Quais são os instrumentos de uma bateria de escola de samba?

Pra folia ficar melhor ainda, prepare-se pro carnaval aprendendo a tocar os principais instrumentos usados nas baterias de escolas de samba e bloquinhos do país, como o tamborim, o repinique, a caixa, o agogô, a cuíca e vários outros!

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Um pouco do funcionamento, história e historinhas de uma bateria de escola de samba.

Uma bateria de Escola de Samba desperta muitas curiosidades em muitas pessoas. E muitos, muitos mesmo, nunca viram uma bateria desse tipo ao vivo na avenida ou mesmo um ensaio de quadra. E já quero fazer um convite a você: vá imediatamente ver e ouvir isso de perto. Independente de gostar de samba ou não, bateria de Escola de Samba é papo sério!

Existe mesmo a dificuldade em se conseguir informação sobre esse assunto. Isso porque além de existirem pouquíssimos materiais sobre isso (há alguns livros, uns didáticos e outros como relatos), é difícil de se captar áudio de bateria de escola de samba de forma que traga a realidade dela. Outra coisa é que nesse meio a transmissão dos conhecimento é feita de forma empírica: observa-se e depois reproduz. Ninguém vai te explicar como é. Vai lá e veja, ou não tem outra forma.

Eu venho estudando essas baterias há alguns anos. Faço isso profissionalmente por ter sido jurado e depois coordenador de julgamento do Carnaval de São Paulo. Hoje sou consultor e presto consultorias para escolas de samba de todo Brasil dentro da minha expertise, o julgamento. Já como coordenador eu pude visitar todas as Escolas de Samba de São Paulo dos grupos de acesso e especial (são 22 escolas). Nessas visitas eu aprendi muito. Entrevistei mestres, diretores e ritmistas. Conversei com milhares de pessoas durante esses anos. Ouvi muitas baterias e aprendi a tocar um pouco de cada instrumento. Também aprendi sobre outros quesitos como Samba-Enredo, Harmonia (o quesito de julgamento, não a harmonia musical), e Evolução. Tudo isso porque esses quesitos estão interligados à bateria.
Depois, já como consultor, aprofundei ainda mais no assunto, adentrando nos processos todos de uma escola de samba. Desde a escolha do enredo, passando pela composição e escolha do samba enredo, até os preparativos finais para o grande dia. Dessa forma, quero passar aqui para vocês um pouco do que aprendi. Não considerem isso uma aula prática sobre o assunto. Pretendo apenas falar sobre o funcionamento da bateria. Ninguém vai ler isso e estar apto a tocar em uma Escola de Samba, ok?! Também acabei falando mais de São Paulo por ser o lugar onde vivo o samba. Todo o meu respeito e admiração pelos outros carnavais e terreiros de samba desse país.
Então vamos lá!

Mestres
Uma bateria tem em sua direção um mestre e alguns diretores, que variam em quantidade (tem escolas que tem 5 e tem escolas que tem 15 diretores). O mestre já levou o nome de aptador no passado e também de diretor geral. São Paulo tem nomes importantes como mestres ejá teve outros que foram definitivo para esse ritmo. No passado tivemos o grande aptador Pato N'Água, Seu Livinho, Mestre Divino, talvez o maior mestre da grande Nenê de Vila Matilde (que é mestre até hoje, mas tem sua própria escola de Samba, a União Imperial, que atualmente está nos Grupos da UESP — divisões inferiores aos grupos da Liga). Outro grande mestre que fez história é Mestre Neno, que foi talvez o grande Mestre da tradicional escola Camisa Verde Branco. Mestre Neno está vivo e atualmente vê seu filho, o promissor Fernando Neninho, continuar sua história à frente da bateria da Escola de Samba Pérola Negra. Neninho foi até o ano passado mestre da bateria do Camisa Verde e Branco, escola de seu pai. Além deles vale citar outros que fizeram história: Mestre Pé Rachado, Mestre Lagrila, Mestre Magui, Mestre Paulão, Mestre Zuca, Mestre Claudemir, Mestre Romildo, Mestre Dartanhan, o recém aposentado Mestre Adamastor e muitos outros.

Na atualidade alguns mestres já estão há pelo menos 15 anos na frente de suas baterias e estão escorrendo página importante da história. Mestre Tadeu é o mais antigo. Está na frente da bateria do Vai Vai há incríveis 44 anos. É uma figura lendária e folclórica. Sua bateria tem bastante personalidade. Mestre Sombra, do Mocidade Alegre, traz sua bateria sempre com um show à parte. Além do belíssimo ritmo, faz coreografias e dá show sempre.

A geração a seguir, aparecem nomes importantes também. Mestre Zoinho (Império de Casa Verde), Mestre Tornado (Dragões da Real), todos já ganharam seus títulos e trazem ritmo poderoso para a avenida. Mestre Carlão (Tom Maior) traz um trabalho diferenciado não só na avenida, mas também dentro de sua quadra. Ele rigorosos ensaios e puxa o que tem de melhor de seus ritmistas e diretores. Também é um grande líder. Mestre Juca da escola Águia de Ouro, vem apresentando um trabalho conciso na avenida e sua bateria tem bastante personalidade. Mestre Higor (Acadêmicos do Tatuapé), que é o atual campeão do Carnaval.

E a nova geração promete muito. Revigorada, ousada, e estudiosa, essa geração traz novos mestres que tem uma característica em comum: estudam música. Mestre Moleza (Vila Maria), Mestre Maradona (Mancha Verde), Mestre Guma (Tucuruvi e filho do mestre Zuca) Mestre Fernando Neninho (Camisa Verde e Branco), Mestre Klemen (Independente Tricolor)), Mestre Fabio e Mestre Kito (X-9 Paulistana), Mestre Diego (Estrela do Terceiro Milênio), Mestre Call (Unidos do Peruche), Mestre Rafael (Rosas de Ouro) Mestre Allan (Colorado do Brás). Todos estudam música e vem trazendo uma concepção diferente para suas baterias. E na avenida eles vem ousado e trazendo elementos diferentes. Uma geração nova e que renova o samba paulistano com muita qualidade.

Do passado ao futuro, esses caras escrevem história da nossa cultura, da nossa música. E o trabalho deles nos chama atenção pela maneira que conseguem desenvolver um grupo de pessoas que se auto-proclama ritmistas, mas não músicos, sem dúvidas, todos eles, de mestres a ritmistas. Apenas são músicos especialistas em seu instrumento e gênero musical. Fosse nos EUA seriam considerados os melhores músicos do país.

A Direção

O comando da bateria passa por um grupo de pessoas lideradas pelo mestre. A diretoria de bateria trabalha em conjunto e na maioria das vezes seu papel vai muito além de auxiliar o mestre nos ensaios e na avenida. A diretoria fica dividida por naipe. Diretor de tamborim, de caixa, de surdos de 1ª e 2ª, surdo de 3ª, de chocalho, de cuíca, de agogô, de repiniques (as vezes o diretor cuida de caixa e repiniques juntos), timbal, e por aí vai. Esses diretores são responsáveis por criar os arranjos de todas as partes do samba, passagens e bossas. São responsáveis pela afinação dos seus naipes também.

Além desse grupo principal ainda há os apoios. São ritmistas que ainda não desfilam e que ajudam a organizar filas, transportar os instrumentos, distribuir equipamentos, dar água para os ritmistas, entre outras atribuições.

A Forma

E o que seriam as partes do samba? O samba enredo tem atualmente uma estrutura básica de dois refrões e duas estrofes, todos intercalados. É um ABCD em termos de forma, primeiro estrofe, primeiro refrão, segunda estrofe, segundo refrão. Sendo que harmonia e melodicamente eles não se repetem, uma parte é de fato diferente da outra, por isso ABCD. As partes são conhecidas como “primeira do samba” (A- primeira estrofe), “Refrão do meio” (B- primeiro refrão), “Segunda do samba” (C- segunda estrofe) e “Refrão final”, ou “Refrão da cabeça”, ou "Refrão de Subida", ou ainda “Refrão Exaltação (D- último refrão). Esse último refrão leva esses nomes porque ao começar a cantar a escola sempre começa com o refrão. E esse refrão é a única parte permitida pelo critério de julgamento onde a escola fala dela própria e não apenas do Enredo do ano, e por isso leva o nome de Refrão Exaltação, por exaltar a escola.

Para demarcar as passagens as baterias usam viradas e frases em surdos e tamborins. As mais comuns e usadas são as viradas de 2 e viradas de 3, elas acontecem respectivamente para a entrada da Segunda do Samba, e para a Primeira do Samba. Nas entradas de refrões geralmente não acontecem viradas, mas sim frases características como subida de tamborim ou corte de surdos de terceira (explicação sobre isso mais abaixo). Mas as viradas de 2 são usadas em outras partes também, como volta de paradinha ou entrada de paradinhas. São frases muito importantes para uma bateria.

Enredo e Samba Enredo

O Enredo é o tema que a escola escolhe para falar naquele ano. Uma vez definido o enredo, a escola precisa desenvolve-lo em forma de roteiro e o que vai para avenida deve necessariamente seguir esse roteiro. O Samba-Enredo, ou Samba de Enredo, deve “defender” o enredo proposto, não só pelo tema, mas também pelo roteiro. Exemplo: uma escola fala do descobrimento do Brasil. Não pode haver no Samba-Enredo algum dado ou fato histórico que não esteja sendo mostrado na avenida pelo roteiro da escola. Por outro lado, um Samba-Enredo não tem obrigação de narrar todos os dados apresentados pelo roteiro do enredo da escola, mas não pode conter o que não está proposto pelo Enredo. Excessão apenas no refrão exaltação.

O Samba Enredo ainda traz uma importantíssima incumbência: ele precisa ser cantado com força e compreendido por quem ouve. Ou seja, ele precisa ser forte, fácil de cantar, poético e ao mesmo tempo compreensível. Não é fácil levar um samba perfeito para avenida.

Afinação

Afinação dos instrumentos é balizamento para o jurado, porém cada bateria pode escolher sua afinação em termos de altura para cada naipe. Algumas gostam de afinação de surdos mais graves (ou muito graves) e outras mais alto ou leve (não chega a ser agudo, porque estamos falando de tambores de até 29 polegadas). E todos os naipes tem variações de afinação de escola para escola. Porém, o que é avaliado e tido como obrigatório é o intervalo entre os surdos de 1ª, 2ª e 3ª. Eles não podem soar igual, e geralmente é usado um intervalo de quartas ou quintas para os surdos de 1ª e 2ª, e as terceiras vêm bem mais acima, às vezes uma oitava em relação a 1ª, as vezes até mais. Não tendo essa diferença de altura perde ponto em afinação. Para os demais instrumentos não há regras de como precisam estar. Porém, por erros na escolha da afinação muitas baterias perdem pontos em Equalização. Ao deixar, por exemplo, repeniques e caixas com frequências muito parecidas, simplesmente acaba sumindo os repiniques (até por ter menor quantidade em relação as caixas).

É curioso saber que há diretor responsável só pela afinação desses surdos, e que como são instrumentos que usam pele animal, a afinação muda a toda hora. Como não se pode parar a bateria para refinar durante o desfile, os “diretores de chave”, como são conhecidos, reafinam com a bateria tocando, onde estão submetidos a um volume na casa dos 110 decibéis!!!! É inacreditável o ouvido deles para refazer essas afinações. Mas quase sempre conseguem.

As funções de cada naipe.

Surdos

Surdos de marcação são os de 1ª e 2ª. É bom dizer que o surdo de primeira toca no tempo 2 do samba (tempo forte), e o surdo de segunda toca no tempo 1. As baterias optam por usar o tempo forte com a nota mais grave. Mas tem raríssimas baterias que invertem e usam o surdo de 1ª mais alto do que o surdo de 2ª. Não há regras para isso. Esses dois surdos tem função de marcação, ou seja, manutenção do tempo. É por eles que, não só o restante da bateria se baseia, assim como os componentes da escola para poderem evoluir, o Casal e Mestre Sala e Porta Bandeira para bailar, e a ala musical (grupo de cordas e canto) para cantar o samba.

Já o surdo de terceira tem função diferente. Ele faz parte da base da bateria, que inclui caixa e repenique, e todos tem função de condução mais “molho” do ritmo. No caso do surdo de 3ª, ou simplesmente das terceiras, como é chamado esse naipe, ele muda muito de escola para escola. Ele é chamado de surdo de corte, no Rio já foi conhecido como “intrometido” por tocar frases entre os surdos de 1ª e 2ª. Suas frases geralmente começam junto com os surdos de 1ª. Basicamente há quatro estilos diferentes de usá-lo.
A) Surdo com linha fixa

Esse é tocando com uma linha rítmica única no samba todo.

B) Surdo fixo nas estrofes e desenhado nos refrões

Nesse caso as estrofes são como no primeiro exemplo, linhas rítmicas fixas em toda a estrofe, tanto na primeira quanto na segunda do samba. E nos refrões eles alteram esses desenhos, criando uma linha rítmica mais variada.

C) Surdo desenhado (conhecido também como padrão)

Esse estilo é quando o naipe tem um arranjo para cada parte do samba, mais ou menos como o tamborim (não o mesmo desenho, apenas idéia de arranjo para o samba todo).

D) Surdo livre

Nesse caso não há batida fixa, nem arranjo. Eles improvisam o tempo todo. Para não embolar eles apenas seguem uma linha fixa e cortam sobre ela. Atualmente quase nenhuma escola usa esse tipo de terceira. A escola que o usa de sua maneira mais característica é o Vai Vai.

Muitas vezes esses estilos se misturam um pouco. E isso depende da característica da bateria. Mas sobre característica falarei já já. De qualquer forma, as terceiras dão base sólida para a frente da bateria, além de ajudar nas marcações das primeiras e segundas, para estas não correrem.

Gosto muito desse vídeo de surdos de terceira da Acadêmicos do Tucuruvi, com a direção do Leo Bonfim. Aqui vocês verão um belo exemplo de terceiras padronizadas. Esse ano a bateria do Tucuruvi tinha o comando do Mestre Adamastor (Leo hoje está no Unidos de Vila Maria).

https://www.youtube.com/watch?v=8V-l-gRLh-c

Caixas

As caixas são um elemento fundamental (e obrigatório pelo critério). Elas tem a função de base rítmica e preenchimento. Também são conhecidas por apresentar a cara de uma bateria. Isso acontece muito mais no Rio do que em qualquer outro lugar. Embora em São Paulo tenhamos alguns desenhos de caixas exclusivos. Esse desenhos rítmicos feito pelas caixas são chamados de batidas de caixa. E aqui em São Paulo as escolas Nenê de Vila Matilde, Camisa Verde e Branco, Águia de Ouro e Vai Vai. Dessas 4 baterias, 3 delas tem a chamada “batida rufada” e uma não tem rufo (Águia de Ouro). A batida da Tom Maior antiga tinha dois rufos. Na verdade se trata de um rulo de pressão sobre uma nota, parecido com o rulo do maracatu, maxixe, mas diferente do frevo.

Vejam aqui um vídeo do Mestre Odilon (considerado por muitos como o maior mestre vivo. Para mim ele é um dos maiores vivos e de todos os tempos. Nesse vídeo ele mostra algumas batidas de caixa do Rio de Janeiro:
https://www.youtube.com/watch?v=aKLyw-rVUGc

Nesse vídeo abaixo o Mestre Moleza (eu o chamo de “O Futuro”, por ser para mim o cara mais à frente na atualidade em São Paulo) junto com seu ex-diretor, o Nômade, mostrando a batida do Mocidade Alegre (também usada por algumas outras escolas)
https://www.youtube.com/watch?v=AoNYlSj5_uI

Esse vídeo com dois ritmistas mostrando batidas de caixas de São Paulo. Um deles é o Denis Viguil, meu camarada, que toca em algumas escolas e é um apaixonado por escolas de samba.
https://www.youtube.com/watch?v=0EuhtD8bsmM

Por fim, esse vídeo do Mestre Guma (grande batera também) ele mostra a batida do Tucuruvi em caixa e repinique:
https://www.youtube.com/watch?v=inbwIk8NkeM

Repinique

A ripa, como é comumente chamada no meio, é um instrumento riquíssimo e fundamental para uma bateria. Primeiramente, é preciso explicar que há basicamente dois “sub-naipes” nesse instrumento: as ripas de andamento, que tocam a condução rítmica característica durante todo o samba e dão sustentação para a bateria; e as ripas bossas, que são responsáveis por “subir” a bateria, frases de bossas e frases rítmicas mais complicadas.

O repinique ainda tem uma outra curiosidade. Para muitos mestres, principalmente os mais antigos, esse instrumento é da família dos… surdos. Isso mesmo! É conhecido como “quarto surdo”, ou surdindo. Existem os repiqueis mor, ou “repicão”. Esses são mais longos e mais graves, se assemelhando um pouco mais aos surdos, de fato. Mas há mestres que preferem pensar esse naipe mais próximo às caixas, por uma questão de timbre e fraseado. A bem da verdade, para o jurados, esse instrumento é de fato mais relacionado com as caixas, justamente por seu timbre e fraseado, podendo sumir sendo suprimido pelo volume das caixas, ou embolar com as caixas. Mas em termos de função dentro da bateria, eles se assemelham ao que fazem os surdos de terceira, especialmente com batida fiz.

Uma bateria tem de 4 a 8 repiniques bossa. Esses instrumentistas são muito habilidosos, virtuosos e grandes solistas, em geral. Dão verdadeiros shows nos esquentas para a subida da bateria. Seus solos são sensacionais. Há improvisos e há solos pré determinados onde os seis repiniques bossas tocam frases complicadíssimas em uníssono! Coisa de louco, mesmo! E não é por acaso que eles se ficam bem no centro da bateria. Ali eles dão todos os comandos de passagens para os demais naipes.
Vejam o mestre Odilon dando uma demonstração no instrumento:
https://www.youtube.com/watch?v=I3H9XLcpx6k

Aqui uma “batalha” de ripas, com os jovens Lucas Eduardo e Hebert Bruno do Rosas de Ouro. São os “pica-pau” do Rosas. É fantástico!!!
https://www.youtube.com/watch?v=qTyv1XULBJE

Vejam uma subida de bateria feita com chamada de repinique:
https://www.youtube.com/watch?v=dmwY2qdu8PM

Tamborim

Esse talvez seja o naipe mais almejado pelos ritmistas hoje em dia. É um naipe de destaque por alguns motivos. Primeiro lugar, ele vem na frente da bateria (ou pelos menos em 90% delas). Segundo, seu fraseado é muito complexo, difícil e destacado. Terceiro, seu volume e timbre o destacam do resto da bateria. Por isso acaba atraindo a atenção de novos ritmistas.

É um instrumento dificílimo de se tocar. Sua execução depende muito da técnica. Além disso, é um naipe que mais varia dentro da bateria. Um arranjo que varia por todo o samba, que dura em média 2:40 minutos. Ou seja, são quase 3 minutos variando sem parar em um arranjo tocado por cerca de 36 componentes do naipe. Se um errar põe tudo a perder. Tem que ter uma ótima memória para tocar nesse naipe e uma técnica perfeita.

Seu arranjo é feito pelo diretor do naipe, e lapidado pelo mestre em conjunto com o diretor. As frases nascem geralmente baseado na melodia. Alguns diretores tem como característica variar muito, e outros já variam menos. Variar menos é, por exemplo, ficar mais tempo em uma mesma frase de acompanhamento.

As batidas são uma mistura de teleco-teco, carreteiro, subidas, batidas chapadas, batidas viradas. O teleco-teco é um tipo de frase baseado no tradicional teleco-teco, mas no tamborim ele tem variações. O carreteiro é uma frase muito tradicional e característica do tamborim. É tocado com grupo de semicolcheias constantes onde na terceira semicolcheia de cada tempo o tamborim vira e a batida é tocada de baixo para cima.
A subida de tamborim é uma frase de batida chapada (tamborim reto e estático) com um grupo de tercinas constantes até a próxima frase. Dura entre 4 e 8 tempos. Aí tem as batidas chapadas que são como a subida, mas são frases com variação rítmica. O próprio teleco-teco é um tipo de batida chapa, porém em ostinato. As batidas viradas usam a mesma técnica do carreteiro, mas com variação rítmica, e a virada pode acontecer em qualquer uma das semicolcheias.
Vejam esse vídeo com o Mestre Marcão (Salgueiro) mostrando o tamborim. Nesse vídeo tem o carreteiro, a frase da virada de 2, batida chapada em terminas com 4 e 8 tempos, e telecom-teco
https://www.youtube.com/watch?v=stezVit7NrI

Agora vejam esse vídeo do grupo de tamborim da Mocidade Alegre passando o arranjo do ano de 2011
https://www.youtube.com/watch?v=eOMCcVAarmM

Chocalho

Esse é o naipe da condução e que promove grande explosão do samba na avenida. É incrível o quanto esse naipe tem o poder de elevar a euforia do trecho. É um poderoso instrumento de dinâmica na bateria.

Por muito tempo ele foi subestimado, mal aproveitado. Conta-se que quando chegavam pessoas querendo tocar numa bateria e não sabiam, os mestres colocavam para tocar chocalhos. Algumas vezes sem platinelas, ou seja, sem som! (risos). Isso foi mudando, e o jurados são os responsáveis por essa mudança até recente em São Paulo. Eu participei do grupo de jurados que começou a se atentar para o que deveria ser um chocalho e o que era. Tocado sem precisarão rítmica ele parece uma panela de pressão.

Aqui um vídeo da ala de chocalhos da Mancha Verde, que até há pouco foi comandada pela incrível Talita Badia (hoje ela é diretora da Unidos de Vila Maria). O vídeo é longo, o chocalho entra no minuto 1:30.
https://www.youtube.com/watch?v=gNzwAV0Glqw

Agogô

Esse é o instrumento mais melódico da bateria. Há muitos anos o agogô usado é o de 4 bocas (ou campanas). Ele costuma ter as notas Ré, Sol, Si, Ré, mas não é lá muito preciso. A batida mais usada foi criada na Império Serrano. E as escolas tem cada vez mais olhado com mais carinho para esse instrumento, criando bons arranjos para o samba. Aqui em São Paulo escolas como Tatuapé e Tom Maior estão fazendo bons arranjos de agogô enriquecendo muito seu arranjo geral.

Vejam um exemplo de arranjo de agogô 4 bocas, da escola Tatuapé
https://www.youtube.com/watch?v=sq21miUVyr8

CuícaInstrumento símbolo do samba, traz com ele grandes ritmistas, grandes nomes, e o maior de todos é um paulistano do Vai-Vai, Osvaldinho da Cuíca. O problema desse naipe é que as baterias tem muito volume e se eles não tocarem da forma certa o naipe some. Depende muito da afinação correta, um bom instrumento e um bom instrumentista. Até mais do que nos demais naipes. Sem isso esse naipe some dentro da bateria. No entanto, é um instrumento maravilhoso e tem em São Paulo excelentes instrumentistas.

Aqui um vídeo do divertido Osvaldinho, que além de cuiquero, é um grande compositor e um excelente contador de histórias.
https://www.youtube.com/watch?v=t9xlRJbIfmk

Agora vejam o naipe de cuícas da X-9 Paulista, que tem desenhos diferentes para a primeira do samba e para a segunda do samba. Podem colocar já em 4:45 de vídeo, que antes disso tem de um tudo, discurso do presidente André, pedal, e a bateria demora a subir. Mas é tudo legal!
https://www.youtube.com/watch?v=GFJghKL8sgg

Algumas baterias usam alguns outros instrumentos, como a frigideira — uma panelinha de aço que bastam duas para vir alto pra chuchu!), xequerê, timbal, djembê. Já teve bateria que usou quintoms e caixa tenor, usada em baterias de rum corp. Teve bateria que usou um baterista no meio dela! Foi a Mocidade Alegre, onde o Flávio Pimenta teve a honra de ser o baterista da bateria. Também muito antigamente em São Paulo o chocalho era o chocalho de pião, garrafa, agogô 2 bocas, malacaxeta, zabumba, bumbo e outros mais.

Paradinhas ou bossas

O momento mais aguardado do público para com as baterias. Infelizmente, nem todas fazem ou mesmo gostam de fazer. Em São Paulo a criatividade não é julgada, e as baterias nem mesmo precisam parar para se apresentar para os jurados. Então, executar uma paradinha na avenida é arriscado e só pode fazer perder pontos, ganhar ela não ganha nada com isso. Isso vem desestimulando muitos mestres a colocá-las na avenida. Uma pena. Enquanto coordenador tentei colocar no manual de julgador o item criatividade, que obrigaria as baterias a apresentar elementos novos. Mas não foi aprovado. Um dia quem sabe.

De qualquer forma, as paradinhas ajudam muito a escola toda, se bem feitas. Ajuda a chamar a arquibancada, a incendiar o componente, e a trazer o samba para cima. Claro que paradinhas muito difíceis pode ser um tiro no pé. Além de perder a nota em bateria, ela pode prejudicar o canto e dança da escola — que também são pontos julgados em outros quesitos, como Evolução e Harmonia, por exemplo.

Como são feitas as bossas? Depende muito da diretoria de bateria. Em geral a paradinha é feita de forma fragmentada por naipe, onde cada diretor cria sua parte. Depois vão juntando. E depois ajustam com o samba. Porque muitas bossas nascem antes do samba ser escolhido para a escola. Quando vem o samba a diretoria de bateria ajusta a bossa (ou não!). Por essa razão, muitas paradinhas ficam sem a menor conexão com a melodia, ou até mesmo com a métrica. Pior, muitas vezes chocam com as estruturas básicas da composição. E por esse motivo tornam esse momento muito difícil de cantar e sambar. Perdem pontos quase sempre pelo sincronismo e precisão rítmica e pulso.
Mas as paradinhas bem feitas são um primor. A inteligência em trabalhar todos os naipes, fazendo as frases caminhar pela bateria, trabalho de pergunta x resposta, crescendo e decrescendo, acentos, ritmos diferentes, sumida e descida de naipes, enfim, toda a riqueza e criatividade trazem muita empolgação para todos.
Vejam esse vídeo interessantíssimo do Mestre Moleza começando a criar e registrar idéias de bossas para o carnaval de 2015. Um vídeo muito bem produzido, por sinal.
https://www.youtube.com/watch?v=4TZdfsh2NKM

E agora vejam o resultado na avenida em seu ensaio técnico. Logo aos 3 minutos a primeira bossa (a mais simples delas, por sinal). Aos 4:30 vem a bossa mais impressionante, com uma mudança de ritmo sensacional. Esse vídeo é um verdadeiro passeio dentro de uma bateria. Você pode observar muitos detalhes e muito do que eu falei acima.
https://www.youtube.com/watch?v=wtBb8_HVMSc

Aqui um vídeo muito legal com muitas bossas do ano 2013:
https://www.youtube.com/watch?v=pOl4fb8OZKk

E assim é o funcionamento de uma bateria de escola de samba. Eu sugiro (e quase obrigo) a todos irem assistir ao vivo um ensaio ou os desfiles do Carnaval de São Paulo. Independente do estilo de música que você curte, a experiência de ver e ouvir ao vivo uma bateria, ou mesmo um ensaio, é algo indescritível. Há muitas lições dentro de uma escola de samba. A disciplina, a superação, o respeito, a hierarquia, a organização, a tradição. Ali dentro você encontra tudo isso funcionando muito bem.
Bom Carnaval para todos!

Quais são os instrumentos de uma bateria?

Abaixo, vamos falar sobre os componentes básicos de uma bateria:.
Caixa. A caixa (snare drum) é um tambor que produz som mais seco e agudo. ... .
Surdo. O surdo (ou floor tom) é muito utilizado em variados estilos musicais para a marcação do tempo. ... .
Bumbo. ... .
Tons. ... .
Chimbal. ... .
Prato de Ataque. ... .
Prato de Condução..

Quantos componentes bateria escola de samba?

No centro de cada escola está a bateria, um grupo de 250-300 percussionistas que produzem energia e o ritmo para os passistas. A bateria traz à frente a figura da rainha da bateria que embeleza e eleva ainda mais a temperatura do desfile.

Quais são os principais instrumentos utilizados no samba?

PERCUSSÃO.
Pandeiro (23).
Rebolo (14).
Reco Reco (25).
Repinique (4).
Repiques (6).
Surdo (2).
Tamborim (6).
Tantan (1).

Quantos componentes tem uma bateria?

A caixa de uma bateria é composta por vasos e tem função de acomodar os blocos formados pelas placas. Normalmente uma bateria automotiva é constituída por 6 vasos/elementos e cada um apresenta 2,1 volts, que ligados em série totalizam 12,6 volts (no caso da bateria totalmente carregada).