Parnasianismo é um estilo de época caracterizado pela objetividade e pelo descritivismo, além da retomada de temas da Antiguidade clássica e rigor formal na construção do texto poético. O estilo surgiu na França, no século XIX, no contexto da Revolução Industrial, portanto, em uma época marcada pelo desenvolvimento tecnocientífico e valorização da razão. Show Em Portugal, os principais autores parnasianos são: João Penha, Gonçalves Crespo, António Feijó e Cesário Verde. Já no Brasil, temos: Olavo Bilac, Raimundo Correia, Alberto de Oliveira, Vicente de Carvalho e Francisca Júlia. No entanto, o maior nome do parnasianismo brasileiro é Olavo Bilac, cuja poesia, muitas vezes, acaba desviando-se da objetividade do estilo, apesar de seu rigor formal. Contexto histórico e origem do parnasianismoO século XIX foi uma época de desenvolvimento tecnológico nos setores de comunicação e transporte: Robert Fulton (1765-1815) criou o barco a vapor em 1807; George Stephenson (1781-1848) projetou a locomotiva a vapor em 1814; e, em 1837, Samuel Morse (1791-1872) inventou o telégrafo. Assim, na segunda metade do século XIX, o pensamento científico estava em alta, pois a ciência mostrava-se responsável pelo desenvolvimento tecnológico associado à Revolução Industrial (iniciada no século XVIII), em que o uso de máquinas propiciou o crescimento da economia. A locomotiva a vapor foi essencial para a economia do século XIX, pois era responsável pelo transporte de matéria-prima e bens de consumo.Contudo, essa prosperidade e o desenvolvimento tecnocientífico não impediram a disparidade entre a burguesia e o proletariado, gerando forte conflito social. Nesse sentido, a prosa realista ocupou-se na exposição e discussão desse problema. No entanto, a poesia realista, isto é,o parnasianismo, isentou-se desse tipo de questão e optou por uma postura de alienação (indiferença) social, econômica e política. Ainda, seus autores, influenciados pelopositivismo (corrente filosófica que defendia a primazia da razão e, portanto, a supremacia do conhecimento científico), recorreram à objetividade na composição de suas poesias. Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;) Nesse século, houve uma revolução tecnocientífica nunca vista até então, a ciência propiciava a diminuição das distâncias e o aumento da produção nas indústrias. Portanto, como fator científico essencial, a razão passou a ser supervalorizada, vista como solução para todos os males da sociedade. Como indivíduos de seu tempo, os parnasianos, então, viram na objetividade científica um elemento definidor da sociedade europeia. Assim, entenderam que a razão superava o sentimentalismo romântico e empreenderam um projeto de “poesia científica”, pois racional e objetiva. Desse modo, o movimento parnasiano surgiu a partir da publicação, em três volumes (1866, 1871 e 1876), de uma coleção de poesias editada por Alphonse Lemerre (1838-1912) e intituladaO Parnaso contemporâneo. A palavra “Parnaso” refere-se a uma montanha da Grécia, morada do deus Apolo e das musas inspiradoras dos artistas. Os textos dessa coletânea trabalham com a perspectiva de uma poesia objetiva. Daí surgiu o nome para o estilo de época parnasianismo. Leia também: Simbolismo – movimento literário contemporâneo ao parnasianismo Características do parnasianismoO parnasianismo é assim caracterizado:
Parnasianismo em PortugalO parnasianismo, em Portugal, não apresentou um projeto consistente. Por isso, não há um período inicial e final do movimento, que é, comumente, integrado à produção do realismo-naturalismo português (1865-1900). De qualquer forma, são considerados parnasianos os seguintes poetasportugueses:
A seguir, vamos analisar o soneto “O camarim”, do livro Miniaturas, de Gonçalves Crespo, poeta da literatura portuguesa, mas que nasceu no Brasil e aqui viveu até os 10 anos de idade. Nesse poema, é possível perceber, como características parnasianas, a objetividade e a descrição, com versos regulares decassílabos (10 sílabas poéticas): O camarim A luz do sol afaga docemente Sobre a estante do piano
reluzente Ao pé das longas vestes, descuidadas Sobre a mesa emurchece um ramilhete, Assim, no primeiro quarteto, o eu lírico começa a descrever um ambiente, diz que a luz do sol toca nas cortinas e que o lugar, morno, tem um aroma de baunilha. Nesse ambiente, de acordo com o segundo quarteto, há um piano, sobre o qual estão duas partituras, da Norma — de Vicenzo Bellini (1801-1835) — e de uma quadrilha, e o olhar de um cão de raça brilha nas colchas de um leito. No entanto, não sabemos se o cão está no leito ou se é uma imagem bordada nas colchas. Já no primeiro terceto, o eu lírico diz que sobre os desenhos do tapete estão duas botinas delicadas. Por fim, no segundo terceto, o eu lírico fala que há um ramalhete de flores murchas sobre a mesa, além de um leque, luvas perfumadas e um bracelete. Desse modo, entendemos que o eu lírico está descrevendo o camarim de uma mulher, possivelmente uma cantora, pianista ou atriz. Por ser parnasiano, o soneto é objetivo e, portanto, apresenta pouca ou nenhuma plurissignificação. Há um total afastamento do eu lírico da poesia, já que ele não se coloca no texto, apenas descreve o ambiente. Veja também: Literatura portuguesa – breve histórico das origens ao modernismo Parnasianismo no BrasilSegundo alguns estudiosos, o livro Fanfarras, de Teófilo Dias (1854-1889), inaugurou o parnasianismo no Brasil em 1882, estilo que, oficialmente, perdurou até 1893. No entanto, os principais autores da poesia parnasiana brasileira são:
No entanto, Olavo Bilac é o mais famoso poeta parnasiano brasileiro. É preciso mencionar que sua poesia, contudo, apesar de ser considerada parnasiana, muitas vezes trai a objetividade do estilo e acaba recorrendo a exclamações e outras subjetividades. Portanto, escolhemos, para analisar aqui, uma de suas poesias descritivas — um dos sonetos de Via Láctea, escrito com o rigor formal (metrificação e rima) parnasiano: Como a floresta secular, sombria, Não atravessa nunca
a luz do dia, Hoje, entre os ramos, a canção sonora Palpitam flores, estremecem ninhos... Na primeira estrofe desse soneto, o eu lírico descreve uma floresta antiga e sombria, “Virgem do passo humano e do machado”, isto é, nunca um ser humano esteve nessa floresta e, portanto, nenhum machado foi usado para cortar suas árvores. Nessa paisagem, o brado do tigre é ouvido. Além disso, ela possui uma ramaria agreste, a qual, como será dito na segunda estrofe, a luz do dia nunca atravessa, afinal é uma floresta sombria. Na sequência, entendemos por que a primeira estrofe começa com a conjunção comparativa “como”, pois o eu lírico está comparando a floresta com um coração humano, já que diz que esse coração não tem a luz do amor, pois é solitário e fechado, da mesma forma que a floresta. Por fim, o verbo [tu] “tinhas” demonstra a interlocução do eu lírico com alguma pessoa, o que demonstra alguma subjetividade, já que o eu lírico, indiretamente, coloca-se na poesia. Na terceira estrofe, o eu lírico afirma que, hoje, no meio dos ramos da floresta, os passarinhos cantam, e a aurora (a primeira luz da manhã) colore o topo das árvores. Na última estrofe, ele diz que as flores palpitam e os ninhos estremecem, o que sugere que a floresta está agora cheia de vida. Como já sabemos que a floresta, na verdade, é uma metáfora e refere-se ao coração de alguém, entendemos que essa pessoa está apaixonada, pois o “sol do amor”, que antes não entrava nesse coração, agora “Entra dourando a areia dos caminhos”. Veja também: Realismo no Brasil – escola literária que tinha na prosa seu foco Exercícios resolvidosQuestão 1 - (Enem) Ouvir estrelas “Ora, (direis) ouvir estrelas! Certo E conversamos toda noite, enquanto Direis agora: “Tresloucado amigo! E eu vos direi: “Amai para entendê-las! BILAC, Olavo. Ouvir estrelas. In: Tarde, 1919. Ouvir estrelas Ora, direis, ouvir estrelas! Vejo Não perco fita; e dir-vos-ei sem pejo Direis agora: Mas, enfim, meu caro, Amigo, aprende inglês para entendê-las, TIGRE, Bastos. Ouvir estrelas. In: BECKER, I. Humor e humorismo: antologia. São Paulo: Brasiliense, 1961. Com base na comparação entre os poemas, verifica-se que, a) no texto de Bilac, a construção do eixo temático deu-se em linguagem denotativa, enquanto no de Tigre, em linguagem conotativa. b) no texto de Bilac, as estrelas são inacessíveis, distantes, e no texto de Tigre, são próximas, acessíveis aos que as ouvem e entendem-nas. c) no texto de Tigre, a linguagem é mais formal, mais trabalhada, como se observa no uso de estruturas como “dir-vos-ei sem pejo” e “entendê-las”. d) no texto de Tigre, percebe-se o uso da linguagem metalinguística no trecho “Uma boca de estrela dando beijo/ é, meu amigo, assunto p’ra um poema”. e) no texto de Tigre, a visão romântica apresentada para alcançar as estrelas é enfatizada na última estrofe de seu poema com a recomendação de compreensão de outras línguas. Resolução Alternativa D. No texto de Tigre, a metalinguagem está no fato de que o poema está fazendo referência a si mesmo. Questão 2 - (Enem) Mal secreto Se a cólera que espuma, a dor que mora Se se pudesse, o espírito que chora, Quanta gente que ri, talvez, consigo Quanta gente que ri, talvez existe, CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo Correia. Brasília: Alhambra, 1995. Coerente com a proposta parnasiana de cuidado formal e racionalidade na condução temática, o soneto de Raimundo Correia reflete sobre a forma como as emoções do indivíduo são julgadas em sociedade. Na concepção do eu lírico, esse julgamento revela que a) a necessidade de ser socialmente aceito leva o indivíduo a agir de forma dissimulada. b) o sofrimento íntimo torna-se mais ameno quando compartilhado por um grupo social. c) a capacidade de perdoar e aceitar as diferenças neutraliza o sentimento de inveja. d) o instinto de solidariedade conduz o indivíduo a apiedar-se do próximo. e) a transfiguração da angústia em alegria é um artifício nocivo ao convívio social. Resolução: Alternativa A. A necessidade de ser aceito, que leva à dissimulação, está evidente na última estrofe: “Quanta gente que ri, talvez existe,/ Cuja ventura única consiste/ Em parecer aos outros venturosa!”. Portanto, para parecer que é feliz, muita gente ri, ou seja, dissimula o verdadeiro estado de espírito. Questão 3 - (Enem) A pátria Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste! Criança! não verás nenhum país como este! Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos! Quem com o seu suor a fecunda e umedece, Criança! não verás país nenhum como este: BILAC, O. Poesias infantis. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1929. Publicado em 1904, o poema “A pátria”harmoniza-se com um projeto ideológico em construção na Primeira República. O discurso poético de Olavo Bilac ecoa esse projeto, na medida em que a) a paisagem natural ganha contornos surreais, como o projeto brasileiro de grandeza. b) a prosperidade individual, como a exuberância da terra, independe de políticas de governo. c) os valores afetivos atribuídos à família devem ser aplicados também aos ícones nacionais. d) a capacidade produtiva da terra garante ao país a riqueza que se verifica naquele momento. e) a valorização do trabalhador passa a integrar o conceito de bem-estar social experimentado. Resolução: Alternativa B. No poema, fica evidenciado que a prosperidade individual independe de políticas de governo, em primeiro lugar, porque, em nenhum momento, o incentivo governamental é mencionado. Além disso, nos versos “Quem com o seu suor a fecunda e umedece,/ Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!”, é sugerido que basta trabalhar na terra para enriquecer. O poema desconsidera, portanto, os problemas sociais e trata a pátria de maneira idealizada. Que características do Parnasianismo encontramos neste poema?A preferência por sonetos era uma das principias características do Parnasianismo; A valorização da metrificação eram uma das principias características do Parnasianismo; O culto a forma, baseada na impassibilidade e impessoalidade era uma das principias características do Parnasianismo.
O que e Parnasianismo e suas características?O parnasianismo foi um estilo de época presente na segunda metade do século XIX. Ele é caracterizado pelo rigor formal e apresenta linguagem objetiva e descritiva. Referências à Antiguidade são comuns em poemas parnasianos.
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