Cotação minério de ferro china hoje

China deve flexibilizar a política de “covid zero” para reaquecer a economia doméstica

O minério com teor de 62% de ferro recuou 2,4% nesta quinta-feira, para US$ 94,20 por tonelada

• Vale

Embora a cotação do mercado internacional de ontem revele alta de 2% no preço da tonelada do minério de ferro refinado teor 62% na comparação com o dia anterior, indo a US$ 105,23, a commodity segue em queda desde abril – quando atingiu o recorde de US$ 161,84 a tonelada. De lá para cá, a desvalorização é de quase 35%. 

Segundo especialistas ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, a baixa no preço do minério está ligada diretamente à desaceleração da economia chinesa, que vive um colapso relativo à crise imobiliária, às ondas de calor intenso e aos recentes lockdowns.

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“A cotação do minério de ferro internacionalmente é muito dependente da expectativa de crescimento da China, o maior importador do mineral no mundo. Como a perspectiva não é positiva, a cotação vem caindo desde o início de abril”, afirmaram os analistas da Terra Investimentos Régis Chinchila e Luis Novaes.

A habitual e significante procura da China pelo mineral se deve ao fato de as usinas siderúrgicas produzirem a partir dele o ferro e o aço, componentes fundamentais para diversas atividades econômicas, em especial o setor imobiliário. Vale ressaltar que os chineses também são os maiores produtores de aço do mundo.

Entretanto, os números de importação da commodity têm caído. Dados da Administração Geral de Alfândegas da China (GACC, na sigla em inglês) revelam que, apesar de o país apresentar alta de 5,5% na importação do minério em agosto com relação ao mês anterior, a situação no acumulado do ano não é positiva. Entre janeiro e agosto de 2022, houve um volume de importação de 723 milhões de toneladas, queda de 3,1% em relação ao mesmo período de 2021. 

Conforme o sócio-diretor da Belo Investment Research, Paulino Oliveira, a tendência de queda nos preços está atrelada ao fechamento de algumas cidades chinesas em decorrência do aumento dos casos de Covid-19. Segundo ele, os lockdowns refletem na insegurança do investidor e das famílias na compra de imóveis pelo país, reduzindo assim, a demanda pelo minério de ferro. 

Minas Gerais 

Minas Gerais, um dos maiores exportadores de minério de ferro do Brasil, também sofre as consequências da situação chinesa. Na comparação do acumulado dos oito primeiros meses deste ano com igual intervalo anterior, o Estado registrou queda de quase 36% no valor exportado da commodity(de US$ 13,6 bilhões para US$ 8,8 bilhões). Vale realçar que são valores faturados com a modalidade de frete free on board (FOB), na qual o comprador assume a totalidade de custos e riscos inerentes ao transporte do produto. Os dados são do Comex Stat, do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic).

O período de declínio conversa com a decisão da Vale (maior produtora de minério do mundo) de rever e segurar o nível de produção, segundo Paulino Oliveira. Ele destaca que embora a Vale tenha produzido mais minério de ferro no segundo trimestre em relação ao primeiro do ano (alta de 17%), houve uma redução na projeção anual de 320 milhões a 335 milhões de toneladas para 310 milhões a 320 milhões de toneladas. 

Ainda segundo ele, a decisão é “o que eles chamam de flexibilidade da produção em função das condições de mercado”, devido à desaceleração da economia chinesa e à incerteza da economia mundial. 

Para o analista de investimentos da Mirae Asset Corretora Pedro Galdi, as “fortes chuvas no verão deste ano, bem acima do normal”, afetaram a produção e, consequentemente, a exportação do minério de ferro. Ele crê que para 2022 não haverá mudanças de demanda para cima. “Devemos acompanhar se realmente a Europa vai entrar em recessão, como fica a guerra na Ucrânia e a China nos próximos meses”, ressaltou.

Cotação não deve fechar ano acima dos US$ 100

As projeções para o fim do ano não são otimistas. Segundo os especialistas, o preço do minério de ferro não deve fechar acima dos US$ 100 a tonelada. 

“No início do ano, a perspectiva era outra, assim a projeção para o minério de ferro no fim do ano estava próximo aos US$ 120 por tonelada. Hoje a visão é completamente diferente, as estimativas estão em US$ 85 a tonelada no fim do ano, refletindo toda a incerteza do mercado quanto ao setor imobiliário chinês, que é muito relevante para a projeção”, afirmaram Régis Chinchila e Luis Novaes.

Segundo os analistas da Terra Investimentos, “os processos produtivos, que mudaram bastante nos últimos anos, e custos maiores devido ao cenário inflacionado, inviabilizam o minério de ferro em um patamar muito abaixo dos US$ 100 a tonelada. Portanto, a médio/longo prazo, “a expectativa é que esse volte a ser negociado acima dessa marca, ou pelo menos, se mantenha próximo a ela”.

Já o sócio-diretor da Belo Investment Research, Paulino Oliveira, destaca que a curtíssimo prazo é improvável que o valor do minério de ferro ultrapasse a casa dos US$ 100 a tonelada devido aos fatores de incerteza. Mas, até o fim de 2022, ele acredita que “tem espaço para subir até mais do que isso”.

Para Pedro Galdi, apesar de uma parte dos analistas trabalharem com a projeção de cotação inferior a US$ 90 a tonelada, ele prefere ficar com um preço médio de US$ 100, visto que “o governo da China não deixará a economia continuar fraca por muito tempo”. Ainda conforme o analista de Investimentos da Mirae Asset Corretora, teremos a cotação acima desse valor quando o país asiático retomar o seu crescimento anual de 5%.

Fatores de impulso

Quanto aos fatores que podem impulsionar a cotação do minério a curto e médio prazo, Pedro Galdi ressalta que “o principal vetor para o preço do minério de ferro é a China”. Ele destaca que, “quando o governo lançar pacotes de estímulo à infraestrutura no país, visando a aquecer a economia, a demanda voltará a crescer”, mas ressalta, “a crise que se aproxima na Europa é um fator preocupante”.

Já os analistas da Terra Investimentos Régis Chinchila e Luis Novaes afirmam que “os estoques de aço acabado e minério de ferro em siderúrgicas na China estão em queda, a recomposição desses pode impulsionar o preço do minério de ferro no curto prazo, projetando-se que os estoques voltem aos níveis históricos”. No entanto, “apenas indicativos convincentes de retomada da economia chinesa poderiam criar um movimento forte de alta”.

Conforme informações da Reuters, a China intensificou o apoio ao mercado imobiliário do país com novos projetos de infraestrutura e medidas que visam a fortalecer a economia. Dessa forma, os contratos futuros (referenciais) de minério de ferro nas bolsas de Dalian e Singapura registraram seus maiores ganhos semanais em seis semanas na última semana.

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