Quais são as inovações tecnológicas que tem permitido o crescente aumento no transporte?

Não, isto não é ficção científica, é o mundo que já está a ser construído. (…) 2050 promete ser uma época de prosperidade, tal como foram os “anos de ouro” do século XX.

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• Quais são as inovações tecnológicas que tem permitido o crescente aumento no transporte de mercadorias entre os países e continentes?
• Quais são as inovações tecnológicas que tem permitido o crescente aumento?
• Quais as inovações do transporte?
• Quais inovações tecnológicas estão sendo utilizadas pelas empresas de transporte?

Há um consenso alargado entre os especialistas de que as futuras inovações tecnológicas permitirão reduzir custos, aumentar a velocidade, mitigar o impacto ambiental, expandir a capacidade e introduzir maior flexibilidade no produto das companhias áreas.

Contudo, os participantes na discussão sobre o impacto da evolução tecnológica no transporte aéreo, promovida pela IATA e que deu origem ao relatório Vision 2050 já aqui referido, tiveram dificuldade em chegar a acordo quanto à prioridade a dar essas futuras inovações.

A maior velocidade do avião requer mais potência, o que levará a um maior consumo de combustível e, portanto, a um impacto negativo nos esforços para reduzir custos e emissões. Além disso, as vantagens de voos mais rápidos poderão ser reduzidas se o risco associado a esses novos aviões for travado por sistemas de gestão de tráfego aéreo obsoletos.

A vantagem de se fabricar aviões com capacidade para transportar mais de 2.000 passageiros também suscitou debate. Não obstante o avanço das telecomunicações, as pessoas continuarão a viajar: uns quererão voos super-rápidos, outros, cabinas luxuosas, e muitos optarão por viagens baratas, em modos de transporte massivo. Deste modo, as necessidades dos futuros consumidores apontam não só para a expansão da capacidade como também para a diversificação da oferta. O transporte aéreo irá requerer então flexibilidade para atender à larga variedade da procura, daí que o foco terá de ser numa mudança radical a respeito da configuração de lugares nos aviões.

Esta discussão relatada no capítulo 4 de Vision 2050 foi orientada pelo Professor Edward M. Greitzer, reconhecido estudioso de Aeronáutica e Aeroespacial do MIT. Antevendo o futuro, a partir do que serão as necessidades do consumidor nas várias partes do mundo, o grupo de trabalho focou-se nos desenvolvimentos tecnológicos com impacto na indústria aeronáutica por dali a 40 anos, conforme a seguir se descreve:

• Configuração das aeronaves

Desde a era do jato que o avião é constituído por um tubo com asas. Contudo, há duas novas configurações a ganhar forma:

“double bubble” – uma fuse­lagem de configuração com corte central, assim chamada porque é basicamente composta por dois tubos colocados lado a lado. Sendo mais curto e mais largo pode operar em pistas mais curtas; também o embarque e o desembarque de passageiros são mais rápidos. Pelo facto de ser 10% mais lento do que o atual Boeing 737, permite utilizar materiais mais leves e, por conseguinte, mais eficientes.

“blended wing body” – um avião com corpo em forma de asa triangular, combinando uma avançada tecnologia de compósitos com asas altamente eficientes. Inicialmente previsto para o transporte de carga, este avião é para transporte em grande escala (mais de 400 passageiros e carga) e longo alcance (pelo menos 7.000 milhas náuticas).

Ambas estas configurações têm motores que permitem reduções substanciais de combustível, devido à sua capacidade de ingerir e energizar o ar em movimento junto à fuselagem. O “double-bubble” tem três motores abaixo da fuselagem entre caudas verticais que funcionam como proteção sonora. O “blended (or hybrid) wing body” tem os motores incorporados na traseira da fuselagem.

Os contornos da superfície, os revestimentos e os dispositivos de controlo de fluxos têm propriedades aerodinâmicas que reduzem o atrito. Os novos materiais utilizados integram eletrónica capaz de monitorizar o seu estado de saúde, prevendo com antecedência as necessidades de manutenção. Os tradicionais hidráulicos/pneumáticos são substituídos por equipamentos eletromecânicos.

Os aviões supersónicos também serão usados para missões particulares, tais como para executivos cuja prioridade é a velocidade, mas não nas configurações atrás referidas.

• Motores

Em 2050, o consumo de combustível terá tido uma redução de 30% comparativamente a 2010. Nos motores, serão usadas cerâmicas de alto desempenho e introduzidos melhoramentos no desenho dos fluxos, incluindo a alta eficiência de componentes relacionados com o aumento nos rácios do fluxo de ar para os ventiladores (fan bypass racio) e a enorme diminuição do atrito. O tempo do motor em asa será comparável ao da vida útil do avião, através da maior fiabilidade. A construção por módulos facilitará a manutenção e reduzirá os custos de upgrade. Redutores de velocidade para os ventiladores (geared turbo­fans) serão muito utilizados, bem como rotores no exterior da célula do reator (open rotor designs). Os ganhos em eficiência levarão as operadoras a renovar as suas frotas com mais frequência, procurando a tecnologia mais recente. Isto levará a uma indústria de reciclagem de aviões que reduzirá os custos totais da sua produção ao mesmo tempo que será ultrapassada a escassez de alguns materiais, tais como o titânio.

• Materiais e sistemas

A nanotecnologia revolucionará os materiais, otimizando as estruturas que passarão a ter metade do peso. Não serão necessárias janelas, graças a estruturas transparentes que permitirão céu aberto no cockpit e nas áreas de passageiros, com peso e custo reduzidos e permitindo uma visão a 360 graus. Os aviões serão auto assistidos, eliminando a maioria dos equipamentos de terra.

Produtos à base de fibras de plantas serão usados para reduzir o peso e aumentar a possibilidade de reciclagem. Os interiores das cabines serão ultraleves e auto refrescantes de modo a que pareçam sempre novos, graças à nanotecnologia. Tais tecnologias também são aplicadas a fornos, compactadores de lixo, toiletes e canalizações de água.

Os aviões raramente terão sistemas de entretenimento a bordo; os passageiros terão os seus próprios dispositivos que farão interface protegido com o sistema de dados do avião, o qual atua como um portal para o data cloud dos anos 2050. A automatização do cockpit e os sistemas de otimização permitirão ao piloto atuar como gestor do voo a maior parte do tempo.

• Poluição

Os óxidos de nitrogénio terão reduzido na ordem dos 75% a partir de 2010. O dióxido de carbono terá diminuído proporcionalmente aos melhoramentos na eficiência de combustível. A emissão de monóxido de carbono praticamente terá desaparecido. Em vez de ser tratado como um suplemento, a tecnologia de controlo do ruído estará a ser integrada na fase de conceção dos aviões. Em resultado destes avanços, teremos aviões mais silenciosos do que o tráfego de estradas e de linhas férreas ao redor dos aeroportos. Através de uma especial mitigação do ruído, será possível implementar um controlo ativo com vista a criar zonas silenciosas. Contudo, haverá uma preocupação crescente relativamente a um novo tipo de poluição: a “poluição visual” que resulta do crescente número de aviões em operação.

• Energia

As reservas de petróleo estarão menos acessíveis, não só do ponto de vista técnico como político. Felizmente haverá combustível sintético em abundância a ser usado por todos os modos de transporte. O uso de biocombustíveis na aviação comercial atingirá uma proporção de 80%, enquanto o querosene estará lentamente a sair de circulação. Um fator chave para a utilização dos biocombustíveis será o destaque dado aos benefícios do ciclo de vida do carbono. Juntando isto a aviões e motores mais eficientes, prevê-se uma redução de emissões de CO2, no global da aviação, para menos de metade dos níveis anteriores a 2005, apesar do enorme aumento do tráfego. O apelo ao “consumo ético” fará com que a compensação de carbono seja a norma para os passageiros, tal como em outros aspetos das suas vidas.

Alguns sistemas dos aviões serão parcialmente alimentados por energia solar. A maioria das baterias e dos geradores será substituída por células que utilizarão hidrogénio, além de oxigénio proveniente da atmosfera, de forma a produzir eletricidade. Serão vulgares os testes com vista a verificar de que modo a nanotecnologia pode ser usada na conceção e manufatura de uma nova geração de células solares e baterias, as quais serão ainda mais eficientes.

• Controlo de Tráfego Aéreo

A mudança dos sistemas tradicionais baseados no solo para uma rede de informação via satélite tem providenciado a visão partilhada das situações entre pilotos e controladores de tráfego aéreo, permitindo um controlo mais preciso e também uma maior flexibilidade. Isto não só alivia o trabalho dos controladores como aumenta a capacidade do espaço aéreo, ao reduzir os mínimos de separação e ao permitir mais rotas diretas. Avanços na automação já permitem aviões sem pilotos, os designados Veículos Aéreos Não Tripulados (Unmaned Aerial Vehicle – UAV), atualmente em uso apenas para operações de carga.

Os desenvolvimentos na partilha de informação, que têm permitido reduzir as margens de separação entre voos e até voar em formação como fazem os pássaros, também estão a gerar poupanças de energia. Outro benefício relacionado é o do aumento da capacidade das pistas, através de procedimentos inovadores para reduzir os efeitos dos vórtices no avião seguinte. Também a tendência de usar aeroportos secundários, aliviando a carga dos aeroportos primários, irá traduzir-se no aumento dos sistemas de multi-aeroportos que servem a mesma área metropolitana.

• Áreas afins ao transporte aéreo

As tecnologias aplicadas aos processos de segurança contra atos ilícitos a passageiros e bagagem não só serão mais eficientes como menos visíveis. O objetivo será não haver interrupção ao percurso do passageiro no aeroporto, exceto quando essas tecnologias revelarem a necessidade de uma inspeção mais apertada.

A tecnologia também será aplicada aos passageiros e sua bagagem. Tablets e dispositivos afins permitirão que os próprios passageiros acompanhem cada etapa da sua bagagem durante a viagem, virtualmente eliminando os extravios. Com o emergir de um novo modelo de negócio já a partir da segunda década, as companhias providenciarão um serviço noturno de recolha e entrega de bagagem porta-a-porta a um preço extremamente baixo, minimizando o incómodo aos passageiros e tornando o processo no aeroporto mais eficiente. Entretanto, os mesmos tablets e afins permitirão às transportadoras, aos aeroportos e aos agentes de segurança saber o paradeiro dos próprios passageiros, de forma a assegurar que eles não percam os voos inadvertidamente.

Não, isto não é ficção científica, é o mundo que já está a ser construído. A tecnologia está a revolucionar a forma como as pessoas vivem. O acesso à informação em tempo real e em qualquer lugar do planeta é uma expectativa realista. Espera-se que, depois de um período turbulento relacionado com tensões étnicas, religiosas, crenças e recursos naturais, a partir de 2030 haverá mais estabilidade. Tal estabilidade conjugada com o avanço tecnológico levará ao desenvolvimento económico, de forma mais equitativa entre as diferentes partes do mundo. 2050 promete ser uma época de prosperidade, tal como foram os “anos de ouro” do século XX.