O que aprendemos com o filme Até o Último Homem?

Por: Graça Vignolo de Siqueira

Sinopse:

“Desmond T. Doss (Andrew Garfield) é um jovem que sonha ser médico do exército e, que, durante a Segunda Guerra Mundial, se recusa a pegar em uma arma e matar pessoas. Porém, durante a Batalha de Okinawa ele trabalha na ala médica e salva mais de 75 homens, sendo condecorado. Doss foi o primeiro Opositor Consciente da história norte-americana a receber a Medalha de Honra do Congresso.”

Mel Gibson esteve afastado do cinema pelo vício em álcool, por seu gênio incontrolável, por suas brigas explosivas. Mas em nenhum momento se pode negar sua competência como ator e diretor.

Embora, desta vez, esteja só atrás das câmeras, é possível sentir sua presença nessa obra de arte, baseada em fatos reis acontecidos na Segunda Guerra Mundial.

Desmond é um jovem que vive com os pais e um irmão no interior dos EUA e cresce lutando com seu irmão e apanhando do pai, o ator Hugo Weaving de Matrix, ex-combatente da Primeira Guerra Mundial.

Então ele faz uma promessa, por ser adventista e ter muita fé, de que obedeceria ao mandamento de jamais matar, tampouco pegar em uma arma. Até que vem a guerra e todos seus amigos estão se alistando, inclusive seu irmão. Desmond faz o mesmo.

Nessa primeira parte do filme ele conhece a enfermeira Dorothy (Teresa Palmer), por quem se apaixona e quem o ajuda a entender melhor a profissão de médico.

Então acompanhamos o treinamento de Desmond no exército e tudo pelo qual passará, tendo em vista que se auto intitula um Opositor Consciente, contra a guerra.

Desmond quase vai à corte marcial por desobedecer a ordem de pegar em uma arma. Além de sofrer violência entre os companheiros de pelotão. Quem pode desejar ter um soldado por perto que se nega a lutar?

Gibson dirige Até o Último Homem magistralmente. E embora seja contraditório o fato de Desmond não gostar de violência, esse é um dos filmes, com cenas de guerra, mais violentos que assisti nos últimos tempos.

As cenas são de uma realidade absurda. Os tiros parecem estar dentro da sala. E foi possível perceber o público do Cineflix do Shopping Pelotas se abaixando para não ser atingido pelas balas e morteiros dos furiosos japoneses.

O resgate dessa história merece ser assistido. Desmond Doss é um exemplo de caráter e de espírito humano e o verdadeiro herói americano. Sua fé inabalável o tornou verdadeiro gigante num corpo franzino

Esqueçam Garfield de Homem Aranha. O ator está excelente e já ganhou inúmeros prêmios como Melhor Ator. O filme concorre a seis estatuetas no Oscar 2017: Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Diretor, Melhor Mixagem de Som e Edição de Som.

O sargento Howell (Vince Vaughn) e o exímio atirador, soldado Smitty (Luke Bracey) também fazem parte do pelotão que enfrentará os japoneses na Batalha de Okinawa.

Para mim, Até o Último Homem é um filme imperdível.

Nota 10.

Trailer.

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O que aprendemos com o filme Até o Último Homem?
 Mark Rogers/Divulgação

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(Atenção: este texto contém spoilers)

Até o Último Homem é uma das grandes surpresas da temporada do Oscar, para o qual conquistou seis indicações – filme, direção, edição, mixagem de som, edição de som e ator, com Andrew Garfield. E também a prova de que Mel Gibson foi reabilitado por Hollywood depois de anos no ostracismo pelos comentários preconceituosos contra judeus e homossexuais que eclodiram em meio à litigiosa separação da pianista russa Oksana Grigorieva, por quem foi acusado de violência doméstica, outro rasgo em sua reputação.

O filme é baseado na história real de Desmond Doss (interpretado por Garfield), o primeiro soldado a alegar imperativo de consciência ao ser condecorado com a Medalha de Honra do governo americano. Doss se recusava a pegar em armas e a matar, por motivos pessoais e religiosos, mas mesmo assim se alistou no Exército durante a Segunda Guerra Mundial porque acreditava ser a coisa certa a fazer. Depois de uma batalha sangrenta em Okinawa, salvou sozinho algo entre 50 e 100 soldados feridos, deixados para trás no alto de um penhasco quando a companhia bateu em retirada.

“Independentemente de suas crenças religiosas, a história de Desmond, um homem que não compromete seus princípios, é poderosa”, diz em entrevista ao blog É Tudo História Robert Schenkkan, que se baseou em um documentário e nas transcrições de entrevistas feitas para aquele filme para escrever o roteiro. “Será que seríamos tão firmes? Também acho que há um certo tipo de masculinidade sendo celebrado hoje em dia que se baseia na dominação, no narcisismo e na crueldade indiferente. Desmond é modelo de outro tipo de masculinidade: de autossacrifício, modéstia e generosidade.”

A modéstia explica por que a história demorou tanto tempo para ser contada, já que Desmond Doss resistiu até quase o fim de sua vida a vender os direitos para Hollywood – ele morreu em 2006, aos 87 anos. Schenkkan precisou condensar alguns fatos para caber no filme e ficcionalizou certos aspectos para obter efeito dramático, mas chegou a deixar de fora certas coisas por acreditar que eram inverossímeis.

Leia abaixo o que é real e o que foi criado:

Infância de Desmond Doss

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Criança ainda, na cidade natal de Lynchburg, no Estado da Virginia, Desmond briga com o irmão Harold e joga uma pedra na cabeça dele, deixando-o desacordado. Percebendo que podia tê-lo matado, entrega-se às orações – a família é adventista do sétimo dia. E inspira-se num quadro com os Dez Mandamentos. “Sim, havia uma gravura dos Dez Mandamentos na sala de sua casa, e ele ficou muito comovido com as figuras de Caim e Abel”, diz Schenkkan. Assim surgiu a sua convicção de que matar uma pessoa era errado.

Pai alcoólatra e violento

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No filme, o pai de Desmond sofre com os efeitos da depressão depois de ter lutado na Primeira Guerra Mundial, em que perdeu muitos de seus amigos de infância. Por isso, não quer que seus filhos se alistem. Na verdade, o carpinteiro William Thomas Doss nunca chegou a ir para o campo de batalha, portanto não sofria de estresse pós-trauma. “Mas ele realmente tinha problemas com álcool”, diz Schenkkan.

A razão para não pegar em armas

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Em Até o Último Homem, Desmond segue seus princípios religiosos, mas também pessoais para se recusar a pegar em armas e a matar. Num flashback, ele vê o pai batendo na mãe, com uma arma na mão. Desmond interfere, toma o revólver e aponta para o pai. Na realidade, o pai de Desmond puxou o revólver em uma briga com o cunhado. Sua mulher, mãe de Desmond, o convenceu a entregar a arma, que ela pediu para o filho jogar no rio, o que ele fez. “Fiz a mudança porque queria torná-lo mais humano. Ele não era um santo. Podia ficar bravo como qualquer pessoa. Era capaz de pensar em atos violentos. Por isso, sua decisão de imperativo de consciência é ainda mais impressionante”, afirma o roteirista.

Namoro e casamento com Dorothy

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No filme, Desmond conhece Dorothy (Teresa Palmer), uma enfermeira, quando doa sangue no hospital depois de ajudar um acidentado. “Eles se conheceram no hospital mesmo”, diz o roteirista. Mas não foi exatamente depois de ele ajudar um acidentado. Os dois começam a namorar e continuam mesmo depois de Desmond decidir se alistar. Planejam se casar antes de ele ser mandado para a guerra, em um dia de folga do treinamento. Mas o pedido de folga é negado e o casamento, adiado por algumas semanas. O casamento aconteceu em 17 de agosto de 1942.

As dificuldades no treinamento

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Esta foi uma das partes encurtadas no filme. “O treinamento de Desmond na verdade foi mais extenso, e sua companhia viajou para múltiplos locais nos Estados Unidos. Aí, quando foram mandados para o exterior, primeiro estiveram em Guam antes de chegar a Okinawa”, diz Schenkkan. Ele realmente era ridicularizado por se recusar a pegar em armas. “Exageramos as surras que ele levou”, conta o roteirista. “Mas os outros soldados jogavam seus sapatos nele enquanto rezava.” No filme, seu principal algoz, Smitty (Luke Bracey), é ficcional. Um dos comandantes tenta dispensá-lo por razões psiquiátricas, o que aconteceu de verdade.

Julgamento – Ele chegou a enfrentar a corte marcial por causa de suas convicções, como no longa. “Dramatizamos um pouco a participação de seu pai no julgamento”, confessa o roteirista. Em Até o Último Homem, seu pai pede ajuda a um antigo companheiro da Primeira Guerra Mundial, hoje em posição de comando, para livrar o filho da prisão, e, como costuma ser no cinema, a carta chega no último minuto. Já que na verdade ele nunca foi a guerra nenhuma, há diferenças aqui. “O pai de Desmond tinha um conhecido no Departamento de Guerra, e esse contato escreveu a carta que levou o comandante a recuar. E a carta não chegou tão dramaticamente como no longa.”

A Batalha de Okinawa

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Desmond e sua companhia passaram por outras batalhas antes de chegar a Okinawa, a única mostrada no filme. A Batalha de Okinawa foi a mais sangrenta do conflito no Pacífico, matando mais de 80.000 soldados. O batalhão de Desmond precisava escalar um paredão de pedra, com a ajuda de escadas de corda, como é mostrado no longa. Desarmado, ele corria para ajudar os feridos, sem nenhuma identificação, porque os médicos eram alvo dos japoneses. Incansável, ele vai conquistando o respeito de seus companheiros, inclusive do principal bully no treinamento, Smitty (Luke Bracey), um personagem fictício. Quando o soldado Ralph Morgan (vivido pelo veterano de guerra Damien Thomlinson) perde as duas pernas em uma explosão, outro paramédico diz para Desmond deixá-lo para trás – é preciso priorizar os pacientes com chances de sobreviver. Mas Desmond insiste em ajudá-lo. “É verdade, e aquele soldado sobreviveu”, disse Schenkkan.

O salvamento

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Cercados pelos japoneses, os americanos precisam bater em retirada. Desmond Doss fica para trás, resgatando feridos, por um período entre 10 e 12 horas. “Deus, me ajude a ajudar só mais um”, ele repete, como relatou mais tarde. Sob a mira de atiradores do exército inimigo, ele arrasta cada ferido para a beira do penhasco e depois os baixa um a um, com auxílio de uma corda, como aconteceu de verdade. A única diferença em relação à realidade é que, depois de algumas horas, seus companheiros lá embaixo enviaram reforços. No longa-metragem, ele se perde nas cavernas que o exército japonês usava para esconder seus homens e chega a ajudar um soldado inimigo. “Ele nunca mencionou ter entrado no sistema de cavernas, mas em mais de uma ocasião cuidou de soldados japoneses feridos”, diz Schenkkan. Os relatos de quantos homens ele salvou variam. Desmond achava que foram 50 e  seus companheiros, mais de 100. Então, eles concordaram com o número de 75.

O resgate

O que aprendemos com o filme Até o Último Homem?

Desmond desce da montanha e é levado de volta à base. Mas logo eles estavam de novo em combate. O respeito de seus colegas e comandantes agora é total, tanto que eles esperam Desmond fazer sua oração antes de escalar a encosta outra vez – é sábado, dia de descanso na sua religião. “É verdade, eles se recusaram a ir sem ele!”, diz Schenkkan. Na batalha, uma granada é jogada em sua direção, e Desmond a chuta para longe, para que seus companheiros não sejam feridos. “Ele ficou gravemente ferido e foi transferido de Okinawa para uma série de hospitais”, diz o roteirista. No processo, ele perdeu a sua Bíblia, como acontece no filme. “E sua companhia realmente voltou ao campo de batalha e procurou até achá-la”, afirma Schenkkan. Só que, em vez de recuperá-la antes de ser içado por um helicóptero, Desmond Doss a recebeu de volta ao ser condecorado pelo presidente Harry Truman na Casa Branca com a Medalha de Honra.

O que filme o não mostra – O roteirista decidiu cortar um trecho da realidade, pois achou inverossímil demais. Quando estava sendo carregado de maca, Desmond viu outro soldado ferido, saiu da sua maca e insistiu para que os médicos carregassem o outro soldado primeiro, em seu lugar.

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O que podemos aprender com o filme Até o Último Homem?

O filme ensina importantes lições de vida como não desistir em momentos difíceis, além de refletir o perdão e que se deve amar o próximo. Sucesso no mundo, a exibição chegou a concorrer no Oscar de 2017 por 'Melhor Filme' e 'Melhor Ator'.

Quais valores são observados em Desmond Doss?

Criado em lar cristão, o jovem médico aprendeu desde cedo uma importante lição: nunca matar outro Ser Humano. Esse valor, que está incutido em praticamente todos nós, passa a ser ignorado quando se apresenta um cenário de guerra tal qual o vivido por Desmond Doss.