Quem foi Oswaldo Cruz para a história da Saúde no Brasil

Conhecido por combater as epidemias brasileiras do início do século XX, Oswaldo Cruz investiu em uma rede de pesquisadores que ajudaram a manter a ciência como aliada da saúde até hoje

#Educação

Quem foi Oswaldo Cruz para a história da Saúde no Brasil

Diante de uma crise sanitária, econômica e humanitária que afetou toda a população brasileira, a Ciência foi a principal solução para os desafios enfrentados pela sociedade. Apesar da semelhança com os dias de hoje, este período descrito diz respeito a outro contexto histórico, o de 1899, época em que se consagrou um dos médicos sanitaristas mais importantes do Brasil: Oswaldo Cruz (1872-1917).

Não à toa, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) no Rio de Janeiro, uma das instituições responsáveis por tomar a dianteira na produção de vacinas contra Covid-19 em território nacional, recebeu o nome em homenagem à trajetória do médico, que fundou e dirigiu o órgão público no fim do século XIX. Na mesma época, surgia em São Paulo o Instituto Butantan, fundado pela mesma equipe de Oswaldo Cruz, também com o objetivo de combater as epidemias que estudavam.

Em 5 de agosto é comemorado o Dia Nacional da Saúde, estabelecido em homenagem à trajetória profissional do médico sanitarista Oswaldo Cruz. A data, inserida no calendário oficial brasileiro com a Lei nº5.352, tem como objetivo chamar atenção da sociedade para a importância da saúde pública e da educação sanitária para o desenvolvimento da sociedade.

O interesse na área da microbiologia, ciência que estuda os micro-organismos, e a passagem pelo Instituto Pasteur, na França, foram grandes diferenciais na carreira do sanitarista ao investigar e estabelecer medidas para combater doenças como a varíola, a peste bubônica e a febre amarela. Mas o que realmente o destacou, em relação aos demais médicos do período, foi o trabalho pelo fortalecimento da educação em saúde.

“O maior legado de Oswaldo Cruz foi ter criado uma rede de pesquisadores que acreditavam na ciência, sem esquecer das causas sociais e políticas ligadas às principais crises sanitárias do país”, diz Ana Luce Girão, doutora em História das Ciências e pesquisadora da Fiocruz.

Quem foi Oswaldo Cruz para a história da Saúde no Brasil

Infância e Juventude
Oswaldo Cruz nasceu em 5 de agosto de 1872 na cidade de São Luiz do Paraitinga, interior de São Paulo. Aos cinco anos de idade, mudou com a família para o Rio de Janeiro. Filho mais velho de cinco irmãs, acompanhava de perto o trabalho do pai, que era médico e assumia funções importantes na saúde pública da capital. Desde jovem, Oswaldo demonstrou interesse pelo ofício, decidindo seguir carreira na área médica.
Foto: Casa de Infância de Oswaldo Cruz em São Luis do Paraitinga

Quem foi Oswaldo Cruz para a história da Saúde no Brasil

Formação Acadêmica
Em 1887, quando entrou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, as primeiras notícias sobre o desenvolvimento da microbiologia no Instituto Pasteur, na França, chegaram ao Brasil, despertando a curiosidade do jovem estudante. Ainda durante a faculdade, Oswaldo Cruz se casa e ganha de presente do sogro um laboratório construído no porão de sua residência. Esse incentivo foi importante para alavancar as descobertas do futuro médico. Dez anos depois, também com ajuda do sogro, partiu com a esposa e os dois filhos para Paris, onde completou os estudos no Instituto Pasteur.
Foto: Laboratório do Pavilhão da Peste (atual Pavilhão do Relógio)

Quem foi Oswaldo Cruz para a história da Saúde no Brasil

De volta ao Brasil
Após ter a oportunidade de estudar com a primeira geração de cientistas pasteurianos e trabalhar com medicina legal no Instituto de Toxicologia de Paris, Oswaldo Cruz e a família retornam ao Brasil em 1899. Ao chegar, se deparam com uma crise sanitária ocasionada pela peste bubônica. Ainda no mesmo ano, o médico foi convidado para investigar possibilidades de conter e tratar a doença no porto de Santos, em São Paulo. Ao lado de importantes cientistas como Adolfo Lutz e Vital Brazil, ele enfrentou o desafio de combater três epidemias que assolavam a capital da República simultaneamente: peste bubônica, varíola e febre amarela.
Foto: Oswaldo Cruz em 1903.

Quem foi Oswaldo Cruz para a história da Saúde no Brasil

Rede de pesquisa nacional
Percebendo a dificuldade de importar soros e medicamentos, Oswaldo Cruz decidiu unir esforços com a rede de pesquisadores designados para combater as epidemias e fundar o Instituto Butantan, em São Paulo, e o Instituto Soroterápico Federal, atual Fiocruz, no Rio de Janeiro. Em menos de seis meses, os institutos produziram os primeiros soros anti-pestosos do país. Inspirados na estrutura do Instituto Pasteur, eles eram responsáveis pela produção de medicamentos e, também, por incentivar a pesquisa e a formação de cientistas para atuar em prol da saúde pública.
Foto: Cientistas do antigo Instituto Oswaldo Cruz reunidos na biblioteca do Pavilhão Mourisco

Quem foi Oswaldo Cruz para a história da Saúde no Brasil

“Ministro da Saúde”
Em 1902, Oswaldo Cruz foi convidado pelo presidente da república da época, Rodrigues Alves, para assumir a Diretoria-Geral de Saúde Pública (DGSP), órgão que atuava de maneira semelhante ao Ministério da Saúde. À frente da DGSP, o médico conduziu muitos estudos relacionados às condições sanitárias no país todo, à exemplo da cólera, tuberculose e varíola. Quando deixou a diretoria, em 1910, partiu em uma expedição para combater a malária, que afetava a região Norte do Brasil.
Foto: Charge sobre Oswaldo Cruz e a campanha sanitária empreendida por ele sob o título "Effeitos da Varíola".

Quem foi Oswaldo Cruz para a história da Saúde no Brasil

Legado
Oswaldo Cruz foi reconhecido internacionalmente por sua contribuição para a saúde pública. O 14º Congresso Internacional de Higiene e Demografia, que aconteceu em Berlim em 1907, o homenageou com uma medalha de ouro pelo trabalho combatendo as diferentes epidemias brasileiras. O médico foi eleito, também, membro da Academia Brasileira de Letras, em 1913. Quatro anos depois, no dia 11 de fevereiro de 1917, Oswaldo Cruz morreu em decorrência de uma crise de insuficiência renal, mas seu legado permaneceu nos princípios da instituição que hoje leva seu nome.
Foto: Na fachada do Castelo de Manguinhos, faixa comemorativa marca os 100 anos do Castelo Fiocruz.

Diante de um cenário complexo 

Além das crises sanitárias que assolavam o Brasil, o cenário político e social no início do século XX era complexo. Segundo a historiadora Ana Luce, “houve uma confluência de fatores que resultaram em episódios como a Revolta da Vacina”. Iniciada após uma tentativa de tornar a vacinação contra a varíola obrigatória, em 1904, esse acontecimento polêmico dividiu a opinião pública em relação à atuação de Oswaldo Cruz.

Ao convidar o sanitarista para combater as epidemias, o presidente Rodrigues Alves também tinha a intenção de conduzir uma reforma urbana, sobretudo no Rio de Janeiro e em São Paulo. A ideia era afastar os vestígios da era colonial. “Além disso, por ser um país agroexportador, as doenças que circulavam nos portos brasileiros impactavam as relações comerciais com o exterior”, complementa Ana Luce.

A forma como o governo da época escolheu conduzir as reformas, porém, trouxe ainda mais desafios. A população pobre que vivia nos grandes centros, em sua maioria composta por ex-escravizados que não receberam suporte com o fim do regime de escravidão, foi transferida para os morros. Por não terem condições ideais de higiene e moradia, a disseminação de doenças se tornou ainda mais grave entre essa parcela do povo brasileiro.

“Oswaldo Cruz tentou, por inúmeras vezes, traçar planos que foram negados pelo governo. Ainda assim, era pragmático quanto ao papel da ciência para frear a disseminação, e não foi bem interpretado quando propôs implementar uma política obrigatória de vacinação”, resume a historiadora.

Expostas a  diversas violências e cercadas por desinformação, a maior parte das pessoas se recusou a receber a equipe de Oswaldo Cruz em suas casas. “Circulavam todo o tipo de notícias falsas, como a de quem tomasse a vacina ficaria com cara de vaca”, diz Ana Luce. Quatro anos depois, no entanto, quando o surto de varíola voltou a se agravar na cidade do Rio de Janeiro, a população procurou espontaneamente pela vacina.

Fé eterna na ciência

A desinformação e a complexidade dos problemas não são os únicos paralelos entre a trajetória do sanitarista e o contexto atual de pandemia de Covid-19. Ana Luce reforça que, embora as tecnologias e possibilidades para as duas épocas sejam completamente distintas, ainda se pode dizer que o pensamento científico se comprovou como a principal forma de combate às crises em ambos os períodos.

“Com a eficácia das vacinas, Oswaldo Cruz foi de tirano da saúde à médico respeitado. Na época, não havia como pensar em uma política de ciência aberta, como se vê hoje. E, ainda assim, ele conseguiu conectar pesquisadores do Brasil e do mundo, usando a pesquisa científica como principal guia para as soluções”, acrescenta a especialista.

Ana Luce ressalta que ter reconhecido a importância de construir espaços para formação de novos cientistas foi um dos legados do médico Oswaldo Cruz que ajudou a tornar o Brasil uma referência mundial em manutenção da saúde pública. Importantes conquistas como o Sistema Único de Saúde (SUS) e a Campanha Nacional de Vacinação Contra a Poliomielite (1980-1990) são lembretes de que o país tem tradição para lidar de forma eficiente com crises sanitárias.

“‘Fé eterna na ciência’, Oswaldo Cruz costumava dizer. Foi essa crença que permitiu a população brasileira encarar a vacina como um direito. Temos instituições que erradicaram o sarampo, a poliomielite, controlaram o HIV e o H1N1 e prepararam-se para o ebola. E continuamos a nos preparar, amparados na ciência, para combater o coronavírus”, finaliza a historiadora.

Quem foi Oswaldo Cruz para a história da Saúde no Brasil

Quem foi Oswaldo Cruz, o sanitarista que mudou os rumos da saúde pública no Brasil?

Política de Privacidade

Usamos cookies para melhorar a sua experiência de navegação. A aceitação da Política de Privacidade possibilitará a visita ao nosso site.

Quem foi Oswaldo Cruz e o que ele mudou na saúde do Brasil?

Oswaldo Cruz foi um sanitarista que se tornou um dos grandes nomes da saúde pública no Brasil. Ele ficou conhecido por atuar na análise de diversas epidemias, propondo a criação de soros e vacinas. Atuou também para acabar com a varíola, febre amarela e peste bubônica no Rio de Janeiro, no começo do século XX.

Quem foi Oswaldo Cruz resumido?

Oswaldo Cruz ficou marcado na história como um grande sanitarista. Ele atuou, no começo do século XX, no combate a epidemias de febre amarela, peste bubônica e varíola. Oswaldo Cruz foi um médico e sanitarista que ficou marcado pelo combate de epidemias no Brasil.

Quem foi Oswaldo Cruz para a história da saúde?

Oswaldo Gonçalves Cruz, médico e sanitarista, fundou a medicina experimental no Brasil. Entre seus principais feitos estão o combate ao surto de peste bubônica no litoral paulista e a erradicação da doenças endêmicas no Rio de Janeiro.

Qual foi a importância de Oswaldo Cruz para o Brasil?

Erradicou a febre amarela no Pará e realizou a campanha de saneamento da Amazônia. Permitiu, também, o término das obras da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, cuja construção havia sido interrompida pelo grande número de mortes entre os operários, provocadas pela malária.