Como a revolução de São Domingos contribuiu para a luta dos escravos nas Américas?

Desde o início da colonização espanhola, quando a fome, as doenças e o trabalho excessivo exterminaram grande parte das populações indígenas da América, os colonizadores recorreram ao uso da mão de obra escrava africana.

Se as populações indígenas sofriam com a exploração e o preconceito espanhol, os africanos eram ainda mais explorados. Longe de sua terra natal, de seu povo, de seus costumes, o africano era um marginal na sociedade americana.

Vistos como infiéis, pois muitos deles já tinham tido contato com a religião muçulmana (uma herança da intolerância gerada pela Guerra da Reconquista), os africanos nem sequer contavam com a defesa dos religiosos. Bartolomé de Las Casas, por exemplo, um frei que ficou famoso por defender os indígenas contra o sistema de encomienda, sugeriu à Coroa espanhola que utilizasse povos vindos da África na exploração da América.

Da mesma forma que a elite criolla temia as rebeliões indígenas, também se preocupava com os africanos. Estima-se que, no início do século 19, a população americana era de 16,9 milhões de habitantes; e desse total somente 3,2 milhões eram europeus (chapetones) ou descendentes deles (criollos).

Haiti: revolta africana e independência

A colônia francesa de São Domingos foi a primeira colônia da América Latina a conseguir se tornar independente de sua metrópole europeia, adotando o nome de Haiti. E, ao contrário da maioria dos movimentos de independência da América, no Haiti a liderança não coube à elite dona de terras, mas aos escravos africanos.

A colônia de São Domingos (ilha que, na língua indígena, se chamava Ahti), em 1697 passou a pertencer exclusivamente à França. Ali, a produção açucareira, por meio da exploração da mão de obra escrava africana, rendeu fortunas aos franceses.

As condições de trabalho dos escravos eram péssimas, assim como em outras colônias da América (por exemplo, o Brasil), mas, em São Domingo, o número de escravos era muito maior que o número de colonos franceses. As revoltas escravas eram combatidas com extrema violência.

Quando, em 1789, estourou a Revolução Francesa, os ideais de liberdade e igualdade entraram em choque com os interesses da elite colonial de São Domingos, que queria manter a escravidão. Levantes de mulatos na colônia foram reprimidos, mas na metrópole francesa muitos defendiam o fim da escravidão.

Diante dessa situação contraditória, rebeliões de escravos passaram a varrer São Domingos a partir de 1791: fazendas eram queimadas e latifundiários executados.

Toussaint L'Ouverture, ex-escravo, foi um dos grandes líderes nesse processo. E como os colonos franceses se recusavam a fazer um acordo com os escravos rebeldes, a situação ficava cada vez mais tensa na colônia.

Em 1794, uma lei francesa pôs fim à escravidão em suas colônias. Mas a rebelião dos escravos acabou se transformando numa luta pela independência. Depois de um longo período de guerras contra as tropas francesas enviadas por Napoleão, Jean-Jacques Dessalines, um ex-escravo, proclamou a independência do Haiti em 1804.

Em meio às conturbações que movimentavam a Revolução Francesa na Europa, uma pequena ilha-centro americana era responsável por um dos mais singulares processos de independência daquele continente. Sendo uma das mais ricas colônias da França na região, o Haiti era um grande exportador de açúcar, controlado por uma pequena elite de brancos proprietários de terra, responsáveis pela exploração da predominante mão-de-obra escrava do local.

Com o advento da revolução, membros da elite e escravos vislumbram a oportunidade de dar fim às exigências impostas pelo pacto colonial francês. Contudo, enquanto a elite buscava maior autonomia política para a expansão de seus interesses, os escravos de origem africana queriam uma grande execução dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade provenientes da França revolucionária. Em meio a tais contradições, o Haiti se preparava para o seu processo de independência.

Em 1791, uma mobilização composta por escravos, mulatos e ex-escravos se uniu com o objetivo de dar fim ao domínio exercido pela ínfima elite branca que controlava os poderes e instituições políticas do local. Sob a atuação do líder negro Toussaint Louverture, os escravos conseguiram tomar a colônia e extinguir a ordem vigente. Três anos mais tarde, quando a França esteve dominada pelas classes populares, o governo metropolitano decidiu acabar com a escravidão em todas as suas colônias.

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A essa altura, a população de escravos haitiana já havia lavrado a sua liberdade. Contudo, as lutas responsáveis pela consolidação dessa nova realidade estariam longe de chegar ao seu fim. No ano de 1801, Louverture empreendeu uma nova mobilização que estendeu a liberdade para os escravos da região da ilha colonizada pelos espanhóis, que hoje corresponde à República Dominicana. Nesse período, Napoleão Bonaparte assumia a França e se mostrou contrário a perda desse importante domínio colonial.

No ano de 1803, Bonaparte enviou um grande exército que, sob o comando de Charles Leclerc, conseguiu deter Toussaint Louverture. Logo em seguida, o líder revolucionário acabou falecendo em uma prisão francesa. Apesar desse grande revés, os revolucionários haitianos contaram com a liderança de Jacques Dessalines para derrotar as forças do exército francês e, finalmente, proclamar a independência do Haiti. Logo em seguida, Dessalines foi alçado à condição de imperador do novo país.

Somente no ano de 1806, quando Dessalines foi traído e assassinado por Alexandre Pétion e Henri Christophe, o Haiti passou a adotar o regime republicano. O reconhecimento da independência daquele país só aconteceria no ano de 1825, quando o governo francês recebeu uma indenização de 150 milhões de francos. Depois disso, mesmo vivenciando diversos problemas, a notícia da independência no Haiti inspirou a revolta de escravos em diferentes regiões do continente americano.


Por Rainer Sousa
Graduado em História<

Como a Revolução Haitiana contribuiu para a luta dos escravos nas Américas?

Com a rebelião, os escravos passaram a organizar-se e a lutar contra as tropas francesas que estavam instaladas na região. A força do movimento em São Domingos e os desdobramentos da Revolução Francesa resultaram na abolição da escravidão em todas as colônias francesas, incluindo São Domingos em 1794.

Qual é a importância da Revolução Haitiana para a América Latina?

A importância da Revolução Haitiana transcende os limites territoriais em que o Estado haitiano se estabeleceu. A partir dela, o medo negro espalhou-se por toda a América Latina e influenciou todo o processo de independência das principais colônias latino-americanas.

São Domingos a única revolta de escravos que foi vitoriosa?

Para Jacob Gorender, entre todas as numerosas insurreições insurreições de escravos, ocorridas desde a Antiguidade clássica até os tempos modernos, somente uma foi vitoriosa: a insurreição dos escravos da colônia francesa de São Domingos, iniciada em 1791, no território onde hoje se localiza a república do Haiti.

Quais foram as principais consequências da revolução para o povo haitiano?

Consequências principais do processo revolucionário haitiano Em 1803 após derrotar as tropas francesas e proclamar a independência, também foi declarado o fim da escravidão no país no Haiti. A independência do Haiti não foi tão benéfica como os escravos esperavam.