Quais eram as ideias de Policarpo Quaresma?

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Lima Barreto não conheceu notoriedade em vida. Foi preciso que o tempo lhe fizesse justiça. Triste Fim de Policarpo Quaresma, sua obra mais famosa, publicada em forma de folhetim (1911) e depois em livro (1915), se consolidou como um clássico porque nasceu de um lance de gênio e traduziu os impasses do Brasil de seu tempo.

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No romance, o major Policarpo Quaresma vive de idealismos nacionalistas. A primeira parte relata sua vida como um funcionário público que vive em seu gabinete cercado de livros, alimentando uma imagem distorcida do país; a segunda, como proprietário rural, em que percebe que as terras brasileiras não eram férteis como imaginava e que as saúvas são arrasadoras para as plantações; e a terceira, como soldado voluntário na Revolta da Armada, em 1893, quando se decepciona – em capítulo antológico – com o seu idealizado marechal Floriano Peixoto. Ao criticá-lo, é preso. Quando Quaresma se dá conta da própria postura quixotesca, está prestes a ser executado pelo Exército. Ele queria basicamente três reformas: da cultura, da agricultura e da política, mas não consegue nenhuma. Seu sonho mais singular foi oficializar o tupi-guarani como idioma brasileiro.

Certas desventuras e desencantos do protagonista poderiam até ser vistos como os do próprio autor, mas seu brilhantismo nesse romance específico passa ao largo da autobiografia. Lima Barreto nasceu em 1881, no Rio de Janeiro, cidade onde faleceu em 1922. Filho de mestiços, carregou problemas ao longo da vida. Além do preconceito racial de que foi vítima, ficou órfão de mãe aos 7 anos e mais tarde viu o pai enlouquecer; tendo de amparar a família, não conseguiu terminar o curso na Escola Politécnica.

Enfrentou depressão e alcoolismo e foi internado duas vezes no Hospício Nacional. As motivações ficcionais de Barreto deveram-se antes a um intelectual combativo que, também marginalizado no meio literário, expressava as contradições de uma sociedade que ainda vivia a transição da monarquia para a república. A ironia do escritor levou parte da crítica a aproximá-lo de Machado de Assis no retrato sarcástico desse momento histórico.

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Triste Fim de Policarpo Quaresma se insere no pré-modernismo brasileiro pela forma e temas que desenvolve. A rejeição de Barreto ao eruditismo e ao rebuscamento estilístico se explica como uma postura de oposição à chamada elite literária; com isso, seu coloquialismo antecipava características modernistas. A “apresentação pitoresca de costumes”, como aponta Antonio Candido, se filia também ao humor que a Semana de 22 defenderia.

Segundo ainda esse crítico, as obras de Lima Barreto são dirigidas contra o pedantismo, a falsa ciência, as aparências hipócritas da ideologia oficial. Exemplar desses temas é seu famoso conto O Homem que Sabia Javanês (1916). Escreveu também os romances Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909), Numa e a Ninfa (1915), Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919), Os Bruzundangas (1922), o livro de contos Histórias e Sonhos (1953) e o de memórias O Cemitério dos Vivos (1953), sobre sua passagem pelo hospício. Colaborou intensamente na imprensa com crônicas e artigos em que tratou impiedosamente da cultura, da política e dos costumes do Rio de Janeiro.

Título: Triste Fim de Policarpo Quaresma
Autor: Lima Barreto

Este texto faz parte do especial “100 Livros Essenciais da Literatura Brasileira”, publicado em 2009 pela revista Bravo!

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  • Lima Barreto
  • Literatura

O escritor Lima Barreto é um injustiçado. Um triste visionário, na percepção de recente biografia lançada pela historiadora e antropóloga Lilia Maria Schwartz. Que livro! Lima Barreto era um homem do trópico com alguma coisa de russo dos gelos em sua vocação para escrever romances ao mesmo tempo sociais e introspectivos, na alusão de Gilberto Freyre, um insuspeito, para esse tipo de assunto. Lima Barreto viveu em contexto de frustração, de falta de reconhecimento, de preconceito racial, situações existenciais que talvez o induziram ao alcoolismo, que o levou à morte, no mesmo hospital onde seu pai estava internado, pela mesma razão, morrendo os dois — pai e filho — com a distância de alguns dias. Na verdade, pode-se pensar no triste fim de Lima Barreto. Muito triste.

O Triste Fim de Policarpo Quaresma é provavelmente seu livro mais conhecido. Penso que o Policarpo é um Dom Quixote nacional. O Policarpo era um idealista, acreditava no país. Porém, não se dava conta de que tudo e de que todos desdenhavam qualquer projeto nacional sério e genuíno. Era um nacionalista diferente de alguns que há hoje, e que por vezes assumem um nacionalismo de intimidação e de desconsideração para com a ciência e para com qualquer pensamento mais sério.

O nacionalismo era um traço da personalidade do Policarpo, enquanto muitos hoje se dizem nacionalistas, em vários lugares do mundo, justamente por uma completa ausência de resquícios de personalidade. É um nacionalismo tampão. Um nacionalismo bovino, ao qual o Policarpo opunha um nacionalismo de ação e de esperança, ainda que muitas vezes exagerado, a exemplo do esforço para que o tupi fosse a língua nacional, em substituição ao português falado no Brasil.

O nacionalismo do Policarpo era honesto, por vezes ingênuo, mas sempre comprometido com a busca de soluções factíveis e razoáveis para o enfrentamento de nossos problemas. Era um nacionalismo marcado pelo afeto e pela esperança. Não pregava a violência, e nem propagava a ignorância. Pelo contrário, indignava-se com a guerra interna. E estudou com afinco, sempre, alternativas para saúvas, péssimas colheitas, fome e miséria. O Policarpo lia, e lia muito, e entendia o que lia. O problema é que não havia como transformar tanta leitura em realidade. É o eterno problema dos quixotes.

Lima Barreto opôs com o Policarpo as propostas formalistas e europeizantes da época, centradas em autores como Gustavo Barroso, Alberto Torres e Coelho Neto. Queriam fazer do Brasil um apêndice da Europa. É a velha imagem do índio de Alencar, para quem um índio poderia ser um europeu de tacape e sunga. Nacionalismo, patriotismo, eleições a bico de pena, loucura, bacharelismo, preconceito, burocracia e injustiça são os temas centrais do Triste fim de Policarpo Quaresma.

Segundo Lima Barreto, a biblioteca do Policarpo assentava-se em estantes de ferro, perto de 10, com quatro prateleiras. Havia também pequenas prateleiras, para os livros menores. Era mais do que uma coleção de livros. Era uma homenagem ao país no qual acreditava. Na sessão de livros de ficção e de poesia o Policarpo reunia apenas autores nacionais ou reconhecidamente brasileiros: Bento Teixeira (Prosopopeia), Gregório de Matos, Basílio da Gama, Santa Rita Durão, Joaquim Manoel de Macedo, Gonçalves Dias.

O Policarpo tinha todos os livros do José de Alencar, que foi quem nos explicou o Brasil, do índio ao gaúcho, no singular mesmo. Quem entende do José de Alencar é o Lira Neto, seu grande biógrafo contemporâneo (O Inimigo do Rei). Na biblioteca do Policarpo tinha-se o cânone bem comportado de uma literatura bem comportada que descrevia o Brasil bem comportadamente, com exceção do Gregório de Matos, o boca do inferno, talvez. Quem entende do Gregório de Matos é Ana Miranda, que nos deixou um delicioso romance histórico centrado nessa figura que misturava o diabólico com o serafínico, se possível essa conformação. Não havia livros do Padre Vieira na biblioteca do Policarpo. Quem entende do Padre Vieira é o Alcir Pécora (Teatro do Sacramento), um estudo essencial sobre a unidade teológico-retórico-política do grande sermonista.

A sessão de História do Brasil era completa. Havia todos os cronistas que de algum modo explicaram as singularidades de nossa terra. Estavam todos: Gabriel Soares, Pero de Magalhães Gandavo, Frei Vicente do Salvador, Armitage, o Padre Manoel Aires do Casal, Pereira da Silva, Handelmann (um alemão que escreveu nossa história, Geschichte von Brasilien), Melo Morais, Capistrano de Abreu (o cearense não poderia faltar), Southey, Varnhagen. O Policarpo lia em línguas estrangeiras também.

O Policarpo também colecionou (e leu) os viajantes que descreveram o Brasil. Havia nessa sessão o Hans Staden (o alemão que quase foi engolido pelos índios), o Jean de Léry, o Saint-Hilaire, o Martius, o Príncipe de Neuwied, o John Mawe, o von Eschwege, o Agassiz, Couto de Magalhães. E havia ainda Darwin (que esteve no Brasil e que se horrorizou com a escravidão), Freycinet, Cook e Bougainville. Lima Barreto nos conta que o Policarpo também tinha o livro de Pigafetta, um cronista que narrou a viagem de Fernão de Magalhães.

O Policarpo de igual modo possuía dicionários, manuais, enciclopédias e compêndios, em vários idiomas. Livros que chamamos de referência e que Lima Barreto a eles se refere como livros subsidiários. Não havia livros de Direito, talvez poque copiávamos o que europeus escreviam. Bibliotecas (reais ou imaginárias) compõem de forma definitiva uma biografia de seu proprietário, ou de seu utente. É o que se percebe na descrição que Lima Barreto fez da biblioteca do Policarpo Quaresma. Descreva-me tua biblioteca, e direi quem és.

Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy é livre-docente pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e doutor pela PUC-SP.

Quais eram os ideais de Policarpo Quaresma?

Em suas leituras, Policarpo acreditava que o Brasil deveria se abrasileirar, ou seja, deveria parar de exaltar a cultura europeia e passar a exaltar sua própria cultura.

Qual era o objetivo do major Quaresma?

Essa obra narra a história do major Quaresma, um homem cujo patriotismo exagerado só lhe causa problemas. Ele tem a ideia de tornar o tupi-guarani a língua oficial do Brasil e se dedica à agricultura nacional, mas é vencido pelas formigas saúvas.

O que a obra Policarpo Quaresma quis retratar para o Brasil?

Policarpo Quaresma é um patriota idealista. Durante toda a obra, busca reformar a pátria brasileira e torná-la a maior do mundo. Na primeira parte do livro, busca fazê-lo pela cultura; na segunda parte, pela agricultura; na terceira e última, pela política.

Qual o enfoque principal de Triste Fim de Policarpo Quaresma?

Foco narrativo: a narrativa enfoca a trajetória de Policarpo Quaresma, personagem principal da história. Fatores externos: o cenário histórico em que o autor posiciona a história é pós-Abolição, na Primeira República e já no governo do segundo presidente do Brasil, Floriano Peixoto.

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