Como a água pode se tornar um conflito entre países que estão situados na mesma rede?

Se considerarmos a superfície terrestre, podemos facilmente notar que a maior parte do nosso planeta é constituída por água, que totaliza cerca de 70% de toda a área da Terra. No entanto, enquanto a maior parte dessas águas é oceânica, ou seja, imprópria para consumo, apenas 3% é de água doce. Para agravar a situação, desses 3%, a maior parte encontra-se em geleiras e reservas subterrâneas.

Por esse motivo – e também pela irregular distribuição de água no mundo – existem várias regiões que sofrem com a falta de água, o que envolve territórios de várias partes do globo terrestre. Entre os países com escassez de água, destacam-se as nações situadas no Oriente Médio, uma região com muitos desertos e pouca disponibilidade de recursos hídricos, além de algumas regiões da África, da Ásia e também das Américas.

Por esse motivo, a Unesco elaborou um ranking sobre a disponibilidade per capita de água no mundo. Embora os dados sejam de 2003 e careçam de atualização, percebe-se atualmente que a situação dos países listados como os mais carentes permanece a mesma. Confira:

Como a água pode se tornar um conflito entre países que estão situados na mesma rede?

Lista dos 10 países com a menor média per capita de água

No Kuwait, país com a menor disponibilidade de água do mundo, a luta por esse recurso é sempre uma prioridade do Estado, que precisa importar uma grande quantidade– ao passo em que o país é um dos maiores exportadores de petróleo – e também recorrer a técnicas de dessalinização da água do mar. Esse último procedimento é também realizado por vários países da região, com destaque para Israel, que também possui um bom aproveitamento das águas subterrâneas e da exploração do rio Jordão para irrigação.

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Existem, por outro lado, casos de países que até possuem uma quantidade moderada ou regular de reservas hídricas, mas que sofrem da mesma forma com a falta de água. Nesses casos, os problemas econômicos e políticos impedem maiores investimentos em fornecimento de recursos hídricos para a população, como é o caso de vários países do continente africano e também da Ásia.

Além do mais, nem mesmo os países com grandes reservas hídricas estão livres desse problema, uma vez que a distribuição natural desse recurso não ocorre de maneira regular no interior dos territórios. Não é preciso ir muito longe para visualizar essa questão, pois, no Brasil, várias regiões possuem históricos de secas severas e falta de água, como algumas áreas do Polígono das Secas, na região Nordeste e, mais recentemente, na região Sudeste, destacando-se o estado de São Paulo, cuja capital viu os seus reservatórios secarem significativamente nos últimos tempos.

Para combater a escassez hídrica no mundo, é preciso haver investimentos pesados por parte dos governos em obtenção, tratamento e preservação dos recursos hídricos. Nos casos mais extremos, medidas de cooperação internacional precisam ser tomadas, haja vista que o acesso à água é um direito universal. De acordo com dados da ONU, cerca de 1,1 bilhão de pessoas sofre com a falta desse importante recurso natural.

A água doce, própria para consumo, é, ao lado do petróleo, o mais estratégico dos recursos naturais da atualidade. Com o crescimento do impacto das atividades humanas sobre a natureza, sua disponibilidade encontra-se cada vez mais escassa, sem falar em algumas áreas que já apresentam uma tendência natural para esse problema. Por isso, é quase que um consenso no âmbito das ciências políticas que o século XXI será marcado como o século das disputas internacionais pelos recursos hídricos, o que nos faz pensar, então, na questão da Geopolítica da água.

É errôneo, porém, pensar que as tensões diplomáticas e os conflitos internacionais pela água sejam uma novidade no mundo. Desde as primeiras civilizações, a disputa por territórios com áreas de rios e reservas hídricas foi algo recorrente. No século XX, vários casos assinalaram também essa questão, que tende a intensificar-se ao longo das próximas décadas em várias regiões do planeta.

Em vários conflitos do passado, a água, se não era o propósito principal das ações militares, foi por diversas vezes disputada, haja vista que quem controla os recursos hídricos e sua disponibilidade possui uma ampla vantagem estratégica sobre qualquer adversário.

O conflito entre o Sudão e o Sudão do Sul – que dura várias décadas e culminou na criação do último em 2011, mas sem uma trégua definitiva – é um exemplo desse tipo de ocorrência. Os recursos naturais da região, incluindo aí alguns poços de petróleo, oleodutos e reservas de água, estão entre os elementos de maior entrave entre as frentes de batalha.

Durante a Guerra dos Seis Dias (1967), quando Israel conseguiu ampliar em grande parte suas fronteiras recém-criadas no Oriente Médio, um dos alvos conquistados foram as Colinas de Golã, que abrigam as nascentes do Rio Jordão, responsável por alimentar o Mar Morto e que é amplamente necessário para o país atualmente e também para palestinos e jordanianos. Atualmente, aliás, o acesso às águas subterrâneas por parte da população palestina na região é controlado pelo Estado israelense, o que gera uma elevada discórdia e motiva muitos dos atentados terroristas ocorridos na região em questão.

O Oriente Médio, aliás, é um dos pontos de maior risco da elevação do número de disputas internacionais pela água. Em primeiro lugar, é preciso ressaltar que, dos quinze países que mais sofrem com a escassez de água, dez estão nessa região. Em segundo lugar, a própria instabilidade político-diplomática existente entre os países locais já eleva qualquer risco existente.

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O caso dos rios Tigre e Eufrates é um exemplo dessa tensão existente. As nascentes desses dois rios encontram-se no território da Turquia, mas o leito é de importante utilização econômica também para Síria e Iraque. Em 1998, houve uma elevada tensão entre os países citados em virtude da construção de uma barragem por parte dos turcos na montante desses rios, o que diminuiria suas vazões para as áreas de jusante para sírios e iraquianos.

Em 2003, a tensão novamente se instalou, incluindo até os Estados Unidos, que haviam acabado de invadir o território do Iraque. Na ocasião, houve fortes disputas no âmbito político interno que quase culminaram em um conflito generalizado. Mais tarde, em 2007, sírios e iraquianos, diante de uma forte seca que ocorreu na região, passaram a questionar mais veementemente a vazão dos rios em seus territórios por causa de suas utilizações em território turco.

Atualmente, o controle dos rios Tigre e Eufrates é alvo, inclusive, de grupos terroristas, mais precisamente do Estado Islâmico, que buscam o controle não só da vazão dos rios, mas de inúmeras obras hidráulicas existentes ao longo de seus leitos. Nesse caso, o caráter estratégico de uma ocupação sobre cursos d'água torna-se uma arma de guerra capaz de ampliar sobremaneira os níveis das disputas geopolíticas na região.

Um processo semelhante a esse ocorre na bacia do Rio Nilo, no continente africano, envolvendo Egito, Etiópia, Tanzânia, Uganda e Sudão. Os acordos internacionais sobre a vazão do rio e o controle de suas atividades parecem, até hoje, não diminuir a tensão política que existe entre esses países em torno da utilização das águas desse importante rio. Mais ao sul do continente, na bacia de Okavango, a disputa acontece por parte de Etiópia, Botsuana, Angola e Namíbia.

Diante desses e também de outros cenários existentes em praticamente todos os continentes do planeta, ressalta-se então que o controle da água, sobretudo das nascentes de grandes rios e também de áreas de grande disponibilidade subterrânea desse recurso, é um item altamente estratégico. Por isso, teme-se que o mundo possa conhecer ainda mais conflitos e até mesmo guerras generalizadas pela posse da água potável, que se encontra cada vez menos disponível em várias partes do mundo.

Como a água pode se tornar um conflito entre?

Com o crescimento populacional e, principalmente, com a disseminação da agricultura moderna, a água vem sendo consumida de forma cada vez mais ampla e intensificada. Por outro lado, a poluição e o uso não sustentável da natureza provocam a diminuição de sua disponibilidade no mundo.

Por que a água pode gerar conflitos entre os povos e os estados?

A geopolítica da água gera profundo debate no contexto político da atualidade, principalmente em razão da escassez crescente desse recurso e do seu elevado caráter estratégico. A água doce, própria para consumo, é, ao lado do petróleo, o mais estratégico dos recursos naturais da atualidade.

Por que a água é considerada um dos fatores de conflitos?

Resposta: porque é um recurso muito escasso naquela região, dessa forma, os territórios que possuem abundância em recursos hídricos tornam-se disputados pelos estados do Oriente Médio.

Quais os principais conflitos que ocorrem por causa da água?

No entanto, existem muitos exemplos em todo o mundo onde as tensões são altas: o conflito do Mar de Aral, envolvendo Cazaquistão, Uzbequistão, Turcomenistão, Tadjiquistão e Quirguistão; o conflito do rio Jordão entre os estados levantinos; e a disputa do rio Mekong entre a China e seus vizinhos do sudeste asiático.