Quem era a primeira Emília do Sítio do Picapau Amarelo?

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EmíliaDescrição ficcional Aparições

Emília interpretada por Isabelle Drummond em 2001, na reprise do Sítio do Picapau Amarelo no Canal Futura.
Criado(a) por Monteiro Lobato
Interpretado(a) por Lúcia Lambertini (1951-1962)
Dirce Migliaccio (1977)
Reny de Oliveira (1978-1982)
Suzana Abranches (1983-1986)
Isabelle Drummond (2001-2006)
Tatyane Goulart (2007)
Isabella Guarnieri (voz) (2012-2016)
Título(s) Marquesa de Rabicó e Condessa de Três Estrelinhas
Morada Sítio do Picapau Amarelo
Espécie Boneca de pano
Família Encerrabodes de Oliveira
Gênero(s) Feminino
Primeira aparição "A Menina do Narizinho Arrebitado"
Última aparição "Histórias Diversas"

Emília é uma das principais personagens da obra infantil de Monteiro Lobato, na série relacionada ao Sítio do Picapau Amarelo.[1]

Sobre[editar | editar código-fonte]

Emília, na trama criada por Lobato, foi feita por Tia Nastácia para a menina Narizinho. Nasceu muda e é curada pelo dr. Caramujo que lhe receitou uma "pílula falante" e a boneca desembesta a falar: "Estou com um horrível gosto de sapo na boca!". Narizinho, preocupada, pediu ao "doutor" que a fizesse vomitar aquela pílula e engolir uma mais fraquinha, mas Caramujo explicou que aquilo era "fala recolhida" e que não poderia mais ficar "entalada".[2] Ela é conhecida por volta e meia "abrir sua torneirinha de asneiras", principalmente quando quer explicar algo de difícil explicação ou justificar uma ação ou vontade. Além de falar muito, também costuma trocar os nomes de coisas ou pessoas por versões com sonoridade semelhante.

Emília é uma boneca de pano, recheada de macela. Em muitas histórias, ela troca de vestido, é consertada ou é recheada novamente. Narizinho também faz e refaz suas sobrancelhas (segundo Reinações de Narizinho) e seus olhos (que são de retrós e por isso arrebentam se Emília os arregala demais). Ela é capaz de andar e se movimentar livremente, porém muitas vezes é tratada por Narizinho como uma boneca comum e é "enfiada no bolso".

Por ser uma boneca, embora evolua e vire gente, Emília pode cometer impunemente pecados infantis como birra, malcriação, egoísmo, teimosia e espertezas. Diz o que pensa e quando leva bronca, finge que não é com ela. Não teme nada, apronta todas e é cheia de vontades.

Em A reforma da natureza, ela inventa o "livro comestível": "(...) Em vez de impressos em papel de madeira, que só é comestível para o caruncho, eu farei os livros impressos em um papel fabricado de trigo e muito bem temperado. (...) O leitor vai lendo o livro e comendo as folhas, lê uma, rasga-a e come. Quando chega ao fim da leitura, está almoçado ou jantado." Através da boneca Lobato expressa a ideia de leitura prazerosa.

Livre de obrigações sociais impostas pela educação à criança, é ela quem melhor se define: quando Visconde lhe perguntou que criatura ela era, respondeu:

"Sou a independência ou Morte".[3]

Dentro das histórias do "Sítio", Emília foi biografada pelo Visconde de Sabugosa. Todo cheio de conhecimento enciclopédico, ele aproveita para dizer umas verdades sobre a boneca: "Emília é uma tirana sem coração. (...) Também é a criatura mais interesseira do mundo. (...) Só pensa em si, na vidinha dela, nos brinquedos dela".

Origens[editar | editar código-fonte]

A boneca de retalhos de Oz

Diversos bonecos falantes permeiam a literatura infantil, desde Pinóquio. Sem dúvida, a literatura de L. Frank Baum deve ter influenciado Lobato, como todos aqueles que lhe foram pósteros e se aventuraram na escrita infantil. O Espantalho e até mesmo "The Patchwork Girl of Oz" certamente foram bases sobres as quais nasceu Emília.

Uma boneca em especial existe no conto russo "A Bela Vasilissa". A personagem título do conto é possuidora de uma boneca abençoada por sua mãe, que ganha vida ao ser alimentada. Quando a menina acaba prisioneira da bruxa Babayaga, a pequena boneca a ajuda a executar os trabalhos impostos pela feiticeira, e mais tarde a ajuda a escapar, pois a feiticeira tinha aversão a objetos e pessoas abençoados. Curiosamente, a personagem Vasilissa, assim como Narizinho também se casa com um rei ao final do conto.

Diversos autores consideram Emília como um alter ego do Autor. Nela, Lobato exprimiria, muitas vezes, suas próprias opiniões que, por contrariarem o senso comum da época, foram colocadas na boca de uma criatura cuja índole era irresponsável e que, por ter enchimentos de macela, falava sem pensar. "A Emília é infernal", bem definiu Lobato: "Quando estou batendo o teclado, ela posta-se ao lado da máquina e quem diz que eu digo o que eu penso?".

A irreflexão é a principal marca da boneca mais famosa da Literatura Brasileira. Suas "asneiras" dão-lhe encanto próprio, graça que fizeram-na deixar o papel a que estava destinada, como personagem secundária, para ser uma das principais - a principal, ao menos para os leitores, curiosos para saber o quê ela irá aprontar.
 

— Monteiro Lobato.

Em carta de 1934, Lobato disse: "Eu adoro Emília e, ao escrever os livros nesta máquina, sou o primeiro que me rio das coisinhas que ela diz."[4]

A criatura foge ao "criador"[editar | editar código-fonte]

Em carta dirigida a Godofredo Rangel, Lobato declarou:

Emília começou uma ridicula, feia boneca de pano, dessas que nas quitandas do interior custavam 200 réis. Mas rapidamente evoluiu, e evoluiu cabritamente - cabritinho novo - aos pinotes. E foi adquirindo tanta independência que, não sei em que livro, quando lhe perguntam: 'Mas que você é, afinal de contas, Emília:' ela respondeu de queixinho empinado: 'Sou a Independência ou Morte.' E é. Tão independente que nem eu, seu pai, consigo dominá-la. Quando escrevo um desses livros, ela me entra nos dois dedos que batem as teclas e diz o que quer, não o que eu quero. Cada vez mais, Emília é o que quer ser... Sp, 01/02/1943
 

— Monteiro Lobato, in: Barca de Gleyre, 14ª ed, Brasiliense, S.Paulo, 1972 e Zöler Zöler: Lobato Letrador: 3º passo, 1ª ed, pp. 275, Tagori Editora, Brasília, 2018..

Personificações[editar | editar código-fonte]

Adaptação da Emília nos quadrinhos publicados pela Editora Globo na década de 2000

Desde sua criação, em "A Menina do Narizinho Arrebitado", livro publicado em 1920, Emília mereceu diversas representações por grandes ilustradores, no Brasil e no exterior - pesquisados por Camilla Cerqueira César e Cecília Reggiani Lopes.

"Uma bonequinha sem-graça, quase despersonalizada", foi assim que a primeira Emília foi vista por Voltolino. Sem dedos nas mãos, os cabelos eram rabiscos que seguiam a descrição inicial de Lobato:

Uma boneca de pano bastante desajeitada de corpo. Emília foi feita por tia Nastácia, com olhos de retrós preto e sobrancelhas tão lá em cima que é ver uma bruxa."

Muitos ilustradores não deixaram assinatura em edições que se seguiram, mesmo que rebuscadas. Algumas dessas trazem uma Emília já cabeludinha e, sendo todas em preto e branco, grossos cabelos negros curtos são a constante - já que as feições variam.

Emília em A Menina do Narizinho Arrebitado.

Jean Gabriel Villin traz uma Emília de cabelos claros, com pernas e braços afilados e compridos (1931-34); Belmonte traz uma Emília com feições mais humanas, tendo evoluído para as bonecas que imitavam o rosto infantil - mantendo os "olhos de retrós", ou seja, dois pontos negros (1936-39). Rodolpho (1944) coloca Emília nas proporções devidas - pequenina como as bonecas de pano devem ser e, claro, sem nariz. Jurandir U. Campos, conhecido pintor e genro de Lobato, já havia ilustrado a obra do sogro, sem modificações de vulto quanto à boneca Emília.

Na década de 60 dois extremos: as belas e elaboradas ilustrações de André Le Blanc[5] contrastam com as distorções mais artísticas que ilustrativas de Odiléia Toscano.

Finalmente, na década seguinte, Emília ganha personificações mais humanas. Quarenta anos depois de sua criação original, Manoel Victor Filho traz uma boneca com formas quase totalmente de menina[6] - até chegar na última personificação, mas ainda não "definitiva", feita pelo artista Ely Barbosa, para a Rede Globo, esta última adaptando a boneca às necessidades da nova mídia na qual a obra de Lobato vinha a inserir-se - ou seja, uma menina disfarçada de boneca. Com algumas alterações, sobretudo com o advento das cores na TV, Emília passou por constantes atualizações. No começo do século XXI, Emília tornou-se um grande sucesso comercial, com a venda de bonecas dos mais variados tamanhos e sempre dotadas de um visual extremamente colorido.

Durante inúmeras versões do Sítio do Picapau-amarelo para a televisão, a personagem Emília já foi interpretada por Lúcia Lambertini nas versões feitas do Sitío do Picapau Amarelo pela extinta TV Tupi (de 1951 a 1962) e pela TV Cultura (1964) e Dulce Margarida; por Zodja Pereira na versão feita pela Rede Bandeirantes (1967 a 1969); por Dirce Migliaccio (em 1977), Reny de Oliveira (em 1978 a 1983) e Suzana Abranches (de 1983 a 1986), na versão feita da obra infanto-juvenil de Monteiro Lobato, realizada pela Rede Globo; e por Isabelle Drummond (de 2001 a 2006) e Tatyane Goulart (2007), na versão produzida também pela Rede Globo.

Em dois momentos o Governo Federal "adotou" os personagens lobatianos. Passando pela ilustração de Gian Calvi, em 1973, nos selos em bloco comemorativo da obra de Lobato, em que uma Emília simplista entrega flores ao Lobato. Esta imagem é utilizada, também, no carimbo comemorativo ao 1º dia de lançamento, usado em Taubaté, São Paulo e Rio de Janeiro. Chega-se às imagens que foram cunhadas por Ely Barbosa - e modificadas até chegarem no modelo atualmente divulgado - em "cartilhas" do programa "Fome Zero"[7]

Referências

  1. Personagens do Sítio Arquivado em 11 de agosto de 2011, no Wayback Machine. Literatura Infantil.
  2. COELHO, Nelly Novaes. Panorama Histórico da Literatura Infantil/Juvenil. Ática, SP, 1991.
  3. SANDRONI, Laura. De Lobato a Bojunga - as reinações renovadas. Agir, Rio de Janeiro, 1987.
  4. Zöler, Zöler (2019). « "... Amigo Gilson:». Lobato Letrador. Anexos 1 ed. [S.l.]: Tagore Editora. p. 264. 328 páginas. ISBN 9788553250363
  5. Emília - ilustração de André Le Blanc
  6. Emília - ilustração de Manoel Victor Filho
  7. «Emília - ilustração de Roberto Fukue». Consultado em 28 de junho de 2006. Arquivado do original em 29 de novembro de 2007

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

  • Caricatura de Monteiro Lobato e seus personagens: Narizinho, Emília, Saci-Pererê e o Visconde de Sabugosa - ilustração de Belmonte
  • Flogão - Sítio do PicaPau Amarelo Amosítio
  • Daisy Justus

Qual foi a primeira Emília?

Formada pela Escola de Arte Dramática de São Paulo, Dirce Migliaccio – irmã do ator Flávio Migliaccio (1934-2020) – foi a primeira Emilia da série. Sua estreia na arte ocorreu em 1958, quando trabalhou na peça Eles não usam black tié.

Qual foi a primeira Emília do Sítio do Picapau Amarelo?

Morre a atriz Dirce Migliaccio, a primeira Emilia de "O Sítio do Pica-pau Amarelo"

Como está hoje a primeira Emília do Sítio do Picapau Amarelo?

A atriz Dirce Migliaccio, de 76 anos, morreu hoje pela manhã, no Rio de Janeiro. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, Dirce estava internada com pneumonia e uma infecção urinária, no Hospital Álvaro Ramos, na Taquara, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio. Ela faleceu às 9h.

Quem foram as Emilias do sítio?

A primeira a interpretar a boneca falante foi a atriz Olga Maria no filme O Saci, de 1951, dirigido por Rodolfo Nanni. ... .
Sob direção de Geraldo Sarno mais uma Emília foi para as telonas em 1973, agora interpretada por Leda Zepellin. ... .
A terceira Emília do Sítio dos anos 70 foi feita pela Suzana Abranches..

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