Naturalismo foi um estilo de época de finais do século XIX. Seu surgimento está associado à publicação, em 1859, do livro A origem das espécies, de Charles Darwin (1809-1882), que revolucionou o pensamento científico na segunda metade desse século. O estilo possuiu características como o determinismo e a zoomorfização. Show
Os escritores naturalistas usavam a ciência como base de composição de seus personagens, nesse ponto diferenciavam-se dos realistas. Na Europa, os principais autores foram Émile Zola (1840-1902) e Eça de Queirós (1845-1900). No Brasil, os principais nomes foram Aluísio Azevedo (1857-1913), Adolfo Caminha (1867-1897) e Raul Pompeia (1863-1895). Leia também: Simbolismo – estética contemporânea ao naturalismo dedicada à poesia Contexto histórico do naturalismoO naturalismo surgiu na Europa, no século XIX. O marco de fundação dessa nova estética foi a publicação do livro A origem das espécies, de Charles Darwin. Esse livro provocou polêmica, pois contrariava o pensamento que vinha sendo defendido até então, ou seja, o criacionismo. Dessa forma, em oposição à ideia de que a humanidade era uma criação divina, Darwin comprovou que, assim como os outros seres vivos, o ser humano é resultado de um processo de evolução. O cientista Charles Darwin.O darwinismo foi uma influência primordial no naturalismo. Principalmente no que se refere aos seguintes aspectos: a conclusão de que o ser humano é um animal igual a qualquer outro, sem nada de divino, e o entendimento de que as espécies mais bem adaptadas sobrevivem, no processo de seleção natural, enquanto as outras sofrem extinção. Como consequência, ou distorção, das teorias de Darwin, surgiu a expressão “darwinismo social”. Segundo Luciana Murari|1|:
Assim, essa corrente de pensamento procurou justificar a exploração imperialista, ocorrida, no século XIX, na África, Ásia e Oceania, com a noção de que os países dominantes eram superiores, além de propiciar um discurso eugenista que defendia a superioridade de uma raça sobre outra. Segundo o antropólogo inglês Francis Galton (1822-1911), eugenia foi “o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente”. Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;) Outros dois nomes importantes nesse contexto foram os do filósofoAuguste Comte(1798-1857) e do crítico Hippolyte Taine (1828-1893), ambos franceses. Comte criou o positivismo, corrente filosófica que defendia a racionalidade, o pensamento científico, em detrimento de concepções metafísicas ou religiosas. Já Taine foi o responsável por divulgar o termo “determinismo”, conceito que direcionou a escrita dos autores naturalistas. Segundo ele, o indivíduo é socialmente condicionado pela sua raça, o meio do qual faz parte e o momento histórico em que vive. Leia também: Antropologia – ciência que surgiu no contexto histórico do naturalismo As principais características do naturalismoO naturalismo é considerado uma evolução do realismo e apresentava as seguintes características:
Principais autores do naturalismo
Na Europa, o principal autor naturalista foi o francês Émile Zola, que, em 1880, publicou o livro de ensaios O romance experimental. Com essa obra, Zola expôs os fundamentos teóricos do naturalismo. Já na ficção, a obra do autor que colocou em prática as suas ideias é Germinal, de 1885. O livro mostrou o drama de operários(as) das minas de carvão, na França do final do século XIX. Ali, eles enfrentam as piores condições de trabalho, com risco de vida e salários miseráveis. O descontentamento descamba em uma greve geral, liderada pela personagem Etienne. Émile Zola foi o precursor do naturalismo.No mais, é possível perceber, no romance, não só elementos políticos mas também cientificistas, como o fato de que o meio em que trabalham as personagens, isto é, as minas de carvão, acaba comprometendo sua humanidade.Surge daí um processo de zoomorfização, como podemos ver nos seguintes trechos|3|:
Veja também: Karl Marx – autor cuja teoria influenciou Émile Zola, a autoria de Germinal
Ainda na Europa, podemos citar o escritor português Eça de Queirós, autor do romance O crime do padre Amaro (1875). Nessa obra, o jovem padre Amaro apaixona-se por Amélia, filha da S. Joaneira. No decorrer do romance, descobrimos que a S. Joaneira é amante do cônego Dias, que, ironicamente, tinha sido o mestre de moral de Amaro no seminário. A história, então, caminha para um fim trágico, quando Amaro e Amélia decidem ceder a seus desejos. Em Portugal, Eça de Queirós foi o representante do realismo e do naturalismo.Nesse livro, o meio é o ambiente corruptor. Na verdade, são dois ambientes. O primeiro, a casa da S. Joaneira, onde Amaro hospeda-se e onde o cônego encontra-se com a amante. O segundo é o próprio ambiente eclesiástico, o que evidencia uma crítica do autor:
Já no Brasil, os principais autores naturalistas foram: Aluísio Azevedo, cuja principal obra é O cortiço, de 1890; Adolfo Caminha, com seu romance Bom-crioulo (1895); e Raul Pompeia, com seu livro O Ateneu (1888). Naturalismo no Brasil
O romance O mulato, de Aluísio Azevedo, de 1881, foi a primeira obra naturalista publicada no Brasil. Nesse livro, o olhar científico do narrador volta-se para questões raciais, pois Raimundo, o protagonista, é filho de um fazendeiro com uma escrava. Depois de receber sua educação em Portugal, ele retorna ao seu país e apaixona-se por sua prima Ana Rosa, mas o tio não permite o casamento, e o motivo é o fato de Raimundo ser um mulato. Assim, o destino do protagonista é determinado pela sua origem racial. No entanto, a obra mais famosa de Aluísio Azevedo é O cortiço. Nesse livro, toda a teoria naturalista pode ser percebida na composição das personagens que vivem no cortiço, o meio corruptor, espaço principal de ação no romance: Aluísio Azevedo estreou o naturalismo no Brasil. Ali, Jerônimo, um português honesto e trabalhador, acaba entregando-se ao vício e ao crime, por influência da sedutora mulata Rita Baiana:
Outra personagem negra é Bertoleza, associada à inferioridade e aos instintos animais:
Além disso, a homossexualidade é mostrada como uma patologia, associada à doença, por meio da personagem Albino:
A homossexualidade também é tratada como vício, quando a prostituta Léonie corrompe Pombinha, uma jovem pura, que também não escapa à influência do meio:
O meio e a raça também são evidenciados no romance Bom-crioulo, de Adolfo Caminha, a primeira obra a tratar a homossexualidade como tema principal. No entanto, com base na perspectiva naturalista, ela é vista como doença e vício. Assim, Amaro seduz o jovem Aleixo, e os dois passam a ter encontros sexuais num quartinho alugado na casa da portuguesa e ex-prostituta d. Carolina. Nesse romance, Amaro cede ao “vício” porque é negro, portanto, fraco e inferior, segundo a visão naturalista, enquanto Aleixo (branco) é vítima do meio, o ambiente da Marinha:
Por fim, O Ateneu, de Raul Pompeia. Nessa obra, o meio é o alvo das críticas desse escritor naturalista. O Ateneu é um colégio interno para rapazes. Ali, segundo o narrador, eles são expostos a uma situação corruptora:
Veja também: Minorias: étnicas, nacionais, indígenas, e de baixa renda Naturalismo x realismoO realismo europeu surgiu na França, em 1856, com a publicação da obra Madame Bovary, de Gustave Flaubert (1821-1880). Já no Brasil, esse estilo foi inaugurado com o livro Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis (1839-1908), o único autor genuinamente realista, pois não aderiu ao naturalismo. Nas obras desses dois autores, é possível observar uma linguagem objetiva, a crítica à burguesia do século XIX e o antirromantismo, visível na ausência de idealização das personagens. Além disso, essas duas obras apresentam a temática do adultério, recorrente nesse movimento literário. Apesar de realismo e naturalismo terem tido em comum o olhar objetivo sobre a realidade, eles diferiram-se na análise que o narrador faz de suas personagens. Se no realismo, o foco era a análise psicológica, o entendimento do comportamento humano baseado nos meandros da mente, no naturalismo, o escritor preferiu deixar de lado o plano mental dos personagens para concentrar-se em seus traços instintivos, em suas características biológicas. Assim, os autores naturalistas ampararam-se em teorias científicas da época, enquanto os do realismo, não. Machado de Assis, portanto, não recorreu ao cientificismo, como fizeram Aluísio Azevedo, Adolfo Caminha e Raul Pompeia. Em Memórias póstumas de Brás Cubas, o narrador colocou em evidência o funcionamento da mente humana para revelar as motivações dos personagens. Não há determinismo, a prevalência do instinto inexiste, o ser humano não é visto como simples animal vítima das leis da natureza. Na obra realista de Machado de Assis, o indivíduo é comandado por interesses individuais e propenso à corrupção, características da natureza humana, sem distinções. Assim, Brás Cubas, membro da elite burguesa, depois de morrer, resolve escrever suas memórias. Morto, não tem mais nada a perder, não precisa recorrer à hipocrisia. Então, narra a sua infância, cheia de privilégios e sem limites:
Na juventude, vive uma vida de frivolidades e uma aventura amorosa com a interesseira Marcela:
— Desta vez, disse ele, vais para a Europa; vais cursar uma Universidade, provavelmente Coimbra; quero-te para homem sério e não para arruador e gatuno. E como eu fizesse um gesto de espanto: — Gatuno, sim senhor; não é outra coisa um filho que me faz isto... Ao voltar para o Brasil, mostra-se incapaz de trabalhar, mas possui o desejo de ser destaque, de ter visibilidade na sociedade. No entanto, todas as suas tentativas nesse sentido acabam fracassando: “Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto”. Por fim, tem um relacionamento amoroso com Virgília, uma mulher casada:
Dessa forma, o romance de Machado de Assis expõe, com muita ironia e olhar crítico, o pensamento e o estilo de vida burgueses, com base na visão de seu grande representante, o defunto autor Brás Cubas. Em nenhum momento, teorias científicas foram utilizadas na composição de suas personagens, de maneira que essa obra não possui características naturalistas. Notas |1| Universidade de Caxias do Sul (UCS). |2| É preciso ressaltar que a histeria feminina, a inferioridade de raça e a patologização do indivíduo homossexual forma perspectivas científicas, do século XIX, que, atualmente, são consideradas equivocadas e ultrapassadas. |3| Tradução de Francisco Bittencourt. Quais os principais autores do Realismo Naturalismo em Portugal?Autores do realismo no Portugal e no Brasil:Eça de Queiroz/Antero de quental. Autores do naturalismo em Portugal:Eça de Queirós,Francisco Teixeira de Queirós,Júlio Lourenço Pinto,Abel Botelho.
Quais são os autores do Realismo em Portugal?Autores do Realismo no Brasil. Aluísio Azevedo (1857-1913);. Raul Pompeia (1863-1895);. Adolfo Caminha (1867-1897);. Júlio Ribeiro (1845-1890);. Júlia Lopes de Almeida (1862-1934).. Quais os principais escritores e obras do Realismo em Portugal?Autores e Obras do Realismo Português
Eça de Queiroz: O Crime do Padre Amaro; O Primo Basílio; O Mandarim; A Relíquia; Os Maias; A Ilustre Casa de Ramires; Correspondência de Fradique Mendes; A Cidade e as Serras; A Tragédia da Rua das Flores.
Quais foram os principais autores do Realismo e Naturalismo?Autores do Realismo e Naturalismo. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Por Machado de Assis. ... . Quincas Borba. Por Machado de Assis. ... . Esaú e Jacó Por Machado de Assis. ... . Memorial de Aires. Por Machado de Assis. ... . O Cortiço. Por Aluísio de Azevedo. ... . Casa de Pensão. Por Aluísio de Azevedo. ... . O Mulato. Por Aluísio de Azevedo. ... . Luzia-Homem.. |