Quais são os principais gargalos do transporte ferroviário?

Os integrantes do Conselho Temático de Infraestrutura (Coinfra) da Confederação Nacional da Indústria (CNI) tiveram acesso a um estudo sobre o transporte de cargas no Brasil que reforça a importância e a urgência do país ampliar e melhorar a malha ferroviária além de intensificar os investimentos nas rodovias.

Feito por uma consultoria independente, o levantamento faz um raio-x da participação de cada um modal no transporte de cargas e traça um paralelo entre o Brasil e o cenário global no quesito infraestrutura logística. Também entraram na pauta, uma avaliação da nova lei de licitações, que aguarda a sanção presidencial, e uma análise das vantagens da abertura integral do mercado de energia elétrica.   

Realizado pelo engenheiro mecânico com mestrado em comércio exterior, ex-diretor Corporativo da Gerdau, Antônio Bacelar, atualmente à frente de uma consultoria que leva o seu nome, o estudo sobre os modais de transporte no Brasil revela que 21% das cargas atualmente do país são transportadas por ferrovias e 62% por rodovias. “É importante ampliar a participação das ferrovias no transporte de carga para garantirmos mais competitividade às nossas empresas”, comentou Bacelar. 

O especialista ressaltou que só 12% das rodovias brasileira são pavimentadas e, mesmo considerando as vias asfaltadas, 60% são consideradas regular, ruins ou péssimas. A título de comparação, na Alemanha 100% das rodovias são pavimentadas; na Rússia, 85%; China 81%, Japão, 78% e EUA, 65%. Diante desse quadro, no último estudo de competitividade do Fórum Econômico Mundial, o Brasil aparece na 116ª colocação no ranking de infraestrutura rodoviária entre 141 países analisados.

Para reverter esse quadro que impacta negativamente na competitividade das indústrias brasileira prejudicando o escoamento de mercadorias, Bacelar recomenda investimento em pavimentação, modernização e duplicações das rodovias, levando em consideração a demanda delas.

Para as ferrovias, ele recomenda a ampliação da concorrência, a viabilização do operador ferroviário independente, a melhoria na integração entre as malhas existentes e na intermodalidade. Em relação aos portos, o especialista reconhece o avanço do Brasil nos últimos anos e recomenda que a liberdade de investir, operar e contratar seja ampliada. 

Nova lei de licitações traz avanços e pontos de atenção

A apresentação dos pontos positivos e negativos da nova lei de licitações foi feita por José Eugênio Gizzi, da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Ele apontou uma série de avanços e outros pontos que merecem ser aprimorados no texto aprovado recentemente pelo Congresso Nacional.

Entre os pontos positivos estão o fortalecimento dos consórcios, a representação judicial a favor dos servidores e a consideração de inexequível de propostas com preços inferiores a 75% do estimado e a previsão da extinção do contrato por atraso de pagamento superior a dois meses.  

Nos pontos negativos, estão a possibilidade de transferência da responsabilidade pela desapropriação de terras para o contratado e a existência de pontos subjetivos ou conflitantes, o que gera insegurança jurídica.

A abertura integral do mercado de energia elétrica traz vantagens ao consumidor

A análise do setor de energia elétrica foi feita por Reginaldo Medeiros, da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (ABRACEEL) com o objetivo de apresentar alternativas regulatórias para a abertura integral do mercado brasileiro.

“Abertura integral do mercado de energia elétrica significa permitir que as indústrias e comércios de pequeno porte, bem como os consumidores residenciais, possam escolher o seu fornecedor de energia elétrica. O Brasil ainda não oferece essa alternativa e isso explica, em parte, o porquê o país possui uma das tarifas de eletricidade mais altas do mundo em relação ao poder aquisitivo da sua população”, destacou Medeiros. 

O estudo mostra que em diversos países o consumidor de pequeno porte pode substituir o seu fornecedor há quase duas décadas. “A experiência internacional sinaliza que a abertura integral do mercado, quando implantada adequadamente, aumenta a concorrência e, consequentemente, reduz os custos finais com energia elétrica para os consumidores que exerceram esse poder de escolha”, destaca a análise.

Os membros do Coinfra também aprovaram por unanimidade uma homenagem em memória a Djalma Bastos de Morais, vítima da Covid-19 recentemente. Djalma foi ministro de Minas e Energia, presidente da Petrobras e o presidente da Cemig que por maior período de tempo comandou a companhia elétrica.

Em média, 30% dos grãos exportados via Porto de Paranaguá provêm da Região Centro-Oeste do país, especialmente Mato Grosso do Sul. São cerca de 6 milhões de toneladas de soja, milho e farelos transportados de caminhão, que enfrentam rodovias nem sempre bem conservadas ou outras que, embora muito melhores, cobram altos pedágios. Segue também para Paranaguá a produção própria do Paraná, da ordem de 13 milhões a 14 milhões de toneladas anuais, enfrentando os mesmos problemas e – pior – perdendo competitividade no mercado a cada quilômetro rodado nas rodovias.

Do total da produção de granéis que vai para o porto paranaense, apenas 20% chegam até lá utilizando nossas ferrovias – um modal economicamente muito mais eficiente e capaz de reduzir os fretes entre 20% a 30% na comparação com o transporte rodoviário – uma diferença que se refletirá na Bolsa de Chicago em ganhos para o produtor rural, para o estado e para o país.

Não é de hoje que se fala na urgente necessidade de dotar o Paraná de ferrovias que liguem nossas principais regiões produtoras e que sirvam, ao mesmo tempo, para atrair cargas da nova e próspera fronteira agrícola do Centro-Oeste brasileiro. Entretanto, a chamada “vontade política” para fazer acontecer a ferrovia é inversamente proporcional à necessidade que o estado tem dela.

A produção própria do Paraná perde competitividade no mercado a cada quilômetro rodado nas rodovias

Veja também

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  • Questão de prioridade nos trilhos do Paraná (editorial de 30 de julho de 2012)

Após inúmeros anúncios, por parte da União, de que o Paraná estaria incluído com prioridade nos grandes projetos ferroviários Norte-Sul e Leste-Oeste, o que concretamente se vê é o estado figurar no fim da fila de 12 projetos de leilão de concessões a serem lançados pelo Ministério dos Transportes. Em recente visita ao estado, depois de ouvir queixas do empresariado local, o ministro Antonio Carlos Rodrigues lançou o desafio: se houvesse um esforço local para buscar investidores nacionais e estrangeiros em tocar o projeto, o estado poderia ser contemplado com a inversão das atuais prioridades.

Entidades empresariais do estado aceitaram o desafio e iniciam providências visando a prospectar eventuais investidores interessados em se inscrever num Procedimento de Manifestação de Interesse, passo inicial do processo de concessões para implantação e exploração de empreendimentos. Esta iniciativa ainda se encontra na fase embrionária de elaboração de estudos prévios de demonstração da viabilidade técnica e econômica, mas desde já prevê como meta a ligação ferroviária de Maracaju (MS) a Paranaguá.

Além da demanda crescente pelo transporte, investidores contariam com trechos já operacionais – um deles, a ferrovia Central do Paraná, atualmente explorada pela concessionária Rumo-ALL; e o outro é a Ferroeste, que liga Cascavel a Guarapuava. Os grandes desafios seriam a construção do trecho da Ferrovia Norte-Sul de Maracaju à região Oeste do Paraná e a solução de dois gargalos que comprometem qualquer projeção de eficiência do transporte ferroviário. O primeiro diz respeito ao desvio Ipiranga, trecho sinuoso e de grandes aclives, interligando um extremo da Ferroeste, em Guarapuava, à Central do Paraná. O segundo é o trecho da Serra do Mar, entre Curitiba e Paranaguá, por onde correm os trilhos da estrada de ferro construída no século 19, nos tempos do Império. Dos seus pouco mais de 100 quilômetros de extensão e 900 metros de desnível entre o Litoral e o Primeiro Planalto, 14 quilômetros representam a maior dificuldade para o tráfego de grandes composições. Sinuosidades excessivas e grandes aclives reduzem substancialmente a velocidade e limitam a capacidade de transporte dos trens.

Os percalços técnicos e ambientais, porém, não são intransponíveis. Mais intransponível tem sido a falta de vontade política dos agentes públicos em colocar o projeto em pé – tarefa que agora a iniciativa privada, por meio de algumas de suas entidades de representação, se dispõe a executar. Mas as entidades só podem ir até um certo ponto. Por isso, além de buscar investidores, ainda será preciso convencer os governos e bancadas parlamentares a participar efetivamente do esforço.

Qual o grande gargalo da matriz de transporte brasileira?

Os portos estão entre os principais gargalos da matriz. Na ponta das redes rodoviária, ferroviária e fluvial, eles constituem a porta de saída da quase totalidade das exportações e de entrada de insumos industriais. O Brasil necessita ampliar seus portos e docas.

Quais são as principais características do transporte ferroviário?

Características do transporte ferroviário transporta produtos estipulados pelo mercado comercial como sendo de baixo valor agregado, tais como minério de ferro, soja, carvão, petróleo e derivados; é um transporte regulado pela bitola (distância padrão entre os trilhos da ferrovia);

Por que o transporte ferroviário quase inexiste no Brasil?

Na década de 1980 não se conseguia pagar as dívidas contraídas nem investir na manutenção do sistema já existente e não se investia na expansão do sistema. A partir da década de 1950 a solução foi fechar os ramais pouco lucrativos e desestruturar a malha.

Quais as principais características do modal de transporte ferroviário no Brasil?

Dentre as vantagens que o transporte ferroviário possui, estão o baixo custo de frete, o menor índice de roubos, a inexistência de pedágios, o baixo risco de acidentes, a baixa poluição do meio ambiente, possui baixo custo de manutenção, transporta grandes quantidades e a longas distâncias.