O que levou os paulistas a se revoltarem contra o governo Vargas em 1932 na chamada Revolução Constitucionalista?

O 9 de julho de 1932, um s�bado, como neste ano de 2011, teve uma noite fria de inverno. A capital paulista ainda n�o tinha completado o seu primeiro milh�o de habitantes - o que iria ocorrer alguns meses depois, na virada para 1933.

A cidade vivia uma noite calma; a movimenta��o era, como sempre, nos cinemas, teatros e caf�s. Depois das 22h, grupos de homens vestidos com roupas pesadas se dirigiam para a regi�o do bairro da Luz, onde se localizava (e ainda se localiza) o quartel da ent�o For�a P�blica do Estado (hoje Pol�cia Militar).

Na Faculdade de Direito do Largo de S�o Francisco, apesar de ser um fim de semana, se concentravam v�rios estudantes. Por volta das 23h, tr�s caminh�es da Prefeitura de S�o Paulo chegaram ao pr�dio da velha academia, com uma carga inusitada - armamento, que foi distribu�do rapidamente entre os jovens acad�micos e populares que l� estavam, que logo ap�s come�aram a circular pelas ruas do centro. Uma das primeiras atitudes desses civis foi ocupar os pr�dios das tr�s emissoras de r�dio existentes na capital: a Educadora Paulista - PRA-E, na rua Carlos Sampaio, perto da avenida Paulista, a Record - PRA-R, localizada na pra�a da Rep�blica, entre as ruas 24 de Maio e Bar�o de Itapetininga e a Cruzeiro do Sul - PRA-�, situada no Largo da Miseric�rdia.

No comando

Concomitantemente, tropas regulares armadas com fuzis eram vistas sendo transportadas por caminh�es por diversas vias da cidade. Aqueles que retornavam para suas resid�ncias se assustavam com aquela movimenta��o militar. Por volta da meia noite, a mil�cia paulista ocupou o imponente edif�cio dos Correios e Tel�grafos, localizado na esquina da avenida S�o Jo�o com o Vale do Anhangaba�, e logo depois a sede da Companhia Telef�nica. A maior movimenta��o era na sede na 2� Regi�o Militar, localizada na Ch�cara do Carvalho, antiga propriedade da fam�lia Silva Prado, e afastada do centro da cidade. O comandante da 2� RM, general Jos� Lu�s Pereira de Vasconcellos, rec�m nomeado para o posto, estava a caminho de S�o Paulo, vindo em um trem da Central do Brasil, do Rio de Janeiro, e tomou conhecimento das ocorr�ncias na capital quando se encontrava na cidade de Lorena, no vale do Para�ba. Na aus�ncia do comandante, assumiu as tropas federais em S�o Paulo, designado pelo general Isidoro Dias Lopes, o coronel Euclydes Figueiredo (pai do ex-presidente da Rep�blica, Jo�o Baptista Figueiredo). Um comunicado do comando da 2� Regi�o Militar foi transmitindo por interm�dio das esta��es de r�dio: "De acordo com a frente �nica paulista e com a un�nime aspira��o do povo de S�o Paulo e por determina��o do general Isidoro Dias Lopes, o coronel Euclydes Figueiredo acaba de assumir o comando da 2� Regi�o Militar, tendo como chefe do Estado-Maior o coronel Palim�rcio de Rezende. A oficialidade da Regi�o assistiu incorporada, no quartel general, a posse do coronel, nada havendo ocorrido de anormal. Reina em toda a cidade intenso j�bilo popular e o povo se dirige em massa aos quart�is, pedindo armas para a defesa de S�o Paulo."

Ao povo paulista

A ades�o das guarni��es militares do Ex�rcito, inclusive do 4� Regimento de Infantaria, sediado no quartel de Quita�na, no ent�o distante bairro de Osasco, com seu poderoso armamento pesado de canh�es, foi total na madrugada do dia 10 de julho. Ainda na noite do dia 9, foi divulgada a seguinte proclama��o:

"AO POVO PAULISTA,

Neste momento, assumimos as supremas responsabilidades do comando das for�as revolucion�rias, empenhadas na luta pela imediata constitucionaliza��o do pa�s. Para que nos seja dado desempenhar, com efici�ncia, a delicada miss�o de que nos investiu o ilustre governo paulista, lan�amos um veemente apelo ao povo de S�o Paulo, para que nos secunde na a��o primacial de manter a mais perfeita ordem e disciplina em todo o Estado, abstendo-se e impedindo a pr�tica de qualquer ato atentat�rio dos direitos dos cidad�os, seja qual for o cr�dito pol�tico que professem.

No decurso dos acontecimentos que se seguir�o, n�o encontrar� a popula��o melhor maneira de colaborar para a grande causa que nos congrega do que dando na delicada hora que o pa�s atravessa mais um exemplo de ordem, serenidade e disciplina caracter�sticas fundamentais da nobre gente de S�o Paulo.

General Isidoro Dias Lopes

Coronel Euclydes Figueiredo."

Reunido no Pal�cio dos Campos El�seos desde a noite anterior com seu secretariado, o interventor federal Pedro de Toledo encaminhou telegrama ao chefe do governo provis�rio, presidente Get�lio Vargas, apresentando seu pedido de ren�ncia do cargo. Com o apoio do Ex�rcito, da For�a P�blica e do povo, ficou decidido aclamar Pedro de Toledo como governador do Estado, em manifesta��o marcada para as 15h daquele 10 de julho, em frente ao largo do Pal�cio (P�tio do Col�gio), onde se localizava a sede do governo do Estado, desde o tempo do Imp�rio.

O Pal�cio do Catete

No Rio de Janeiro, as not�cias chegaram ao amanhecer do domingo, dia 10. Get�lio Vargas, informado da verdadeira rebeli�o paulista, convocou uma reuni�o de emerg�ncia com todo o minist�rio no Pal�cio do Catete, sede do governo federal.

O general Pedro Aur�lio de G�es Monteiro foi ent�o nomeado comandante das tropas governamentais que iriam combater os revoltosos. Dentro do governo da Rep�blica a situa��o era confusa, com problemas em v�rias �reas. Get�lio tinha sido informado que havia apenas 4.700 carabinas, mas no dia seguinte, para al�vio dos governistas, chegou nova informa��o dando conta de que as tropas federais dispunham de fato de 180 mil armas.

Em seu di�rio, Get�lio Vargas lamentou a atitude e as trai��es, inclusive do interventor Pedro de Toledo, ao qual, indignado, o presidente qualificou de "a velha m�mia que exumei do esquecimento..."

A situa��o em S�o Paulo vinha se agravando desde o anivers�rio da cidade, em 25 de janeiro, quando uma imensa multid�o realizou na pra�a da S� um com�cio, no qual foi exigido o retorno da democracia ao Brasil, com a convoca��o de uma Constituinte. A mudan�a constante de interventores nomeados para governar o Estado bandeirante e a inger�ncia do governo federal na pol�tica interna paulista, inclusive escolhendo ou vetando nomes para o secretariado estadual, culminou na noite de 23 de maio, em uma manifesta��o na pra�a da Rep�blica. A multid�o resolveu tomar de assalto a sede da Legi�o Revolucion�ria, ligada a Get�lio Vargas. A turba foi recebida a bala e o grave conflito resultou em feridos e v�timas fatais entre os manifestantes envolvidos no protesto.

MMDC

O confronto na Pra�a da Rep�blica resultou na morte a tiros de M�rio Martins de Almeida (fazendeiro na cidade de Sert�ozinho, 31 anos), Euclydes Bueno Miragaia (auxiliar de cart�rio em S�o Paulo, 21 anos), Dr�usio Marcondes de Souza (ajudante de farm�cia na capital, 14 anos) e Ant�nio Am�rico de Camargo Andrade (comerci�rio em S�o Paulo, 30 anos). Com as siglas de seus nomes formou-se o MMDC, uma sociedade secreta, organizada no dia 24 de maio, e que em 10 de agosto de 1932, pelo Decreto 5627-A, foi oficializada pelo governo estadual, tendo colaborado muito com a Revolu��o Paulista. Posteriormente, esse tiroteio faria mais uma v�tima: Orlando Oliveira Alvarenga (escrevente, 32 anos), tamb�m baleado em 23 de maio e que em consequ�ncia dos ferimentos morreria no dia 12 de agosto.

A data marcada para o in�cio do movimento seria o dia 14 de julho, dia da queda da Bastilha e data m�xima da Revolu��o Francesa, mas a atitude do general Bertholdo Klinger, comandante da circunscri��o militar do Mato Grosso, enviando uma carta desaforada ao ministro da Guerra, general de divis�o Augusto Ign�cio Esp�rito Santo Cardoso (tio-av� do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso), precipitou os acontecimentos. Ao tomar conhecimento do teor da missiva, Klinger foi exonerado do comando e reformado administrativamente pelo governo.

Essa atabalhoada e intempestiva postura custaria muito caro para os revolucion�rios. O general Bertholdo Klinger se viu obrigado a deixar o comando e com isso n�o pode contar com a ades�o de sua tropa � causa paulista, para desapontamento de todos. De avi�o, chegou sozinho � capital de S�o Paulo, mas mesmo assim assumiu o comando das tropas constitucionalistas e passou a orientar as opera��es militares em dire��o ao Rio, abandonando outros setores.

Bloqueio dos portos

Uma das primeiras medidas tomadas pelo governo federal foi determinar o bloqueio de todos os portos paulistas, inclusive o de Santos, com navios da Marinha de Guerra. Apesar da precipita��o da revolta, o governo federal teve tempo de organizar e receber ades�o de outros estados da federa��o, alguns inicialmente comprometidos com os paulistas.

No domingo, dia 17 de julho, em companhia do ministro da Guerra e auxiliares de governo, das Casas Civil e Militar, Get�lio Vargas foi at� a zona de guerra na divisa dos Estados do Rio de Janeiro e S�o Paulo, onde visitou as tropas em opera��es, e tamb�m esteve no quartel general em Barra Mansa, onde o general G�es Monteiro e seu Estado Maior informaram da situa��o e dos planos de a��o. No dia seguinte, as tropas mineiras tomaram a cidade de Passa Quatro, e o T�nel (entre Rio de Janeiro e S�o Paulo, na linha da Estrada de Ferro Central do Brasil), abrindo um flanco para a cidade de Cruzeiro. No sul, as tropas legalistas ga�chas e paranaenses, sob o comando do general Waldomiro Lima, ocuparam Itarar�, e no dia 24, Faxina (hoje Itapeva).

A participa��o popular

Na capital de S�o Paulo e em diversas cidades do interior a mobiliza��o foi total, com a ades�o da popula��o, que voluntariamente colaborou sem medir esfor�os. Nada menos que 200 mil homens se apresentaram para lutar, mas n�o havia armas para todos; somente perto de 30 mil puderam efetivamente ser aproveitados. A mulher paulista participou ativamente, n�o s� costurando uniformes, como tamb�m nas cozinhas, em enfermarias, e na confec��o dos conhecidos capacetes de a�o.

O Instituto de Pesquisas Tecnol�gicas (IPT) tamb�m ajudou efetivamente com o Movimento Constitucionalista, elaborando e fabricando armamentos, como a cria��o de tanques lan�a-chamas e at� do famoso trem blindado. Este poderia ter tido um papel preponderante na Revolu��o se tivesse sido feito antes; com o elemento surpresa poderia ter ido at� a ent�o capital federal levando tropas e depondo o governo federal.

No dia 23 de julho, em um quarto do Hotel La Plage, em Guaruj� (ent�o pertencente ao munic�pio de Santos), ap�s ter conhecimento que avi�es estavam atacando posi��es em terra e no mar, o grande brasileiro Alberto Santos Dumont, inventor desse meio de transporte, deprimido, p�s termo a sua vida, deixando o pa�s de luto. As autoridades policiais de S�o Paulo acobertaram que o inventor havia cometido suic�dio; somente ap�s o fim da Revolu��o Constitucionalista � que foi autorizada a divulga��o dessa triste informa��o.

Mas a luta continuava. Os constitucionalistas invadiram nos primeiros dias do movimento as cidades mineiras de Guaxup�, Pouso Alegre e Tr�s Cora��es, que foram retomadas pelas tropas de Minas Gerais no dia 24 de julho. Por causa da demora na mobiliza��o e na ofensiva, as tropas revolucion�rias acabaram sendo obrigadas a agir somente na defensiva; em poucos dias o territ�rio paulista foi cercado em todas as suas divisas. O governo federal, com o apoio e solidariedade dos interventores dos outros estados, recebeu notadamente do ent�o chamado norte do pa�s milhares de soldados de tropas regulares, tanto do Ex�rcito como das pol�cias estaduais, e alguns estados, como o Rio Grande do Sul, mandaram volunt�rios para combater os revoltosos.

A ofensiva das tropas federais conseguiu, em 27 de julho, atravessar o rio Para�ba e tomar a cidade de S�o Jos� do Barreiro, apreendendo material militar e fazendo in�meros prisioneiros. Tamb�m bateram os paulistas na serra da Mantiqueira e invadiram S�o Paulo pelo sul de Minas.

Avi�es Paulistas X Vermelhinhos

Os paulistas possu�am uma avia��o militar pertencente � For�a P�blica, que estava baseada no Campo de Marte. Uma das proezas dos pilotos paulistas foi lan�ar sobre a cidade do Rio de Janeiro, para a surpresa da popula��o carioca e do pr�prio governo, panfletos no qual explicavam a raz�o da Revolu��o Constitucionalista. Estudantes na capital federal em conluio com outros interessados resolveram praticar atentados, as autoridades policiais, em repres�lia, realizaram v�rias pris�es.

Ainda n�o existia o Minist�rio da Aeron�utica, e a avia��o militar do governo central era constitu�da pela avia��o militar do Ex�rcito e outra da Marinha de Guerra. Os avi�es legalistas - conhecidos como vermelhinhos, em virtude de sua cor -, ap�s serem armados com bombas, atacaram diversos pontos do Estado de S�o Paulo, inclusive a usina hidrel�trica de Cubat�o, a Henry Borden, no dia 29 de julho, que fornecia energia el�trica para S�o Paulo.

A situa��o n�o era tranquila entre as hostes governamentais. Ao receber uma correspond�ncia de Get�lio Vargas, em 6 de agosto, na qual informava as dificuldades de natureza pol�tico-militar, o general G�es Monteiro, sentindo-se desprestigiado e achando que faltava confian�a por parte do governo, pediu demiss�o do cargo de comandante das tropas legalistas. De pronto, o presidente negou o pedido.

No sul, as tropas do general Waldomiro Lima estavam em situa��o calamitosa, sendo atacadas por avi�es constitucionalistas, e n�o dispunham de armamentos pr�prios para combat�-los.

Em 9 de agosto, Areias, no vale do Para�ba, foi ocupada, e Queluz foi cercada. A cidade de Cruzeiro foi a pr�xima visada pelas tropas governamentais, fazendo os revoltosos paulistas recuarem. No dia seguinte, as cidades de Queluz e Silveiras foram evacuadas, obrigando os constitucionalistas a formarem uma linha de resist�ncia em Cachoeira Paulista.

Proposta de armist�cio

As tropas de S�o Paulo, na frente leste, bombardearam de suas linhas de defesa, com canh�es 105 mm. Nesse mesmo dia, 14 de agosto, sigilosamente, um emiss�rio do general Klinger chegou ao Rio de Janeiro com uma carta ao ministro da Marinha, com uma proposta de armist�cio, no mesmo teor em que fora apresentada pelo ex-ministro da Justi�a, Mauricio Cardoso, que posteriormente foi recusada, mas ainda acrescentava a exig�ncia da sa�da de Vargas do poder. Essa correspond�ncia deixava patente as diverg�ncias com os civis paulistas e ainda desejava um entendimento entre os militares para um governo militar em S�o Paulo.

Uma grave preocupa��o de Get�lio Vargas foi com o governo franc�s, que, apesar de ter recebido do governo brasileiro os valores referentes � compra de armamentos, protelava o envio dessa aquisi��o, sob a alega��o de fins humanit�rios. Dos EUA, tamb�m haviam sido comprados armamentos e avi�es, mas a �nica informa��o que o governo do Brasil tinha era que cinco avi�es haviam sido embarcados por via mar�tima para o Rio de Janeiro.

No dia 22, foi travado o mais importante combate na regi�o sul, em Buri. Na capital federal, o general G�es Monteiro, em palestra com Vargas e com o ministro da Guerra general Espirito Santo Cardoso, no Pal�cio do Catete, descreveu as defici�ncias da organiza��o, as falhas do Ex�rcito, a escassez de material e a situa��o d�bia do governo mineiro, cujas for�as policiais n�o queriam atacar o territ�rio paulista.

Em reuni�o ministerial na sede do governo, na noite de 25 de agosto, foram discutidas e reiteradas as condi��es para a paz, j� apresentadas por Mauricio Cardoso e pelo ministro da Marinha Prot�genes Guimar�es: deposi��o das armas pelos rebeldes; novo governo civil e paulista; anistia; e constitui��o provis�ria at� que a futura Constituinte votasse a definitiva.

Rebeli�o em Bel�m

A situa��o do lado dos paulistas foi se complicando e, em 31 de agosto, a cidade de Itapira foi tomada por tropas do governo federal vindas de Minas Gerais, grande n�mero de soldados paulistas foi feito prisioneiro e foi apreendido todo o material b�lico. Uma semana depois foram ocupadas Mogi-Mirim e Mogi-Gua�u. Em uma carta recebida pelo ministro da Marinha, o coronel Bras�lio Taborda, chefe da coluna sul das tropas paulistas, confessou tacitamente a derrota e ofereceu ao ministro a chefia do governo provis�rio no lugar de Get�lio...

Em Bel�m do Par�, em 6 de setembro, quando da chegada dos prisioneiros do forte de �bidos, houve uma rebeli�o na capital, e no dia seguinte estourou um levante por parte da Pol�cia Civil paraense. Esses dois motins foram sufocados por tropas leais ao interventor major Joaquim de Magalh�es Barata e os envolvidos acabaram presos. Entre os dias 10 e 11, Amparo (SP) foi tomada por tropas federais, e foi apertado o cerco a Silveiras e � zona do T�nel, em Cruzeiro (SP). Finalmente, o governo central recebeu 10 toneladas de p�lvora e trotil h� muito tempo encomendados e angustiosamente aguardados. No dia seguinte, G�es Monteiro encaminhou a Get�lio um relat�rio no qual explanou sua ideia de reagrupamento das for�as e de aumento das tropas do Ex�rcito para 100 mil homens.

Artur Bernardes

No dia 15, as tropas federais ocuparam a cidade de Lorena (SP) e a f�brica de p�lvora de Piquete. As tropas constitucionalistas, ao recuar, destru�ram o que puderam, al�m de levar todos os g�neros aliment�cios dispon�veis. Quem sofreu foram os habitantes das zonas abandonadas, que ficaram sem recursos. A linha de defesa paulista ficou estabelecida na esta��o de engenheiro Neiva, entre Lorena e Guaratinguet�.

Combates no Rio de Grande do Sul terminaram com a vit�ria das tropas leais aos governos federal e estadual, sendo preso Borges de Medeiros, ex-governador do Estado, que encabe�ava o Movimento Constitucionalista no estado sulista. Em Minas Gerais, o ex-presidente da Rep�blica Arthur Bernardes tamb�m foi detido, ap�s manifestar publicamente seu apoio aos paulistas. Os dois seriam transferidos para o Rio de Janeiro, ficando confinados na Ilha do Rijo, no meio da Ba�a da Guanabara.

Enquanto prosseguiam as conversa��es para o fim das hostilidades, no dia 29 de setembro, chegava ao porto do Rio o navio alem�o General Os�rio, trazendo da Europa material b�lico para reequipar as tropas do governo federal.

O cerco se fechava sobre S�o Paulo. No dia 30 de setembro, as tropas da For�a P�blica de S�o Paulo se recusaram a obedecer �s ordens do general Klinger. Este sabedor da impossibilidade de continuar a luta tentou mais uma vez um acordo para a cessa��o da rebeli�o. O comando da pol�cia paulista, em entendimento direto com o general G�es Monteiro, apresentou ent�o uma f�rmula de paz, que foi aceita � revelia dos l�deres do movimento revolucion�rio.

A Constitui��o

No dia 2 de outubro de 1932, terminou a Revolu��o Constitucionalista, quando foi deposto o governo do Estado, chefiado por Pedro de Toledo, pelo coronel Herculano de Carvalho, comandante-geral da pol�cia paulista, que assumiu o poder interinamente at� a chegada das autoridades federais.

Com o fim do conflito, Get�lio Vargas nomeou como comandante da 2� Regi�o Militar o general Waldomiro Lima, que assumiu tamb�m o cargo de governador militar em S�o Paulo. Todos os 77 cabe�as da Revolu��o Constitucionalista foram encaminhados presos para o Rio de Janeiro, e posteriormente exilados na Europa. O n�mero de v�timas do conflito at� hoje � uma inc�gnita, mas calcula-se que perto de dois mil homens morreram, al�m de milhares ficarem feridos, inclusive civis. A situa��o econ�mica do Brasil, que j� n�o era boa, desde a crise da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, complicou-se gravemente quando a Uni�o foi obrigada a gastar uma verba que n�o tinha, na compra de armamentos e com o deslocamento e a manuten��o das tropas federais. O d�ficit no or�amento foi de $1.108.878.000,00, o maior da hist�ria do Brasil at� ent�o. Somente quando o Brasil entrou na 2� Guerra Mundial, em 1942, � que a despesa ultrapassou esse valor negativo na conta da Uni�o.

Apesar de ter perdido a luta por falta de armas e de estrutura, os paulistas acabaram vitoriosos politicamente, j� que poucos meses depois, em 3 de maio de 1933, foram realizadas as elei��es para a Constituinte, que elaborou uma nova Carta Magna para o Brasil. Com a sua promulga��o, em 16 de julho de 1934, houve o retorno da t�o esperada democracia.

*Ant�nio S�rgio Ribeiro, advogado e pesquisador, � Diretor do Departamento de Documenta��o e Informa��o da Alesp.

Porque os paulistas se revoltaram contra o governo de Vargas em 1932?

Os paulistas pegaram em armas contra o Governo Vargas porque não aceitavam a interferência do Governo Provisório nas decisões estaduais e queriam uma nova Constituição para o Brasil.

O que causou o conflito no Brasil em maio de 1932?

O levante armado começou de fato em 9 de julho de 1932, precipitado pela revolta popular após a morte de quatro jovens por tropas getulistas, em 23 de maio de 1932, durante um protesto contra o Governo Federal.

O que os paulistas exigiam do governo Vargas com a Revolução Constitucionalista de 1932?

Entre suas principais demandas estava o estabelecimento de uma nova Constituição – assunto que Vargas evitava, no que era apoiado pelos chamados tenentistas (militares). Setores oligárquicos de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro também apoiavam o fim do regime discricionário de Vargas.