Qual a condição para uma propriedade não ser considerada latifúndio de acordo com o Estatuto da Terra?

Latifúndio é uma propriedade rural privada e de grande extensão, geralmente utilizada para a produção de apenas um produto (monocultura) e voltada para o mercado externo.

Os latifúndios também caracterizam grandes propriedades nas quais a terra é utilizada abaixo do seu potencial, com reduzido aproveitamento econômico e social.

Os latifúndios costumam ser propriedades de apenas uma pessoa, família ou empresa. A concentração de terras no Brasil é a causa de conflitos sociais e desigualdades no campo.

O termo latifúndio tem origem nas palavras gregas “latus” que significa extensivo e “fundus” que significa fazenda.

A origem do latifúndio no Brasil

Os latifúndios no Brasil se originaram durante a colonização do Brasil pelos portugueses, quando o território brasileiro foi dividido em grandes porções territoriais chamadas capitanias hereditárias.

Essas capitanias foram doadas para nobres e militares e já naquela época eram voltadas para a monocultura de produtos como cana-de-açúcar, cacau, e arroz.

A Lei das Sesmarias, que regulamentava a ocupação do território por meio das capitanias hereditárias, é revogada depois da independência e em 1850 a Lei de Terras é promulgada.

A Lei de Terras determinava que para ter a propriedade de uma terra, era preciso pagar por ela. Essa lógica, que impediu o acesso à terra por aqueles que não possuíam recursos, permanece até os dias atuais.

A impossibilidade da compra de terras por grande parte da população rural intensificou a concentração fundiária e aumentou as desigualdades no campo.

Atualmente existem cerca de 5 milhões de famílias à espera de terras para seu sustento.

Latifúndio segundo o Estatuto da Terra

O Estatuto da Terra, criado em 1964, caracterizou as propriedades rurais em conceitos como: latifúndio, minifúndio, imóvel rural, propriedade familiar e módulo rural.

De acordo com essa lei, há duas classificações de latifúndio: por exploração e por dimensão.

  • Latifúndio de exploração: imóvel que tem entre 1 e 600 módulos rurais e que não tem suas potencialidades físicas, econômicas e sociais aproveitadas. Geralmente tem fim especulativo, isto é, valorização para venda.
  • Latifúndio de dimensão: uma propriedade que excede 600 módulos rurais da região em que se situa, sendo explorados ou não.

Quanto vale um módulo rural?

Módulo rural é uma unidade de medida expressa em hectares e que é suficiente para garantir estabilidade econômica para o produtor rural. O valor do módulo rural pode variar conforme as características de cada região.

Latifúndio e minifúndio

De acordo com o Estatuto da Terra, o latifúndio é uma propriedade de área muito maior do que o necessário para as atividades econômicas de uma família ou uma área inexplorada econômica e socialmente.

O minifúndio, por sua vez é uma área insuficiente para uma família, sua definição de acordo com o Estatuto da Terra é:

Minifúndio: o imóvel rural de área e possibilidade inferiores às da propriedade familiar.

Função social da terra

O conceito de função social da terra foi determinado no artigo 186 da Constituição de 1988, da seguinte forma:

Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:

I - aproveitamento racional e adequado;

II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;

III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

Com base na ideia de função social da terra, os latifúndios podem ser classificados em :

  • Latifúndio produtivo: latifúndio que é explorado de acordo com a lei e cumpre com sua função social;
  • Latifúndio improdutivo: latifúndio que não cumpre sua função social, pois não é explorado para fins econômicos e sociais.

Consequências do latifúndio no Brasil

Segundo dados do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), existem no Brasil cerca de 228 milhões de hectares abandonados ou produzindo abaixo do seu potencial, isto é, sem cumprir sua função social.

Por outro lado, existem quase 5 milhões de famílias campesinas esperando por uma porção de terra para o seu sustento. Essa conjuntura tem como consequência:

Êxodo rural

O trabalhador rural, privado do seu direito à terra e sem condições de manter-se no meio rural, é obrigado a migrar para as grandes cidades em busca de trabalho.

Nas cidades, os trabalhadores rurais atuam em setores de baixa qualificação e remuneração, vivem em áreas de ocupação irregular e em locais onde os serviços básicos do Estado não chegam.

Conflitos sociais pela terra

A expulsão dos trabalhadores rurais do campo e a ampliação dos latifúndios tem como consequência intensos conflitos entre grandes proprietários e camponeses.

Segundo a Pastoral da Terra, somente nos estados do Pará, Bahia, Mato Grosso, Paraíba e Rondônia em 2018, foram assassinadas 28 pessoas. Essas vítimas são lideranças indígenas e rurais, trabalhadores sem-terra, quilombolas, posseiros e camponeses assentados.

Para lutar pelo direito a terra, nas últimas décadas, surgiram organizações de trabalhadores rurais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O campesinato e essas organizações defendem a reforma agrária como o caminho para a redução das desigualdades no campo.

O que é reforma agrária?

A reforma agrária é um conjunto de medidas com o objetivo de reorganizar e melhorar distribuição de terras no país de modo que a função social da terra seja garantida.

Segundo o INCRA, a reforma agrária deve atender aos princípios de desenvolvimento sustentável, justiça social e aumento da produção. Essa medida permitiria:

  • Desconcentrar e democratizar a estrutura fundiária;
  • Produzir alimentos básicos;
  • Gerar ocupação e renda;
  • Combater a fome e a pobreza;
  • Levar serviços públicos ao interior do país;
  • Reduzir a migração campo-cidade;
  • Promover cidadania e justiça social;
  • Diversificar o comércio e os serviços no meio rural;
  • Democratizar as estruturas de poder.

Entenda mais sobre a reforma agrária.

Como podemos caracterizar um latifúndio?

Latifúndios são grandes propriedades agrícolas pertencentes a um proprietário, empresa ou família, podendo ser produtivos ou improdutivos. Latifúndio é uma grande propriedade rural geralmente não cultivada e não explorada, portanto representa terras com reduzido aproveitamento econômico, improdutivas.

Quais são os tipos de latifúndio?

Com base na ideia de função social da terra, os latifúndios podem ser classificados em : Latifúndio produtivo: latifúndio que é explorado de acordo com a lei e cumpre com sua função social; Latifúndio improdutivo: latifúndio que não cumpre sua função social, pois não é explorado para fins econômicos e sociais.

O que diz o Estatuto da Terra?

LEI Nº 4.504, DE 30 DE NOVEMBRO DE 1964. Dispõe sobre o Estatuto da Terra, e dá outras providências. Art. 1° Esta Lei regula os direitos e obrigações concernentes aos bens imóveis rurais, para os fins de execução da Reforma Agrária e promoção da Política Agrícola.

Qual o tamanho de um latifúndio?

A extensão necessária para se considerar uma propriedade como um latifúndio depende do contexto: enquanto na Europa o grande latifúndio pode ter algumas centenas de hectares, na América Latina, pode facilmente ultrapassar os 10 mil.