Quem é lia clark

Uma artista LGBTQIA+ que traz a sonoridade do funk clássico com o contemporâneo, além de referências do pop mundial, junto a nomes estabelecidos e emergentes da cena musical? Entre essas e outras diversas características que podem apenas chegar perto de definir um dos expoentes do funk pop brasileiro, está a drag queenLia Clark.

Natural de Santos, litoral do estado de São Paulo, Rhael Lima de Oliveira, que dá vida a Lia Clark, começou a compor músicas divertidas e cheias de flerte inspiradas em nomes do funk do começo dos anos 2000. Tudo, é claro, por diversão, até que em 2016, um grande hit invadiu a vida de Lia e de milhares de jovens pelo Brasil: "Trava Trava". Uma drag queen fazendo funk? "Não tenho dó nem piedade!", declara a artista nos primeiros segundos da música que responde o questionamento de maneira contagiante. O impacto de Clark continuou a ser sentido no mesmo ano com o disco de estreia Clark Boom, que trazia o single "Chifrudo", ao lado da, na época, novidade na música, Pepita. Quer ouvir um verdadeiro coral em uma festa LGBTQIA+? Aposte nesta música e depois me agradeça.

Após sua chegada estrondosa na música, Lia continuou a colher frutos se estabelecendo como uma das maiores artistas queer da geração atual. Como? Expandindo os seus horizontes sonoros e estéticos em É Da Pista, de 2018, que traz colaborações com Gloria Groove, Heavy Baile, e Wanessa Camargo.

As luzes da pista suada e envolvente da artista desligou sem perspectiva de brilhar novamente no começo de 2020, com o ínicio da pandemia do COVID-19. Em meio ao árduo período, Lia se isolou, de certa forma, com companhia. Não, não estou falando de nenhum tipo de aglomeração, e sim, sobre a reconexão da artista consigo mesmo, que relembrou suas paixões e visões para sua carreira e vida pessoal. A imersão resultou no que a santista faz de melhor: uma série de funks quentíssimos feitos sob medida para momentos de esperança em meio a desesperança, que chegam em formato do disco LIA (pt. 1). Confira abaixo nossa entrevista com a cantora:

Lia Clark — Foto: @maicondouglasfotografia arte/edit: @wgnr.jpeg hair: @there.za styling: @ogarciia

Glamour: Como foi o começo do processo de concepção do disco?

Lia Clark: Esse disco foi 100% gestado na pandemia, porque foi quando eu parei a minha vida inteira como todo mundo, mas pra mim foi muito chocante porque eu vivi em uma possibilidade de que eu não sabia se eu ia voltar a trabalhar com o que eu amo, não sabia se ia ter vacina, se o mundo ia acabar. Mas foi um desespero que eu consegui ressignificar na minha cabeça como um momento para me conectar comigo, o que eu almejo para o futuro, como eu quero que as pessoas me vejam.

Era um momento que eu já ia começar um novo trabalho, e como não havia previsão de tudo voltar, foi um processo muito calmo, em que eu me reconectei com uma parte de quem eu sou que estava adormecida que é essa gay que gosta de fazer funk, que não liga para números, nem para o que faz sucesso ou não. Eu entendi que faço funk para me divertir, foi algo que eu fui a primeira a fazer, é o meu diferencial, e foi assim que as pessoas gostaram de mim, então foi exatamente isso que eu quis trazer para esse álbum.

Pensando na pandemia, como foi criar um disco com tantas temáticas de festas, aglomerações? Houve algum estranhamento com o contraste da realidade do isolamento?

Lia Clark: Para mim o maior estranhamento foi ter que lançar músicas ("Eu Viciei" com Pocah, o seu maior hit até hoje, e "Sentadinha Macinha") durante a pandemia Porque, por exemplo, músicas da Marina Sena, Mc Tha, Jaloo, Duda Beat você consegue curtir em casa, e por mais que a gente tenha tido que aprender a curtir músicas sozinhas isoladas. No caso das minhas músicas é: “Eu vou hoje para a balada porque eu quero que toque aquela da Lia Clark porque eu quero dançar muito!”, o consumidor é outro.

Você mencionou em uma postagem que relembrava o seu segundo álbum, É Da Pista, que naquela época não se sentia ainda muito a vontade de dar pitaco nas produções. Nesse sentido, como foi a experiência do LIA?

Eu precisava muito fazer essa retrospectiva, porque como eu disse, eu tive essa espécie de retiro espiritual do funk, eu comecei a pensar muita coisa que passou. Eu já sabia que muita coisa do É Da Pista eu não gostava, mas quando eu passei esse tempo sozinha eu tive a certeza de que muita coisa saiu do jeito que eu não queria. Então eu pensei que se eu estava sentindo isso, as pessoas também deveriam saber também, é uma conexão entre eu e eles.

E é por isso que esse disco leva o meu nome, eu ainda estou aprendendo a dar grandes pitacos na produção porque ainda estou aprendendo os termos técnicos de tudo, mas ficou tudo exatamente do jeito que eu queria, não tem um detalhe fora do que eu não queria. Eu comandei tudo, quem estava trabalhando comigo estava acreditando na minha arte, foi muito importante para mim.

Como surgiu a colaboração com a MC Naninha na faixa "PQP!"?

Desde que a Naninha surgiu na Internet como um grande meme, eu a achei incrível. Para mim, pessoas que viralizam tem alguma coisa a mais, elas conseguem chamar e prender a atenção. Então eu comecei a segui-la e a achei muito talentosa, vi que ela fazia algumas rimas com uma voz super característica que ela tem. Ela traz uma energia de funkeira do Rio de Janeiro que eu acho maravilhosa. Lembro de sentir a mesma coisa com a Pepita, na época que ela estava começando a bombar e eu a convidei para cantar em “Chifrudo”. Vi que ambas estavam viralizando, vi que elas tinham potencial, só que elas não haviam sido trabalhadas musicalmente.

Lia Clark — Foto: @maicondouglasfotografia arte/edit: @wgnr.jpeg hair: @there.za styling: @ogarciia

Eu sou uma gay que veio tenho muitas referências da música pop, respiro pop, então eu quero muito trazer a Naninha para isso, dar uma espécie de glow up pra ela, colocá-la em um clipe legal, em uma grande música com uma divulgação legal, para as pessoas entenderem que ela não é só um meme. Ela é uma artista, uma MC, uma das maiores apostas do futuro do funk.

Como foi a decisão de separar esse disco em duas partes?

Analisando a indústria musical eu acho que as pessoas estão consumindo os lançamentos muito rápido, uma música de 3 minutos às vezes é muito longa até, está tudo muito rápido. Eu senti que se eu lançasse um álbum com dez faixas, depois de um mês já ia envelhecer e as pessoas iam querer músicas novas. Então vai ser muito parecido com o que a Carol Biazin e a Luísa Sonza fizeram, “bloqueando” algumas faixas por um tempo e depois as lançando. As músicas da segunda parte do álbum, que irá se chamar Clark, serão do mesmo projeto, juntando a primeira e a segunda parte batizando o disco como Lia Clark.

Sinto uma energia muito empresária, visionária vindo de você!

Eu sempre gostei de estar à frente de tudo. Tanto que eu nunca tive empresário, mas eu tive aquela época que eu só queria curtir porque eu sempre sonhei em ser famosa. Mas agora eu estou com uma energia nova, muito mais maduro, eu estou feliz!

O que podemos esperar desta era?

Lia Clark — Foto: @maicondouglasfotografia arte/edit: @wgnr.jpeg hair: @there.za styling: @ogarciia

Eu quero que esse disco tenha o momento dele. Tanto que vou entregar visuais para o álbum todo. Minhas roupas são feitas de lacres de latinha (assinados pela grife Kietzo), e os cabelos longos louros e trançados (que tiveram Thereza Brown, também hairstylist de Pabllo Vittar, como responsável), são em homenagem a Lia Clark do começo de carreira. Sobre o disco, não quero que nenhuma música vire single agora, eu quero que as pessoas escutem tudo. Eu acho incrível quando os artistas lançam um disco e as pessoas escutam a obra como um todo. Eu quero que as pessoas sintam o disco e não foquem apenas nos singles.

No momento, quais são os seus sonhos para a sua carreira?

Atualmente o meu maior sonho, que eu já realizei, era estar feliz com a minha carreira. Teve um momento aí no meio do caminho que eu me perdi. Toda vez que eu me montava ficava "Aí, nossa, de novo isso?” Eu reencontrei essa felicidade. Eu estou assim surtando que o disco e os visuais saíram, e vai todo mundo entender a história do CD, porque cada faixa tem a ver com uma com o momento da minha vida. Esse era o meu maior foco e eu graças a Deus consegui. Eu quero muito, muito, muito, muito ganhar muito dinheiro. Um dos maiores do meu sonho é comprar uma casa, eu não aguento mais morar de aluguel! Também quero entender como dar os próximos passos na minha carreira para cada vez mais atingir o maior público possível. Ainda mais sendo preta e funkeira os obstáculos sejam bem maiores, para mim estamos na luta de sempre, mas dessa vez não é o meu grande foco, e sim ser feliz.

Agora a pergunta que não quer calar: depois da Pocah, agora Linn. Você aceitaria entrar no BBB?

Olha, se o Boninho me ligar, a gente pode conversar! (risos) Porque seria a realização de um sonho. Seria uma forma de quebrar e passar em cima desses obstáculos de estar todo dia na Globo, no maior reality show do país, seria uma visibilidade, uma quebra de barreiras para o meu trabalho, para mim enquanto pessoa, para a minha drag. Então acho que seria uma grande oportunidade, hein, Boninho?

Quanto custa um show da Lia Clark?

Lia Clark.

Qual o nome verdadeiro da Lia Clark?

Rhael Lima de Oliveira (Santos, 15 de fevereiro de 1992), mais conhecido como Lia Clark, é um cantor, compositor e drag queen brasileiro.

Onde nasceu Lia Clark?

Santos, São Paulo, BrasilLia Clark / Local de nascimentonull

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