O que significa o gesto dos Panteras Negras?

Centenas de pessoas se reuniram, na tarde desta quarta-feira (20), no vão-livre do Masp para participar da 16ª Marcha da Consciência Negra.

Organizada por entidades sociais, a manifestação seguiu até a região do Theatro Municipal, no centro. O tema desta edição foi “Vida, Liberdade e Futuro. Contra o Genocídio e Criminalização do Povo Negro”.

Em frente ao museu, os participantes criticaram as gestões do prefeito Bruno Covas e do governador de São Paulo João Doria, ambos do PSDB. Também fizeram coro contra o pacote anticrime, um dos projetos do ministro Sergio Moro (Justiça).

Entre os participantes está o Bloco Anti-cárcere, que denuncia o alto índice de encarceramento de negros pobres no Brasil. “A prisão desde seu surgimento cumpre a função de castigo e tortura sobre o povo preto”, segundo trecho do manifesto do grupo.

O evento integra a programação do feriado da Consciência Negra. O dia foi escolhido porque os registros históricos atribuem como o mesmo da morte de Zumbi dos Palmares, um dos líderes mais célebres contra a escravidão no Brasil.

No ensaio fotográfico realizado pela Folha, os participantes da marcha reproduziram o gesto consagrado pelo movimento dos Panteras Negras nos Jogos Olímpicos de 1968 (México) – com braço erguido e a mão fechada.

O grupo ficou mundialmente conhecido por combater a discriminação racial nos Estados Unidos na década de 1960 e é referência ainda hoje na luta pela inserção da população negra na sociedade.

PROGRAMAÇÃO

Uma série de programações que lembram a Consciência Negra, desde as públicas, promovidas pela prefeitura e pelo governo do estado de São Paulo, até as independentes, como a Feira Preta e o Fórum de Performance Negra, tomam conta da capital paulista.

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No meio de tantas atrações, destacam-se shows com nomes como Luedji Luna, Rincon Sapiência, Baco Exu do Blues, Karol Conka e Jorge Ben Jor, peças que questionam o sistema judicial brasileiro e narram mitos africanos, e ainda a nova temporada do musical “Elza”.

Célebres figuras embranquecidas pela história também ganham espaço, como no caso da feira de literatura e cultura afro-americana FlinkSampa, que homenageia um dos escritores e romancistas brasileiros mais conhecidos no mundo, Machado de Assis.

Ainda há atividades voltadas ao público infantil, com musical que acompanha a trajetória de Milton Nascimento, da juventude ao estrelato, e oficina de grafite inspirada no trabalho do artista americano Jean-Michel Basquiat.

Corredores Carlos e Smith erguem o punho nas Olimpíadas do México -Time-Life

Há 50 anos, no dia 16 de outubro de 1968, o gesto de dois atletas negros norte-americanos repercutia no mundo inteiro como um protesto contra a discriminação e ausência direitos civis para todos nos Estados Unidos.

Naquele dia, os corredores John Carlos (ouro) e Tommie Smith (bronze), após receberem suas medalhas ao correrem 200 metros nas Olimpíadas do México, abaixaram a cabeça e ergueram, cada um, uma mão vestida com uma luva preta e com essa mão cerrada em punho ouviram o hino dos Estados Unidos com todo o estádio em um silêncio – que pelo significado do gesto dos atletas – era ensurdecedor.

Naquele ano, poucos meses antes, o maior líder da luta pelos direitos civis dos negros norte-americanos, Martin Luther King fora assinado com um tiro de fuzil.

As manifestações contra a guerra do Vietnã espocavam nas universidades de costa a costa dos Estados Unidos. Outro líder da consciência negra, o campeão mundial dos pesos pesados, Muhammad Ali (Cassius Clay), tivera seu título confiscado por se negar a atender ao alistamento para servir à agressão norte-americana no Vietnã.

O gesto de Carlos e Smith era o mesmo dos militantes do recém-criado Partido dos Panteras Negras que massificava a luta pelos direitos civis agregando ao repúdio às degradas condições de vida nos bairros populares de maioria negra e ao encarceramento em massa de negros, além de toda sorte de discriminação, incluindo a violência policial contra os negros nas principais cidades norte-americanas.

Para simbolizar o protesto contra “a pobreza a que os negros são relegados na sociedade

racista norte-americana”, os dois atletas subiram ao pódio apenas de meias. Carlos usava também um lenço negro em torno do pescoço para simbolizar o “orgulho negro”.

A Convenção do Partido Democrata em Chicago, no mês de agosto, marcada pelo assassinato de Bob Kennedy, foi invadida por manifestantes que os acusavam de participarem da agressão ao Vietnã. Cerca de 15 mil manifestantes cercaram o local da Convenção com muitos conseguindo entrar no anfiteatro. Houve um debate e a continuação da agressão ao Vietnã foi majoritariamente apoiada pelos delegados. À noite a cidade ficou conflagrada. Entre os presos, o líder dos Panteras Negras, Bobby Seale, foi depois levado a julgamento e, acusado de incitamento, sentenciado a quarto anos de prisão.

Harry Edwards, autor do livro The Revolt of the Black Athlete (A revolta do atleta negro) era à época o organizador do Projeto Olímpico pelos Direitos Humanos. Em um primeiro momento, Edwards tentou organizar um boicote dos atletas negros à Olimpíada em protesto contra a discriminação racial. Dentro da concepção dele, tratava-se de mostrar a preocupação por suas comunidades e o compromisso mais amplo com o movimento pelos direitos civis.

Entre as reivindicações da organização de Edwards estavam a devolução do título a Muhammad Ali e o banimento dos regimes de apartheid vigentes então: África do Sul e Rodésia (hoje Zimbábwe) e ainda a demissão de Avery Brundage como chefe do Comitê Olímpico Internacional, criticado por seu passado de supremacista branco e que usou o símbolo nazista como saudação nas Olimpíadas de 1936, em Berlim, já sob ditadura hitlerista.

Smith e Carlos já haviam programado não aceitar receber as medalhas caso Brundage fosse o indicado para entregar-lhes as medalhas.

Enquanto alguns atletas negros de basquete aceitaram o boicote, os de atletismo decidiram fazer demonstrações ao receberem medalhas.

Eles foram criticados pela atitude diante do hino e da bandeira norte-americana mas Carlos respondeu que “quando eu ganho uma medalha, sou americano, não um negro americano. Mas se fizesse qualquer coisa errada já seria qualificado como ‘Negro’. O fato é que nós somos negros e somos orgulhos de sermos negros. A América Negra vai entender o que nós fizemos hoje”.

Como resultado do seu gesto, Smith e Carlos foram suspensos da condição de atletas do país pelo Comitê Olímpico dos Estados Unidos devido ao que eles consideraram “por aberta desconsideração aos princípios olímpicos” e, dirigindo-se ao Comitê Organizacional do México, pediu “desculpas pela descortesia e comportamento imaturo” dos atletas.

Carlos conta que “durante alguns instantes o silêncio foi tão grande “que se podia ouvir uma gia mijando sobre algodão. Me senti no olho de um furacão”.

“Logo depois começaram as vaias. Depois vieram os xingamentos: Vá pra África, Negro!”, conta o corredor.

Nos anos imediatamente depois do protesto, ele trabalhou como segurança em um bar noturno e também como zelador. Em um ponto teve que destruir móveis para aquecer a casa. A pressão sobre a família pela imprensa era grande. Seus filhos eram assediados na escola, diziam que o pai era um traidor. “O casamento entrou em colapso”, diz Carlos.

Com o tempo, a perseguição foi passando e, ele foi gradualmente convidado de volta para trabalhar com o atletismo. Tornou-se coordenador do Comitê Organizador em vistas às Olimpíadas de Los Angeles de 1984, e trabalhou para o próprio Comitê Olímpico norte-americano.

Estes dias, os atletas são considerados heróis e há uma estátua deles na Universidade do Estado de San Jose, onde eles estudaram e começaram a vida de atletas.

O que a pantera negra representa?

Os Panteras Negras foram um partido político norte-americano surgido em defesa da comunidade afro-americana. Esse partido originou-se, a princípio, como um grupo voltado ao combate contra a violência policial contra os negros durante a década de 1960, no contexto do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos.

Qual o papel do movimento Pantera Negra no contexto do filme e no contexto Sócio

Os Panteras Negras conseguiram grande visibilidade no cenário nacional e foram fundamentais para a manutenção da luta política pelos direitos civis, mesmo depois da “Lei de Direitos Civis”, promulgada no governo do presidente Lyndon Baines Johnson, em 1964.

Em qual Olimpíadas foi homenageado o movimento Pantera Negra?

Não há maneira mais adequada de entender o fenômeno de união do esporte com os problemas do cotidiano do que enxergá-lo a partir da mãe de todos os protestos — a dos atletas que, na cerimônia de premiação dos 200 metros rasos na Olimpíada de 1968, na Cidade do México, ergueram os punhos, ao modo dos Panteras Negras ...

Onde assistir Panteras Negras?

Está disponível, na Netflix, o documentário “Os Panteras Negras: Vanguarda da Revolução”.

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