Por que os aspectos subjetivos são relevantes na atualidade para o mundo do trabalho?

Introdu��o

O objetivo deste texto � apresentar como o sistema capitalista atual, em fun��o da produ��o de mais valia, necessita produzir subjetividades. A fim de compreendermos conceitualmente este fen�meno teremos de explicitar o que caracterizamos como "subjetividade" e o que entendemos por "capitalismo atual". O instrumental adotado para tanto adv�m da semi�tica pol�tica, raz�o pela qual enfatizaremos as media��es s�gnicas peculiares ao giro do capital, � produ��o das mercadorias, � promo��o do consumo e a necess�ria produ��o das subjetividades para a realiza��o deste movimento.

Esta exposi��o est� dividida em duas partes. Na primeira enfocamos o tema considerando centralmente a subjetividade. Na segunda parte, centralizamos a reflex�o sobre a no��o do capitalismo atual. Em ambas, iniciamos a exposi��o pelas categorias mais abstratas para chegarmos, ao final, � compreens�o mais detalhada da realidade concreta. Assim, na primeira parte, apresentamos uma no��o abstrata de subjetividade e dos processos semi�ticos que a produzem. Destacamos que os indiv�duos se reconhecem pela media��o semi�tica de auto-�cones ou auto-imagens que s�o por eles mesmos interpretadas, contudo, a partir dos interpretantes da cultura hegem�nica em que suas subjetividades se estratificam. Consideramos, a seguir, como a produ��o de subjetividade pode ocorrer na perspectiva da individualiza��o capitalista ou na perspectiva de uma subjetiva��o subversiva �s diversas semioses hegem�nicas modelizadas pelo capital. Encerramos a primeira parte considerando a dimens�o ut�pica inerente �s subjetividades e aos movimentos sociais, como ocorre a produ��o de subjetividade agenciada pelo capitalismo globalizado e apresentamos uma tipologia do consumo alienante, compuls�rio ou em raz�o do bem viver.

Na segunda parte centramo-nos na an�lise do capitalismo atual, considerando suas faces de globaliza��o, planetariza��o e mundializa��o. Explicitamos a seguir as novas bases da atual acumula��o capitalista (a mais-valia virtual, a ci�ncia como valor econ�mico e a produ��o de subjetividade como media��o de reprodu��o do capital). Por fim consideramos a rela��o entre os valores de uso e troca virtuais e a produ��o de subjetividades, como n�cleo dessa nova fase de acumula��o de capital.

Nas considera��es finais, embora n�o seja este o tema desta exposi��o, apresentamos algumas perspectivas de poss�veis desdobramentos de certos aspectos da presente reflex�o com a finalidade de construir alternativas de a��o que permitam interferir em alguns dos fen�menos analisados.

1. Sobre a Produ��o de Subjetividade

N�o h� nenhum processo f�sico, biol�gico ou antropol�gico que n�o esteja mediado por signos. Toda cultura, por sua vez, resulta de uma certa estratifica��o semi�tica ordenadora de comportamentos pessoais e coletivos. As subjetividades, igualmente, se constituem a partir de processos antropossemi�ticos sem os quais nenhum indiv�duo poderia reconhecer-se como sujeito ou agir com autonomia.

Se reduzirmos a subjetividade � sua dimens�o mais abstrata, chegaremos a mat�rias e fun��es organizadas como subst�ncias e formas sob regimes de signos. Esta compreens�o formulada por Gilles Deleuze e F�lix Guattari (1) enfatiza a historicidade inerente a cada subjetividade, considerando o movimento de constitui��o de identidades e singularidades a partir de m�ltiplas rela��es, fluxos e agenciamentos mediados por signos - movimento que se caracteriza como produ��o de subjetividades.

Se reduzirmos um corpo a seu elemento mais simples chegamos � sua materialidade organizada sob um jogo de fun��es. Essa fun��es todas, organicamente, conformam o corpo. Tem-se portanto diversos �rg�os e aparelhos que se articulam entre si. Trata-se pois de uma mat�ria ordenada nesse conjunto de fun��es. Mas somente isso n�o estrutura uma subjetividade. Essas mat�rias e fun��es s�o ordenadas a partir de regimes de signos. Em n�vel de biossemiose, tem-se como signos ordenadores, os c�digos gen�ticos; em n�vel de zoosemiose tem-se os signos que - sob linguagens sinalizadoras e expressivas - organizam a vida dos grupos de animais possibilitando a sua sobreviv�ncia e reprodu��o (2). Contudo, se considerarmos o n�vel da antropossemiose, veremos que in�meras fun��es do organismo s�o de algum modo modelizadas pelos diversos signos das culturas humanas. O modo de comer, de vestir, de se reproduzir, enfim, de realizar todas as atividades necess�rias � exist�ncia e conviv�ncia humanas � semioticamente organizado (3). Assim, quando se fala em subjetividade h� que se pensar nesse conjunto de mat�rias e fun��es - nesse conjunto das necessidades org�nicas - e por outro lado nas dimens�es da cultura - nos diversos c�digos socialmente ordenadores - que, de algum modo, modelizam o corpo; neste processo estruturam-se as subjetividades.

Deste modo, todas as subst�ncias ou identidades referem-se ao que as coisas s�o segundo cada cultura, segundo cada regime de signos ou, o que d� no mesmo, segundo as diversas semi�ticas vigentes e hegem�nicas em uma comunidade de comunica��o, que tanto pode ser uma fam�lia, uma tribo, um grupo de amigos, uma gang, uma comunidade religiosa, uma na��o, etc. Em cada organismo social destes, processos educativos mediados por semi�ticas peculiares orientam a individualiza��o ou singulariza��o. Perguntas tais como: quem �, o que � ou o que dever ser - perguntas em torno de quest�es sobre subst�ncia e forma - s�o quest�es que somente se respondem considerando-se o plano da cultura, isto �, o plano da linguagem ou das semioses e n�o somente o plano das mat�rias e fun��es. Mais do que isto, tais perguntas recebem respostas distintas a partir das distintas semi�ticas dos diversos grupos ou organismos sociais, que podem entrela�ar-se como uma rede de significa��es que se tran�am como interpretantes, mas que tamb�m podem se excluir em semioses contradit�rias com signos que se negam reciprocamente em vig�ncias opositivas. As mat�rias e fun��es que comp�em e reproduzem a condi��o objetiva das subjetividades s�o como uma argila que vai sendo modelada sob as culturas das diversas sociedades em regimes de signos consonantes ou contradit�rios com os demais.

Toda cultura possui dois aspectos fundamentais sem o que n�o h� sociedade: uma infra-estrutura econ�mica e uma infra-estrutura comunicativa, isto �, um modo de produzir e consumir, bem como, um modo de significar, informar e comunicar atrav�s de sinais que s�o articulados em regimes de signos e em linguagens naturais, a partir dos quais a sociedade se organiza e se reproduz (4).

Se biologicamente os seres humanos possuem mat�rias e fun��es semelhantes, culturalmente as subjetividades s�o modeladas sob regimes de signos muito diversos, tanto dos diferentes povos, grupos ou classes sociais, quanto dos diversos momentos hist�ricos e conjunturais nos quais essa semiose vai sendo complexamente transformada. Assim, a sensibilidade das pessoas � modelada - alguns sentimentos se cultivam em uma cultura em um certo momento, mas se negam em outra cultura ou em outro momento do mesmo grupo. O modo de perceber esteticamente o mundo tamb�m � modelizado pela cultura: o que se considera belo e feio, saboroso ou n�o - pois a pr�pria percep��o do sabor e da beleza � algo modelizado a partir da cultura; o mesmo ocorre com a percep��o das cores - o arco-�ris tem sete cores para os falantes da l�ngua portuguesa, mas para algu�m que fala ingl�s o rainbow tem seis cores, pois, no que se refere ao arco-�ris, a comunidade de l�ngua inglesa n�o distingue a cor anilada da cor roxa, ambas compreendidas em uma �nica faixa, purple (5). Com a dimens�o �tica tamb�m ocorre o mesmo: as no��es de justo, injusto, certo e errado est�o relacionadas com um conjunto de interpretantes v�lidos sob uma semiose vigente no seio de uma comunidade em um dado momento hist�rico. O mesmo se passa com os imagin�rios, a compreens�o de mundo, as esperan�as, as utopias. Tamb�m no n�vel das necessidades encontramos essas semioses: a defini��o do que deve ser satisfeito e de como deve s�-lo; tudo isso � modelizado pela cultura. � muito diferente nascer no Brasil ou em Ruanda, no Jap�o ou na Su��a

A rela��o entre a sociedade e indiv�duo �, portanto, muito complexa. No processo de sua individua��o, as pessoas v�o assumindo os jogos de linguagem, os signos e c�digos de uma certa cultura, em uma rela��o simult�nea de liberdade e de determina��o. Como escreve Paulo Freire, "nem somos, mulheres e homens, seres simplesmente determinados nem tampouco livres de condicionamentos gen�ticos, culturais, sociais, hist�ricos, de classe, de g�nero, que nos marcam e a que nos achamos referidos." (6) Cada indiv�duo � determinado pela sociedade em todas as dimens�es de sua subjetividade, mas ao mesmo tempo tamb�m � livre, no sentido de que pode interferir sobre esses c�digos culturais. Assim, fam�lia, escola, colegas, amigos, igrejas e, especialmente, as m�dias de massa determinam muito a individua��o das subjetividades (7). Por outra parte � poss�vel uma interven��o dos sujeitos sobre esses determinantes desde que desenvolvam a capacidade de problematiz�-los. Em todas essas esferas ocorre o processo educativo atrav�s da forma��o dos indiv�duos em semioses geradoras de interpretantes, de padr�es e refer�ncias para os diversos conjuntos de comportamentos e a��es pessoais ou coletivas.

Contudo, de todos os aparelhos e organismos sociais mediadores da educa��o ou da cultura, as m�dias de massa tem cada vez maior preponder�ncia afirmando padr�es est�ticos, �ticos e pol�ticos. Valendo-se do saber elaborado pelas ci�ncias humanas que esquadrinharam as subjetividades, as m�dias de massa exercem poder sobre elas, de modo tal a agenciar certos comportamentos, a determinar certos movimentos sociais, a promover o consumo de certos produtos, etc. Em s�ntese, elas interferem com seus processos pedag�gicos nos n�veis mais �ntimos da subjetividade, agenciando os comportamentos mais variados (8).

Assim, a sociedade condiciona os indiv�duos com seus processos educativos, mas os indiv�duos podem modificar a sociedade. Desse modo, n�o cabe falar de uma ex-ist�ncia individual de cada um, como se a subjetividade se reduzisse a uma consci�ncia que, movida pela liberdade, p�e-se fora de si (ex) atrav�s de suas obras culturais, podendo nelas refletir-se e recuperar-se como consci�ncia livre em seu movimento individual, suprimindo o anterior momento de aliena��o. A subjetividade, pelo contr�rio, � relativamente determinada por tudo que a modeliza, a fam�lia, a escola e demais equipamentos sociais. Com efeito, a subjetividade � fruto de uma con-sist�ncia - cada pessoa � neste conjunto de semioses que a atravessa e modeliza, que perpassa a sua subjetividade e a produz como ser humano, embora sempre tenha a liberdade situada e relativa de resistir aos fluxos que a produzem e de conferir um sentido singular � sua vida.

1.1 Auto-�cone, Individualiza��o e Singulariza��o

A percep��o que o indiv�duo tem de si mesmo � primeiramente uma experi�ncia est�tica, isto �, sens�vel, uma vez que todo conhecimento inicia-se por tomar-se a si mesmo como fen�nemo e n�o inicialmente como raz�o. A necessidade insatisfeita leva o indiv�duo � busca de uma exterioridade que o satisfa�a. A mem�ria da satisfa��o e da car�ncia registram-se como signos prim�rios da zoosemiose dos comportamentos animais que � modelizada sob as semioses culturais humanas. Desde a consist�ncia modelizadora dessas intensidades vai se constituindo a auto-imagem dos sujeitos. Sem mem�ria, contudo, n�o haveria estabilidade de alguma representa��o de si e, consequentemente, ocorreria a impossibilidade de uma identidade do indiv�duo.

Sendo assim, a consist�ncia nos leva � gera��o de um �cone virtual de n�s mesmos - uma imagem registrada na pr�pria mem�ria - como objeto imediato, sobre o qual aplicamos interpretantes com os quais queremos possuir a n�s mesmos, conhecer-nos (9). As semi�ticas hegem�nicas, contudo, ao propor certos interpretantes como os mais valiosos geram uma tens�o ut�pica de que o sujeito seja diferente do que imagina que �. Ao negar o valor do �cone atual de si mesmo e ao assumir como proje��o de si o �cone proposto pela semiose hegem�nica de alguma comunidade comunicativa, buscando alcan�ar os signos que o revestem (por exemplo, determinados tipos de roupas, t�nis, acess�rios, diplomas, outros objetos, certos comportamentos, etc), o indiv�duo constr�i outra virtualidade de si mesmo. A regularidade de rea��es (como interpretantes energ�ticos frente a objetos din�micos do cotidiano j� modelizados signicamente por uma articula��o interpretante) aparece como interpretante da identidade do �cone virtual de si mesmo (10).

Assim, podemos dizer que o eu possui dois �cones de si mesmo ou duas auto-imagens. Um corresponderia ao que o indiv�duo imagina que � e outro ao que deseja ser. Ambos os �cones s�o virtuais - uma vez que n�o possuem materialidade objetiva como significantes - que podemos denominar como atual no primeiro caso ou potencial ou ut�pico no segundo caso (11). Nenhum dos dois corresponde plenamente, contudo, ao eu. Se todo signo representa parcialmente o objeto, o �cone do que o eu imagina que � n�o representa cabalmente o que ele pr�prio �; j� o �cone que o projeta como seria em outra circunst�ncia, apenas o representa como projeto.

Importa destacar, contudo, que - em geral - tanto os interpretantes do �cone atual quanto do �cone potencial s�o gerados por semioses hegem�nicas desde as quais o indiv�duo interage consigo mesmo pela media��o de uma cultura que o situa como um ser em um mundo. Assim, sob as semioses do capital o indiv�duo compreende e sente o que �, aplicando sobre o �cone de si mesmo os interpretantes modelizados pelo regime de signos hegem�nico na produ��o de sua subjetividade. Por outra parte, ao projetar um �cone potencial, ele age do mesmo modo, projetando uma identidade avaliada a partir dos interpretantes das semioses hegem�nicas.

Na problematiza��o desse processo, algumas quest�es se colocam. A "complexidade s�gnica" (a articula��o complexa dos signos) redunda em uma experi�ncia �nica e complexa de si mesmo ou sempre fragmentada em raz�o da temporalidade das semioses? A mem�ria n�o pode integrar em uma unidade - o si mesmo - o conjunto de interpretantes afetivos, energ�ticos e intelectuais que integram a reposi��o do �cone atual na temporalidade hist�rica do indiv�duo? O si mesmo n�o � ele pr�prio uma s�ntese complexa como objeto din�mico, imediato e interpretantes que o p�e como sujeito livre, capaz de optar por distintos posicionamentos frente ao mundo objetivo pela media��o de sua representa��o s�gnica do mundo e de si mesmo?

A posi��o de si como consist�ncia � mais que autoconsci�ncia ou autopo�esis, pois h� fluxos s�gnicos dos quais n�o temos consci�ncia e h� elementos do eu que n�o s�o postos por sua liberdade, como seu envelhecimento, sua doen�a e sua morte.

A semiose do si mesmo como que engendra o movimento inverso. Ao considerar o �cone atual do si mesmo, todo o conjunto dos interpretantes emerge como um objeto din�mico que instaura o si mesmo para si mesmo em si mesmo. Esta complexidade do sentir-se energeticamente, afetivamente, perceber-se fenomenicamente, representar-se intelectualmente rep�e o eu para si mesmo com sua identidade consistente e mutante.

Assim, n�o h� um eu como objeto din�mico fora da complexidade s�gnica do si mesmo, pois o eu � sempre resultante processual da organiza��o s�gnica do caos das intera��es do sujeito com todos os fluxos. E n�o h� como afirmar o si mesmo sen�o pela media��o da cultura que, com seus signos e interpretantes, torna poss�vel a con-sist�ncia do indiv�duo.

A fisiossemiose organiza os fluxos materiais e energ�ticos; a biossemiose e a endossemiose reorganizam esses fluxos possibilitando a reprodu��o de sistemas complexos; a fitosemiose e a zoosemiose especializam c�digos externos conectando os processos vitais com os processos complexos externos. A antropossemiose em que emerge o �cone de si mesmo j� � um conjunto de modeliza��es em que sua "mat�ria" essencial s�o os pr�prios signos, antropologicamente ordenadores dos n�veis anteriores de semiose (12).

Sendo o si mesmo organiza��o e mem�ria, liberdade e proje��o, �cone atual e ut�pico, ele n�o pode haver sen�o como consist�ncia e justamente, por isso, toda subjetividade � produto e o capitalismo pode tornar-se o sistema modelizante principal capaz de reorganizar as semioses antropol�gicas, projetar �cones potenciais para a realiza��o humana, gerar interpretantes sobre os �cones atuais por cuja media��o os indiv�duos se reconhecem, operando na posi��o do si mesmo pelo pr�prio eu, e operar na sua posi��o de classe, orientado sua liberdade para a reprodu��o do capital.

Essa individua��o que, assim, ocorre culturalmente, pode-se dar de dois modos, como analisa F�lix Guattari (13). Na perspectiva da individualiza��o, os indiv�duos s�o agenciados capitalisticamente, em meio � massa, a destacarem-se socialmente, individualizando-se ao assumir as refer�ncias de poder e prest�gio social modelizadas sob as semioses do Capitalismo Mundial Integrado, buscando competir e vencer, ser melhor sob o quadro de valores estabelecido pelas semioses culturais hegem�nicas. Por outro lado, na perspectiva da singulariza��o ou subjetiva��o, a individua��o ocorre com o sujeito dando vaz�o aos fluxos de desejo e paix�o, buscando a realiza��o de sua singularidade na rela��o solid�ria e criativa com o outro - rela��o n�o fetichizada pelas media��es da cultura hegem�nica -, outro esse que � desejado em sua liberdade e diferen�a, rompendo-se, assim, com todos os c�digos �ticos, est�ticos e pol�ticos, entre outros, que impe�am o sujeito de realizar suas potencialidades, de expandir sua criatividade. Assim, por exemplo, para individualizar-se como homem, conforme uma certa semiose cultural hegem�nica, � necess�rio que a subjetividade se estratifique sob uma identidade machista. Por outro lado, sob o movimento de singulariza��o, a busca da rela��o com o outro far� o sujeito romper n�o apenas com a cultura machista, mas com todas as outras semioses dominantes que negam qualquer outro em sua diferen�a e liberdade, como a discrimina��o por ra�as, credo, orienta��o sexual, etc. Possibilita-se assim que todos realizem as suas singularidades e potencialidades na promo��o da liberdade rec�proca (14).

Tanto uma quanto outra perspectiva s�o alimentadas por processos educativos amplos realizados nos diversos organismos sociais. Nesse complexo processo de produ��o de subjetividade, in�meras utopias pessoais e coletivas s�o agenciadas e realimentadas. Cada pessoa tem sua utopia individual, movida por desejos e necessidades, formulada ao �mbito de sua circunst�ncia: cada pessoa busca realizar o que ainda n�o �, tomando como identidade seu �cone potencial ou ut�pico. A sociedade, contudo, orienta as utopias pessoais para certas realiza��es. Nesse sentido, o capitalismo � um grande formulador de utopias; conforme a ideologia por ele disseminada, cada pessoa nunca deve estar satisfeita com o que � ou tem e deve buscar sempre mais, estar � frente dos demais, ser o maior e o melhor, isto �, possuir em maior quantidade e em melhor qualidade que os demais.

1.2 Subjetividade e Utopias

Existem, contudo, diversas formas e tipos de utopias (15). Elas podem ser singularizadoras, subjetivadoras, quando s�o movidas pelo desejo do outro em sua liberdade, movidas para a rela��o pessoa-pessoa, face-a-face, na justi�a e liberdade - como afirma Enrique Dussel, quando considera a proximidade do face-a-face em sua dimens�o ut�pica ou escatol�gica, como sentido �ltimo da exist�ncia humana (16). Mas elas tamb�m podem ser alienantes, quando movidas por desejos manipulados sob a l�gica do capital, do machismo, do autoritarismo e demais semi�ticas em que a outra pessoa � subsumida como um objeto a mais no mundo do indiv�duo, que dela se vale como um meio para alcan�ar outros objetivos particulares.

As utopias tamb�m tanto podem ser pessoais quanto grupais. V�rios indiv�duos podem compartilhar uma �nica utopia que os articula em seu agir coletivo, tratando-se, assim de utopias grupais, como as que se manifestam em certos movimentos ou segmentos sociais. Assim, por exemplo, nos movimentos que lutam por moradia, faz parte da utopia pessoal de cada um dos participantes o desejo de possuir um terreno para morar. Mas quando esses indiv�duos se organizam, dando origem a um movimento social, a posse da terra - pela qual lutam - passa a ser parte de uma utopia grupal. Por fim, as utopias tamb�m podem ser gerais, amplamente coletivas de toda uma sociedade ou povo; temos ent�o os projetos pol�ticos como utopias mobilizadoras de grandes segmentos sociais (17).

Em geral as pessoas n�o se d�o conta dos desejos mais �ntimos que alimentam suas utopias pessoais e que est�o latentes em suas a��es, orientando ades�es sociais e pol�ticas, embora tais desejos se manifestem de v�rias formas nas condutas do cotidiano.

Toda utopia se constitui pela media��o de antropossemioses que agenciam devires subjetivos e proje��es temporais de suas realiza��es. Nesse movimento antropossemi�tico, os imagin�rios s�o co-elaborados destacando-se um certo conjunto de signos como elementos recorrentes � compreens�o que a pessoa tem de si mesma e do mundo em que est� inserida, valendo-se dos interpretantes que s�o hegem�nicos no seio das comunidades de comunica��o em que participa. Todas as pessoas, assim, possuem imagin�rios peculiares, cujos signos se articulam das maneiras mais diversas em raz�o da diversidade de semioses que as atravessam constituindo-as como pessoas. Em meio a esse conjunto de cogni��es, sentidos e afetos, pela intera��o com as diversas realidades, as pessoas v�o construindo sua personalidade, sendo determinadas por aspectos econ�micos, pol�ticos e culturais os mais diversos. Cada ser humano articula, desse modo, seus desejos, sonhos, esperan�as e projetos sob uma utopia pessoal. A utopia de cada um � justamente aquilo que cada qual quer realizar em sua vida particular, um norte da exist�ncia pessoal, estando na base de proje��o de seu auto-�cone potencial. A utopia pessoal est� sempre marcada pelo processo de individualiza��o ou subjetiva��o, sendo formulada com elementos peculiares ao imagin�rio pessoal e social, sob cujos signos encontram-se disposi��es afetivas modelizadas ou n�o sob os c�digos do capital que, como sistema semi�tico modelizante principal, modeliza as diversas linguagens em uma sociedade capitalista. Toda utopia emerge, pois, como uma certa nega��o da realidade presente, efetiva, e se volta para a sua transforma��o, a fim de realizar os desejos ut�picos - mesmo no caso das utopias alienadas, em que, agenciado pelo capital, o indiv�duo busca ter o que n�o tem e ser o que n�o �.

Ora, sendo a dimens�o ut�pica uma caracter�stica pr�pria a todas as subjetividades humanas, os sistemas hegem�nicos de poder - com a finalidade de preservar a realiza��o de seus pr�prios objetivos - organizam media��es educativas que se especializam em manipul�-la, atuando no �mbito mais �ntimo da vida privada, estabelecendo interpretantes hegem�nicos para os auto-�cones atual e ut�pico. As semioses educativas modelizadas pelo capitalismo em sua atual fase de globaliza��o, por exemplo, s�o provedoras de ilus�es e fantasias, alimentando a constru��o de utopias alienadas e alienantes pelos indiv�duos. Apresentando o neoliberalismo como um projeto de sociedade que permite a todos ascender socialmente segundo seus m�ritos, qualidades e empenhos, prop�e-se um conjunto de reformas e pol�ticas que, de fato, geram uma exclus�o cada vez maior de amplos segmentos sociais. Poder, luxo, fama e riquezas s�o elementos que fazem parte, em alguma medida, das utopias veladas da grande massa social, cujos arqu�tipos se identificam com personagens fict�cios e vitoriosos apresentados pela m�dia como modelos de realiza��o pessoal. Tais utopias comp�em anseios, desejos e aspira��es que mobilizam a pr�xis pessoal a fim de realizar os objetivos �ltimos formulados utopicamente - mesmo que seja ganhando nas loterias. Como n�o se pode impedir que os indiv�duos construam utopias e reprimi-las n�o significa destrui-las, as semi�ticas do capital, em sua fun��o educativa, modelizam as subjetividades de modo que desejos, aspira��es e anseios, sejam orientados a pr�ticas que permane�am dentro dos c�digos e limites estabelecidos hegemonicamente.

Vemos, portanto, que as utopias tanto podem ser singularizantes, elementos de subjetiva��o, como tamb�m podem ser conservadoras, gestadas em processos de individualiza��o, embora sempre emerjam da nega��o da realidade imediata e cotidiana das pessoas que as elaboram e componham elementos que possuem significa��es peculiares a cada um pela vincula��o que mant�m com o conjunto de signos articulados que conforma o seu imagin�rio. Sob a perspectiva de amplia��o dos horizontes dos exerc�cios de liberdade, a educa��o possibilita uma reflex�o sobre a pr�xis individual e coletiva, permitindo compreender tanto o momento pr�tico, efetivador, da pr�xis social, quanto, especialmente, o momento ut�pico a ela articulado e os agenciamentos que atuam em sua mobiliza��o.

Como a subjetividade humana � esta unidade de consci�ncia e inconsci�ncia, de raz�o e afetos, de imagina��es e paix�es, necessidades, desejos e medos, n�o � f�cil compreender o que motiva as a��es particulares e coletivas, bem como o que as agencia. Frente a este desafio, a educa��o como condi��o do exerc�cio da liberdade desenvolve-se como uma semiose dial�tica que gera novos interpretantes sobre realidades e condutas - recuperando os conhecimentos historicamente elaborados e gerando experi�ncias est�ticas - que permitam ampliar o exerc�cio de autonomia pessoal, ao mesmo tempo que reafirma elementos �ticos voltados � expans�o da liberdade do indiv�duo e da coletividade, permitindo assim uma problematiza��o da pr�xis em sentido amplo.

Sob esta perspectiva, amplia-se a compreens�o da pr�xis que al�m de considerar a articula��o dial�tica entre pr�tica e teoria - que se desdobra em momentos cognoscitivo, teleol�gico e efetivador - entende-se que, na conduta de cada pessoa, est�o presentes elementos da sua utopia particular e das semioses sociais, envolvendo aspectos inconscientes e conscientes, desejos, imagin�rios e raz�es, objetivos a serem alcan�ados e estrat�gias de como efetiv�-los. A reflex�o sobre a utopia pessoal torna-se, desse modo, condi��o para compreender-se tanto a pr�xis individual quanto coletiva. Ao considerar-se a dimens�o afetiva - especialmente desejante, temerosa e necessitante - que move as pessoas ao agir, destaca-se que in�meros jogos de poder (sedu��o, persuas�o, priva��o, coa��o, agress�o, etc) mediados pelas mais diversas semioses atuam nos processos de subjetiva��o ou individualiza��o. A educa��o como media��o do exerc�cio da liberdade eticamente orientada promove processo pedag�gicos geradores de interpretantes necess�rios a elabora��o, pelo pr�prio educando, de refer�ncias tanto para a cr�tica de suas utopias, quanto para a singulariza��o de novas disposi��es ut�picas desde as quais seu auto-�cone potencial se constitui como refer�ncia para seu livre devir. Como a subjetiva��o � a contraface dos processos de socializa��o, a pr�xis individual e a pr�xis social possuem interfaces a serem conceituadas tendo em vista melhor situar o exerc�cio sempre limitado da autonomia privada e p�blica com a finalidade �ltima de expandir o exerc�cio das liberdades.

1.2 A Produ��o de Subjetividade do Capitalismo Globalizado

O capitalismo, pela a��o de suas empresas e seus agentes, modeliza as utopias pessoais sob a sua l�gica de domina��o e lucro, gerando signos que operam como interpretantes dos �cones atual e potencial de grande parte dos indiv�duos. Ele atua no inconsciente e move o desejo, a ang�stia e o medo das pessoas; altera a sensibilidade que � modelada sob a l�gica do capital, ficando o desejo de alteridade modelizado em fun��o do consumo de produtos e da posse de objetos, resultando em rela��es coisificadas - o desejo de ter um namorado � desviado para o desodorante, o desejo da fam�lia feliz � desviado para a margarina, o desejo de ter um grupo de amigos � desviado para a posse do t�nis, entre outros exemplos. Ele tamb�m modeliza esteticamente a subjetividade: cria padr�es de belo e feio, o que confere status ou n�o: que roupa se deve vestir, que objetos o indiv�duo deve portar para ser reconhecido como importante pelo grupo em que participa, etc. Ele tamb�m modeliza a dimens�o �tica: mutila a sensibilidade das pessoas frente ao sofrimento alheio, frente � morte, desumanizando-as; altera as no��es de justo e injusto, responsabilizando cada pessoa por sua exclus�o escondendo-lhe as causas estruturais deste processo. Assim, se algu�m fica desempregado � porque n�o estudou o suficiente para trabalhar com as tecnologias mais complexas, sendo responsabilizado pela seu pr�prio insucesso; se estuda e consegue emprego, o conseguiu porque estudou; se estuda e n�o consegue o emprego � porque n�o estudou o bastante. Essa ideologia, contudo, oculta o fato de que mesmo se todos estudassem o bastante, n�o haveria emprego para todos, pois n�o � a qualifica��o do trabalhador o que faz surgir postos de trabalho. O capitalismo tamb�m produz imagin�rios, gerando certas compreens�es ideol�gicas de mundo, esperan�as imposs�veis de cumprir-se, utopias alienadas, compreens�es fragmentadas e virtuais do real, etc. O capitalismo modeliza tamb�m as necessidades humanas, transformando-as em possibilidade de alguns acumularem mais capital, criando novas necessidades sociais.

Portanto, o sistema capitalista, al�m de ser um sistema econ�mico e pol�tico, � o sistema semi�tico modelizante principal. Ele produz e reproduz conjuntos articulados de signos a partir dos quais tudo pode ser transcodificado. Ele transforma qualquer coisa em valor de troca, at� mesmo a afetividade e desgra�as humanas - para vender produtos ou ampliar �ndices de audi�ncia de telejornais -, sendo capaz, inclusive, de modelizar todas as linhas de fuga ou de subvers�o, colocando tudo a servi�o de sua reprodu��o (18) - como a recaptura da imagem de Che Guevara para a venda de detergentes. A efici�ncia ou n�o desse �ltimo procedimento - sobrecodificar os signos de protesto e recuper�-los em sua espira dominante - depende da capacidade dos atores sociais, que geraram os signos que foram modelizados, propagar socialmente um certo conjunto de interpretantes capazes de ressignificar aqueles sinais, mantendo sua operatividade subversiva frente � semiose hegem�nica em que foram transcodificados. Desse modo, por exemplo, se por um lado as m�dias no Brasil s�o capazes de transformar Chico Mendes - ecologista e l�der pol�tico brasileiro, que foi assassinado por latifundi�rios - em defensor de borboletas e passarinhos, esvaziando o signo pol�tico das causas que o levaram a ser dirigente do Partido dos Trabalhadores no Acre e lutar pela alian�a dos povos da floresta e pelo socialismo democr�tico, por outro lado, entre os movimentos sociais, entretanto, a imagem de Chico Mendes continua sendo interpretada desde sua posi��o de classe como elemento agenciador de movimentos moleculares de subvers�o.

As modeliza��es semi�ticas capital�sticas s�o poss�veis porque a intera��o humana com os signos � simultaneamente est�tica e cognitiva, envolvendo afetos, perceptos, representa��es e conceitos, mediados por interpretantes. O capitalismo, pois, gera signos e agencia interpretantes; sabe capturar desejos e revoltas, sabe canalizar intensidades subjetivas. Em muitos casos, essas semioses levam os indiv�duos a tomarem o imagin�rio como real, o virtual como objetivo (19).

O capitalismo como sistema pol�tico pode assumir v�rias configura��es, cada uma das quais ter� um jogo de semioses peculiares. Pode ser liberal, fascista ou social-democrata. Contudo, cada modelo destes engendra seus signos, seus imagin�rios, seus c�digos, sendo que todos eles est�o centrados no ac�mulo de capital em detrimento da realiza��o universal da liberdade e da dignidade humana de cada pessoa, pois o valor de troca passa a ser a media��o geral de equival�ncia entre todos os entes por ele modelizados. O capitalismo neoliberal, de sua parte, possui uma ideologia peculiar que o justifica; ele agencia utopias coletivas alienadas que jamais se realizar�o, como a utopia do livre mercado, por exemplo, ou ainda a satisfa��o de todos os consumidores em raz�o da competi��o entre os produtores e comerciantes (20). O que se nota, entretanto, � que quanto mais se desregulamenta o mercado, pior fica a situa��o dos exclu�dos (21). A semiose neoliberal mobiliza desejos e anseios das pessoas levando-as a terem comportamentos pol�ticos favor�veis aos interesses dos grupos economicamente dominantes - seja ecoando mensagens, atrav�s das m�dias, em favor das reformas estruturais conforme os par�metros do Consenso de Washington, seja apoiando politicamente grupos e partidos com elas comprometidos. Em s�ntese, essa atual configura��o de capitalismo neoliberal engendra regimes globalit�rios. Produzindo subjetividades, essa forma de capitalismo n�o apenas se implanta como modelo econ�mico, mas como semiose hegem�nica, que agencia e hegemoniza amplos segmentos sociais em defesa de projetos que excluem a maioria, embora essa maioria pense que esses projetos v�o atender os seus interesses.

1.3 Produ��o de Subjetividade e A��es de Consumo

A atual disputa por mercados, que est� na base da liberaliza��o do com�rcio e da organiza��o dos blocos econ�micos, visa permitir a amplia��o do consumo dos produtos elaborados pelas mega-empresas capitalistas. O consumo, como tal, � uma exig�ncia para a reprodu��o de cada ser vivo em particular. Sem consumo a vida do ser se esgota e o ser vivo morre. No caso da vida humana, entretanto, o consumo n�o apenas visa satisfazer necessidades naturais, biol�gicas, como tamb�m necessidade culturais que s�o produzidas pelo pr�prio modo de viver das sociedades. Mais que isso, o consumo tamb�m se realiza para satisfazer desejos, aplacar medos, preencher ansiedades, sentir-se especial, etc, podendo ser modelizado pelos movimentos de produ��o de subjetividade capitalistas que constr�i utopias em torno do consumo.

Poder�amos destacar rapidamente tr�s pr�ticas distintas de consumo: o consumo alienante, o consumo compuls�rio e o consumo como media��o do bem viver. Nas Considera��es Finais deste estudo, faremos refer�ncia ao consumo solid�rio, como uma pr�tica de consumo que visa propagar o bem viver para todos, promovendo as liberdades p�blicas e privadas eticamente orientadas.

O consumo alienante, que j� consideramos anteriormente, � praticado massivamente na atual sociedade capitalista por uma significativa parcela da popula��o. Muitas pessoas buscam nas mercadorias mais do que simples qualidades objetivas. Agenciados pelas pe�as publicit�rias, merchandisings e modismos, muitas pessoas passam a conferir aos produtos certas qualidades virtuais que acabam determinando sua aquisi��o e consumo. Desejos, anseios, ang�stias. medos e necessidades ser�o modelizados de tal modo que o consumo de certos produtos de certas marcas passa a ser considerado como a melhor op��o para alcan�ar a felicidade, a realiza��o humana, a concretiza��o dos desejos mais �ntimos, superar obst�culos, vencer na vida, ser bem sucedido, ter uma bela namorada ou namorado, garantir o conforto e a paz da fam�lia, conquistar o sucesso profissional, ser reconhecido pelos amigos, conquistar prest�gio, etc. Embora conscientemente todos digam, em geral, que tais produtos n�o t�m tanto poder assim, por outra parte, gra�as �s semioses desenvolvidas com o recurso das m�dias, estes aspectos todos ficam vinculados como interpretantes semi�ticos desses objetos s�gnicos, sendo em grande medida determinantes da aquisi��o desses produtos, uma vez que produtos similares - tanto nas qualidades objetivas de uso e, �s vezes, at� mais baratos - s�o preteridos em raz�o de n�o serem os signos da moda ou n�o agenciarem certos interpretantes no imagin�rio social. Carentes de uma forma��o educativa que lhes permita a aprecia��o cr�tica das publicidades e semioses que os atingem e estando desprovidos de um conjunto de outras informa��es relevantes para a sua tomada de decis�o, estes consumidores s�o facilmente enredados no consumismo alienante que permite o giro do capital e a concentra��o cada vez maior de riqueza sob o poder de grupos cada vez menores. Afinal, quanto mais poderoso o grupo econ�mico que tem propriedade sobre aquelas marcas, tanto mais poder� investir em publicidade e tanto mais hegemonizar� o mercado.

Outra significativa parcela da sociedade, entretanto, pratica o consumo compuls�rio. Trata-se dos pobres e exclu�dos, subempregados, desempregados e popula��es de rua que n�o disp�em de recursos para consumir os produtos de grife ou as marcas famosas e caras. Premidos pela necessidade, buscam maximizar o poder de consumo dos poucos recursos que t�m. Nos casos mais dram�ticos, reviram as latas de lixo nos centros urbanos em busca de restos de comida ou pedem algum lanche �s pessoas que entram em bares e restaurantes, at� que sejam dali expulsos. Nesta situa��o limite pouco se pode escolher. J� os trabalhadores pobres "esticam o sal�rio" buscando comprar o que � essencial e mais barato, primando mais pela quantidade de produtos adquiridos pela mesma quantia de dinheiro do que pela sua qualidade propriamente dita. Mesmo estes, contudo, sempre compram um ou outro produto que em seu imagin�rio - produzido pelas semioses publicit�rias - satisfa�a algum desejo, isto �, que se consuma realmente por prazer e n�o apenas para satisfazer a fome. No estrato um pouco mais elevado os consumidores passam sempre a jogar com os crit�rios de quantidade e qualidade considerando sempre a mesma quantia de recursos que podem dispor para realizar suas compras. Assim, por exemplo, predefinindo at� quanto gastar�o em sua compra mensal de mantimentos passam a escolher os produtos que comprar�o, visando adquirir uma quantidade suficiente para satisfazer as suas necessidades e que seja da melhor qualidade dentro de suas possibilidades. Aqui tamb�m ocorre que alguns itens de qualidade inferior podem ser selecionados justamente para sobrar mais recursos para comprar outros itens de qualidade mais superior. Todos, entretanto, tem como ideal de consumo praticar o consumismo proposto pelas m�dias. Se tivessem recursos para tanto comprariam os produtos identificados com o consumo de elite e fariam quest�o de exibir roupas de grife e de costureiros famosos, j�ias, rel�gios, cart�es, autom�veis, etc, para destacarem-se socialmente como importantes e especiais.

O consumo como media��o do bem viver � uma outra modalidade de consumo. Menos importa aqui as apar�ncias e imagin�rios produzidos pelas m�dias do que a satisfa��o das necessidades pessoais, a preserva��o da sa�de e do bem estar e o refinamento dos prazeres possibilitados pelo consumo. As necessidades pessoais variam conforme a singularidade de cada um. O que pode ser necessidade para um, n�o o ser� para outro. Dispor de tintas e telas para pinturas ou de um t�nis especial para praticar corridas em trilhas nos bosques podem ser necessidades para duas pessoas que encontram prazer e satisfa��o pessoal em pintar ou em praticar tais corridas, mas serem praticamente in�teis para outros que n�o t�m interesse nenhum nessas atividades.

As pessoas que consideram o consumo como media��o do bem viver n�o seguem as ondas consumistas, n�o se deixando levar pelas publicidades e seus engodos. Muitos alimentos anunciados sedutoramente nas m�dias possuem tantos corantes, acidulantes e aromatizantes "qu�micos" que melhor seria para a sa�de p�blica que as pessoas consumissem uma fruta qualquer do que ingeri-los. Muitos sab�es em p� que "lavam mais branco" cont�m branqueadores que s�o, de fato, subst�ncias qu�micas que ficam impregnadas nas roupas fazendo-as refletir mais luz, gerando a impress�o que est�o mais brancas. Tais branqueadores, entretanto, s�o um veneno letal aos ecossistemas poluindo rios e mares. As pastas de dentes que "deixam os dentes mais brancos" em geral cont�m abrasivos que prejudicam a camada de esmalte natural dos dentes. Outros produtos semi-prontos "pr�ticos para quem n�o tem tempo a perder" se ingeridos continuadamente podem causar canceres de diversos tipos. Sem falar de desodorantes cujo g�s utilizado como spray contribui para destruir a camada de oz�nio, ou dos chicletes que provocam c�ries e gastrites pois aumentam a produ��o de sucos g�stricos que danificam a mucosa do est�mago, etc. A lista poderia ser bem mais longa, sendo preciso incluir a� produtos de p�ssima qualidade nos g�neros de filmes, novelas, desenhos, videogames e outros que s�o consumidos nos momentos de lazer, que em raz�o de sua p�ssima qualidade embrutecem as sensibilidades, anestesiam as subjetividades frente � viol�ncia e � opress�o e acabam, em graus variados, alterando comportamentos daqueles que ficam expostos a esses bombardeios semiol�gicos de baixo n�vel.

2. Capitalismo Atual

2.1 Globaliza��o, Planetariza��o e Mundializa��o.

A revolu��o cibern�tica das tecnologias de informa��o e comunica��o - associando computadores � fibra �tica, ao laser, etc -, n�o tem contribu�do somente na modifica��o da economia mundial. Elas tamb�m tem provocado modifica��es culturais, alterando h�bitos, comportamentos e valores no mundo todo. Alguns cientistas sociais compreendem esse processo sob tr�s conceitos: globaliza��o, mundializa��o e planetariza��o.

A globaliza��o envolve elementos de produ��o e comercializa��o, relacionando-se � economia e �s finan�as. Sob este aspecto consideram-se as mudan�as do processo produtivo resultantes da aplica��o de m�todos, meios e recursos que ultrapassam os limites nacionais. Na base desse processo est�o grandes corpora��es interagindo nos grandes mercados em movimentos de "fus�o" ou "fiss�o" - conforme figura retomada por Alu�sio Pimenta - , uma vez que ocorrem lances em que v�rias empresas se fundem em uma s� ou uma grande empresa se divide em v�rias unidades. (22) O trip� banc�rio dos fundos de pens�o, fundos m�tuos e seguradoras alavanca esses movimentos empresariais de globaliza��o, como destaca Ren� Dreifuss (23).

A planetariza��o, por sua vez, � caracterizada pela influ�ncia pol�tica de na��es sobre outras na��es. O desenvolvimento tecnol�gico e de processamento de informa��o ampliaram as influ�ncias pol�ticas internacionais, gerando um poder de alcance planet�rio, atingindo Estados e sociedades, nas quais novas formas de controle ultrapassam fronteiras com diversificadas formas de influ�ncia entre pa�ses e comunidades. As press�es internacionais contra os testes nucleares franceses, indianos e paquistaneses, realizados recentemente, s�o um exemplo disso. Conforme Dreifuss,

"...a planetariza��o trata, por um lado, de v�nculos expressos na trama de organiza��es transnacionais e de institui��es (parlamentos e conselhos) supranacionais, que fazem parte do novo tecido ‘pol�tico’ e de gest�o, e d� outro significado � no��o de pertencer, resignificando a multiplicidade de inser��es sociais e nacionais. Al�m disso, ela sublinha a qualidade dos v�nculos pol�ticos, culturais e sociais que atravessam estados-na��es e permeiam sociedades nacionais diversas, enquanto modelam, irradiam e imprimem profundas mudan�as perceptivas e de comportamento transociet�rias. Essas mudan�as afetam a formula��o e os m�todos de a��o dos governos e dos grupos politicamente organizados, al�m de incidir no funcionamento das estruturas sociais e institucionais vigentes. S�o explicitadas como cortes e redesenhos nas rela��es de poder internas... dos pa�ses, e como reformula��o das rela��es internacionais." (24)

Sob o aspecto das produ��es de subjetividade, importa salientar de modo amplo o significado da mundializa��o nesta nova etapa do capitalismo globalizado. Caracterizam a mundializa��o a facilidade para viagens de um pa�s a outro, a comunica��o por r�dio, TV e sat�lite que nos permitem ter acesso direto a in�meros outros pa�ses, culturas e costumes. Curiosamente, na era da mundializa��o � mais f�cil, r�pido e barato entrarmos em contato com algu�m no Jap�o, do outro lado do globo terrestre mas conectado � Internet, do que com um parente que reside a algumas centenas de quil�metros numa cidadezinha no interior do estado em que moramos e que somente disp�e de um posto telef�nico. Na vis�o positiva que Alu�sio Pimenta tem da mundializa��o, "a facilidade de comunica��o quebra barreiras culturais e leva a um comportamento em que sentimos o mundo mais de perto. Hoje, � poss�vel estudarmos, mediante a educa��o a dist�ncia, na universidade de Londres, da Venezuela, de Portugal ou da Espanha e termos contato com milh�es de pessoas que n�o conhecemos e com as quais compartilhamos conhecimentos, ansiedades e esperan�as. Essas novas fronteiras nos possibilitam intercambiar processos culturais, enriquecendo nossa identidade como comunidade ou na��o, dentro do contexto de uma ‘aldeia global’." (25)

Ren� Dreifuss, contudo, apresenta uma an�lise menos positiva do fen�meno da mundializa��o. Destaca o autor que

"a mundializa��o lida com mentalidades, h�bitos e padr�es; com estilos de comportamento, usos e costumes e com modos de vida, criando denominadores comuns nas prefer�ncias de consumo das mais diversas �ndoles. A mundializa��o compreende a generaliza��o e uniformiza��o de produtos, instrumentos, informa��o e meios � disposi��o de importantes parcelas da popula��o mundial...(...) neste sentido, a mundializa��o lida com a massifica��o e homogeiniza��o cultural, evidente no consumo de hamburgers, pizzas, sorvetes, iogurtes, refrigerantes, cigarros, jeans, t�nis, cart�es, etc. Da China � Dinamarca, da Finl�ndia ao Peru, s�o os mesmos produtos, das mesmas marcas e modelos iguais. Mas a mundializa��o tamb�m incorpora as particularidades - locais, regionais, nacionais, �tnicas, religiosas, de grupos sociais e culturais - subsumidas na din�mica mundial do consumo de uma heterog�nea terra. A mundializa��o �, portanto, do �mbito societ�rio, embora no seu desdobramento condicione a economia e a pol�tica. Refere-se a valores e refer�ncias, a produtos e m�todos desejados e pass�veis de utiliza��o, nos mais diversos pa�ses, sem ater-se � sua origem nacional ou cultural (na maioria dos casos, simplesmente desconhecendo-a), e transbordando ou atravessando culturas e estilos existenciais e vivenciais." (26)

Este processo de mundializa��o opera com diferentes intensidades nos diferentes pa�ses, impulsionada por uma a��o empresarial que transborda os limites do Estado em suas pol�ticas de cultura, quebrando padr�es de consumo, vis�es de mundo, refer�ncias explicativas e balizas de conduta nas sociedades locais, substituindo-os por outros, ou modelizando-os sob novas semioses. Assim, estilos de comportamento social s�o transferidos ou transplantados com o recurso n�o apenas das diversas m�dias (tev�s, r�dios, v�deos, computadores, telefones, fax, jornais, revistas, cinemas, etc) mas, tamb�m, com o concurso da ind�stria do turismo e de viagens que responde atualmente por 10,9% do PIB global (27). Os grandes meios de comunica��o planet�rios (tev�s a cabo, revistas de circula��o mundial, websites, etc) suprimem barreiras e disseminam novas tend�ncias de consumo, posi��es pol�ticas e orienta��es de conduta. Macrossistemas comunicativos permitem a difus�o imediata de informa��es por todo o mundo, capazes de promover audi�ncias massivas a assuntos irrelevantes ou de promover crises econ�micas em determinados pa�ses em raz�o de informa��es desfavor�veis divulgadas sobre suas economias por ag�ncias internacionais de not�cias, que ecoam coment�rios de analistas que, direta ou indiretamente, tamb�m atuam como agentes de mercado.

Entre todos esses ve�culos, a internet gerou a possibilidade de surgimento de comunidades de alcance mundial em que os indiv�duos n�o apenas s�o receptores de mensagens, mas emissores de uma quantidade imensa de informa��o, ensejando o surgimento de novas organiza��es coletivas e virtuais que extrapolam os espa�os e os ciclos de tempo f�sicos. As comunidades virtuais se organizam em torno de uma diversa gama de temas e prop�sitos que v�o da defesa de direitos humanos, do debate sobre quest�es pol�ticas, ecol�gicas e cient�ficas, � articula��o de redes internacionais de pedofilia, narcotr�fico, etc.

Nesta m�ltipla teia de influ�ncias, algumas cidades e regi�es, em especial as grandes megal�poles do Norte, mant�m ascend�ncia sobre outras regi�es ou pa�ses em raz�o n�o apenas de sua capacidade de selecionar, organizar e veicular informa��o, difundindo suas percep��es, crit�rios e an�lises, mas porque, concentrando e articulando fun��es financeiras, industriais, cient�ficas, tecnol�gicas, culturais e pol�ticas, que mant�m fortes v�nculos com as institui��es educativas, acabam fornecendo quadros e dirigentes para diversas empresas e na��es, laureando doutores e mestres que atuam nos mais diversos pa�ses. Formados sob certos princ�pios nestes "Centros de Excel�ncia", reproduzem-nos por toda a parte irradiando uma certa compreens�o de mundo e de processos sociais, uma certa compreens�o civilizat�ria, difundindo certos procedimentos espec�ficos e particulares nas mais diversas �reas de atua��o cient�ficas, t�cnicas e profissionais como se fossem necess�rios e universais. Essas cidades configuram-se como p�los-motores que "desenham uma realidade geoecon�mica diferente, gerando uma nova ‘divis�o transnacional da produ��o’ determinada pela gesta��o de uma verdadeira ‘divis�o internacional do conhecimento’ adquirido, acumulado e aplicado" (28).

Assim, se considerarmos o processo de produ��o de subjetividades, descrito anteriormente, percebemos que a globaliza��o captura em sua espira a mundializa��o e a planetariza��o. Mentalidades, h�bitos, estilos de comportamento, usos e costumes s�o semioticamente modelizados com a finalidade de reproduzir os ciclos do capital sob as media��es publicit�rias ou sob atividades produtivas.

Esta captura possibilitada pelos atuais desenvolvimentos tecnol�gicos introduz um vetor totalit�rio n�o mais em escala nacional, mas sim global, podendo ser denominado como globalit�rio - nas palavras de Paul Vir�lio, autor de "Cybermundo - a Pol�tica do Pior". Como a mundializa��o e a planetariza��o s�o capturadas sob a l�gica globalit�ria, a digitaliza��o dos mecanismos culturais em larga escala, modelizados sob as semi�ticas do capital, tende a transformar as infovias em mecanismos de um novo tipo de tirania.

N�o se trata de um imperialismo colonial, nem de um imperialismo pol�tico de estilo nazista ou fascista que levaram � Segunda Guerra Mundial. Como escreve Fernando de Barros e Silva, "ao contr�rio do totalitarismo cujo sucesso se devia � repress�o a toda forma de oposi��o ou liberdade de express�o, os ‘regimes globalit�rios’ incentivam ao m�ximo a parafern�lia democr�tica (elei��es regulares, imprensa livre, institui��es saud�veis, etc.), ao mesmo tempo em que a transformam num ritual vazio, sem qualquer efeito sobre o curso do mundo." (29)

O jornal franc�s Le Monde Diplomatique, afirmou que os regimes globalit�rios s�o um outro tipo de totalitarismo e que eles "repousam sobre o dogma da globaliza��o e do pensamento �nico e n�o admitem nenhuma outra pol�tica econ�mica, subordinam os direitos sociais do cidad�o � raz�o competitiva, e abandonam aos mercados financeiros a dire��o total das atividades da sociedade dominada." (30)

Cumpre salientar que as semioses do mundo global, em particular dos regimes globalit�rios, s�o simulacros que n�o ressaltam duas propriedades peculiares a todo signo, que j� haviam sido destacadas por Charles Sanders Peirce: que o signo sempre representa parcialmente o seu objeto e que o pode representar falsamente (31). A realidade significada � sempre maior que seu representamem e n�o existe semiose capaz de esgotar os interpretantes que um signo pode suscitar.

Por outro lado, as infovias podem se tornar espa�o valioso para movimentos de subjetiva��o, para a articula��o das lutas sociais por exerc�cios de liberdade mais amplos. As redes digitais permitiram, por exemplo, a proje��o de muitos grupos contestadores dos mais variados matizes, entre os quais se encontram: os que propugnam o fim do militarismo e a extin��o progressiva do trabalho; os que combatem certos mecanismos publicit�rios de produ��o de subjetividade; os que combatem o fosso cada vez maior entre ricos e pobres, bem como as pol�ticas de restrutura��o empresarial que geram desemprego; os que defendem as causas das minorias; os hackers que defendem uma outra pol�tica de acesso � informa��o e a socializa��o de conhecimentos que permanecem nas m�os de grandes empresas e �rg�os pol�ticos, o que impede o real exerc�cio da amplia��o da liberdade dos cidad�os que fica, assim, tolhida em benef�cio do ac�mulo de capital das empresas e da reprodu��o de hegemonias pol�ticas, entre muitos outros.

2.2 Capitalismo Globalizado - As Bases da Atual Acumula��o Capitalista.

Ao analisar o capitalismo no s�culo XIX, Karl Marx j� o considerava em sua dimens�o de globalidade. Contemporaneamente, entretanto, assistimos a ocorr�ncia de fen�menos econ�micos, pol�ticos e sociais inusitados que nos levam a considerar que o capitalismo globalizado entrou em uma nova etapa que requer novas categorias para ser compreendido adequadamente. A fim de considerar as altera��es por ele operadas na produ��o de subjetividade em raz�o de novas formas de ac�mulo de valor, explicitaremos a no��o de mais-valia virtual, a ci�ncia como valor econ�mico e a produ��o de subjetividade como condi��o da reprodu��o do capital, destacando a conversibilidade dos signos em capitais.

2.2.1 A Mais-Valia virtual

Na primeira metade de nosso s�culo, assistiu-se a emerg�ncia do capitalismo monopolista. Didaticamente escreve Laurence Harris que "com a passagem do capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista, o m�todo dominante de produ��o tamb�m se modifica: a produ��o da mais-valia absoluta d� lugar � extra��o da mais-valia relativa, que se torna a mola propulsora da acumula��o quando a maquinaria domina o processo de trabalho , caracterizando-se aquilo que Marx chamou de submiss�o ou sujei��o real do trabalho ao capital. E, com a produ��o mecanizada do capital monopolista, a produ��o se torna ainda mais altamente socializada que na etapa anterior: o trabalho produtivo chega a tomar a forma de trabalhador coletivo, uma for�a de trabalho integrada toma o lugar dos trabalhadores artesanais individualizados." (32).

Atualmente, a partir do �ltimo quarto do s�culo, tanto a revolu��o tecnol�gica em curso (que envolve a rob�tica, a inform�tica a biotecnologia, a tecnologia dos materiais e a sofistica��o dos aparelhos orientadores da opini�o p�blica e agenciadores de comportamentos) quanto a organiza��o dos mega-conglomerados e dos mega-mercados, bem como o super-desenvolvimento dos capitais especulativos e dos signos como mercadorias (de softwares a logomarcas ou c�digos gen�ticos sob copyright) imprimiram uma s�rie de novas determina��es ao capitalismo. Nesta passagem do capitalismo monopolista a uma nova fase do capitalismo globalizado tamb�m se verifica uma modifica��o no m�todo dominante de produ��o e surgimento de uma nova forma de extra��o de mais-valia.

A forma de explora��o do trabalho sob o capitalismo recebeu classicamente o nome de extra��o de mais-valia, extra��o do valor a mais que resulta da diferen�a entre o valor do produto final e o valor do capital consumido no processo produtivo (33). Como somente o trabalho produz valor, esse excedente � um valor produzido pelos trabalhadores; contudo, ele � apropriado pelo capitalista, que det�m o controle do capital empregado no processo produtivo. O c�lculo, em geral, da taxa de mais-valia resulta da equa��o que tem por dividendo o montante deste excedente produzido e por divisor o capital dispendido no pagamento do trabalho.

Na atual economia observa-se que as v�rias formas modernas de extra��o de mais-valia (absoluta, relativa) podem coexistir com a extra��o de mais-valia virtual. A acumula��o de mais-valia virtual � poss�vel a) gra�as � reprodu��o virtual de produtos finais intang�veis ou ao pagamento pelo direito de uso signos que se convertem em mercadorias, como softwares, por exemplo, que s�o conhecimentos criativamente digitalizados em linguagens bin�rias de programa��o, ou outras informa��es ordenadas significativamente pelo trabalho intelectual humano, pass�veis de direitos autorais, como patentes sobre c�digos gen�ticos alterados por engenharia gen�tica, por exemplo; b) gra�as � venda de mercadorias com pre�os elevados frente aos produtos similares, em raz�o de que sobre elas estejam aplicados determinados signos que operam socialmente como interpretantes valiosos por certa parte do mercado consumidor, que paga mais para desfrutar de tal propriedade s�gnica vinculada ao objeto, por exemplo -, c) ou pela aplica��o performativa de signos sobre outros signos que possuem car�ter econ�mico de representa��o de valor - sejam aqueles signos provenientes de atos que, juridicamente, tem valor legal (eleva��o de taxas de juros pelo Banco Central ou eleva��o de coeficiente de aproveitamento construtivo em �reas de uma cidade em raz�o de mudan�as s�gnicas em seu Plano Diretor Urbano, por exemplo) ou provenientes da eleva��o do pre�os de a��es, por exemplo, em raz�o da credibilidade dos agentes econ�micos sobre o seu desempenho no mercado.

Em cada um desses casos, a mais-valia virtual se produz por media��es distintas, seja em movimentos de produ��o de bens intang�veis seja em movimentos de produ��o de subjetividade, como analisaremos em detalhe posteriormente. Cabe antecipar contudo - para esclarecer o car�ter virtual desta mais-valia - que, como o processo produtivo se conclui no consumo final do produto, no caso da ind�stria de software, por exemplo, o montante do excedente produzido est� diretamente ligado � quantidade de c�pias reproduzidas e vendidas, o que depende diretamente, por sua vez, do valor de uso do produto comparado a outros. A reprodu��o das c�pias n�o requer o trabalho vivo que foi necess�rio para produzir o software pela primeira vez. Contudo, todo o montante acumulado com sua reprodu��o somente � poss�vel gra�as ao trabalho vivo que o fez surgir como um bem intang�vel que possui valor de uso e de troca, embora a troca n�o implique na aliena��o do bem por parte de quem det�m o direito de c�pia sobre ele. E mesmo que todas as c�pias e a matriz original deste software fossem fisicamente destru�das, o software - enquanto bem intang�vel - ainda seria propriedade legal daquele que tem sobre ele o direito de c�pia. Por fim, qualquer pessoa que reintroduzisse em um computador - atrav�s de digita��o ou de digitaliza��o - todas as linha de c�digo deste software (que fora fisicamente extinto) gerando novamente uma c�pia em linguagem bin�ria que pudesse operar nesta m�quina, deveria pagar direito de c�pia �quele que det�m o copyright. Deste modo, a fonte de toda a mais-valia extra�da com a reprodu��o deste bem depende � o trabalho vivo que o fez surgir como bem intang�vel. N�o se trata pois de uma mais valia absoluta ou relativa, que dependem de trabalho vivo comandado na produ��o de uma nova unidade do produto, mas de uma mais valia virtual que depende deste trabalho vivo uma �nica vez para fazer surgir o produto (34). Assim, ainda de modo embrion�rio percebe-se que a produ��o da mais-valia relativa vai sendo dialeticamente superada em fen�menos de gera��o de mais-valia virtual.

Importa destacar que o volume do capital acumulado pelas diversas media��es desse mecanismo de extra��o de mais-valia virtual cresce a cada ano e que ele resulta, em sua base, da explora��o do trabalho intelectual humano. Apenas como exemplo, analisemos o fato de que o Windows 95 vendeu 45,8 milh�es de c�pias at� dezembro de 1996, cujos usu�rios foram registrados pela Microsoft. O produto comercializado � o programa, que resultou do trabalho intelectual de uma grande equipe que o produziu, uma �nica vez, como um valor de uso. N�o h� necessidade do mesmo volume de tempo e de trabalho intelectual para reproduzir uma segunda c�pia. Qualquer pessoa, clicando um mouse, pode fazer novas c�pias daquele programa. Assim, toda a mais-valia arrecadada com as 45,8 milh�es de reprodu��es do programa se deve ao trabalho origin�rio de sua produ��o. Virtualmente, entretanto, esta mais-valia pode continuar se avolumando enquanto outro produto com similar valor de uso n�o se sobrepuser a este, que continuar�, assim, sendo multiplicado e comercializado. Concretamente, a reprodu��o do programa em um novo disquete tamb�m sup�e algum trabalho que possibilita comercializar, sob esse formato, aquele software. Sobre esse trabalho tamb�m pode ocorrer explora��o. Contudo, com o aprimoramento das infovias, a tend�ncia � que este trabalho de reproduzir o programa se resuma � atividade exercida pelo pr�prio usu�rio ao fazer um download do arquivo que deseja adquirir, ap�s ter realizado um pagamento digital pela c�pia, como j� vem ocorrendo atualmente a partir de muitos websites.

A extra��o de mais valia virtual se torna a mola propulsora da acumula��o quando o trabalho cient�fico se transforma na principal fonte de valor econ�mico, produzindo informa��es que, como bens intang�veis, s�o propriedade privada do capital. Em especial essa extra��o de mais valia virtual ocorre, entre outros casos: a) quando essas informa��es podem se converter em produtos que regulam o funcionamento de m�quinas, como softwares ou produtos que orientam fluxos eletr�nicos, magn�ticos e f�ticos em computadores, v�deos, cd-players, etc., reproduzindo representa��es s�gnicas audiovisuais; ou b) quando essas informa��es, como c�digos gen�ticos alterados, regulam o desenvolvimento de organismos vivos, vegetais ou animais, como bact�rias utilizadas em processos industriais, plantas e animais biotecnologicamente alterados para fins de alimenta��o de outras cadeias, de amplia��o de insumos industriais, etc.

No caso dos bens intang�veis digitais, isto � organizado em bytes - como softwares, registros de sons e imagens - a sua reprodu��o, gra�as � inform�tica e � rob�tica, n�o depende mais de trabalho produtivo imediato, uma vez que ele � replicado pela pr�pria a��o do consumidor, possibilitando que o simples acionamento de um software produza milh�es de c�pias de si mesmo.

Um significativo exemplo dessa reprodu��o operada pelo consumidor ocorreu no final de agosto de 1996, na disputa entre Microsoft e Netscape que produzem browsers necess�rios � navega��o na Internet. A Netscape que contava na �poca com algumas centenas de empregados diretos e US$ 81 milh�es em vendas, � propriet�ria do Netscape Navigator - o programa mais utilizado para navega��o na rede. A Microsoft temendo o crescimento da concorrente - que pretende produzir um sistema que possa substituir o Windows possibilitando a captura de informa��es na Internet, em redes corporativas e at� em computadores pessoais conectados remotamente - iniciou em dezembro de 1995 a produ��o de um potente browser que seduzisse os usu�rios da Internet a abandonarem o Netscape Navigator. Em agosto de 96 a Microsoft lan�ou a terceira vers�o de seu browser o Explorer 3.0, e o distribuiu gratuitamente atrav�s da rede. Somente na primeira semana um milh�o de usu�rios - espalhados por todo planeta, mas conectados � rede - copiaram o programa, isto �, fizeram o seu download. Traduzindo isso em uma linguagem industrial, foram produzidas um milh�o de ferramentas com valor de uso e troca gratuitamente, que foram distribu�das atrav�s do planeta inteiro, com o simples clicar de um mouse. Ao mesmo tempo em que o produto da Microsoft era distribu�do de gra�a - aos milh�es - pela rede, as a��es da Netscape, empresa concorrente, ca�ram � metade do valor que possu�am em dezembro de 1995, ao passo que as a��es da Microsoft batiam recordes. Duas semanas depois do lan�amento do novo produto, Jim Clark - o fundador da Netscape - anunciou o lan�amento pr�ximo de um novo software, que poder� estar em tudo o que tenha um monitor e uma placa modem - possibilitando utilizar a Internet como uma esp�cie de TV e revolucionar a estrutura dos computadores que funcionar�o conectados � rede e sem possuir, n�o necessariamente, um disco r�gido, al�m de possibilitar video-games on line e aparelhos celulares para navegar no Web. A iniciativa simb�lica de mostrar for�a impediu uma queda maior das a��es. Por fim, ap�s uma batalha judicial hist�rica, o Windows 98 integrou o sistema windows com o browser Internet Explorer da Microsoft para navega��o na internet, atingindo antes que os concorrentes o objetivo de fundir o browser e o sistema operacional em um �nico software, cujas r�plicas - que praticamente n�o demandam custos com novo trabalho produtivo - ser�o comercializadas ampliando o lucro virtual da empresa e mantendo o seu padr�o de linguagem como padr�o universal.

Ao distribuir seus produtos de gra�a pela rede, a Microsoft provocou a queda de acumula��o de mais-valia virtual dos concorrentes que n�o tiveram um maior n�mero de r�plicas de seus produtos vendidos, como tamb�m uma queda da mais-valia virtual obtida com venda de seu pr�prio browser, mas ganhou capital virtual pela eleva��o de suas a��es no mercado e, o mais importante, manteve o seu padr�o de linguagem como refer�ncia para a sintaxe universal, introduzindo inclusive altera��es na linguagem Java, criando a situa��o que certos objetos produzidos nesta linguagem pudessem ser visualizados com o Internet Explorer, mas n�o com o Netscape Navigator, produto da principal rival na disputa pela supremacia na Internet. Respondendo ao processo judicial sobre esta altera��o da linguagem Java, a Microsoft afirmou que se o Java � uma linguagem, ent�o � poss�vel criar-se novos termos para novos usos e que se isso n�o fosse permitido ela n�o seria mais uma linguagem, mas um sistema acabado e limitado, o que impediria o desenvolvimento tecnol�gico na �rea de softwares. Assim, ao distribuir gratuitamente o seu software e difundir o seu padr�o, a Microsoft criava a situa��o de que os novos produtos elaborados sob este padr�o n�o pudessem ser satisfatoriamente abertos pelo software dos concorrentes, o que lhe conferia uma alta vantagem comparativa frente aos demais.

Embora a produ��o e comercializa��o de softwares seja um bom exemplo de fen�menos de uma nova economia de bens intang�veis, o conhecimento se converte virtualmente em capital atrav�s de muitas outras media��es. Atualmente, com a produ��o robotizada e informatizada sob os movimentos do capital globalizado, a produ��o se torna virtualmente ainda mais socializada que na fase anterior - no sentido que possui uma cadeia com etapas mais diversificadas e complexas, embora os sujeitos dessas etapas n�o estejam todos juntos em uma linha de montagem em um mesmo local. Os produtos que trafegam nas redes informatizadas, por exemplo, necessitam ser convertidos em informa��o, isto �, em conhecimento organizado digitalmente, sem o que esta cadeia produtiva n�o pode operar. Estas mudan�as implicam em uma nova administra��o empresarial do conhecimento, de modo a preservar a capacidade produtiva e inovadora da pr�pria empresa que depende do conjunto dos conhecimento de seus empregados sendo estrategicamente necess�rio socializ�-los. Em outras palavras, os conhecimentos dos produtores e consumidores s�o tamb�m for�a produtiva da empresa que sendo adequadamente gerenciados possibilitam, mediatamente, ampliar a extra��o de mais-valia. Destaque-se ainda que a polival�ncia do trabalhador em ambientes de tecnologia flex�vel exige uma socializa��o dos conhecimentos indispens�veis ao funcionamento de v�rias etapas do processo produtivo e n�o somente o desenvolvimento de uma especialidade, embora a qualifica��o espec�fica de alguns trabalhadores em algumas �reas estrat�gicas seja o diferencial na vit�ria de algumas empresas sobre as suas concorrentes. Qualquer conhecimento, contudo, produzido por qualquer funcion�rio ou consumidor pode ser relevante desde que contribua no aprimoramento da produ��o de valor da empresa. Em outras palavras, o conhecimento e a criatividade dos trabalhadores - entre outros aspectos - configuram-se tamb�m como capital da empresa a ser gerenciado e socializado. Na abertura de uma nova unidade produtiva em outra localidade a empresa poder� valer-se de todo o conhecimento que ela mesma disp�e quando o gerencia adequadamente.

Enfim, pode-se ainda dizer que na atual etapa de globaliza��o a socializa��o da reprodu��o dos bens intang�veis torna-se cada vez mais ampla. O trabalho f�cil de multiplicar, ilegalmente, informa��es gera movimentos de socializa��o de riqueza. O exemplo mais contundente neste campo s�o as c�pias piratas de softwares, audiocassetes, videocassetes, etc, que circulam em mercados proibidos de uma economia informal que movimenta bilh�es de d�lares no mundo todo. O consumo ilegal bens intang�veis, atrav�s de c�pias piratas, permite movimentos ilegais de acumula��o de capitais e de socializa��o do consumo a custos reduzidos.

Pode-se, concluir, que os fen�menos de capital virtual peculiares ao capitalismo atual, para serem compreendidos adequadamente, necessitam de uma nova economia pol�tica capaz de considerar em que medida n�o apenas a multiplica��o virtual de produtos intang�veis s�o fonte de ac�mulo de capital ou de sua socializa��o, mas como at� mesmo altera��es de linguagens e a difus�o de padr�es capazes de operar com elas - mesmo que sendo atrav�s da distribui��o gratuita dos produtos da empresa - ampliam o capital da companhia, ou ainda, como os conhecimentos do conjunto dos trabalhadores de uma dada empresa pode ser gerenciado de modo a ampliar o ac�mulo de capital da pr�pria companhia.

2.2.2 A Ci�ncia Como Valor Econ�mico

Nesta etapa do capitalismo globalizado, estamos frente a um aparente paradoxo. Se a fant�stica terceira revolu��o tecnol�gica ampliou espetacularmente a produtividade, se � maior a produ��o de riqueza, porque juntamente com os indicadores de crescimento econ�mico tamb�m aumenta o n�mero de pobres enquanto a riqueza se concentra cada vez mais nas m�os de uma parcela cada vez menor? A resposta � elementar: o capital precisa, cada vez menos, de trabalho-vivo para produzir cada vez mais capital. Assim, o tempo livre engendrado por esse avan�o tecnol�gico n�o se converte na emancipa��o do conjunto da humanidade, mas no drama da exclus�o das maiorias do processo produtivo formal e da participa��o da riqueza nele produzido.

O poder do conhecimento em aumentar a produtividade, inovando nas tecnologias, gerou a situa��o atual em que d� mais lucro ao capital explorar menos trabalho-vivo, isto �, manter menos trabalhadores empregados. Este fen�meno que Marx sup�s nos Grundrisse em 1857 que ocorreria na fase superior da Grande Ind�stria, descrevendo-o como Disposable Time, disponibler Zeit, Nicht-Arbeitszeit, freie Zeit ou Nicht-Arbeitszeit (35), isto �, como o tempo dispon�vel ou tempo de n�o-trabalho, tempo de trabalho que o capital n�o poderia mais empregar produtivamente de modo competitivo porque a ci�ncia se tornaria a grande fonte produtora da riqueza abaixando o tempo m�dio de trabalho necess�rio � produ��o das mercadorias, sendo a incorpora��o da tecnologia o diferencial entre a vida e a morte da empresa capitalista na competi��o do livre-mercado, � o que assistimos hoje. Se uma empresa n�o investe em pesquisa e desenvolvimento, n�o inova nas tecnologias - que indiretamente provocam uma redu��o dos trabalhadores por ela empregados para produzir o mesmo volume de mercadoria ou servi�o - ela perde a concorr�ncia, sendo derrotada pela empresa maior que a incorpora, dominando um segmento maior do mercado e desativando unidades produtivas, porque a alta produtividade das unidades tecnologicamente mais avan�adas que permanecem � capaz de abastecer todo o mercado consumidor existente que era anteriormente atendido pelas unidades agora desativadas.

Para Marx, na fase superior da grande ind�stria, que seria a �ltima etapa do modo de produ��o capitalista, as m�quinas realizariam o mesmo trabalho que antes era feito pelo trabalhador e o capital colocaria a seu servi�o todas as ci�ncias. Neste momento, as inven��es se transformariam em um ramo de atividade econ�mica, uma vez que a aplica��o da ci�ncia � produ��o � o que possibilitaria aumentar a magnitude do lucro, reduzindo o tempo de trabalho necess�rio e diminuindo o volume de trabalho vivo necess�rio � produ��o de um mesmo volume de mercadoria. Aqui, o volume de trabalho vivo empregado se tornaria cada vez menos importante face � possibilidade de gerar riqueza pelo emprego da ci�ncia no processo produtivo (36). Desse modo, o Disposable Time, se configuraria como um tempo de trabalho n�o-pon�vel no processo produtivo, n�o realiz�vel como trabalho produtivo, sob a l�gica de ac�mulo do capital, uma vez que o scientific power predominaria como fonte criadora de valor.

De fato, gra�as a alta produtividade do capitalismo possibilitada pelo desenvolvimento cient�fico e tecnol�gico, gerando um volume maior de riqueza com menos trabalho, amplia-se o tempo de n�o-trabalho para toda a sociedade. Assim, como na hip�tese de Marx, a riqueza de uma na��o nem se resume aos produtos tang�veis que, como tal, possam ser mensurados economicamente, como queria Adam Smith, nem nas for�as produtivas que possibilitam ampliar o volume de capital, mas ao tempo livre possibilitado pelo desenvolvimento cient�fico e tecnol�gico. Quanto mais rica � uma sociedade, maior � o disposable time de todos. Quanto menos tempo necessitam os homens trabalhar para produzir tudo o que � necess�rio para satisfazer as demandas de uma sociedade, mais rica ela �. Contudo, na mesma medida em que a riqueza da sociedade aumenta, em igual medida ela se concentra sob a l�gica do capital. Alguns det�m a maior parte da riqueza, ao mesmo tempo em que o valor das mercadorias se reduz e uma parcela cada vez maior da sociedade vai empobrecendo, sendo exclu�da do processo produtivo e de consumo.

Neste novo cen�rio a realiza��o do lucro possui novos condicionantes. O necess�rio investimento de capital em pesquisa, desenvolvimento e em capital fixo (como maquinarias, por exemplo) e em produ��o de subjetividade, como analisamos, somente pode ser compensado pela recupera��o futura deste investimento, quando da venda do produto final, que ser� produzido em maior quantidade e melhor qualidade, empregando menos volume de trabalho vivo por unidade produzida. Considerando-se que, na competi��o entre capitais, os que ampliam a produtividade em raz�o de inova��o tecnol�gica abaixam o valor da mercadoria - se comparada ao capital que a produz com tecnologia inferior, uma vez que tal avan�o tecnol�gico possibilita produzir abaixo do tempo m�dio socialmente necess�rio � produ��o daquela mercadoria - e, se considerarmos que essa competi��o tende a se acirrar na medida em que mais se investe em pesquisa e desenvolvimento, t�m-se ent�o uma tend�ncia � queda na taxa de lucro na produ��o de bens tang�veis. Ademais, o volume geral gasto em sal�rio � cada vez menor, sendo tamb�m cada vez menor o potencial de consumo no mercado, ao passo que o volume de mercadorias produzido com menos trabalho vivo � proporcionalmente cada vez maior, o que provoca uma queda do valor da mercadoria - n�o apenas de seu pre�o - e, em conseq��ncia, uma tendencial queda na taxa de lucros sobre bens tang�veis. Paralelamente � queda da taxa de lucro t�m-se um aumento da magnitude do lucro para as empresas que, primeiramente, se beneficiam da inova��o tecnol�gica ou que mais eficientemente atuam na produ��o de subjetividade, dado o volume ou escala de mercadoria por elas vendida.

Ora, como o grande capital tem mais recursos para investir em tecnologia que as pequenas e m�dias empresas e faturam um volume superior em vendas, todos sabem qual � o final do jogo sob uma economia neoliberal desregulamentada: a concentra��o maior da riqueza com uma exclus�o cada vez maior de trabalhadores - t�m-se o horror econ�mico, descrito Viviane Forrester (37). Nesta sociedade que equivocadamente apoia os ajustes neoliberais em nome da liberdade que tal projeto efetivamente aniquila para as maiorias, alguns senhores que dominam a riqueza no mundo podem realizar ex�ticos "gestos de caridade", como o do mega-especulador George Soros que p�de se dar ao luxo de fazer uma doa��o de US$ 500 milh�es de d�lares � R�ssia - sendo que a ex-URSS detinha 4 milh�es de pobres em 1987 e agora possui, al�m de uma economia de livre-mercado, cerca de 120 milh�es de pessoas abaixo da linha da pobreza absoluta, conforme um dos �ltimos relat�rios da ONU.

N�o se trata de uma crise econ�mica tempor�ria para a qual a expans�o da nova onda tecnol�gica, em especial da Tecnologia da Informa��o, trar� alguma solu��o ao disseminar meios de produ��o virtuais - como softwares - a pre�os baixos por todo o mundo (38). A dissemina��o da informatiza��o em todos os setores da economia, mesmo no setor de com�rcio e de servi�os, tem provocado desemprego na grande maioria dos pa�ses. O n�mero de postos de trabalho criados por essa tecnologia tem sido muito inferior ao n�mero de postos que ela vem fazendo desaparecer. Trata-se, isto sim, de uma nova configura��o do capitalismo, que depender� cada vez menos do trabalho vivo para ampliar-se e que, por isso, distribuir� cada vez menos recurso na forma de sal�rio, significando que a concentra��o de capital ser� cada vez maior no mundo enquanto perdurar este modelo capitalista globalit�rio.

2.2.3 A Produ��o de Subjetividade como Media��o de Reprodu��o do Capital

Outro aspecto essencial dessa nova fase do capitalismo � que ele se tornou definitivamente um sistema produtor n�o apenas de mercadorias, mas tamb�m de subjetividades - modelizando semioticamente desejos, afetos, necessidades, padr�es est�ticos, �ticos e pol�ticos, intervindo diretamente no inconsciente das pessoas com a finalidade de reproduzir seus pr�prios ciclos. Como uma das media��es recorridas para tanto, distribui gratuitamente as pe�as publicit�rias que, sendo consumidas, t�m por objetivo tanto orientar o indiv�duo ao consumo ou usufruto pagos de outras pe�as n�o-publicit�rias quanto agenciar outras formas de comportamento.

J� analisamos anteriormente que o capitalismo atual se configura simultaneamente como um modo de produ��o econ�mico e um modo de produ��o de subjetividades em escala planet�ria. Economicamente, ocorrem processos de produ��o de subjetividades tanto dos produtores (39) quanto dos consumidores, com as subjetividades se identificando a partir das semioses do capital operadas atrav�s das m�dias de massa. A subjetividade exposta aos agenciamentos da cultura de massas torna-se, assim, um produto vivo, cujas principais pr�ticas discursivas e n�o discursivas est�o engastadas em uma rede que realimenta a produ��o e reprodu��o capitalistas.

Em Revolu��o Molecular, F�lix Guattari considerou in�meras linhas do processo de globaliza��o contempor�neo sob as semi�ticas do capital. O Capitalismo Mundial Integrado - CMI, como Guattari o representa - que vai tomando conta de todas as �reas do planeta configura-se n�o apenas pela integra��o internacional dos capitais e a constitui��o de mega-mercados, mas especialmente pela modeliza��o da subjetividade dos indiv�duos. Para tanto o capital - na figura de seus agentes - vale-se do saber moderno que, tomando o ser humano como objeto de estudo, o esquadrinhou sob recortes da psicologia, sociologia, antropologia, da pedagogia e das ci�ncias humanas em geral. Este saber, como instrumento de exerc�cio de poder, norteia a utiliza��o de novas tecnologias de comunica��o de massa e informatiza��o, bem como a utiliza��o de novos Equipamentos Coletivos para uma efetiva interven��o sobre o inconsciente das pessoas mobilizando desejos, anseios e outras intensidades, agenciando comportamentos estratificados segundo um conjunto de c�digos previamente estabelecidos a partir dos quais as performances individuais se desenrolam em fun��o dos interesses daqueles que as agenciam. Como afirma Guattari, "os Equipamentos Coletivos, os meios de comunica��o, a publicidade n�o param de interferir nos n�veis mais �ntimos da vida subjetiva" (40). A publicidade, por exemplo, apoiada em pesquisas de mercado e opini�o, em pesquisas e teorias psicol�gicas e sociol�gicas, entre outras, � um fen�meno da intera��o desses conhecimentos com a finalidade de provocar a��es pr�ticas e/ou discursivas, capturando qualquer linha de fuga, recuperando-a para sua espiral de vendas ou agenciamentos de votos - entre outras pr�ticas. A domina��o de massa se realiza pela media��o semi�tica de agenciamentos que instigam o indiv�duo a diferenciar-se da pr�pria massa, assumindo refer�ncias balizadas pela semiose hegem�nica vinculadas � fama, ao poder, ao sucesso, � riqueza, ao status, � seguran�a, etc. Tais balizas e anseios vinculam-se �s suas op��es profissionais ou de consumo, � competi��o, � prioriza��o do privado, ou � sua postura pol�tica, entre outras pr�ticas. Assim, como resultado dos complexos processos de interven��o sobre as subjetividades t�m-se uma modeliza��o de comportamentos na esfera da produ��o e do consumo, das rela��es cotidianas micropol�ticas em todas as esferas, bem como, nas a��es pol�ticas em n�vel global, estrutural com identidades constitu�das a partir de v�rias estratifica��es modelizadas pelas semi�ticas capital�sticas. Sobrecodificam-se as rela��es de poder no cotidiano capitalizando tais conjuntos de for�a difusos em toda a sociedade visando a manuten��o do modelo capitalista global de ac�mulo privado de capital, poder, prest�gio e outros signos diferenciadores e amplificadores do poder.

Analisando a produ��o econ�mica e a produ��o da subjetividade no sistema capitalista, Guattari percebe a ocorr�ncia de uma semiotiza��o das rela��es de poder em ambos os n�veis, que s�o interativos. Os sistemas de signos que regem diversos dom�nios da vida ficam modelizados sob os c�digos do Capitalismo Mundial Integrado. O capital, afirma Guattari,

"...� muito mais que uma simples categoria econ�mica relativa � circula��o de bens e � acumula��o dos meios econ�micos. � antes uma categoria semi�tica que se refere ao conjunto dos n�veis da produ��o e ao conjunto dos n�veis de estratifica��o dos poderes". "O exerc�cio do poder por meio das semi�ticas do capital tem como particularidade proceder concorrentemente, a partir de um controle de c�pula dos segmentos sociais, e pela sujei��o de todos os instantes de cada indiv�duo.(...) A sobrecodifica��o, pelo capital, das atividades, dos pensamentos, dos sentimentos humanos, acarreta a equival�ncia e a resson�ncia de todos os modos particularizados de subjetiva��o.(...) O conjunto de valores de desejo � reorganizado numa economia fundada na depend�ncia sistem�tica dos valores de uso em rela��o aos valores de troca, ao ponto de fazer com que esta categoria de valores de uso perca seu sentido. (...) A ordem capitalista pretende impor aos indiv�duos que vivam unicamente num sistema de troca, uma truduzibilidade geral de todos os valores para al�m dos quais tudo � feito, de modo que o menor de seus desejos seja sentido como associal, perigoso, culpado."(41)

Assim, sob os c�digos do capital territorializa-se a �tica, a pol�tica, a economia e a maioria dos �rg�os do corpo social; modeliza-se a rela��o dos sujeitos entre si e com os objetos, produzindo-se-lhes significa��es, sentidos e c�digos de intera��o. As m�dias de massa desempenham importante papel neste movimento de sobrecodifica��o semi�tica e de produ��o de subjetividades.

Salienta Guattari que contemporaneamente "os antigos territ�rios do Ego, da fam�lia, da profiss�o... etc, desfazem-se, uns ap�s outros - se desterritorializam." E conclui: " � porque o inconsciente moderno � constantemente manipulado pelos meios de comunica��o, pelos Equipamentos Coletivos, pelos especialistas de todo tipo, que n�o podemos mais nos contentar hoje em defini-lo simplesmente em termos de entidade intra-ps�quica, como fazia Freud..." (42)

Assim, a produ��o de subjetividade vai muito al�m da mera divulga��o de uma formula��o ideol�gica, de uma interven��o no plano consciente cognitivo da conceitua��o/representa��o do mundo. A modeliza��o da subjetividade � realizada, fundamentalmente, por uma interven��o sobre o inconsciente, que para Guattari � um territ�rio aberto por todos os flancos a intera��es sociais, econ�micas, pol�ticas e de outras ordens, que agenciam comportamentos atrav�s de diversas semi�ticas . O processo de substancializa��o das mat�rias e formaliza��o das fun��es gera estratos que articulam formas de express�o - usar determinada roupa, por exemplo - com determinadas formas de conte�do - o status social vinculado �quela indument�ria - sobrecodificada pelas semi�ticas significantes modelizadas sob o capital. Tal inconsciente, essencialmente, n�o est� centrado na subjetividade humana, mas participa de diversos fluxos de signos, fluxos sociais e materiais. � um espa�o anterior � oposi��o realidade-representa��o, anterior ao plano das teorias e ideologias - modeliz�veis semioticamente. E, fundamentalmente, � o espa�o onde se entrela�am efetivamente os motores da pr�xis, o lugar onde interagem componentes semi�ticos e diversos sistemas de intensidades, agenciando fluxos de desejo e devires. O inconsciente � maqu�nico, e como m�quina abstrata, � um n� de intera��es "... atrav�s do qual somos articulados a todos os sistemas de pot�ncia e a todas as forma��es de poder que nos cercam" (43).

Com isso, a disputa ideol�gica fica recolocada em novo n�vel. N�o basta apenas tratar da compreens�o te�rica do real, mas especialmente reverter as espiras de agenciamento passional que capturam as linhas de fuga desterritorializantes no movimento de reprodu��o do capital, que para reproduzir-se, necessita produzir subjetividades. As reflex�es de Guattari nos levam a concluir que sem processos de subjetiva��o e de singulariza��o dos investimentos de desejo e que sem o agenciamento de uma sensibilidade �tica e pol�tica - desterritorializada das semi�ticas do CMI - n�o haver� como promover agenciamentos coletivos e romper com a reprodu��o da espiral de ac�mulo de capital e suprimir a modeliza��o dominadora de subjetividades, principal vari�vel da domina��o de massa. � importante destacar que os signos gerados em semi�ticas contra-significante ou p�s-significante pelos movimentos que combatem o capitalismo podem ser tamb�m recapturados em seu movimento espiral.

Tal movimento de sobrecodifica��o opera, politicamente, com grande efici�ncia. A palavra companheiro, no seio da contra-semi�tica da esquerda brasileira no anos recentes, por exemplo, possui um sentido que adv�m da a��o real de exerc�cio de poder entre pessoas que participam de uma mesma luta social, que se solidarizam � causa dos injusti�ados e que se transformam em processos coletivos. H� um sentido da condi��o real do outro como companheiro do mesmo, e do mesmo como companheiro do outro - uma rostidade que se desvia enquanto se deseja. O uso dessa palavra nesse sentido cria uma nova regra e portanto um significado - elemento j� de uma semi�tica significante. Assim os jogos de linguagem subversivos podem criar uma nova regra, alterando portanto a gram�tica da comunica��o em um coletivo, a partir da gera��o de um conjunto de interpretantes agenci�veis pela express�o "companheiro". Contudo, os jogos de linguagem dominantes podem impor novas regras para qualquer express�o pela sua massiva utiliza��o atrav�s das m�dias eletr�nicas, gerando novas express�es ou capturando outras express�es esvaziando-as de seus interpretantes subversivos e buscando estabelecer outras rela��es que aniquilem os sentidos singulares, impedindo as revolu��es moleculares. A modeliza��o da express�o companheiro, em uma das novelas da Rede Globo, sobrecodificando um gari da cidade - gago, que vivia panfleteando todas as pessoas, ing�nuo e desinformado, estereotipadamente apresentado como figura de "esquerda", que chamava a maioria das pessoas de companheiro com a gagueira que o fazia pronunciar algumas vezes "co-co" e que ao final da novela se elege vereador em uma alian�a com as figuras de direita da cidade - exemplifica esta recaptura da linha de fuga na espiral dominante (44). Exemplo maior destas possibilidades de modeliza��o de signos sob a espiral capitalista foi a recupera��o, que j� citamos, da imagem de Che Guevara em uma propaganda do detergente Limpol. Vestido com uniforme de guerrilheiro, com um charuto na boca e chamando a dona-de-casa com o termo companheira, o personagem conclama o detergente Limpol a avan�ar para a luta e um pelot�o de frascos do detergente atravessa a tela como uma coluna de soldados em dire��o ao combate. Ent�o "Che Guevara" profere a frase final: "Hay que endurecerse contra la gordura, pero sin perder la ternura de sus manos jam�s."

2.2.4 Valores de Uso e Troca Virtuais e a Produ��o de Subjetividade (45)

Sob a antropossemiose, os signos necessitam ser interpretados por subjetividades para que realizem o seu fim. Sob a modeliza��o do Capitalismo Globalizado os usos dos signos tem como finalidade fundamental, no �mbito econ�mico, a produ��o de um valor de troca. Para que os signos tenham valor de troca, em muitos casos, torna-se necessariamente, previamente, a produ��o da subjetividade interpretadora, que confere ao signo um determinado valor. Em outros casos, um sistema eletromec�nico ou biol�gico pode ser programado para reagir a determinados signos - como no caso de computadores que reagindo a s�mbolos (bytes) transformados em �ndices (pulsos el�tricos ou intensidades magn�ticas) ou bact�rias reagindo a �ndices materiais e alterando subst�ncias.

Analisaremos aqui quatro possibilidades de gera��o de mais-valia virtual, considerando como na etapa atual do capitalismo ele produz subjetividades com vistas a concentrar ainda mais o capital.

No primeiro caso, temos a produ��o semi�tica de imagin�rios, agenciando interpretantes afetivos, energ�ticos e intelectuais, que alteram o valor de troca de in�meros produtos materiais.

Sendo toda mercadoria um objeto din�mico gerador de signos, elas possuem identidades que podem ser estabelecidas a partir de pesquisas de imagin�rios sociais, sendo articulada �s aspira��es de segmentos de consumidores. Assim, ao imagin�rio do consumidor os produtos poder�o parecer, subliminarmente ou manifestamente, capazes de realizar certas satisfa��es que transcendem ao que o produto efetivamente pode proporcionar. (46)

Quando o consumidor compra margarinas, t�nis, shampoos, desodorantes, autom�veis, etc, movido pelo desejo associado aos objetos pela media��o dos interpretantes estabelecidos pela publicidade, ele busca, primeiramente, n�o um valor de uso objetivo - uma vez que outros produtos similares poderiam cal�ar os p�s, limpar e amaciar os cabelos, desodorizar o corpo, etc. - mas um valor virtualmente estabelecido pela publicidade, agenciadora de in�meros interpretantes afetivos. Assim, quanto mais eficiente for a produ��o de subjetividade operada por uma empresa capitalista sobre o mercado consumidor, tanto maior ser� seu faturamento e consequentemente os seus ganhos.

Nestes movimentos de produ��o de subjetividade, o componente afetivo � cada vez mais determinante na escolha do produto, especialmente quando os similares tem as mesmas qualidades objetivas e pre�os semelhantes. Com a produ��o de subjetividade aqueles signos passam a ter uma fun��o de uso virtual: n�o � qualquer t�nis que pode garantir o reconhecimento social e a satisfa��o psicol�gica de possui-lo. Mesmo que outro produto tenha todas as qualidades objetivas similares, ele � suporte de um outro signo, possui uma outra marca, n�o cumpre a mesma fun��o no imagin�rio coletivo.

Ora, como a produ��o destes signos e a modeliza��o das subjetividades para que sejam consumidos exige trabalho e gastos, o custo deste valor de uso virtual agregado ao produto deve ser recuperado quando da venda do produto final (47); o aumento da demanda agenciada pela m�dia confere ao produto final um novo valor de troca (48) e a amplia��o do montante do lucro. Os consumidores, assim, pagam tanto pelo valor de uso objetivo do produto quanto pela realidade virtual que foi produzida, independentemente se buscam encontrar no produto a satisfa��o de seus desejos ou necessidades culturais pela posse ou frui��o do signo (49), se simplesmente compram o objeto por "simpatia" ao imagin�rio que a marca agencia, por suas qualidades objetivamente funcionais ou por qualquer outro motivo.

Cabe mencionar aqui as empresas de licenciamentos e as que atuam no regime de franquias. Para aplicar sobre qualquer produto as imagens de personagens de desenhos animados - ou qualquer outra imagem sobre a qual haja direitos autorais - as empresas pagam royalties, de 3% a 10% sobre as vendas l�quidas, aos propriet�rios desses direitos. A utiliza��o dessas imagens incrementa a venda dos produtos. As empresas de licenciamento recebem autoriza��o dos det�m os direitos sobre os personagens para negociar o uso dessas imagens por outras empresas sobre os produtos ou em campanhas publicit�rias. No Brasil, o mercado de licenciamento movimenta US$ 750 milh�es por ano e vem crescendo, tamb�m anualmente, cerca de 25% (50). No caso das franquias ocorre praticamente a mesma coisa. Uma empresa concede o direito para que outras apliquem sobre seus produtos o signo daquela. Tal empresa passa a receber parte do faturamento das demais, simplesmente porque estas usam sua logomarca.

No segundo caso, a produ��o de subjetividades leva os indiv�duos a pagarem por signos que n�o dependem de um outro produto como sua base material de suporte. A venda de informa��es privilegiadas, por exemplo, enriquece pessoas que atuam como informantes de empreiteiras em concorr�ncias p�blicas ou em neg�cios milion�rios envolvendo a��es nas bolsas de valores. Podemos, ainda considerar os servi�os de informa��o por telefone, em que as pessoas pagam para ouvir certas mensagens. Anualmente no Brasil, esses servi�os movimentam R$ 120 milh�es, sendo que mais da metade das chamadas envolve sexo, esoterismo e sorteios (51). Nos Estados Unidos, por sua vez, somente as linhas telef�nicas voltadas a conversas er�ticas faturaram em 1996 a quantia de US$ 750 milh�es (52).

No terceiro caso, a produ��o de subjetividade envolve dispositivos jur�dicos que asseguram legalmente uma nova interpreta��o da realidade como sendo a interpreta��o v�lida. Assim, pode ocorrer a transforma��o do valor de uso e troca de uma �rea urbana pela sua sobrecodifica��o s�gnica legal, quando o Plano Diretor da cidade, que normatiza o uso dos espa�os urbanos, � alterado. Assim, no planejamento urbano governamental, a manipula��o de signos - sob os c�digos performativos legais - possibilita ampliar ou diminuir valor de troca a certas �reas da cidade. Por exemplo. Se uma Zona Residencial possu�a um coeficiente 1 de aproveitamento (ZR1) que possibilitava ao propriet�rio construir 100 m� em seu terreno, valendo o metro quadrado US$ 500, valia seu terreno US$ 50.000. Mas se o prefeito muda um signo no Plano Diretor, transformando a ZR1 em ZR5, agora � poss�vel construir 500 m� naquela mesma �rea, valorizando-se o terreno, que se n�o passa mecanicamente a custar US$ 250.000, pelo menos atinge uns US$ 150.000 para as construtoras que desejam fazer ali um pequeno pr�dio (53). Se outra parcela da sociedade que n�o concorda com aqueles dispositivos legais agir contrariamente � lei, ser� usada a for�a para que sua conduta seja disciplinarizada de acordo com a semiose hegem�nica. A mudan�a de um n�mero em um papel n�o altera a realidade objetiva das �reas urbanas, mas altera objetivamente a realidade virtual que determina a organiza��o da cidade, em raz�o da antropossemiose que o envolve em sua interpreta��o.

No �ltimo caso, analisemos a situa��o em que um signo provoca a altera��o de um outro signo, sob alguma propor��o, alterando o valor de troca deste outro signo - como ocorre com as aplica��es financeiras de investidores externos e os processos de especula��o. Um investidor externo, por exemplo, traz uma certa quantia para o Brasil a fim de aplicar no sistema financeiro que mant�m elevadas taxas de juros. Ele converte um signo (moedas em d�lar) por outro signo (moedas em reais) a partir de uma propor��o fixada para o c�mbio. Em seguida investe seu dinheiro adquirindo quotas de uma aplica��o. A valoriza��o dessas quotas � regulada por uma taxa de juros definida pelo Banco Central. Assim, o seu capital se amplia mediante a altera��o de tr�s signos: o da taxa de juros, o valor da quotas e o do c�mbio, sendo suas moedas em d�lar determinadas por esses tr�s signos. Assim, por exemplo se houver uma desvaloriza��o do c�mbio que seja maior do que foi a valoriza��o de sua aplica��o em raz�o da taxa de juros, ocorrer� que ao resgatar sua aplica��o ele receber� um valor maior em reais do que o valor que aplicou, mas ao converter seus reais por d�lares receber� menos d�lares do que havia trazido. Assim, a modeliza��o de alguns signos altera ou diminui o valor capital que, na opera��o analisada, busca se valorizar convertendo-se de um signo a outro. Algo similar ocorre nas bolsas de valores, embora ali a valoriza��o ou desvaloriza��o dos pap�is dependa n�o apenas das condi��es objetivas das empresas negociadas, mas da confian�a do mercado em um conjunto bem mais amplo de fatores.

A sobrevaloriza��o pode ocorrer nestes casos porque sobre os t�tulos e a��es, que s�o signos, aplica-se um outro signo que os modeliza - seja com a vig�ncia de contratos juridicamente estabelecidos (taxas de juros) ou com a for�a de mecanismos de indu��o social (convic��o na eleva��o das a��es) - sob a l�gica da competi��o e do lucro. Como sobre as taxas de juros ainda � poss�vel um controle objetivo pelos bancos centrais - n�o sendo poss�vel, por outro lado, determinar-se do mesmo modo a convic��o dos mercados - os bancos centrais podem desenvolver uma pol�tica de aumentar a taxa de juros para for�ar a queda de especula��o com a��es ou para manter investidores externos no pa�s. As tentativas governamentais em tranq�ilizar os mercados, nada mais s�o do que um esfor�o em gerar interpretantes favor�veis nos agentes econ�micos sobre seus investimentos a fim de que mantenham suas posi��es de investimento no pa�s.

� em raz�o dessas quatro possibilidades de os signos se converterem em capital que o papel da m�dia - instrumento de produ��o de subjetividades e media��o da reprodu��o do capital virtual e objetivo - � cada vez maior na orienta��o dos vetores econ�micos e mesmo na produ��o de certas tend�ncias ou resultantes (54), simplesmente modelizando signos, gerando interpretantes sobre economias, planos econ�micos, produtos, etc.

Assim, a disputa por mercados implica atualmente n�o apenas a efetiva��o do produto, mas o agenciamento, no consumidor, do desejo ou necessidade de fruir ou possuir determinado produto de determinada empresa, identificado com certo signo. Tal momento de modeliza��o do consumo - promovido por semi�ticas publicit�rias - � condi��o do giro do capital. Partindo desta an�lise � preciso reconhecer que enquanto for poss�vel manter a procura de um determinado objeto com propriedades imagin�rias, tal objeto continuar� possuindo o valor que o "mercado" estabelece. Ocorre pois que todo objeto pode possuir n�o apenas um valor-de-uso objetivo, mas tamb�m um valor-de-uso virtual e que havendo a modeliza��o do consumo esse objeto ou servi�o com valor de uso virtual pode ser trocado por dinheiro, completando o giro do capital real e possibilitando o lucro. A media��o da propriedade privada do signo - que se realiza como marca registrada, o copyright (55), a patente do programa de computa��o, ou do design, ou do c�digo gen�tico alterado que origina novas esp�cies tanto vegetais quanto animais - � a pe�a-chave para que esse capital virtual - informa��o com valor de uso n�o objetivado que poder� se objetivar ou n�o a partir de in�meros projetos circunstanciais - possa ser aplicado, apenas pelo grupo que legalmente o det�m, tanto na amplia��o de mais capital objetivo quanto virtual.

Assim para compreender-se corretamente o giro do capital, nesta etapa do capitalismo globalizado, considerando-se os processos de produ��o de subjetividade, h� que se considerar: a) tanto o capital investido no processo produtivo da mercadoria - o que exige, al�m da considera��o cl�ssica dos gastos em capital constante (mat�rias-primas, outros insumos e instrumentos de trabalho) e capital vari�vel (a for�a de trabalho), destacar tamb�m os disp�ndios na gera��o de novas tecnologias, que sup�em necessariamente pesquisas cient�ficas e produ��o de novos saberes; b) como tamb�m o capital investido na produ��o de signos publicit�rios (que s�o determinantes qualitativos das mercadorias ou servi�os) replicados nas diversas m�dias, que modelizem a subjetividade dos consumidores � aquisi��o de certos signos e � n�o-aquisi��o de outros, deste ou daquele produto que os suportem, a valerem-se dos servi�os prestados por esta ou aquela empresa. Isto �, trata-se tamb�m de considerar o capital investido na cria��o de imagin�rios e realidades virtuais em que se mediatizam o movimento de consumo e a disputa por mercados.

Considera��es Finais

Como um her�i de trag�dia grega, o capitalismo vive sua epop�ia. A qualidade que o fez triunfar converte-se na sua pr�pria falha tr�gica. O movimento de ac�mulo e reinvestimento buscando melhores taxas de lucro est� chegando ao �pice de concentra��o, sendo gerenciado por algumas centenas de mega-conglomerados transnacionais que gra�as � automa��o, inform�tica e biotecnologia dependem cada vez menos de trabalho vivo gerando um lucro cada vez maior e barateando cada vez mais as mercadorias. A l�gica da concentra��o, entretanto, faz com que haja cada vez menos mercado consumidor para adquirir tais produtos e que menos recurso seja distribu�do na forma de sal�rio, tendo-se uma multid�o de exclu�dos cujo potencial de trabalho j� n�o mais interessa ao capital.

O relat�rio da ONU sobre desenvolvimento humano, publicado em 1998, intitulado Consumo para o Desenvolvimento Humano, afirma que as desigualdades no consumo s�o imensas: enquanto os 20% mais ricos da popula��o mundial s�o respons�veis por 86% do total de gastos em consumo privado, os 20% mais pobres respondem apenas por 1,3%. "Bem mais de um bilh�o de pessoas est�o privadas de satisfazer suas necessidades b�sicas de consumo. De 4,4 bilh�es de pessoas nos pa�ses em desenvolvimento, aproximadamente tr�s quintos carecem de saneamento b�sico. Quase um ter�o n�o tem acesso a �gua pot�vel [clean water]. Um quarto n�o tem moradia adequada. Um quinto n�o tem acesso a servi�os modernos de sa�de. (...) Mundialmente, 2 bilh�es de pessoas est�o an�micas, incluindo 55 milh�es em pa�ses industrializados." (56)

Os relat�rios do Banco Mundial afirmam que o aumento da pobreza no mundo na d�cada de 90 � alarmante. Ela aumenta inclusive no pr�prio interior dos pa�ses ricos, de capitalismo avan�ado, tornando-se tal quest�o a mais premente a ser enfrentada. A situa��o da concentra��o de renda chegou a tal ponto que, as 358 pessoas mais ricas do mundo em 1993 possu�am ativos que, segundo ONU, superavam a soma da renda anual de pa�ses em que residiam 2,3 bilh�es de pessoas, isto �, 45% de toda a popula��o do mundo. (57) Outro indicador aponta que 447 bilion�rios do planeta det�m uma riqueza combinada maior que a renda de metade de toda a popula��o mundial. Segundo o Institute for Policy Studies sediado em Washington, dois ter�os da popula��o mundial est�o exclu�dos ou marginalizados da globaliza��o (58).

Neste quadro, a disputa capitalista por mercados consumidores � cada vez mais acirrada, tanto barateando o pre�o das mercadorias para atender aos que praticam o consumo compuls�rio quanto investindo em produ��o de subjetividades para agenciar o consumo alienando daqueles que tem recursos para gastar.

Acionando semioses que hegemonizam a interpreta��o pessoal dos auto-�cones atuais e ut�picos, as empresas capitalistas disputam os mercados, ao mesmo tempo em que formulam utopias alienadas e difundem o neoliberalismo por toda a parte como solu��o dos problemas que ele mesmo agrava, tais como a concentra��o de renda, o desemprego e a exclus�o social, por exemplo. O car�ter globalit�rio dos regimes democr�ticos vem implicando na recondu��o ao poder dos mesmos dirigentes que vem arruinando as finan�as p�blicas e submetendo as economias nacionais ao livre jogo dos interesses privados de megaconglomerados transnacionais.

Frente a este quadro, enfrentar a produ��o de subjetividades dos consumidores implica em buscar alternativas capazes de converter o consumo compuls�rio e o consumo alienado em consumo solid�rio com vistas � promo��o do bem viver. Em outras palavras, trata-se de gerar emprego e renda para os exclu�dos, elevar o padr�o de consumo e o tempo livre de todos, bem como, reverter o quadro de degrada��o social e ambiental, simplesmente modificando-se as escolhas de consumo em raz�o do bem viver (59).

Praticar o consumo como media��o do bem viver requer o refinamento das sensibilidades e sentidos humanos, bem como o desenvolvimento de crit�rios avaliativos a partir dos quais selecionam-se os objetos, dentro das possibilidades de consumo que cada um tenha, que venham a contribuir, da melhor maneira, com a singulariza��o de cada pessoa e a preserva��o dos ecossistemas. Para que se possa generalizar socialmente o consumo como media��o do bem viver, superando-se tanto as formas de consumo compuls�rio quanto as formas de consumo alienantes, � necess�rio desenvolver-se a habilidade de apreciar-se os sabores, os odores, os sons, as temperaturas, as imagens, as texturas, as variadas composi��es expressivas de diversas ordens semi�ticas, as combina��es desses diversos elementos, seus fluxos, ritmos, etc. Cabe enfatizar, contudo, que o bem viver � sempre, de algum modo, um compartilhar. Nos momentos em que nos sentimos satisfeitos e felizes de poder viver intensamente, sempre surge em n�s o desejo de compartilhar este instante ou esta situa��o com algu�m - "como seria bom que fulano estivesse aqui!" ou "como � bom estar aqui com voc�!" ou "como seria bom que outras pessoas pudessem viver um momento como esse!". Assim, o consumo em raz�o do bem viver, especialmente quando estamos em meio a uma sociedade de exclu�dos, pode converter-se em um consumo solid�rio, que tem por finalidade contribuir socialmente para a supera��o dos consumos compuls�rio e alienante e com isso gerar emprego, distribui��o de renda e um desenvolvimento ecologicamente sustent�vel.

O consumo solid�rio ocorre quando a sele��o do que consumimos � feita n�o apenas considerando o nosso bem viver pessoal, mas tamb�m o bem viver coletivo. Este tipo de conduta somente se torna poss�vel quando as pessoas compreendem que a produ��o encontra a sua finalidade - ou o seu acabamento - no consumo e de que este tem impacto sobre todo o ecossistema e sobre a sociedade em geral. Em outras palavras, o consumo � a ultima etapa de um processo produtivo e as escolhas de consumo - feitas pelos indiv�duos em particular e pela sociedade como um todo - podem influenciar tanto na gera��o ou manuten��o de postos produtivos em uma dada sociedade, na preserva��o de ecossistemas, na reciclagem de materiais, no combate � polui��o, na promo��o do bem estar coletivo da popula��o de sua comunidade, de seu pa�s e do planeta, quanto podem, tamb�m, gerar desemprego, colaborar na destrui��o de ecossistemas e na extin��o de esp�cies vegetais e animais, na produ��o cada vez maior de lixo n�o biodegrad�vel, no aumento da polui��o e na piora da qualidade de vida da popula��o de sua comunidade, de seu pa�s e do planeta como um todo.

Consideremos, como exemplo, uma cidade em que h� v�rias pequenas confec��es familiares ou cooperativadas que empregam muitas pessoas na produ��o de roupas que s�o comercializadas naquela mesma regi�o. Se ocorrer que alguma pol�tica cambial adotada pelo pa�s fa�a com que roupas importadas possam ser vendidas a pre�os bem mais baixos nesta cidade, o que acontecer� ? Se as pessoas optarem por comprar as roupas importadas, que s�o mais baratas, as confec��es n�o conseguir�o vender a sua pr�pria produ��o, acabar�o falindo e gerando desemprego naquela cidade, o que � ruim para toda a economia local. Por outro lado, se as pessoas decidirem comprar as roupas produzidas na regi�o, mesmo sabendo que elas s�o um pouco mais caras e n�o t�m a grife da moda, as confec��es continuar�o vendendo sua produ��o e os empregos ser�o mantidos. Assim, as escolhas de consumo podem influenciar na manuten��o do emprego ou na gera��o do desemprego. Igualmente, se as pessoas comprarem sempre os produtos mais baratos - que tem esse pre�o porque a produ��o n�o adota procedimentos de prote��o do meio ambiente - a empresa que adota medidas de preserva��o ambiental e que, por isso, vende um produto um pouco mais caro, jamais vencer� a concorr�ncia e falir�. Assim, o consumo solid�rio � praticado considerando-se os benef�cios sociais e ambientais que ele provoca.

Na medida em que o consumo solid�rio se expanda, ele poder� influenciar n�o apenas na preserva��o dos ecossistemas, na manuten��o de empregos ou na eleva��o da renda de trabalhadores, mas poder� ser media��o de uma nova forma de economia em que seja abolida a explora��o dos trabalhadores, bastando que as pessoas d�em prefer�ncia ao consumo de produtos elaborados em uma rede de colabora��o solid�ria. Isso, entretanto, significa enfrentar o capitalismo atual em seu cora��o: na disputa por mercados e na produ��o de subjetividades - generalizando o consumo em raz�o do bem viver e, em consequ�ncia, o consumo solid�rio.

Essas hip�teses, que aqui apresentamos, demandam maior investiga��o para se mostrarem consistentes. Contudo, parecem apontar uma perspectiva valiosa de reflex�o, uma vez que o consumo solid�rio j� � praticado, em certa medida, em muitas partes do mundo, com o apoio de ONGs e outras organiza��es sociais, em in�meros projetos produtivos que buscam enfrentar a exclus�o social.

NOTAS:
  ______________________________________

1.

F�lix GUATTARI e Gilles DELEUZE. Mil Plat�s vol. 2. Rio de Janeiro, Editora 34, 1995 p. 61-107

2.

O choro dos beb�s que ainda n�o falam opera como uma forma de express�o e sinaliza��o que permite acionar a interfer�ncia externa sobre elementos que lhe s�o vitais.

3.

Sobre os diversos n�veis de semiose veja-se John DEELY. Semi�tica B�sica. S�o Paulo, Editora �tica, 1990, em especial o cap�tulo 3, "Semiose: o objeto da investiga��o semi�tica", p. 41-51

4.

Veja-se Lucia Maria de Carvalho ARAG�O. Raz�o Comunicativa e Teoria Social Cr�tica em J�rgen Habermas. Rio de Janeiro, Editora Tempo Brasileiro, 1992. Veja-se tamb�m Paulo FREIRE, para quem "... n�o � poss�vel discutir linguagem sem discutir poder, sem pensar as classes sociais e suas contradi��es." Paulo FREIRE. A Educa��o na Cidade, S�o Paulo, Editora Cortez, 1991, p. 137

5.

Veja-se o item "As l�nguas Naturais e a Cultura" de Edward LOPES, Fundamentos da Ling��stica Contempor�nea. S�o Paulo, Editora Cultrix, 1993, p. 21-24. Sobre a dimens�o est�tica na cultura de massas, veja-se Edgar MORIN, Cultura de Massas no S�culo XX, Rio de Janeiro, Editora Forense, 1967, em especial o cap�tulo 7, "Os Campos Est�ticos", p. 81-89

6.

Paulo FREIRE. Pedagogia da Autonomia. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1996, p.111 Em outro livro escreve Paulo Freire: "As formas de estarmos sendo, a maneira de comer, a possibilidade e o pr�prio gosto de comer, o que comer, a forma de vestirmos, a maneira como agimos no mundo, como nos encontramos com os outros e nos comunicamos; os n�veis de instru��o e de educa��o, a nossa posi��o de classe na sociedade de que fazemos parte, todas essas coisas terminam por formar nossa linguagem, nossa estrutura de pensar que, por sua vez, tamb�m nos condiciona. Por isso mesmo � que rigorosamente n�o se ensina linguagem. N�s experimentamos a linguagem, criamos socialmente a linguagem e nos tornamos afinal ‘ling�isticamente competentes’." Paulo FREIRE. A Educa��o na Cidade, p. 138

7.

Veja-se F�lix GUATTARI e Suely ROLNIK. Micropol�tica - Cartografias do Desejo. Petr�polis, Editora Vozes, 1986, em especial o cap�tulo 2, "Subjetividade e Hist�ria", p. 25-126

8.

Veja-se Jean BAUDRILLARD. Para uma Cr�tica da Economia Pol�tica do Signo. Rio de Janeiro, Editora Elfos, 1995

9.

Sobre a no��o de �cone veja-se Charles Sanders Peirce, "O �cone, o Indicador e o S�mbolo" in Semi�tica e Filosofia, S�o Paulo, Editora Cultrix, 1972, p. 115-134. Veja-se tamb�m GUATTARI e DELEUZE. Op. Cit., p. 100, nota 38

10.

A desterritorializa��o absoluta (que ocorreria em casos de amn�sia por acidentes em que o indiv�duo parece amanhecer como se fora outro ) � impedida pela regularidade de interpretantes que ainda opera frente a outros objetos com os quais reagia o sujeito antes do evento desterritorializante. Haveria que investigar-se se, mesmo perdendo o �cone virtual de si mesmo, mesmo sem saber quem �, o indiv�duo manteria rea��es similares de padr�es de sabor, de beleza, de sentimentos �ticos, etc. Seja como for, o conhecimento de si mesmo tido por cada qual se reafirma pela mesma rea��o frente aos objetos din�micos similares. Os sujeitos em geral se estranham ao reagir diferentemente do que o fazem frente a situa��es em que sua mem�ria registra como sua identidade um certo comportamento.

11.

Como a mem�ria do passado � fragmentada em raz�o do tempo, n�o h� um �nico �cone do que o indiv�duo foi, mas uma infinidade deles, que s�o reinterpretados a cada nova experi�ncia que altera os crit�rios de valora��o de si mesmo. A fixa��o sobre algumas dessas imagens pode ser prejudicial � sa�de ps�quica do indiv�duo.

12.

Veja-se DEELY, Op. Cit., cap�tulo 5 "Zoossemi�tica e Antropossemi�tica" e cap�tulo 6 "Fisiossemiose e Fitossemiose", p. 52-123

13.

Veja-se F�lix GUATTARI e Sueli ROLNIK. Micropol�tica - Cartografias do Desejo. S�o Paulo, Vozes, 1a. Edi��o, 1986. Em especial os itens II-3 "Produ��o de Subjetividade e Individualidade" e II-4 "Singularidade X Individualidade", p. 31-39

14.

Veja-se F�lix GUATTARI. Revolu��o Molecular. S�o Paulo, Editora Brasiliense, 1987, em especial o cap�tulo primeiro, "Revolu��o Molecular por toda parte", p. 11-73

15.

Veja-se Helmut THIELEN. Al�m da Modernidade ? Para a Globaliza��o de uma Esperan�a Conscientizada. Petr�polis, Editora Vozes, 1998, em especial o item "Utopia", p. 60-74, bem como, Roberto FREIRE e Fausto BRITO, Utopia e Paix�o, Rio de Janeiro, Editora Rocco, 1986, em especial o cap�tulo 9, "A Imagina��o no Poder", p.83-91

16.

Enrique DUSSEL. Filosofia da Liberta��o. Edi��es Loyola, S�o Paulo, s.d.

17.

Sobre essa distin��o entre os v�rios tipos de utopias veja-se o item "3.4. Movimentos Populares atuais e pr�xis de liberta��o" de nosso artigo "Pr�xis de Liberta��o e Subjetividade" em Revista de Filosofia, 6(7):81-109 jun 1993. PUCPR - Curitiba, PR, Brasil, 1993

18.

Veja-se F�lix GUATTARI, Revolu��o Molecular, em especial "O Capital como Integral das Forma��es de Poder", p. 191-210

19.

Veja-se nosso artigo "Realidade Virtual - A Conversibilidade dos Signos em Capital e Poder Pol�tico", revista Lumen 2(4):75-135 jun 1996. S�o Paulo, Faculdades Associadas Ipiranga.

20.

Veja-se Franz J. HINKELAMMERT. "�tica do discurso e �tica de responsabilidade: uma tomada de posi��o cr�tica". in Antonio SIDEKUM. �tica do discurso e filosofia da liberta��o - Modelos complementares. S�o Leopoldo, Ed. Unisinos. p. 73 a 116. Especialmente o item 1. A teoria da concorr�ncia perfeita. p. 75 e a cr�tica sobre A aproxima��o assint�tica da realidade � sua situa��o ideal, p. 80s

21.

Veja-se nosso artigo: "Quatro teses sobre o neoliberalismo." Revista Filosofazer, Passo Fundo, IFIBE, ano VI n. 11, p. 83 a 103, 1997.

22.

Cf. Alu�sio PIMENTA, "Globaliza��o, mundializa��o e planetariza��o". Gazeta Mercantil 14/10/96 p. A-3

23.

"A globaliza��o � alavancada num novo trip� financeiro: o sistema banc�rio, que se assenta no fabuloso valor patrimonial de v�rias centenas de bilh�es de d�lares dos vinte maiores bancos do planeta, e das enormes quantias depositadas, com ativos que chegam a mais de 6 trilh�es e meio de d�lares; os fundos de pens�o - cujos ativos totais nos Estados Unidos chegavam, em 1995, a quase 4,8 trilh�es de d�lares, cifra que supera todos os PIBs do mundo, excetuando o norte-americano - e os fundos m�tuos de a��o (que nos Estados Unidos cresceram de apenas 500 bilh�es em 1985 para mais de um trilh�o em 1990, alcan�ando o patamar dos dois trilh�es em outubro de 1993, chegando a mais de 2,6 trilh�es em 1995 e atingindo, no in�cio de 1996, o valor de 3 trilh�es de d�lares); e as seguradoras, que junto com os fundos de pens�o disp�em de mais de 5,7 trilh�es de d�lares na Fran�a, Alemanha, Jap�o e Inglaterra." Ren� Armand DREIFUSS, A �poca das perplexidades - Mundializa��o, Globaliza��o e Planetariza��o: Novos Desafios. 2a. Ed. Petr�polis, Ed. Vozes, 1997, p. 157.

24.

Ren� DREIFUSS, Op. Cit., p.171

25.

Alu�sio PIMENTA, op. cit. p. A-3.

26.

Ren� DREIFUSS, Op. Cit. p. 136; 138-139.

27.

Ibidem, p.139

28.

Ibidem, p.156

29.

Fernando de BARROS E SILVA, "Publicit�rios brincam de democracia na TV". Folha de S�o Paulo, 2-03-97 , Tvfolha, p.2

30.

"Regimes globalit�rios substituem regimes totalit�rios". Cepat Informa 3(26):8 25fev97 Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores, Curitiba. PR.

31.

As m�dias no mundo n�o apenas veiculam os mesmos fragmentos coletados por agencias como UPI, AP, France Press, etc - sendo que nas proximidades onde se recolheram tais fragmentos, outros elementos que poderiam gerar interpretantes contradit�rios talvez permane�am despercebidos ou ocultos - mas chegam mesmo a publicar acontecimentos que nunca ocorreram: como a hist�ria de um mergulhador que fora i�ado do mar em um tanque utilizado por um helic�ptero para combater um inc�ndio florestal e que fora encontrado com equipamento de mergulho, em meio �s cinzas do sinistro, numa cidade da Calif�rnia; ou ainda a coroa��o do Rei dos Tolos no Dia dos Tolos, em 1� de Abril de 1995, na Quinta Avenida em Nova Yorque. As m�dias s�o bombardeadas por informa��es n�o-verdadeiras com as mais diversas origens e tipos de fontes, recebendo releases completos e detalhados com falsas informa��es que circulam como sendo verdadeiras. Exemplo maior dessa veicula��o de fragmentos que geram simulacros foi a imagem de Fernando Collor de Melo como governador honesto, �ntegro e combatente implac�vel da corrup��o. Sobre falsas not�cias divulgadas pelas m�dias como verdadeiras, veja-se "As ilus�es inseridas", Folha de S�o Paulo 09-02-97, p. 5-8

32.

HARRIS, Laurence in Tom BOTTOMORE, Dicion�rio do Pensamento Marxista, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1988, p. 285 Cumpre destacar que os monop�lios relan�am a concorr�ncia capitalista, intr�nseca a este sistema econ�mico, em novas bases.

33.

Mais precisamente, a mais-valia � independente do capital constante, como pode ser formalizado na seguinte equa��o em que (C+L) - (C+V) = m m = L - V, em que os elementos representam: capital constante (C), lucro (L), capital vari�vel (V) e mais-valia (m), sendo o produto final (C+L) e o capital consumido (C+V).

34.

Certos economistas argumentam que toda a elabora��o cient�fica n�o � trabalho economicamente produtivo e que, portanto, a produ��o de um software n�o implica em produ��o de mais-valia. Neste caso, toda a mais-valia acumulada pelas empresas que fabricam software seria produzida em outros segmentos da economia - fundamentalmente na ind�stria. Atrav�s do com�rcio, essa mais-valia seria deslocada para as empresas de software. Em uma figura de linguagem, podemos dizer que estas empresas e todas as demais que trabalham com bens intang�veis seriam como que um buraco negro que engole a mais-valia produzida em outros segmentos da economia em que se realiza o trabalho produtivo. Este modo de compreender o fen�meno, que n�o consideramos adequado, est� preso a duas no��es marxistas modernas que n�o foram suficientemente reelaboradas por estes autores: o valor econ�mico e o trabalho produtivo. Sem a reelabora��o dessas categorias n�o se compreender� adequadamente fen�menos econ�micos que envolvem bens intang�veis.

35.

Veja-se Karl MARX. Elementos Fundamentales para la Cr�tica de la Economia Pol�tica (Grundrisse) 1857~1858. M�xico D.F. Editora Siglo Veintiuno, 1972.Vol. 2 (Caderno VII), p. 231-232

36.

"A apropria��o do trabalho vivo pelo capital adquire na maquinaria, tamb�m neste sentido, uma realidade imediata. Por um lado, o que permite �s m�quinas executar o mesmo trabalho que antes era efetuado pelo trabalhador, � a an�lise e aplica��o - que dimanam diretamente da ci�ncia - de leis mec�nicas e qu�micas. O desenvolvimento da maquinaria por essa via, entretanto, s� se verifica quando a grande ind�stria alcan�ou j� um n�vel superior e o capital capturou e p�s a seu servi�o todas as ci�ncias; por outra parte, a mesma maquinaria existente oferece grandes recursos. As inven��es se convertem, ent�o, em ramo de atividade econ�mica e a aplica��o da ci�ncia � produ��o imediata mesma se torna um crit�rio que determina e incita a esta." Grundrisse. Vol. 2 (Caderno VII), p. 226-227.

37.

Veja-se Viviane FORRESTER. O Horror Econ�mico. S�o Paulo, Editora UNESP, 1997.

38.

Para uma abordagem parcial e capitalisticamente otimista desta transforma��o tecnol�gica veja-se: John EATON e Jeremy SMITHERS. Tecnologia da Informa��o. Rio de Janeiro, Ed. Campus, 1984.

39.

Essa estratifica��o das subjetividades dos trabalhadores para que atuem sob processos produtivos flex�veis e participativos, assumindo a condi��o de colaboradores das empresas, � mediatizado por in�meras pr�ticas. Uma delas � a introdu��o de t�cnicas de teatro para o trabalho de equipe. Essas t�cnicas visam o autoconhecimento, o autocontrole emocional das pessoas e a libera��o corporal expressiva, desenvolvendo o que os especialistas na �rea chamam de "Intelig�ncia Emocional". Segundo Liz Dias, s�cia-diretora do Encena Produ��o Cultural que desenvolve este tipo de trabalho, "a vantagem para as empresas � a melhoria do relacionamento interpessoal. As pessoas v�o produzir mais envolvidas no esp�rito de equipe, onde a satisfa��o de todos � resultado de um sentimento coletivo de reconhecimento, realiza��o e sucesso". apud: F�bio LOPES. "T�cnicas de teatro e trabalho de equipe" in: Gazeta Mercantil, 30/09/96, p. D-1. Curitiba.

40.

Felix GUATTARI. Revolu��o Molecular, ed. Brasiliense, S�o Paulo, 1987, p. 170-171.

41.

Ibidem, p. 213, 201 - 202

42.

Ibidem, p. 167

43.

Ibidem, p. 171

44.

Na prefeitura de Curitiba o mesmo se verifica com o emprego de express�es como "ecologia" na gest�o de Jaime Lerner, "cidadania" na gest�o de Rafael Greca, bem como, "Invers�o de Prioridades" que j� se encontra no discurso de C�ssio Taniguchi.

45.

Nesta se��o retomamos algumas reflex�es e passagens que desenvolvemos em "Realidade Virtual - A Conversibilidade dos Signos em Capital e Poder Pol�tico", revista Lumen 2(4):75-135 jun 1996. S�o Paulo, Faculdades Associadas Ipiranga. Trata-se de uma exposi��o que fizemos naquela faculdade em outubro de 1995. Naquela oportunidade consideramos a significa��o de realidade virtual ao n�vel cibern�tico, art�stico e filos�fico, destacando diferentes empregos dessa express�o. Filosoficamente caracterizamos realidade virtual como um conjunto de signos articulados, coerentemente ou n�o, que se referem a realidades efetivas ou imagin�rias e que sobrecodificam as demais significa��es e sentidos evocados pela presen�a de objetos, circunst�ncias ou processos objetivos ou subjetivos, estabelecendo-se como n�vel prim�rio de sentido, isto �, sendo tomados como se fossem a realidade objetiva. Tal sobrecodifica��o significativa � tamb�m a territorializa��o de uma disposi��o afetiva do sujeito face ao elemento sobrecodificado. A realidade virtual � constru�da pela confer�ncia de sentidos e significa��es que se articulam em um imagin�rio, produzindo a ilus�o de se estar presente em uma realidade que efetivamente n�o existe, comportando-se afetivamente o sujeito perante tais realidades como se elas existissem. O imagin�rio � tomado como concreto.

46.

Em uma an�lise publicada na Folha de S�o Paulo (29 nov 93, p. 2-5) sob o t�tulo " Aos 4, memoriza marca; aos 14, s� consome grifes - Estudo exp�e poder de sedu��o da publicidade sobre crian�as e teens", Nelson Blecher comenta um estudo da ag�ncia Young & Rubicam Comunica��es sobre a publicidade voltado ao mercado infanto-juvenil. Conforme F�tima Belo, diretora de pesquisa da ag�ncia, " submetida � exposi��o freq�ente de logomarcas, a crian�a vale-se de ind�cios, como cores e grafismos, e aprende n�o somente a identificar como tamb�m reproduzir a escrita das marcas bem antes de estar alfabetizada". Sua subjetividade modelizada pelas linguagens publicit�rias � agenciada ao consumo n�o tanto pelas qualidades objetivas do produto, mas pela media��o virtual que cumpre em seu imagin�rio.

47.

Somente a Data Control, por exemplo, que � uma rede de escolas de inform�tica no Brasil, gastou R$ 1,5 milh�es em publicidade em 1996. Quanto n�o se gastar� em publicidade no mundo, se somarmos o custo de produ��o e veicula��o dessas m�dias ? Esse valor � recuperado no giro do capital, possibilitado pelo consumo do produto ou servi�o.

48.

Jean Baudrillard em sua Cr�tica � Economia Pol�tica do Signo afirma que o valor de uso torna-se apenas um alibi do sistema da mercadoria, apontando que seria um equ�voco pretender uma an�lise que dissocie tais elementos e que fa�a o valor de troca depender do valor de uso. Embora concordemos com esta tese parcialmente por outros motivos, divergimos de Baudrillard em raz�o de suas limita��es centradas no trato da refer�ncia real, da ambival�ncia e da contraposi��o entre s�gnico e simb�lico.

49.

Conforme Eur�pedes Alc�ntara, a marca tornou-se muito mais valiosa que o faturamento anual em muitas empresas. Pesquisa realizada pela Financial World, uma revista norte-americana, concluiu que "... as marcas Marlboro e Coca-Cola valem mais que as duas empresas faturam durante o ano passado [ 1992 ] com a venda desses produtos". Em tal avalia��o est� considerada a penetra��o mundial dos logotipos. "O Marlboro lidera. Sua marca valeria cerca de 31 bilh�es de d�lares - duas vezes o faturamento da Philip Morris obtido com seu produto no ano passado. A Coca-Cola vem em segundo lugar. O nome do refrigerante mais conhecido no mundo vale 24,4 bilh�es de d�lares. Em terceiro ficou a cerveja Budweiser (10,2 bilh�es de d�lares)." Eur�pedes ALC�NTARA, "Emo��o pra Valer". Revista Veja, 1� de Setembro de 1993, p. 67

50.

Folha de S�o Paulo, 29-09-96 p. 6-13

51.

As liga��es feitas do pa�s aos servi�os er�ticos internacionais por telefone somavam, em m�dia, US$ 12 milh�es ao ano, segundo um levantamento feito em 1996. Destes, US$ 4 milh�es saiam anualmente do Brasil sob a forma de divisas. Cf. Folha de S�o Paulo, 29-09-96 p. 3-6

52.

Folha de S�o Paulo, 09-02-97 p. 1-12. S�o Paulo.

53.

Didaticamente, consideramos ZR1 significando uma vez o coeficiente de aproveitamento e ZR5 significando cinco vezes o coeficiente de aproveitamento. O valor desses n�meros varia dependendo do Plano Diretor, mas o princ�pio de eleva��o � sempre o mesmo. Quando a �rea aproveit�vel � maior que a �rea ocup�vel do terreno, o propriet�rio verticaliza a edifica��o, construindo v�rios pavimentos.

54.

A difus�o generalizada de not�cias favor�veis a um grupo, virtualmente o fortalece; do mesmo modo que a difus�o de informa��es que abalam a imagem da empresa - seu signo de confian�a - a enfraquece como um todo.

55.

O direito de propriedade das marcas � t�o rigoroso, que possibilita punir o respons�vel por qualquer recaptura semi�tica de alguma marca se ele n�o estiver autorizado a realiz�-la - uma vez que tal recaptura pode alterar o valor de troca da marca. Justamente por isso, a empresa Axcel Books do Brasil Editora fez constar na p�gina III do livro Netscape, Eudora & Agent - QuickRef [ Rio de Janeiro, 1995], por ela publicado, o seguinte alerta: "Marcas Registradas. Todos os termos neste livro que s�o conhecidos como marcas registradas foram adequadamente colocados em mai�sculas. A Axcel Books n�o pode atestar a veracidade das informa��es. A utiliza��o de um termo neste livro n�o deve ser considerada como afetando a validade de nenhuma marca registrada." Como se v�, tem-se a preocupa��o que a utiliza��o do termo n�o afete a validade da marca - o que poderia ser motivo para processar a editora; j� a responsabilidade legal pela veracidade das informa��es fica imputada ao autor do livro, no caso, Marcelo Bernstein. Na p�gina ao lado, por sua vez l�-se "Copyright � 1995 by Axcel Books do Brasil Editora. Nenhuma parte desta publica��o poder� ser reproduzida sem autoriza��o pr�via e escrita de Axcel Books do Brasil Editora". Ora, tendo eu aqui reproduzido tais linhas, portanto, uma parte da publica��o, sem a devida autoriza��o, poderei ser considerado um infrator do copyright?

56.

Fonte: ONU. Human Development  Report 1998 - Changing today’s consumption patterns — for tomorrow’s human development -  "Overview" http://www.undp.org/undp/hdro/e98over.htm

57.

"Os n�meros da ONU". Folha de S�o Paulo, 16 jul 96, p. 1-8, S�o Paulo.

58.

Pepe ESCOBAR, "Os Donos do Mundo". Gazeta Mercantil, 21 a 23-02-97, Leitura de Fim de Semana, p.1

59.

Um estudo nosso, j� em fase avan�ada, sobre este tema ser� divulgado proximamente.

"Os n�meros da ONU". Folha de S�o Paulo, 16 jul 96, p. 1-8, S�o Paulo.

ALC�NTARA, Eur�pedes. "Emo��o pra Valer". Revista Veja, 1� de Setembro de 1993, p. 67

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Qual a importância da subjetividade no trabalho?

A subjetividade dos trabalhadores é reafirmada pela necessidade de seu controle para que aquilo que foi traçado seja rigorosamente cumprido. Dito de outro modo, sua importância é reconhecida pelo avesso, ou seja, para evitar ao máximo a possibilidade dos trabalhadores criarem obstáculos e desvios na produção.

Qual a importância do trabalho para a constituição da subjetividade?

Assim, podemos finalizar nosso estudo afirmando que a construção da subjetividade deriva-se em partes da relação de trabalho, onde fatores como cultura organizacional, hábitos, costumes, modelo de gestão, estilo de liderança, tecnologia, maturidade, podem influenciar na construção da subjetividade nos indivíduos.

Qual a importância da subjetividade para o desenvolvimento social?

Através da nossa subjetividade construímos um espaço relacional, ou seja, nos relacionamos com o "outro". Este relacionamento nos insere dentro de esferas de representação social em que cada sujeito ocupa seu papel de agente dentro da sociedade.

Por que é importante considerar a ideia de subjetividade?

Isso porque as pessoas se agrupam de acordo com as suas semelhanças. Assim, ao mesmo tempo que as nossas particularidades nos façam diferentes um dos outros, elas também nos aproximam em certos aspectos. Além disso, é necessário mencionar que a preocupação com a subjetividade é uma questão moderna.