Quais os principais mecanismos para a construção da gestão democrática participativa na escola?

1.     Introdu��o

    Na atualidade, a gest�odemocr�tica � tema de grande repercuss�o nas escolas, sendo alvo de di�logos, reflex�es e propostas. Na sua tem�tica, traz ao di�logo, a gest�o compartilhada e reflex�o, entretanto, numa autonomia interdependente que reconhece a import�ncia dos indiv�duos que comp�em e atuam na escola. Com efeito, a atua��o mediante esta autonomia interdependente e seus referenciais s�o fatores reveladores de pr�ticas formando o todo escolar e as suas especificidades. No entanto, antes de aprofundar o tema escolhido, torna-se necess�rio esclarecer o que � a gest�o e apresentar a gest�o escolar democr�tica.

    Quanto � palavra Gest�o, afirma que a origem �adv�m do verbo latino gero, gessi, gestum, gerere, cujo significado � levar sobre si, carregar, chamar a si, executar, exercer e gerar� (CURY, 2002, p. 30). Com efeito, um dos substantivos gerados do verbo demonstra que sempre implica o sujeito. Desse modo, gest�o � a gera��o de um novo modo de administrar uma realidade, sendo ent�o, por si mesma, democr�tica, pois traduz a ideia de comunica��o, pelo envolvimento do pensar coletivo, por meio do di�logo.

    De acordo com Cury (2002) gest�o, pensada de forma democr�tica, pode adquirir uma dimens�o muito diferente daquela associada � ideia de comando. Isto significa que se pode administrar por meio do di�logo e do envolvimento do coletivo. Neste sentido, a participa��o e o exerc�cio da cidadania no campo educacional, e mais especificamente na gest�o da escola, est�o ligados a um processo mais amplo de extens�o da cidadania social � cidadania educacional, e, portanto, ligado � sua fun��o social.

    Assim, a gest�o democr�tica reporta um ou mais interlocutores e possibilita ao di�logo, a respostas que possam auxiliar na condi��o da educa��o e solu��o dos conflitos. Ela acontece no grupo e para o grupo, implicando decis�es coletivas e organizadas. Dentro dessa vis�o, a gest�o escolar democr�tica apresenta um novo perfil, um novo modo de administrar uma realidade que �, em princ�pio, uma quest�o dial�gica que traduz comunica��o pelo envolvimento enquanto processo pensado de forma coletiva e democr�tica. Observamos tamb�m que legalmente, a gest�o democr�tica est� amparada tanto pela Constitui��o Federal (CF 05/10/1988), quanto pela Lei de Diretrizes e Bases da Educa��o Nacional (LDB de 20/12/1996) e pelo Plano Nacional de Educa��o (PNE � Lei n. 10.127, 09/01/ 2001).

    Diante do processo de trazer ao di�logo a gest�o democr�tica na organiza��o escolar num continuo pensar e refletir, este tema de estudo teve como fulcro uma an�lise bibliogr�fica ao qual se chegou ao seguinte problema de pesquisa: quais s�o os elementos relevantes para a implementa��o de uma gest�o democr�tica na organiza��o escolar? A partir disso, a hip�tese da pesquisa levantada foi de que a implementa��o da gest�o democr�tica � o vi�s mediador do trabalho no cotidiano da organiza��o escolar. Deste modo, o presente trabalho de car�ter qualitativo objetivou situar e apontar numa an�lise de forma reflexiva, tornar vis�veis os elementos relevantes para a implementa��o de uma gest�o democr�tica na organiza��o escolar. Neste sentido prop�s-se como objetivo principal: Analisar os pressupostos te�ricos na implementa��o de uma gest�o democr�tica na organiza��o escolar. No que tange aos objetivos espec�ficos teve como l�cus: Situar os pressupostos te�ricos da gest�o democr�tica nos sistemas de ensino brasileiros; Pontuar o Projeto Pol�tico Pedag�gico como eixo norteador nas a��es escolares; Identificar as perspectivas na forma��o de gestores. No concernente a program�tica investigativa, foi utilizada como fonte de estudo: Projeto Pol�tico Pedag�gico da escola, livros, artigos, revistas pedag�gicas, boletins informativos de escolas, institui��es de educa��o e atendimento na �rea.

    Desta forma, a partir da relev�ncia desde esta an�lise, a gest�o democr�tica na organiza��o escolar possui como foco a observa��o da escola e dos problemas educacionais globalmente, atrav�s de uma vis�o estrat�gica e de conjunto, bem como pelas a��es interligadas, tal como uma rede, os problemas que, de fato, funcionam de modo interdependente.

    A gest�o escolar � uma dimens�o, um enfoque de atua��o, um meio e n�o um fim em si mesmo, uma vez que o objetivo final da gest�o � a aprendizagem efetiva e significativa dos alunos, de modo que, no cotidiano que vivenciam na escola, desenvolvam as compet�ncias que a sociedade demanda, dentre as quais se evidenciam: pensar criativamente; analisar informa��es e proposi��es diversas, de forma contextualizada; expressar id�ias com clareza, tanto oralmente, como por escrito; empregar a aritm�tica e a estat�stica para resolver problemas; ser capaz de tomar decis�es fundamentadas e resolver conflitos, dentre muitas outras compet�ncias necess�rias para a pr�tica de cidadania respons�vel (LUCK, 2000, p. 33).

    Em raz�o disso, o processo de gest�o escolar deve estar voltado para garantir que os alunos aprendam sobre o seu mundo e sobre si mesmo em rela��o a esse mundo, adquiram conhecimentos �teis e aprendam a trabalhar com informa��es de complexidades gradativas e contradit�rias da realidade social, econ�mica, pol�tica e cient�fica, como condi��o para o exerc�cio da cidadania respons�vel. Assim, �a cultura democr�tica est� al�m da implanta��o de uma ideologia, por exemplo, de estilo liberal, comprometida com certos pressupostos de igualdade, do Estado de direito, da equaliza��o de oportunidades� (DEMO, 1999, p. 79). A gest�o democr�tica conduz a exig�ncia do cultivo da cultura de participa��o, do trabalho da coletividade, da a��o do colegiado na realiza��o de um bem para todos. Florestan Fernandes (GADOTTI, 1990, p. 30), referindo-se � �Democratiza��o do ensino�, atrav�s deste conceito, dizia: �Pretende-se assinalar coisas que s�o distintas, como a universaliza��o de certas oportunidades educacionais, a transforma��o das t�cnicas e dos m�todos pedag�gicos ou uma intera��o aberta e construtiva da escola com as necessidades e os interesses sociais dos c�rculos humanos que ela sirva� (GADOTTI, 1990, p. 28).

    Na perspectiva da escola, h� um reconhecimento de que a educa��o � tarefa complexa e, portanto, requer esfor�o dos c�rculos humanos do seu conjunto na parceria com a fam�lia. A gest�o democr�tica da escola � responsabilidade conjunta de uma equipe gestora, composta por Dire��o, Coordenadores, Professores, Funcion�rios, com representantes de todos os segmentos das comunidades escolar e local. Este corpo gestor, partindo de defini��es em reuni�es, � respons�vel pelas decis�es e a��es vividas na escola. A miss�o, vis�o de futuro, objetivos estrat�gicos e valores da escola s�o efetivos trabalhos desse grupo, elaborados para o social.

    Neste contexto, estabelece-se, ent�o, uma cultura comunit�ria e esse fator � essencial no desenvolvimento da fun��o social da escola: a democracia. Assim, para atingir plenamente a gest�o democr�tica h� de se perceber que todos os setores da unidade escolar necessitam de um envolvimento nessa perspectiva, os avan�os dentro do prop�sito estabelecidos devem ser apreciados, avaliados e reavaliados em conjunto. As medidas desenvolvidas dentro de uma percep��o conjunta ganham, por excel�ncia, par�metros competentes que se transformam em realidade que, certamente mudam de forma cont�nua e gradual os aspectos do cotidiano das unidades escolares.

    No seu conjunto e fora dele, a gest�o democr�tica est� relacionada com tend�ncias mundiais de globaliza��o e mudan�a de paradigma que t�m repercuss�es significativas nas concep��es de organiza��o escolar e nas a��es dela decorrentes. Neste contexto, a descentraliza��o do poder, democratiza��o do ensino, institui��o de parcerias, flexibiliza��o de experi�ncias, mobiliza��o social pela educa��o, sistema de cooperativas, interdisciplinaridade na solu��o de problemas s�o estes alguns dos conceitos relacionados com essa mudan�a. Entende-se, nesse conjunto de concep��es, como fundamental, a mobiliza��o, conscientiza��o dos sujeitos para se promover a transforma��o e sedimenta��o de novos referenciais de gest�o democr�tica para que a escola e os sistemas educacionais atendam �s novas necessidades de forma��o social a que a escola deve responder.

    Outro importante ponto pertinente � gest�o democr�tica � a forma��o dos gestores escolares. O trabalho de gest�o escolar exige o exerc�cio de m�ltiplas compet�ncias espec�ficas. � necess�rio ressaltar a necessidade de os sistemas de ensino adotar uma pol�tica de forma��o continuada de gestores, de modo a estabelecer unidade e direcionamento aos seus programas e cursos. � necess�rio, tamb�m, articular pol�tica de forma��o com pol�tica de gest�o.

2.     Projeto pol�tico pedag�gico: norte das

a��es na escola

    O Projeto Pol�tico Pedag�gico � um documento norteador das a��es futuras da escola, no qual s�o estabelecidos princ�pios e diretrizes para um funcionamento mais eficaz das atividades a serem desenvolvidas no �mbito escolar. Neste contexto:

    Resulta da constru��o coletiva dos atores da educa��o escolar. Ele � a tradu��o que a Escola faz de suas finalidades, a partir das necessidades que lhe est�o colocadas, com o pessoal � professores/alunos/equipe pedag�gica/pais � e com os recursos de que disp�e (PIMENTA, 1991, P.79).

    Desta forma, quanto mais socializado for o Projeto Pol�tico Pedag�gico da escola, maior ser� a participa��o e o envolvimento da comunidade escolar. Porque ao elaborarem-se as a��es que nortear�o o fazer administrativo pedag�gico da escola torna-se coparticipe na sua execu��o e avalia��o. Reduzindo assim a improvisa��o que algumas vezes faz parte do cotidiano da escola. A exist�ncia na escola de um Projeto Pol�tico Pedag�gico significa ter uma proposta pedag�gica clara, orientada, intencional, numa perspectiva de vis�o din�mica e de circularidade, concebida em um processo participativo, n�o improvisado, catalisador de potencialidades e do compromisso coletivo.

    O projeto pol�tico pedag�gico � apontado como express�o coletiva do esfor�o da comunidade escolar na busca de sua identidade e, nesse sentido, uma das principais express�es da autonomia escolar. A sua elabora��o participativa pode, mesmo, propiciar uma experi�ncia mais consequente de outros mecanismos de gest�o democr�tica, como a escolha dos dirigentes e a defini��o das fun��es dos colegiados escolares, na medida em que passam a constituir-se refer�ncia da a��o org�nica de todos os membros da comunidade escolar na busca de objetivos comuns (GADOTTI, 1990, p. 119).

    Essas caracter�sticas subsidiar�o as estrat�gias de a��o que poder�o ser incorporadas de forma consciente e cont�nua, em fun��o das bases te�ricas, filos�ficas, legais e pr�ticas com as quais a escola est� comprometida e deve atuar. Assim, o Projeto Pol�tico Pedag�gico auxilia a escola na forma��o do indiv�duo como um todo, priorizando a forma��o de verdadeiros cidad�os, capazes de transformar a sociedade a qual est�o inseridos, atuando de forma ativa, cr�tica e participativa. De modo a gerar mudan�as significativas, com mecanismos capazes de solucionar problemas espec�ficos da comunidade a qual a escola est� inserida. Ressalta-se, portanto que o Projeto Pol�tico Pedag�gico n�o deve ser utilizado como um documento para atender a exig�ncias burocr�ticas. Quando se quer indiv�duos cr�ticos, participativos e transformadores, para tanto se deve orientar por uma concep��o de educa��o que esteja comprometida com a transforma��o social. Torna-se necess�rio que a escola se defina e atue orientada por um conceito de sociedade democr�tica, participativa, plural e socialmente justa.

    Delineada a sua postura com o envolvimento e a participa��o ativa de todos, a escola cogita seu exerc�cio educativo no sentido de formar cidad�os relativamente conscientes capazes de compreender e criticar a realidade, pautando a sua atua��o na busca da supera��o das desigualdades e do respeito ao ser humano. Sendo a escola capaz de construir, elaborar, executar e avaliar o seu Projeto Pol�tico Pedag�gico tendo em seu �mbito as metas e a��es proposta em seu Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE), ela propicia uma educa��o de qualidade e exerce sua autonomia pedag�gica.

    Todo projeto pressup�e rupturas com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confort�vel para arriscar-se, atravessar um per�odo de instabilidade e buscar uma nova estabilidade em fun��o da promessa que cada projeto cont�m de estado melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam vis�veis os campos de a��es poss�veis, comprometendo seus atores e autores (GADOTTI, 1990, p. 579).

    Sem embargo, a autonomia pedag�gica, objetiva ampliar os espa�os de decis�o e participa��o da comunidade atendida pela escola, criando e desenvolvendo inst�ncias coletivas. � importante ressaltar ainda que o �xito escolar dependa de outros fatores, como o pol�tico, econ�mico, cultural e social. Os processos de democratiza��o, descentraliza��o da tomada de decis�o e transpar�ncia t�m como suporte institucional as estruturas de gest�o colegiada, sendo o Conselho Escolar, �rg�o consultivo, deliberativo, fiscalizador e mobilizador. � importante, que esse esteja legalmente constitu�do e que seus membros participem sistematicamente dos processos de tomada de decis�o.

    Dessa forma, profissionais da educa��o, alunos, pais e comunidade, conscientes da necessidade de um projeto democr�tico de educa��o podem constituir n�cleos de press�o e exigir do gestor o compromisso com a participa��o de todos na busca da constru��o coletiva de uma escola verdadeiramente, democr�tica. Tamb�m se salienta que as atua��es dos organismos colegiados d�o-se na medida em que a��es articuladas estimulem a efetiva ocupa��o dos seus membros, n�o como meros executores, prestadores de servi�os volunt�rios, mas especialmente como sujeitos atuantes no processo de tomada de decis�o. Neste sentido:

    Tudo o que a gente puder fazer no sentido de convocar os que vivem em torno da escola, e dentro da escola, no sentido de participarem, de tomarem um pouco o destino da escola na m�o, tamb�m. Tudo o que a gente puder fazer nesse sentido � pouco ainda considerando o trabalho imenso que se p�e diante de n�s que � o de assumir esse pa�s democraticamente (FREIRE, 1997, p. 62).

    Nessa ideia os Gr�mios Estudantis podem ser instrumentos que, se fortalecidos pela equipe gestora, professores e demais membros da escola, poder�o contribuir para agrupar de forma positiva o jovem, afastando-o do conv�vio antissocial. Portanto � importante que os estudantes tenham informa��es mais concretas e detalhadas sobre a fun��o que o gr�mio pode desempenhar, tanto no contexto escolar quanto no espa�o extraescolar.

3.     A gest�o democr�tica nos sistemas de ensino brasileiros

    A Constitui��o Federal de 1988 trouxe uma inova��o para o cap�tulo sobre educa��o ao incorporar, forma da lei, a gest�o democr�tica como um princ�pio do ensino p�blico. Assim, ao faz�-lo, a Constitui��o institucionalizou, no �mbito federal, pr�ticas que j� vinham ocorrendo em v�rios sistemas de ensino estaduais e municipais, algumas delas amparadas por instrumentos legais emanados pelas respectivas casas legislativas ou pelos executivos locais. Com efeito, a promulga��o da Constitui��o, em 1988, tornou obrigat�ria a adapta��o das Constitui��es Estaduais e das Leis Org�nicas do Distrito Federal e dos munic�pios �s novas determina��es, dentre elas a do princ�pio da gest�o democr�tica do ensino p�blico.

    A gest�o democr�tica do ensino fez-se presente nas reivindica��es das entidades, indicando que, j� naquele momento, a ideia de democratiza��o da educa��o superava o conceito de escola para todos, incluindo a no��o da escola como espa�o de viv�ncia democr�tica e de administra��o participativa. Assim, a sociedade civil passou a participar do processo constituinte e tornou-se mais organizada em fun��o da exist�ncia de um F�rum que congregou entidades de �mbito nacional na defesa do ensino p�blico e representou uma plataforma avan�ada dessa defesa

    Quando a gest�o democr�tica do ensino p�blico ainda n�o tinha sido incorporada � Constitui��o de 1988, a mobiliza��o em torno de sua introdu��o na LDB foi iniciada. Assim, apresentou-se um projeto de lei � C�mara Federal, partindo de um estudo de Dermeval Saviani publicado na revista da ANDE substituindo o componente sobre financiamento da educa��o por um texto mais detalhado, baseado em estudos j� realizados. O projeto �apresentado n�o continha nenhuma refer�ncia expl�cita sobre a gest�o democr�tica como princ�pio do ensino p�blico, apesar de, naquele momento, este j� ser um ponto conquistado na Constitui��o recentemente promulgada� (GADOTTI, 1990, p. 68). Neste sentido, incorporaram-se importantes avan�os no campo da democratiza��o da educa��o, inclusive de sua gest�o democr�tica, por meio de mecanismos como autonomia pedag�gica e administrativa e de gest�o financeira das unidades escolares, bem como de descentraliza��o dos sistemas de ensino.

    Em raz�o disso, tendo passado por um per�odo de intensa turbul�ncia, em sua tramita��o no Senado, a LDB finalmente promulgada em dezembro de 1996, como Lei 9394/96 termina por contemplar de maneira direta ou indireta a gest�o democr�tica do ensino p�blico. Primeiro como princ�pio, na forma daquela lei e �da legisla��o dos sistemas de ensino�, ampliando, assim, o ordenamento constitucional. Segundo, determinando que as normas de gest�o democr�tica atendam as peculiaridades locais e os princ�pios de participa��o dos profissionais na elabora��o do projeto pedag�gico da escola e da comunidade escolar em conselhos escolares ou equivalentes. A terceira refer�ncia trata da gest�o democr�tica nas institui��es de ensino superior. Al�m dessas refer�ncias diretas, a LDB fixa incumb�ncias dos estabelecimentos de ensino, incluindo, no Art. 12, a elabora��o e execu��o da proposta pedag�gica, e no Art.15, a amplia��o progressiva de autonomia pedag�gica, administrativa e de gest�o financeira nas escolas.

4.     Perspectivas na forma��o de gestores

    O aumento da qualidade e compet�ncia da escola exige mais de sua gest�o, em vista do que, a forma��o de gestores escolares passa a ser uma necessidade e um desafio para os sistemas de ensino. No entanto, sabe-se em geral, que a forma��o b�sica dos dirigentes escolares n�o se assenta sobre essa �rea espec�fica de atua��o e que, mesmo quando estes profissionais a t�m, ela tende a ser conceitual.

    Em raz�o disso, recaem sobre os sistemas de ensino a tarefa e a responsabilidade de promover, organizar e at� mesmo, como acontece em muitos casos, realizar cursos de capacita��o para a prepara��o de gestores escolares. Essa responsabilidade se torna mais marcante quando se evidencia a necessidade de forma��o cont�nua, complementarmente � forma��o inicial, como condi��o para acentuar o processo de profissionaliza��o de gestores, de modo que dialoguem com os novos desafios a que est�o sujeitas as escolas e os sistemas de ensino.

    Neste contexto vigente, n�o adianta at� mesmo a melhoria do curr�culo formal, a introdu��o de m�todos e t�cnicas inovadores, por exemplo, caso os mesmos n�o sejam acompanhados de um esfor�o de capacita��o dos dirigentes nesses processos. Essa capacita��o, ali�s, constitui-se num processo aberto, de forma��o continuada e permanente. N�o se pode esperar mais que os dirigentes escolares aprendam em servi�o, pelo ensaio e erro, sobre como resolver conflitos e atuar convenientemente em situa��es de tens�o, como desenvolver trabalho em equipe, monitorar resultados, planejar e implementar o projeto pol�tico pedag�gico da escola, promover a integra��o escola-comunidade, criar novas alternativas de gest�o, realizar negocia��es, mobilizar e manter mobilizados atores na realiza��o das a��es educacionais, manter um processo de comunica��o e di�logo abertos, como estabelecer unidade na diversidade, planejar e coordenar reuni�es eficazes, como articular interesses diferentes entre outros.

    Dessa maneira, os resultados da inefic�cia dessa a��o s�o t�o s�rios em termos individuais, organizacionais e sociais, que n�o se pode continuar com essa pr�tica. A responsabilidade educacional exige profissionalismo. O trabalho de gest�o escolar exige, pois, o exerc�cio de m�ltiplas compet�ncias espec�ficas de variados matizes. A sua diversidade � um desafio para os gestores, cabendo tamb�m aos sistemas, organizar experi�ncias capazes de orient�-los nesse processo.

    Assim, considerando-se, de um lado, essa multiplicidade de compet�ncias, e de outro, a din�mica constante das situa��es, que imp�e novos desdobramentos e novos desafios ao gestor, n�o se pode deixar de pontuar como fundamental para a forma��o de gestores, um processo de forma��o continuado em servi�o, al�m de programas espec�ficos e concentrado, como � o caso da forma��o em cursos de Pedagogia e em cursos de P�s-gradua��o, bem como os freq�entes cursos de extens�o oferecidos e/ou patrocinados pelos sistemas de ensino. Neste sentido, como de nada valem as boas ideias, se n�o forem postas em a��o, os programas de forma��o, para serem eficazes, dever�o ser realizados de modo a articular teoria e pr�tica, constituindo- se uma verdadeira pr�xis.

    Desse modo, a educa��o e a forma��o de profissionais, a escola e sua gest�o, devem ser fundamentadas em ideais que precisam ser firmados, explicitados, compreendidos e compartilhados nas tomadas de decis�es sobre a forma��o dos cidad�os. Evidencia-se, assim, a necessidade de se repensar a gest�o da educa��o ante a cultura globalizada e os desafios que a sociedade imp�e como institui��o respons�vel e comprometida com a forma��o de profissionais da educa��o e de profissionais em geral. O desenvolvimento de conhecimento e forma��o de profissionais entendidos em gest�o educacional, �capazes de implementar e operar as transforma��es necess�rias dos sistemas de ensino e escolas, � priorit�rio, por ser condi��o fundamental para o imprescind�vel salto qualitativo da educa��o brasileira� (LUCK, 2000, p. 24).

    Nessa concep��o, a gest�o significa tomada de decis�es, organiza��o, dire��o. Relaciona-se com a atividade de impulsionar uma organiza��o a atingir seus objetivos, cumprir suas responsabilidades. �Gest�o da educa��o significa ser respons�vel por garantir a qualidade de uma media��o no seio da pr�tica social global� (FERREIRA, 2004, p. 15).

    Significa aprender com cada 'mundo' diferenciado que se coloca, suas raz�es e l�gica, seus costumes e valores que devem ser respeitados, por se constitu�rem valores, suas contribui��es que s�o produ��o humana. Estas compreens�es t�m como objetivo, se poss�vel, 'iluminar' um campo profissional 'minado' de todas essas incertezas e inseguran�as, tornando- o conseq�ente com o pr�prio conceito e nome, a fim de tomar decis�es sobre como formar e como garantir a qualidade da educa��o a partir de princ�pios e finalidades definidos coletivamente, comprometidos com o bem comum de toda a humanidade (FERREIRA, 2004, p. 15).

    Luck (2000) corrobora com a concep��o e valoriza��o da gest�o na garantia da qualidade proposta por Ferreira (2004), ao entender que a gest�o educacional estabelece direcionamento e mobiliza��o capazes de sustentar e dinamizar o modo de ser e fazer do sistema de ensino e das escolas, sem o que todos os demais esfor�os e gastos s�o despendidos sem promover os resultados esperados. Com efeito, defende-se ainda, que o processo de gest�o pressup�e a a��o ampla e continuada que envolve m�ltiplas dimens�es, tanto t�cnicas quanto pol�ticas, que s� se efetivam de fato, quando articuladas entre si.

    Desta forma, o contexto indica necessidade da expans�o da educa��o de maneira democr�tica, a forma��o plena do profissional que supere as problematiza��es do cotidiano escolar e a vis�o de efic�cia para as pr�ticas educacionais. Coloca-se, ent�o, a import�ncia de uma gest�o para a educa��o, cumprindo as inten��es de renova��o dos aspectos da forma��o humana e de seu desenvolvimento, em uma administra��o que seja boa no presente, construindo um futuro de possibilidades para os alunos.

    A democratiza��o do conhecimento e as atuais exig�ncias socioculturais para a evolu��o do crescimento humano incidem em como formar profissionais na �rea da educa��o, sob a renovada orienta��o de gest�o voltada � dimens�o dessas habilidades e compet�ncias. Com a dire��o estabelecida democraticamente, a gest�o da educa��o constitui-se na possibilidade de concretizar na experi�ncia humana um modo de pensar coletivo, cumprindo seu papel fundamental de conduzir a educa��o e o ensino para a constru��o da cidadania, da justi�a entre os seres humanos e da igualdade de oportunidades, com vistas a superar um mundo de exclus�o, de sofrimento, de desigualdades e injusti�as. Dessa forma, gest�o democr�tican�o s� concretiza os caminhos, como confere o sentido das pr�ticas que emergem no ambiente escolar e das rela��es constru�das coletivamente.

    Assim, a gest�o democr�tica tem seus pilares nos movimentos sociais de democratiza��o e expressam as experi�ncias e lutas por administra��es e pr�ticas coletivas, colegiadas e participativas nas escolas e sistemas de ensino. Tem como fundamento a humaniza��o da forma��o do indiv�duo e explicita��o mediante o di�logo entre as pessoas na busca da solu��o dos conflitos de forma coletiva e solid�ria. Isso configura um contexto hist�rico-pol�tico de transi��o do centralismo do regime autorit�rio para a redemocratiza��o, sendo a gest�o evidenciada na agenda pol�tica, um conceito superador do enfoque limitado de administra��o e base fundamental para a organiza��o e estabelecimento dos processos educacionais, orientados pelos princ�pios democr�ticos que reconhecem a import�ncia da mobiliza��o e participa��o das pessoas para a melhoria da qualidade do ensino.

    � necess�rio, portanto, entender a democratiza��o como uma mudan�a decorrente de um processo de intera��o e organiza��o de acordo com o contexto educacional que � uma express�o pol�tica da norma constitucional e da LDB (Lei de Diretrizes e Base da Educa��o Nacional, N� 9.394/96), estando vinculada � forma��o da cidadania por meio da constru��o coletiva do Projeto Pol�tico Pedag�gico. �A gest�o democr�tica visa romper com a separa��o entre concep��o e execu��o, entre o pensar e o fazer, entre teoria e pr�tica� (VEIGA, 2001, p. 18). � necess�rio cultivar e desenvolver a cultura do �n�s� para que se possa efetivamente construir uma gest�o democr�tica na escola.

    Uma gest�o escolar democr�tica se desenvolve e se realiza atrav�s da efetiva participa��o comprometida, tendo o gestor escolar papel fundamental na orienta��o e efetiva��o desse processo. Para tanto, torna-se imprescind�vel o fortalecimento de um aporte te�rico, a habilidade para lidar com pessoas, detectar e solucionar problemas, bem como ter a sensibilidade para intervir de maneira din�mica e produtiva, com o intuito de contribuir para a melhoria da qualidade da educa��o.

    Luck (2000) atribui ao gestor o papel fundamental no sentido de dinamizar e coordenar o processo coparticipativo para atender, na escola, �s demandas educacionais da sociedade din�mica centrada na tecnologia e no conhecimento. Nesse sentido, percebe-se que o gestor escolar precisa �munir-se� de conhecimentos dos diversos aspectos que envolvem a quest�o educacional, desde a organiza��o, estrutura, din�mica e legaliza��o at� a capacidade de analisar esses aspectos � luz do contexto socioecon�mico, tornando-se capaz de perceber a rela��o e influ�ncia do contexto com a escola, tendo em vista que escola e sociedade se entrela�am continuamente e se constroem mutuamente.

5.     Conclus�o

    Este estudo teve como proposta uma an�lise bibliogr�fica ao qual se chegou a um questionamento mais elaborado que consta como: quais s�o os elementos relevantes para a implementa��o de uma gest�o democr�tica na organiza��o escolar? Neste contexto, a hip�tese da pesquisa levantada foi de que a implementa��o da gest�o democr�tica � o vi�s mediador do trabalho no cotidiano da organiza��o escolar. Deste modo, objetivou-se numa an�lise de forma reflexiva, tornar vis�veis os elementos relevantes para a implementa��o de uma gest�o democr�tica na organiza��o escolar. Nesta an�lise, prop�s-se como objetivo principal: Analisar os pressupostos te�ricos na implementa��o de uma gest�o democr�tica na organiza��o escolar. No concernente aos objetivos espec�ficos coube como l�cus: Situar os pressupostos te�ricos da gest�o democr�tica nos sistemas de ensino brasileiros; Pontuar o Projeto Pol�tico Pedag�gico como eixo norteador nas a��es escolares; Identificar as perspectivas na forma��o de gestores.

    Diante deste arcabou�o elaborado, percebeu-se a necessidade de amplia��o dos esfor�os na constru��o de escolas cada vez mais democr�ticas, que rompam com pr�ticas da escola tradicional. Com efeito, reconhecendo que a democracia permeia todos os princ�pios da educa��o democr�tica, a comunidade escolar como um todo deve decidir e compartilhar todos os problemas e progressos da institui��o escolar. Neste sentido, sabe-se que a gest�o democr�tica � um processo complexo, mas n�o irrealiz�vel, e que exige de todos os envolvidos neste processo (fam�lia, profissionais, governo e sociedade), a��es imediatas e s�lidas que garantam a concretiza��o das a��es de um trabalho consciente e coletivo, com o prop�sito de substituir o paradigma de pol�ticas educacionais autorit�rias pelo democr�tico.

    Desta forma, ao longo desta pesquisa percebeu-se que a escola pelos princ�pios democr�ticos, deve ser de qualidade para todos, onde os envolvidos neste processo podem mudar a estrutura organizacional dada � escola tradicional, para uma vers�o contempor�nea de educa��o voltada para a necessidade dos educandos em conson�ncia com os desejos da comunidade escolar. Neste sentido, procurando mobilizar e articular os que participam desta organiza��o, dando condi��es necess�rias materiais e humanas para que a a��o do processo sociopol�tico e educacional aconte�a da melhor forma poss�vel e com resultados satisfat�rios.

    Por�m, ainda h� muito que se fazer, para que a gest�o democr�tica seja realmente entendida e cooptada por todos os seus participes. � preciso que todos estejam conscientes de que a democracia em uma sociedade n�o pode ser considerada exclusivamente como um sistema pol�tico, pois a democracia s� pode ser real se todos os seus princ�pios se incorporarem � l�gica da vida cotidiana dos indiv�duos.

    Tamb�m, no decorrer deste estudo, pode-se perceber que a preocupa��o com a capacita��o profissional � uma premissa servindo de alerta a todos aqueles que pretendem participar do processo de gest�o escolar. Assim, � de vital import�ncia evidenciar a import�ncia de se desenvolver programas de forma��o voltados para as especificidades do trabalho dos gestores, alicer�ados na articula��o entre as dimens�es administrativas e pedag�gicas, na integra��o entre tecnologias e metodologias de forma��o, tendo as tecnologias como artefatos que favorecem os encontros entre pessoas, valores, concep��es, pr�ticas e emo��es. Por fim, � preciso que o gestor seja formado para perceber as diversas redes que comp�em o conhecimento, num processo que envolve muito mais do que �controlar� o uso e o acesso �s tecnologias dispon�veis, j� que na forma��o, ele tamb�m aprende a buscar os caminhos poss�veis para desempenhar o seu papel.

Refer�ncias

  • CURY, C.R.J. Gest�o democr�tica da educa��o: exig�ncias e desafios. In: Revista Brasileira de Pol�tica e Administra��o da Educa��o. S�o Bernardo do Campo. V. 18, n.2, 2002.

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  • FERREIRA, N. C. Gest�o democr�tica da educa��o: atuais tend�ncias, novos desafios. 2. Ed. S�o Paulo: Cortez, 2004.

  • FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necess�rios � pr�tica educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

  • GADOTTI, M. Uma s� escola para todos. RJ. Petr�polis: Vozes, 1990.

  • LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educa��o Nacional: Texto na �ntegra Lei 9394 de 20 de dezembro de 1996. S�o Paulo: Saraiva, 1996.

  • LUCK, H. A escola Participativa: o trabalho do gestor escolar. 4 ed.Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

  • PIMENTA, Selma Garrido. Quest�es sobre a organiza��o do trabalho na escola. S�rie Id�ias no. 16. S�o Paulo: FDE, 1991.

  • PNE. Plano Nacional de Educa��o-Lei n. 10.127, 09/01/ 2001

  • VEIGA, I. P. (Org.). Projeto pol�tico-pedag�gico da escola: uma constru��o poss�vel. 13. Ed. Campinas: Papirus, 1995.

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Quais os principais mecanismos para a construção da gestão democrática participativa na escola?

Quais os principais mecanismos para a construção da gestão democrática participativa na escola?

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EFDeportes.com, Revista Digital � A�o 19 � N� 195 | Buenos Aires,Agosto de 2014  
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Quais são os principais mecanismos de gestão democrática na escola pública?

As eleições de diretores, a participação, os Conselhos Escolares e o PPP são alguns dos mecanismos de gestão democrática significantes no processo de democratização da educação, expressos na normatização educacional. Com isso, a seguir os abordaremos, considerando que são essenciais para a gestão da escola pública.

Quais são os elementos fundamentais na construção da gestão democrática da escola?

Estes quatro elementos, participação, autonomia, transparência e pluralidade, são básicos da Gestão Democrática e devem ser focados na prática social da educação sempre na perspectiva de posturas e culturas efetivamente democráticas.

São considerados mecanismos de participação e gestão democrática?

São considerados mecanismos de participação e gestão democrática: I- Participação padronizada das práticas, (as práticas são polissêmicas). II- Exigência de planos de carreira para o magistério público. III- Definição de diretrizes gerais de controle para a supervisão da educação nacional.

O que é necessário para haver uma gestão democrática e participativa na escola?

Numa gestão democrática é entendido que para ela acontecer é preciso que haja a participação de forma coletiva de todos os envolvidos no processo educacional, é necessário também que possua gestores capacitados e compromissados com o processo de ensino e aprendizagem, que tenha capacidade para planejar e delegar ...

Quais são os três princípios que formam o tripé da gestão democrática?

Partindo desse pressuposto, podemos levar em consideração que a gestão possui princípios democráticos que devem ser seguidos através da legalidade, com autonomia, participação, transparência, ética e pluralismo.

Quais são as formas de participação em uma gestão democrática?

A democracia que adotamos como sistema de governo e filosofia de vida em nosso país, pressupõe uma participação efetiva de todo cidadão brasileiro, seja através do voto consciente, seja através de participação em um partido político ou associação comunitária ou mesmo colaborando, de alguma forma, para o bem daqueles ...