Como foi a vida de Zé do Peixe?

Como foi a vida de Zé do Peixe?
Zé Peixe em frente a sua casa, onde sempre morou (arquivo família)
Quem conhece Zé Peixe sabe que ele dedicou e ainda destina sua vida à profissão e a sua família. Cidadão correto, mesmo sem precisar, Zé ainda sai de casa para votar nos dias de eleições, freqüenta as missas quando não está de plantão e participa de todas as comemorações da Capitania dos Portos.

José Martins está aposentado, mas continua trabalhando, embora não ligue nem um pouco para o dinheiro. De bens mesmo ele só tem uma casinha, a mesma onde nasceu e viveu por toda a sua vida, três barcos que ficam ancorados em frente a Capitania e uma velha bicicleta.

Quando se casou ele montou uma casa para a mulher, mas não saiu da dele. Ele é viúvo há 21 anos de Maria Augusta de Oliveira Nunes e não tiveram filhos.“Já perguntei a ele o que as pessoas achavam deste tipo de casamento na época, ele me respondeu que as pessoas estranharam, mas que não falavam nada. Ele fez questão de construir uma casa próxima a dele para ela – ficava próximo onde hoje é o Iate, o que seria umas três quadras”, diz Luciana Shunk, acrescentando que ele levava a esposa de bicicleta aos Correios – onde ela trabalhava – e depois ia para a Capitania dos Portos.

Como foi a vida de Zé do Peixe?
(Foto: Peter John)
“Acredito que ele não queria sair de casa, pois sabia que sua mãe – minha bisavó, precisava de sua ajuda na casa”, completa.

Quanto ao trabalho, a irmã Rita Ribeiro Shunk, diz que ele se sente bem mesmo é quando está na praticagem. “Ele gosta de estar no mar, acho que é como o peixe que gosta da liberdade”, comenta ela, acrescentando que neste tempo todo de profissão ele nunca faltou ao serviço.

E por isto Zé não marca entrevista e nem compromissos com antecedências, pois se a Capitania dos Portos lhe chamar para alguma emergência ele não pensa duas vezes e segue para o trabalho. “Ele não marca entrevistas pois ele sabe que se tiver qualquer necessidade no porto chamam ele , pois ele estará disponível”, diz Rita.

“Se o trabalho dignifica o homem, como diz o ditado, ele é o homem mais digno”, diz a sobrinha, comentando que Zé não gosta de ficar parado. “Para ele, em primeiro lugar estão a família e o trabalho”.

Rita Peixe

Como foi a vida de Zé do Peixe?
Zé Peixe e sua irmã Rita Shunk
Rita Shunk, irmã de Zé Peixe, é uma versão feminina dele. Também não se lembra quando aprendeu a nadar, mas aos sete anos de idade atravessou pela primeira vez a nado Aracaju e Barra dos Coqueiros.

Por esta exímia performance de nadadora, Rita acabou sendo apelidada de Rita Peixe. No centenário de Aracaju,participou da travessia do rio – que fazia parte das festividades. Dos 17 concorrentes, só ela era mulher. Mesmo não ganhando, ficou em terceiro lugar, deixando muitos dos homens para trás. Alguns nem conseguiram chegar do outro lado.

Por Raquel Almeida

(Esta matéria faz parte da homenagem que o Portal Infonet faz a Zé Peixe pelo seu aniversário de 80 anos. Da última terça-feira, 2, até amanhã, 5, estaremos publicando matérias sobre sua vida, trabalho e seus feitos no mar).

Para quem quiser acompanhar:

80 anos – Zé Peixe, mais do que uma lenda um grande homem

80 anos – Zé Peixe / Prático – uma profissão de coragem

Como foi a vida de Zé do Peixe?
Em entrevista ao Portal Infonet, Zé Peixe fala sobre sua vida 
Prático é a profissão de José Martins Ribeiro Nunes desde 1947. A responsabilidade deste profissional é receber os navios em alto mar e os guiar até a atracação no porto e vice-versa, evitando as armadilhas dos canais.

Mas diferente dos demais, Zé Peixe pega uma carona em uma embarcação e salta ao mar na chamada Boca da Barra – onde o rio Sergipe deságua no Oceano Atlântico com formação de ondas encapeladas, que dificultam a passagem com seus bancos de areia – e nada para uma bóia de sinalização, onde espera o navio chegar (muitas vezes por horas). Depois, é içado para assumir a pilotagem e levá-lo até o porto.

Quando o navio sai do porto, Zé Peixe consegue ser ainda mais impressionante. Ele não leva um barco de apoio para retornar a terra firme, como seus colegas de profissão. Ele segue com o navio até a Boca da Barra e quando termina o seu trabalho salta ao mar e volta nadando – chega a nadar até 13km.

José Martins virou referência no rio, pois o conhece como ninguém. Ele consegue levar navios para um porto seguro atravessando a barra do rio Sergipe, analisando ventos, prevendo o movimento das areias e, às vezes, jogando-se no mar bravio para achar a passagem. “O segredo é não nadar contra a correnteza”, explica Zé.

Bravura

Um dos fatos que chamou a atenção da população, em 1952, foi quando Zé Peixe foi ajudar a três remadores do Rio Grande do Norte que participavam de uma corrida de regata até o Rio de Janeiro a chegar ao alto mar. Dias antes, eles haviam chegado em uma yole, mas sem conhecer as dificuldades da barra do rio Sergipe tiveram a embarcação danificada.

Para chegar ao mar, eles foram na lancha Atalaia e além de Zé e dos competidores estavam na lancha o motorista e sua irmã Rita Ribeiro Nunes Shunk conhecida por Rita Peixe. A lancha naufragou e as notícias nos programas de rádio foram que todos estavam mortos. As notas solicitavam a quem tivesse carro que fosse para a praia de Atalaia iluminar a areia.

Zé Peixe e Rita conseguiram salvar toda a tripulação e foram homenageados alguns meses depois no Estado do Rio Grande do Norte (RN) em solenidade oficial, contando com a presença do presidente Café Filho e do governador do Estado do RN à época Jerônimo Dix-Sept Rosado Maia. Zé recebeu uma medalha em ouro maciço escrito, “Honra ao mérito pela gratidão do povo Potiguar”.

Certa vez, o almirante recomendou elogios a sua coragem por salvar dois marinheiros do rebocador Guarani (1959), que caíram no mar durante uma tempestade. Ao ser questionado se teve medo, Zé Peixe responde com naturalidade, “era o meu trabalho, fiz o que tinha que fazer”.

Outro acontecimento que destaca a coragem de José Martins foi quando o navio Mercury estava em chamas em alto mar, vindo das plataformas da Petrobras e com os funcionários a bordo.  Zé Peixe chegou ao navio com a ajuda de um rebocador, tomou a cabine e conduziu a embarcação, que poderia explodir, até um local onde todos pudessem saltar e nadar para a terra firma.

Como foi a vida de Zé do Peixe?
Quadro recebido na homenagem de 50 anos de profissão nele tem escrito”Um salto comum para si próprio, um mito para nós” – Os práticos do Brasil
Homenagens

Feitos como estes fizeram Zé Peixe receber algumas homenagens. A Prefeitura Municipal de Aracaju, através de Cleovansóstenes Aguiar, oficializou Zé Peixe como Grão-Mestre da Ordem do Mérito Serigy, concedendo-lhe o título, a medalha e a comenda por Honnoris Causa. E através de José Carlos Teixeira um posto de salva-vidas recebeu seu nome.

O ex-governador do Estado, João Alves Filho, nomeou o Parque Aquático do Batistão com o nome Zé Peixe. Além disso, Zé conta com uma homenagem de um golfinho na praça Inácio Barbosa, que foi feita pelo artista plástico Eurico Luiz, um busto em bronze na frente do Memorial de Sergipe – da Universidade Tiradentes e um catamarã com seu nome. 

Recebeu por unanimidade de todos os práticos do Brasil a homenagem pelos 50 anos de serviços prestados na praticagem/Capitania dos Portos. E em Salvador, José Martins foi homenageado pela Marinha do Brasil com a Medalha Almirante Tamandaré.

Ele também já foi tema de dois programas do Fantástico, foi entrevistado pelo Jô Soares e pelas grandes revistas nacionais e internacionais. Quanto à polêmica de ser feito um filme de sua história, Zé responde que “não é astro de cinema”. E quanto a ponte Aracaju-Barra dos Coqueiros ter seu nome, Zé desconversa e não responde.

De acordo com sua afilhada, Zé Peixe foi injustiçado ao afirmarem na imprensa que por ele não aceitar fazer o filme estaria deixando de divulgar o Estado. “As pessoas devem entender que ele é uma figura humilde e não um astro. Ele diz que não é ator e sim prático e tem orgulho de sua profissão”, explica.

Acidentes

Ao ser questionado se nestes anos todos ele não teve nenhum acidente no mar e no seu serviço, Luciana Shunk conta que uma certa vez a corda do barco soltou e bateu em seu olho que tem uma pequena deficiência, mas enxerga normalmente.

“Ele já deslocou o punho ao saltar do navio, mas atualmente tem mais cuidado e envolve-os com gazes antes de saltar”, diz.

Por Raquel Almeida

(Esta matéria faz parte da homenagem que o Portal Infonet faz a Zé Peixe pelo seu aniversário de 80 anos. De ontem, 2, até sexta-feira, 5, estaremos publicando matérias sobre sua vida, trabalho e seus feitos no mar).

Para quem quiser acompanhar:

80 anos- Zé Peixe, mais do que uma lenda um grande homem

O que aconteceu com Zé Peixe?

Entulhada de lembranças, títulos e medalhas que Zé Peixe juntou na vida, além de miniaturas e desenhos de barcos, e de imagens de santos católicos. Morreu em Aracaju na tarde de 26 de abril de 2012, vítima de insuficiência respiratória, aos 85 anos.Um exemplo de dedicação e honra.

Quando morreu Zé Peixe?

26 de abril de 2012Zé Peixe / Data de falecimentonull

O que ela diz sobre Zé Peixe?

Sua desenvoltura com o oceano só não chamou mais a atenção do que seus hábitos excêntricos: ele não tomava banho e nem bebia água doce, se alimentava basicamente de frutas, pão e café e raramente usava sapatos. A falta de banho de água doce, no entanto, jamais pode ser confundida com desleixo.