Qual a importância dos alquimistas para o desenvolvimento das ciências?

A alquimia é uma prática mística e de caráter ancestral que floresceu durante a Idade Média, reunindo diversas ciências, como a Química, Física, Misticismo, Filosofia, Arte, Astrologia, entre outras.

Sua origem é incerta, pois há relatos de sua presença em várias civilizações antigas, como os gregos, egípcios, persas, árabes, chineses, entre outros.

Um dos seus objetivos era obter o elixir da vida eterna e a transformação de metais comuns em ouro, a partir da criação da pedra filosofal — uma importante busca dos alquimistas.

Os indivíduos que praticavam a alquimia receberam o nome de alquimistas. Mesmo sendo os responsáveis pelo desenvolvimento de inúmeras técnicas, eles não sabiam explicar ao certo como os fenômenos ocorriam.

Conceito de Alquimia

Alquimia é o termo que se refere à ciência mística. Também conhecida como química da Idade Antiga e Idade Média, seu principal intuito era o de obter a compreensão dos fenômenos e o conhecimento da natureza, transformando um elemento em outro. O termo se origina da língua árabe, al-kimiya. 

Origem da Alquimia

Embora alguns estudiosos apontem a existência da alquimia no século III a.C. em Alexandria, no Egito, sua origem é, de fato, incerta.

Ela se manteve como a principal ciência durante a Idade Média, período marcado pelo avanço dos estudos alquímicos através da:

  • Observação da natureza
  • Utilização de aparelhos, materiais e instrumentos
  • Experimentos
  • Procedimentos químicos

Tais fatores foram essenciais para a evolução das ciências naturais na modernidade.

Precursora da Medicina e da Química, a alquimia possibilitou a criação de técnicas de embalsamento de corpos e manejo de metais.

Com o passar do tempo, a linguagem adotada pelos alquimistas se complexificou. Símbolos foram criados com o objetivo de garantir que as informações fossem bem aproveitadas. Com isso, a alquimia tornou-se cada vez mais confidencial.

A partir da Inquisição, a prática da alquimia passou a ser vista como algo obscuro pela Igreja Católica. Houve, então, uma intensa perseguição e condenação de diversos alquimistas. Muitos deles foram presos e queimados na fogueira.

História

Após a oficialização do cristianismo, um grupo de hereges alquimistas foram perseguidos e se refugiaram na Pérsia, local em que muitas pessoas se interessaram pelas técnicas.

O Alcorão — livro sagrado do Islã — diz que conhecer a natureza é uma importante forma de se aproximar de Alá — Deus.

Por isso, diversos árabes se envolveram em estudos sobre metais preciosos e química. Tal conhecimento se desenvolveu primeiro no mundo islâmico e depois na Europa Medieval.

A partir das Cruzadas, na Baixa Idade Média, os europeus tiveram contato com a alquimia. A busca pela eternidade da vida conflitou com o pensamento cristão da época.

Tal anseio era visto como uma injúria, pois, de acordo com os europeus, somente Deus poderia permitir a vida eterna.

Desse modo, visando impedir que seus conhecimentos fossem descobertos ou que fossem até mesmo perseguidos, os alquimistas criaram uma complexa simbologia, limitando o acesso aos seus experimentos.

Mesmo sendo recriminada pela Igreja, a alquimia foi uma prática comum entre a classe eclesiástica. São Tomás de Aquino e Roger Bacon relataram alguns experimentos que indicavam a criação de ouro por meio de outros elementos.

No século XVII, foram lançados alguns esboços do que viria a ser a química, por Robert Boyle. No entanto, ele buscou se desvencilhar do caráter místico da alquimia.

Importância da Alquimia

Para alguns pesquisadores, a alquimia ia além da mera transmutação de substâncias químicas. Ela foi a responsável pelo uso de técnicas alinhadas à natureza.

Ela influenciou tanto a China, com o domínio de técnicas de metalurgia, quanto o ocidente, com a descoberta do manejo de substâncias vegetais e minerais.

Com isso, é importante salientar que ela teve um papel primordial para o desenvolvimento das ciências.

Principais alquimistas

Os principais alquimistas foram:

  • Maria, a Judia (séc. II a.C) – Grécia
  • Nicolas Flamel (1340-1418) – França
  • Caterina Sforza (1463-1509) – Itália
  • Paracelso (1493-1541) – Alemanha
  • Marie Meurdrac (1610-1680) – França
  • Conde de St. Germain (1712-1784) – Hungria
  • Alessandro Cagliostro (1743-1795) – Itália
  • Fulcanelli (1839-1953) – França
  • Eugène Léon Canseliet (1899-1982) – França

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A alquimia foi exercida desde meados dos anos 300 a.C. e desenvolveu técnicas que, após serem colocadas à parte do misticismo, deram origem à Química como Ciência.

Apesar de conter superstições e misticismo, a alquimia ajudou no desenvolvimento de técnicas de laboratório usadas até hoje na Química

Não é possível falar do surgimento da Química sem nos referirmos à alquimia. As origens da alquimia e da própria Química perdem-se em tempos que não temos registros, pois não se pode afirmar com certeza o início de cada uma, além disso, assim como todo desenvolvimento, a transição de uma para a outra não ocorreu de imediato.

No entanto, considera-se que a alquimia se manteve entre os anos 300 a.C. e 1500 d.C. e se iniciou em Alexandria, cidade fundada em 331 a.C. por Alexandre, o Grande, na foz do Rio Nilo, como capital de seus territórios conquistados no Egito.

Uma forma de pensamento muito antiga que se desenvolveu nessa cidade foi uma arte egípcia, a khemeia, que é a raiz da palavra Química. A khemeia relacionava-se com mistérios, superstições, ocultismo e religião. Isso tudo se somou aos conhecimentos de diversos sábios, dando origem à alquimia.


Ilustração de um laboratório de alquimia

A alquimia se difundiu em diversas civilizações, como pelos chineses, hindus, egípcios, árabes e europeus. Entre os seus ideais inatingíveis estavam principalmente:

  • A pedra filosofal: Os alquimistas acreditavam que seria possível transformar chumbo (e qualquer outro metal) em ouro, a chamada “transmutação”, e que isso seria conseguido por meio de uma peça particular da matéria, a pedra filosofal.


Os alquimistas desejavam transformar chumbo em ouro por meio da pedra filosofal

O alquimista espanhol do século XVI, Arnoldo de Villanova, descreveu a pedra filosofal da seguinte maneira:

“Existe na Natureza certa substância pura que, quando descoberta e levada pela Arte a seu estado perfeito, converterá à perfeição todos os corpos perfeitos em que tocar.”1

Essa crença dos alquimistas se baseava nas ideias do filósofo Aristóteles (384-322 a.C.), que afirmou que a matéria era contínua (não formada por átomos como afirmaram corretamente os filósofos gregos Leucipo e Demócrito), e ele aprimorou a ideia dos quatro elementos de Empédocles. Essa ideia dizia que toda a matéria era formada por quatro elementos: água, terra, fogo e ar, e Aristóteles associou a cada um deles duas “qualidades” opostas: frio ou quente; seco ou úmido. Por exemplo, a água estaria associada a úmido e frio, enquanto o fogo estaria associado a quente e seco. Essas ideias de Aristóteles permaneceram por mais de 2000 anos.


Ideia dos quatro elementos de Aristóteles

Baseando-se nisso, os alquimistas pensaram em como cada um desses elementos poderiam se transformar uns nos outros se fosse removida ou adicionada a “qualidade” que possuíssem em comum. Essas ideias justificaram a tentativa de se obter ouro a partir da combinação de outros metais.

  • O elixir da longa vida: Os alquimistas almejavam extrair o maior dos desejos do ser humano: a vida eterna. Procuravam um elixir da longa vida, que permitiria a imortalidade.


Os alquimistas buscavam o elixir da longa vida

Apesar desse lado ritualístico e de nunca se ter alcançado esses objetivos, os alquimistas foram os pioneiros no desenvolvimento de técnicas de laboratório, como a destilação e a sublimação que são usadas até hoje pelos químicos.

No início do século XV surgiu o Renascimento, um movimento artístico e científico que se baseava na racionalidade, ou seja, uma doutrina de que nada existe sem uma razão, sem uma explicação racional, e no experimentalismo. Foi nesse contexto que o modo de pensar dogmático, místico e supersticioso da alquimia começou a ser mudado por uma nova forma de buscar o conhecimento, através da ciência experimental.

No ano de 1493 nasceu Phillipus Aureolus Theophrastus Bombast von Hohenheim, mais conhecido como o médico Paracelso. Apesar de ainda estar ligado à alquimia, ele desenvolveu a iatroquímica, em que a principal finalidade era a preparação de medicamentos apropriados para combater as doenças por meio de fontes minerais. Para ele o corpo era um conjunto de substâncias químicas que interagiam harmonicamente e que, se a pessoa estivesse doente, isso significaria que havia uma alteração dessa composição química, que podia ser eliminada por meio de produtos químicos.

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Paracelso e a iatroquímica

Por meio dos trabalhos do filósofo inglês Francis Bacon (1561-1625), a Renascença passou a tomar corpo. Juntamente ao francês René Descartes (1596-1650), o pensamento científico começou a se desenvolver ainda mais, a busca do conhecimento se baseava na experimentação e no uso lógico da matemática. Antes, para que o conhecimento fosse aceito como válido, bastava atender às normas da filosofia; a experiência estava fora de questão.

Em 1543, o polonês Nicolau Copérnico causou uma tremenda revolução, quando propôs que o Sol, e não a Terra, era o centro do universo. Homens como Giordano Bruno, Galileu Galilei e Johannes Kepler contribuíram muito para separar a astrologia da astronomia e a alquimia da Química.

Mas dois cientistas foram marcantes nessa transição para a Química como Ciência, que foram Robert Boyle (1627-1691) e Antoine Laurent Lavoisier.

Robert Boyle nasceu no castelo de Lismore, Irlanda, em 1627. Visto que era de família rica, pôde se dedicar tranquilamente aos estudos. Ele foi chamado por alguns de pai da Química, sendo responsabilizado por transformar a alquimia em Química, pois ele introduziu o “método científico”. Boyle assumiu uma postura totalmente diferente dos alquimistas de seus dias, pois ele publicava abertamente todos os detalhes de seu trabalho, defendia o uso de experiências para comprovar os fatos e não aceitava hipóteses só porque eram consagradas. Seu conceito sobre pesquisas científicas foi descrito em seu livro The Sceptical Chymist (O Químico Cético).

Inclusive, Robert Boyle apoiou fervorosamente uma lei que proibia o uso da alquimia para a produção da pedra filosofal, pois ele considerava esse um objetivo frívolo e materialista.


Robert Boyle foi considerado o “pai da Química”

Foi com essa mudança de pensamento que o século XVII começou. Este foi o século do Iluminismo, sendo que a ciência se distanciava da religião. Foi então que surgiu Lavoisier, que foi considerado o fundador da Química Moderna, pois os seus estudos foram marcados por grande precisão, não só qualitativa, mas principalmente quantitativa. Ele utilizava balanças, realizando pesagens e medições cuidadosas, tinha notável precisão e planejamento. Tudo isso fez com que ele conseguisse explicar fatos que outros cientistas não conseguiram.

Lavoisier derrubou teorias, como a teoria do flogístico, descobriu o oxigênio, explicou a combustão, criou a lei de conservação das massas e lançou o Tratado Elementar de Química, no qual forneceu uma nomenclatura moderna para 33 elementos.


Antoine Laurent Lavoisier foi considerado o fundador da Química Moderna

Desse ponto em diante, a Química já era considerada uma ciência bem fundamentada e estabelecida. Logo retornou a ideia de que tudo seria composto por átomos, havendo uma evolução do modelo atômico e um conhecimento ainda maior da natureza da matéria.

Além disso, vários elementos foram sendo descobertos, além de suas propriedades químicas e físicas, mostrando que ao contrário do que acreditavam os alquimistas, os “quatro elementos” não eram os constituintes do mundo. Outro ponto marcante para o desenvolvimento da Química foi dado por Dmitri Ivanovich Mendeleiev (1834-1907), quando ele descobriu a Tabela Periódica.

Um aspecto interessante das descobertas químicas que relacionam essa ciência com a alquimia foi a descoberta da radioatividade. Durante muitos séculos os alquimistas trabalharam arduamente para transformar chumbo em ouro, e hoje sabemos que o urânio, um elemento radioativo, emite radiações naturalmente e se transforma em chumbo. Isso mostra que um elemento pode se transformar em outro, apenas não do jeito que os alquimistas queriam.

O desenvolvimento da Química como ciência continua só aumentando ao longo dos anos. Se considerarmos que o marco para o surgimento da Química como ciência experimental se deu com os trabalhos de Lavoisier, vemos que a Química tem pouco mais de 200 anos, é uma Ciência relativamente nova. 

1 - Paul Stratern, “O sonho de Mendeleiev: A verdadeira história da Química.”, pág.55.


Por Jennifer Fogaça
Graduada em Química

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Qual a importância dos alquimistas para o desenvolvimento da ciência?

Foi através da Alquimia que muitos produtos foram desenvolvidos e descobertos, como metais, sabões e muitas substâncias químicas, como ácido nítrico, ácido sulfúrico e hidróxido de potássio. Ou seja, os alquimistas acabaram deixando sua contribuição e abriram o caminho para a Química.

Quais as contribuições da Alquimia para o desenvolvimento da ciência moderna?

A alquimia foi uma atividade prática vivida no século XIII, que teve muita importância na descoberta de novas substâncias e processos químicos, como a extração do mercúrio, as fórmulas para preparar o vidro e o esmalte, bem como noções sobre ácidos e seus derivados.

Quais eram os principais propósitos dos alquimistas?

Os principais objetivos dos alquimistas eram: 1- Transmutação: transformar metais comuns (chumbo, cobre) em preciosos, como ouro ou prata; 2 - Medicina: criar um elixir, uma poção ou um metal capaz de curar todas as doenças; 3 - Transcendência: descobrir um elixir que conduziria à imortalidade.

Qual foi a contribuição dos alquimistas para o que hoje se conhece como Química?

Descoberta de vários compostos, como ácidos, bases, esteres, gases e óxidos; Preparo de remédios; Produção de ligas metálicas; Alquimia foi e e uma pratica voltada para as transformações da matéria que alia diversas ciências como química, filosofia, medicina, etc.

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