa o cidadão temeroso de sair à rua, na indigência intelectual e científica, na desconfiança generalizada, na miséria que impede suas vítimas de se dedicar a qualquer outra coisa que não seja sua sobrevivência. A preocupação com o bem comum exige um combate sem trégua a essas situações.

Como o sentido da vida em sociedade deve ser o de proporcionar a cada um maiores chances de realização, o bem comum pressupõe uma série de valores imateriais – a presença de valores culturais e artísticos, um ambiente de paz e justiça, conhecimentos científicos e tecnológicos e um clima geral de estímulo pela busca da excelência – assim como bens materiais que tornam possível o desenvolvimento ancorado nesse clima e nesses valores.

A convicção de que as virtudes são o que há de mais valioso na vida humana é o melhor alicerce para se construir uma sociedade promissora

Nesse sentido, os primeiros têm uma evidente precedência. São mais importantes e são os que tornam realmente bem estruturada uma sociedade. Facilitam, por sua vez, o aumento paulatino e equilibrado da prosperidade material. E, dentre aqueles componentes imateriais do bem comum, parece-nos que o mais decisivo, o que teria maior impacto no bem-estar geral, seria a existência, na sociedade, de uma convicção amplamente difundida de que há uma excelência moral que deve ser perseguida; mais, que merece ser perseguida. Convicção amplamente difundida e, pelo menos, concretizada na vida de muitos cidadãos. A convicção de que as virtudes são o que há de mais valioso na vida humana é o melhor alicerce para se construir uma sociedade promissora.

O alcance de um elevado nível de bem comum não é, ao contrário do que poderia parecer a muitos, uma incumbência fundamentalmente do governo. O Estado tem um papel importante – sem ele, por exemplo, seria impossível construir o ambiente de paz e justiça que elencamos como valor importante para o bem comum –, mas os cidadãos e as organizações da sociedade civil, no seu conjunto, têm um impacto maior nesta tarefa. Se pensarmos na influência da família, das escolas, dos meios de comunicação, das artes; se pensarmos no valor que um exemplo de heroísmo no cotidiano de pessoas comuns pode ter, perceberemos facilmente a responsabilidade imensa que todos têm na construção do bem comum.

No dia 12 de julho de 2018 teve lugar no ISEG – Instituto Superior de Economia e Gestão, em Lisboa, o Seminário Cuidar dos Bens Comuns para o Bem Comum, com destaque ao tema “Desafios políticos e experiências educativas na relação entre Ecologia e Desenvolvimento”. A iniciativa foi promovida pela FGS – Fundação Gonçalo da Silveira em conjunto com a Associação Casa Velha, parceiras no projeto Uma Ca(u)sa Comum: Educar para a Cidadania Global pela Ecologia Integral.

Os objetivos deste evento foram:

  1. Promover o conhecimento e a reflexão sobre os Bens Comuns e a sua ligação à promoção de um Bem Comum universal, a partir da discussão e problematização do papel dos modelos económico e educativo vigentes.
  2. Reforçar o trabalho colaborativo e o compromisso entre atores de diferentes naturezas na promoção do Bem Comum.
  3. Discutir o papel da Educação enquanto instrumento determinante de transformação social para o Bem Comum e de compreensão das causas e consequências dos problemas ecológicos, sociais, económicos e culturais, a nível global.

Contaram-se 122 pessoas presentes, que durante o dia participaram com entusiasmo e interesse. Na parte da manhã, após a sessão de abertura pelo CESA e uma breve apresentação das atividades desenvolvidas ao longo de dois anos do projeto Uma Ca(u)sa Comum, tivemos a intervenção de Riccardo Petrella (economista e politólogo italiano), que trouxe um importante contributo para aprofundar o tema Bens Comuns para o Bem Comum; a que se seguiu a apresentação do recurso pedagógico Caderno de viagem: Itinerários pedagógicos para Educar para a Ecologia Integral pela Cidadania Global, pelo grupo de educadores/as que nele trabalharam.

Durante a tarde, a dinâmica foi outra, os/as participantes dividiram-se por duas oficinas temáticas simultâneas sobre Experiências mobilizadoras para a transformação social e o Bem Comum: o quê, porquê e como?. A partir das práticas/experiências concretas de cada pessoa, identificaram-se em coletivo pontos-chave que tornam as experiências “mobilizadoras” com vista à transformação social e ao Bem Comum.

Terminámos o dia em plenário, com a apresentação do processo e dos resultados do caminho conjunto entre Organizações da Sociedade Civil do Ambiente e de Desenvolvimento, realizado ao longo do projeto e do qual resultou a construção do documento conjunto “Cuidar Juntos da Ca(u)sa Comum”.

Este Seminário marcou o fecho do projeto Uma Ca(u)sa Comum: educar para a Cidadania Global pela Ecologia Integral e foi realizado com o cofinanciamento do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua I.P. e o apoio do CESA.

A equipa do projeto agradece a participação de todos/as.

Nesta página poderão encontrar mais informações e materiais sobre este seminário, o projeto e o tema abordados.

O que é o cuidado com o bem comum?

7) Conceito de Bem Comum Ou seja, o bem da comunidade é o bem do próprio indivíduo que a compõe. O indivíduo deseja o bem da comunidade, na medida em que ele representa o seu próprio bem. Assim, o bem dos demais não é alheio ao bem próprio.

O que é considerado bem comum?

Bem comum é uma expressão que se refere a vários conceitos da filosofia, teologia, sociologia e ciência política. No sentido popular, descreve o conjunto de benefícios compartilhados por todos os membros (ou a maioria) de uma dada comunidade. Esta é também a forma como o bem, no seu conjunto, é amplamente definido.

O que é bem comum exemplos?

Os exemplos mais conhecidos de bens comuns estão na natureza: ar, água, terra, florestas e biodiversidade. Eles também podem ser sociais, intelectuais e culturais: por exemplo, sistemas de saúde e educação, conhecimento, tecnologia, a internet, literatura e música.

O que é trabalhar para o bem comum?

O que significa que trabalhamos pelo bem comum. O respeito e a aceitação das diferenças nos torna construtores de paz e harmonia em todos os lugares onde vivemos. A nossa relação saudável com o meio ambiente ajuda na construção de uma sociedade sustentável, no presente e no futuro.

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