Por que a Floresta Amazônica tem forte influência no clima de várias regiões do planeta?

A extinção da Renca, Reserva Nacional de Cobre e Associados, que pretendia estabelecer as áreas de mineração, em agosto de 2017, desencadeou uma histeria nacional e internacional sem precedentes. Mas, ao mesmo tempo, deu mais uma prova da Amazônia e sua importância para o mundo. Por quê?

Por que a Floresta Amazônica tem forte influência no clima de várias regiões do planeta?
Amazônia e sua importância para o mundo

A Amazônia e suas influências

Por sua extensão e propriedades, a Amazônia influencia regime de chuvas em toda a América do Sul, e parte importante do mundo ocidental, contribuindo para estabilizar o clima global. E, de quebra, é a floresta com maior biodiversidade do mundo.

Só no que conhecemos como Amazônia Legal, ‘são mais de cem biomas nesta floresta heterogênea’, diz o especialista Enéas Salatti (Prof. de Física e Meteorologia da Escola Superior de Agricultura, Luiz de Queiroz, da USP), no livro Gestão da Amazônia, publicado por Jacques Marcovith em 2011.

A Amazônia e os rios voadores

A área da Floresta Amazônica produz imensas quantidades de água, e um fenômeno conhecido como “rios voadores”. Estes fluxos aéreos  de água, formados por massas de ar carregadas de vapor de água são ‘puxadas’ do oceano Atlântico. Depois, empurrados por ventos, levam a umidade para outras regiões do Brasil; e para outros países da América do Sul como Bolívia, Paraguai, Argentina, Uruguai e até mesmo o sul do Chile.

Por que a Floresta Amazônica tem forte influência no clima de várias regiões do planeta?
Os rios voadores: Amazônia e sua importância para o mundo (Ilustração: http://riosvoadores.com.br)

Depois que a umidade é sugada do Atlântico, ela se desfaz sob a forma de chuva na floresta. A floresta, e a bacia amazônica, sofrem forte evaporação, e reenviam a água da chuva para a atmosfera na forma de vapor. O ciclo se repete.

O vento entra novamente em ação, empurrando a massa em direção a cordilheira dos Andes onde encontra uma barreira natural. Parte do vapor volta cair em forma de chuva, alimentando as cabeceiras de vários rios formadores do Amazonas.

Outra parte é desviada pela cordilheira em direção ao sul, atingindo as regiões de agricultura mais importantes do Brasil, o Centro-Oeste, e chega até países vizinhos.

Volume do ‘rios voadores’ é superior à vazão do rio Amazonas

De acordo com o livro Gestão da Amazônia, de Jacques Marcovith, ‘a intensidade desses fluxos, ou seja, a quantidade de vapor de água transportada por essas massas é maior que a própria vazão do rio Amazonas, de 200.000 M3/s. Por isso foi utilizado o termo rios voadores’…

No vídeo fica mais fácil entender o processo:

Globo Ecologia_Rios voadores

Um única árvore pode bombear 300 litros de água para a atmosfera

Em um único dia uma árvore com uma copa de 10 metros pode bombear mais de 300 litros de água para a atmosfera. Calcula-se que haja cerca de 600 bilhões de arvores na Amazônia. Isso dá a dimensão da água bombeada a cada 24 horas.

E, claro, previsões mostram alterações importantes no clima da América do Sul em razão da substituição de florestas por agricultura ou pastos. Mas isso é só uma parte da preocupação mundial.

Amazônia e sua importância para o mundo: as mudanças climáticas

As florestas tropicais (saiba quais são as maiores florestas tropicais do mundo) armazenam algo em torno de 90 bilhões a 140 bilhões de toneladas métricas de carbono, para não falar que as florestas desmatadas são as maiores fontes de emissões de gases do efeito estufa depois da queima de combustíveis fósseis (Estima-se que o desmatamento seja responsável por quase 20% do total das emissões anuais globais dos gases causadores do efeito estufa).

Assim como os oceanos, as florestas retêm o carbono no solo e árvores. Quando desmatadas, o carbono retido é liberado na atmosfera na forma de dióxido de carbono, um dos gases causadores do efeito estufa o que altera o clima em todo o mundo.

Amazônia e o resfriamento e despoluição do planeta

De acordo com o livro A Sustentabilidade Como Paradigma, de Marcílio de Freitas e Marilene Corrêa da Silva Freitas, ‘o desmatamento e o uso da terra na Amazônia emitem anualmente 229 milhões de toneladas de carbono representando 78% da emissão total do Brasil, e a queima de combustível fóssil emitindo 64 milhões de toneladas de carbon, outros 22% do total.”

Isso demonstra a importância da Amazônia na estabilidade ecológica do planeta, em especial no sequestro de carbono. Mas tem mais: “a bacia do Amazonas é extremamente importante e eficiente na absorção da energia solar e na redistribuição planetária desse calor por meio da atmosfera (idem).”

E além disso, é ‘a maior biblioteca-viva do planeta’.

O Acordo de Paris e a Amazônia

Ele foi o mais importante acordo sobre o clima já realizado (Saiba o que os países signatários estão fazendo para cumprirem suas metas). Seu principal objetivo é manter o aquecimento abaixo de 2ºC neste século. Para que  a meta seja atingida, é fundamental a manutenção das florestas, além de outras políticas públicas.

A comunidade científica está preocupada. Há três anos as temperaturas globais têm batido recordes sucessivos. E a água é cada vez mais escassa no mundo. Esse é mais um dos motivos que gerou a histeria internacional sobre o ‘final’ da Renca, e demostra a importância da Amazônia para o mundo.

Amazônia e sua importância para o mundo: a escassez de água

A Organização das Nações Unidas (ONU) tem previsões sombrias: “se as políticas públicas não mudarem, dois terços da humanidade sofrerão alguma restrição do recurso em 2025 e 50 países enfrentarão crise no abastecimento até 2050.”

Mais uma vez, o foco se vira para o Brasil onde estão cerca de 12% da água doce superficial do planeta, a Amazônia.

Quem é quem no consumo de água: 70% agricultura, 20% indústrias, só 10% para consumo

João Alberto Alves Amorim, professor do curso de Relações Internacionais da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios (EPPEN/ Unifesp) – Campus Osasco – e doutor em Direito Internacional pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) tem a resposta.

Para ele “o setor agropecuário é responsável, globalmente, por cerca de 70% do consumo de água (no Brasil, 72%). Em segundo vêm as atividades industriais, que respondem por cerca de 20%. O consumo individual responde pelos 10% restantes.”

É preciso mudar os padrões: da cultura do excesso e desperdício, para o consumo responsável

João Alberto Alves Amorim explica: “com aproximadamente 5% da população mundial, os Estados Unidos consomem 20% de toda a energia produzida e geram 40% de todo o lixo.”

“Se todos os habitantes da Terra consumissem como um estadunidense médio, seriam necessários outros dois planetas para suprir a demanda.” Para o pesquisador “a prioridade do consumo humano e da saúde pública devem ser a premissa maior.”

Amazônia e sua importância para o mundo: a megadiversidade da região

O livro Um futuro para a Amazônia, de Bertha Becker e Claudio Stenner tem a resposta mais ‘científica’. “Entre os 17 países que reunem 70% das espécies animais e vegetais em seus territórios, a biodiversidade brasileira é considerada a maior entre todas as relativas a plantas, primatas, peixes, anfíbios e insetos, e a terceira maior de aves e mamíferos (Conheça os países com a maior biodiversidade do planeta).”

Mas…como sempre, há um porém…

Amazônia e sua importância para o mundo

“A maior parcela deste universo não foi sequer registrada”, relembra Bertha Becker. Eis aí mais uma fonte para se descobrir a importância da Amazônia para o mundo. Mas os números acima estão de longe de esgotarem a realidade Amazônica. Bertha Becker:  “estima-se que mais de 70% das espécies de artrópodes ainda não possuem nomes científicos, uma situação que deve perdurar por muito tempo (por falta de estímulo à pesquisa).”

Bertha finaliza o capítulo que trata da biodiversidade dizendo que, “em termos absolutos os números são tão impressionantes, que, supondo a manutenção da taxa anual das descrições de espécies – algo como 1,5 mil por ano – sua catalogação total demandaria aproximadamente oito séculos para se completar, sob o risco de perda de espécies que sequer viriam a ser descobertas.”

A falta de investimento na fiscalização é igual a aumento do desmatamento

Enquanto esta riqueza permanece desconhecida, o Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) informa que “o rebanho bovino na Amazônia Legal saltou de 37 milhões de cabeças em 1995, o que era equivalente a 23% do total nacional, para 85 milhões em 2016 – cerca de 40%.”

E finaliza: “A pecuária para a criação de gado é a atividade que mais contribui para o desmatamento na Amazônia, ocupando 65% da área desmatada.”

Queremos explorar um pouco mais a frase abertura do parágrafo acima. ‘Enquanto esta riqueza permanece desconhecida’…acrescentamos, também por imobilismo dos sucessivos governos que sempre investiram pouco em ciência e tecnologia, fundamentais para qualquer avanço de qualquer país, as ‘drogas do sertão’, como se diz, ou ‘as valorizadas especiarias do século 21’, como diz Bertha Becker em seu quase ‘clássico’ trabalho, (contribuíram para) “a Amazonia passou a ser revalorizada mediante as inovações para a utilização de seus recursos (naturais) em outro patamar, com menos desperdício, condicionada a novas tecnologias, fato reforçado pela crescente crise mundial ambiental.”

Desenvolvimento sustentável da Amazônia

Assim como Bertha Becker e Claudio Stenner, em seu Um Futuro para a Amazônia, outros pesquisadores defendem a maciça introdução de ciência e tecnologia em todas as já existentes cadeias produtivas da Amazônia.

Sejam as da extração da madeira, castanha, latex e outras, ou a plantação de soja e especialmente a pecuária,  de modo que todas pudessem alcançar o sucesso da soja no Brasil. Esta modalidade da agricultura atingiu grande produtividade, ao se modernizar,  ocupando assim cada vez menos terra ao mesmo tempo em que produz mais. Um exemplo que poderia ser repicado nas obras cadeias extrativistas, ou na pecuária.

Assim propõem, entre outros, o climatologista Carlos Nobre, ou o pesquisador Rinaldo Segundo, ambos citados neste site, entre muitos outros acadêmicos brasileiros.

Falta investimento

Mas, mesmo com estas informações, os governos investem menos que o necessário para a fiscalização do desmatamento. Resultado? Sobem as taxas.  Em 2016, durante o desgoverno Dilma, foram cerca de 30%, a pior taxa desde 2008.

Depois da natural chiadeira internacional, houve mais fiscalização por parte de Michel Temer. E as taxas voltaram a cair.

Sai Temer, entra Jair Bolsonaro…

Sai Temer, entra Jair Bolsonaro e sua ‘pregação’ desde a campanha, de que ‘a festa de multas do Ibama vai acabar‘. De fato, o ministro do MMA segue à risca a instrução e baixa a guarda.

Resultado?

Cerca de 30% a mais de desmatamento no ano de 2019 comparado a 2018, o que resultou na maior baixa da imagem externa do Brasil e, depois da reunião do Fórum Econômico de Davos, 2019, redundou na criação do Conselho da Amazônia como forma de amenizar a intenção dos maiores fundos de investimentos do mundo que ameaçam não investir no País enquanto perdurarem os maus tratos à floresta.

Isso faz pensar que, às vezes, a histeria internacional mencionada no início tem lá suas funções…

Assista ao vídeo da Fapesp com o físico Paulo Artaxo, da USP. Ele fala do papel da Amazônia no clima do Brasil e do mundo

Como a Amazônia regula o clima do planeta

Foto de abertura: Instituto Amazônia

Fontes: http://g1.globo.com; http://www.dw.com; http://riosvoadores.com.br; http://www.unifesp.br. Livros: Um Futuro para a Amazônia, de Bertha Becker e Claudio Stenner, ed. Oficina de Textos, 2008. E Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, de Rinaldo Segundo, Ed. Juruá, 2015.

Novas espécies da Amazônia, em dois anos 381 foram descobertas

Como a floresta Amazônica influência no clima do planeta?

Se bem ajustado, o mecanismo hidrológico da Amazônia desempenha um papel primordial na manutenção do clima mundial e regional. A água que as plantas liberam na atmosfera por meio da evapotranspiração e que os rios despejam no oceano influencia o clima do planeta e a circulação das correntes oceânicas.

Como a floresta Amazônica influencia o clima em diferentes regiões do Brasil?

De acordo com os pesquisadores, a floresta emite vapores orgânicos para o ar por meio da evapotranspiração, provocando o condensamento e a formação das chuvas. O ar úmido que também é gerado pode precipitar-se e deslocar-se para outras regiões, incluindo o Centro-Oeste do país, o Sudeste e também o Sul.

Qual a importância da floresta Amazônica para o clima da região e do mundo?

As florestas da Amazônia funcionam como grandes armazéns de carbono, o qual se encontra estocado nos tecidos vegetais. Quando a floresta é derrubada e queimada, este carbono é liberado para a atmosfera, o que contribui para o aumento da temperatura da Terra devido ao efeito estufa (0,7ºC no último século).

Como a floresta Amazônica influência no clima da região Norte?

Na região da floresta Amazônica o clima predominante é o equatorial, devido à proximidade com a linha do equador, em plena zona intertropical da Terra. Essa característica climática resulta em temperaturas elevadas e altos índices pluviométricos e praticamente não apresenta período de estiagem.