Quais foram as principais contribuições de Wallon para a educação?

ALGUMAS REFLEX�ES

SOBRE O ENSINO MEDIADO POR COMPUTADORES

C�ntia Maria Basso

1. INTRODU��O

As r�pidas mudan�as ocorridas na sociedade e o grande volume de informa��es est�o refletindo-se no ensino, exigindo, desta forma, que a escola n�o seja uma mera transmissora de conhecimentos, mas que seja um ambiente estimulante, que valorize a inven��o e a descoberta, que possibilite � crian�a percorrer o conhecimento de maneira mais motivada, cr�tica e criativa, que proporcione um movimento de parceria, de trocas de experi�ncias, de afetividade no ato de aprender e desenvolver o pensamento cr�tico reflexivo.

A integra��o dos computadores nas escolas, vista como uma din�mica de intera��o, como um ambiente rico para a media��o entre sujeitos, oferece condi��es para envolver as crian�as e estimular a investiga��o, al�m de possibilitar paradas e retornos para interpreta��o, an�lise, atendendo o ritmo de cada crian�a.

Enfatiza-se, atrav�s da inform�tica educativa, a descoberta e a inven��o, possibilitando a forma��o de alunos capazes de construir seu pr�prio conhecimento, tornando-se pesquisadores aut�nomos � medida que descobrem novas �reas de seu interesse. O professor precisa transformar-se em um guia, capaz de estimular seus alunos a navegarem pelo conhecimento, fazerem suas pr�prias descobertas e desenvolverem sua capacidade de observar, pensar, comunicar e criar.

Neste artigo, sistematizarei alguns pressupostos b�sicos das teorias do desenvolvimento de Piaget, Wallon e Vygotsky. Ap�s, farei algumas reflex�es sobre a integra��o de computadores nas escolas e as contribui��es da teoria do desenvolvimento de Vygotsky, a qual explica a interatividade e a constru��o coletiva do conhecimento em um meio s�cio-hist�rico cultural, propiciada pela media��o aluno/aluno; aluno/professor; aluno/computador; enfim, aluno/conhecimento.

 

2. TEORIA DO DESENVOLVIMENTO DE JEAN PIAGET

Formado em Biologia, Piaget especializou-se nos estudos do conhecimento humano, concluindo que, assim como os organismos vivos podem adaptar-se geneticamente a um novo meio, existetamb�m uma rela��o evolutiva entre o sujeito e o seu meio, ou seja, a crian�a reconstr�i suas a��es e id�ias quando se relaciona com novas experi�ncias ambientais. Para ele, a crian�a constr�i sua realidade como um ser humano singular, situa��o em que o cognitivo est� em supremacia em rela��o ao social e o afetivo.

Na perspectiva construtivista de Piaget, o come�o do conhecimento � a a��o do sujeito sobre o objeto, ou seja, o conhecimento humano se constr�i na intera��o homem-meio, sujeito-objeto. Conhecer consiste em operar sobre o real e transform�-lo a fim de compreend�-lo, � algo que se d� a partir da a��o do sujeito sobre o objeto de conhecimento. As formas de conhecer s�o constru�das nas trocas com os objetos, tendo uma melhor organiza��o em momentos sucessivos de adapta��o ao objeto. A adapta��o ocorre atrav�s da organiza��o, sendo que o organismo discrimina entre est�mulos e sensa��es, selecionando aqueles que ir� organizar em alguma forma de estrutura. A adapta��o possui dois mecanismos opostos, mas complementares, que garantem o processo de desenvolvimento: a assimila��o e a acomoda��o. Segundo Piaget, o conhecimento � a equilibra��o/reequilibra��o entre assimila��o e acomoda��o, ou seja, entre os indiv�duos e os objetos do mundo.

A assimila��o � a incorpora��o dos dados da realidade nos esquemas dispon�veis no sujeito, � o processo pelo qual as id�ias, pessoas, costumes s�o incorporadas � atividade do sujeito. A crian�a aprende a l�ngua e assimila tudo o que ouve, transformandoisso em conhecimento seu. A acomoda��o � a modifica��o dos esquemas para assimilar os elementos novos, ou seja, a crian�a que ouve e come�a a balbuciar em resposta � conversa ao seu redor gradualmente acomoda os sons que emite �queles que ouve, passando a falar de forma compreens�vel.

Segundo FARIA (1998), os esquemas s�o uma necessidade interna do indiv�duo. Os esquemas afetivos levam � constru��o do car�ter, s�o modos de sentir que se adquire juntamente �s a��es exercidas pelo sujeito sobre pessoas ou objetos. Os esquemas cognitivos conduzem � forma��o da intelig�ncia, tendo a necessidade de serem repetidos (a crian�a pega v�rias vezes o mesmo objeto). Outra propriedade do esquema � a amplia��o do campo de aplica��o, tamb�m chamada de assimila��o generalizadora (a crian�a n�o pega apenas um objeto, pega outros que est�o por perto). Atrav�s da discrimina��o progressiva dos objetos, da capacidade chamada de assimila��o recognitiva ou reconhecedora, a crian�a identifica os objetos que pode ou n�o pegar, que podem ou n�o dar algum prazer � ela.

FARIA (op.cit.) salienta que os fatores respons�veis pelo desenvolvimento, segundo Piaget, s�o: matura��o; experi�ncia f�sica e l�gico-matem�tica; transmiss�o ou experi�ncia social; equilibra��o; motiva��o; interesses e valores; valores e sentimentos. A aprendizagem � sempre provocada por situa��es externas ao sujeito, supondo a atua��o do sujeito sobre o meio, mediante experi�ncias. A aprendizagem ser� a aquisi��o que ocorre em fun��o da experi�ncia e que ter� car�ter imediato. Ela poder� ser: experi�ncia f�sica - comporta a��es diferentes em fun��o dos objetos e consiste no desenvolvimento de a��es sobre esses objetos para descobrir as propriedades que s�o abstra�das deles pr�prios, � o produto das a��es do sujeito sobre o objeto; e experi�ncia l�gico-matem�tica � o sujeito age sobre os objetos de modo a descobrir propriedades e rela��es que s�o abstra�das de suas pr�prias a��es, ou seja, resulta da coordena��o das a��es que o sujeito exerce sobre os objetos e da tomada de consci�ncia dessa coordena��o. Essas duas experi�ncias est�o inter-relacionadas, uma � condi��o para o surgimento da outra.

Para que ocorra uma adapta��o ao seu ambiente, o indiv�duo dever� equilibrar uma descoberta, uma a��o com outras a��es. A base do processo de equilibra��o est� na assimila��o e na acomoda��o, isto �, promove a reversibilidade do pensamento, � um processo ativo de auto-regula��o. Piaget afirma que, para a crian�a adquirir pensamento e linguagem, deve passar por v�rias fases de desenvolvimento psicol�gico, partindo do individual para o social. Segundo ele, o falante passa por pensamento aut�stico, fala egoc�ntrica para atingir o pensamento l�gico, sendo o egocentrismo o elo de liga��o das opera��es l�gicas da crian�a. No processo de egocentrismo, a crian�a v� o mundo a partir da perspectiva pessoal, assimilando tudo para si e ao seu pr�prio ponto de vista, estando o pensamento e a linguagem centrados na crian�a.

Para Piaget, o desenvolvimento mental d�-se espontaneamente a partir de suas potencialidades e da sua intera��o com o meio. O processo de desenvolvimento mental � lento, ocorrendo por meio de gradua��es sucessivas atrav�s de est�gios: per�odo da intelig�ncia sens�rio-motora; per�odo da intelig�ncia pr�-operat�ria; per�odo da intelig�ncia operat�ria-concreta; e per�odo da intelig�ncia operat�rio-formal.

 

3. TEORIA DO DESENVOLVIMENTO DE HENRY WALLON

A crian�a, para Wallon, � essencialmente emocional e gradualmente vai constituindo-se em um ser s�cio-cognitivo. O autor estudou a crian�a contextualizada, como uma realidade viva e total no conjunto de seus comportamentos, suas condi��es de exist�ncia.

Segundo GALV�O (2000), Wallon argumenta que as trocas relacionais da crian�a com os outros s�o fundamentais para o desenvolvimento da pessoa. As crian�as nascem imersas em um mundo cultural e simb�lico, no qual ficar�o envolvidas em um "sincretismo subjetivo", por pelo menos tr�s anos. Durante esse per�odo, de completa indiferencia��o entre a crian�a e o ambiente humano, sua compreens�o das coisas depender� dos outros, que dar�o �s suas a��es e movimentos formato e express�o.

Antes do surgimento da linguagem falada, as crian�as comunicam-se e constituem-se como sujeitos com significado, atrav�s da a��o e interpreta��o do meio entre humanos, construindo suas pr�prias emo��es, que� seu primeiro sistema de comunica��o expressiva. Estes processos comunicativos-expressivos acontecem em trocas sociais como a imita��o. Imitando, a crian�a desdobra, lentamente, a nova capacidade que est� a construir (pela participa��o do outro ela se diferenciar� dos outros) formando sua subjetividade. Pela imita��o, a crian�a expressa seus desejos de participar e se diferenciar dos outros constituindo-se em sujeito pr�prio.

Wallon prop�e est�gios de desenvolvimento, assim como Piaget, por�m, ele n�o � adepto da id�ia de que a crian�a cresce de maneira linear. O desenvolvimento humano tem momentos de crise, isto �, uma crian�a ou um adulto n�o s�o capazes de se desenvolver sem conflitos. A crian�a se desenvolve com seus conflitos internos e, para ele, cada est�gio estabelece uma forma espec�fica de intera��o com o outro, � um desenvolvimento conflituoso.

No in�cio do desenvolvimento existe uma preponder�ncia do biol�gico e ap�s o social adquire maior for�a. Assim como Vygotsky, Wallon acredita que o social � imprescind�vel. A cultura e a linguagem fornecem ao pensamento os elementos para evoluir, sofisticar. A parte cognitiva social � muito flex�vel, n�o existindo linearidade no desenvolvimento, sendo este descont�nuo e, por isso, sofre crises, rupturas, conflitos, retrocessos, como um movimento que tende ao crescimento.

De acordo com GALV�O (op.cit.), no primeiro ano de vida, a crian�a interage com o meio regida pela afetividade, isto �, o est�gio impulsivo-emocional, definido pela simbiose afetiva da crian�a em seu meio social. A crian�a come�a a negociar, com seu mundo s�cio-afetivo, os significados pr�prios, via express�es t�nicas. As emo��es intermediam sua rela��o com o mundo.

Do est�gio sens�rio-motor ao projetivo (1 a 3 anos), predominam as atividades de investiga��o, explora��o e conhecimento do mundo social e f�sico. No est�gio sens�rio-motor, permanece a subordina��o a um sincretismo subjetivo (a l�gica da crian�a ainda n�o est� presente). Neste est�gio predominam as rela��es cognitivas da crian�a com o meio. Wallon identifica o sincretismo como sendo a principal caracter�stica do pensamento infantil. Os fen�menos t�picos do pensamento sincr�tico s�o: fabula��o, contradi��o, tautologia e elis�o.

Na g�nese da representa��o, que emerge da imita��o motora-gestual ou motricidade emocional, as a��es da crian�a n�o mais precisar�o ter origem na a��o do outro, ela vai �desprender-se� do outro, podendo voltar-se para a imita��o de cenas e acontecimentos, tornando-se habilitada � representa��o da realidade. Este salto qualitativo da passagem do ato imitativo concreto e a representa��o � chamado de simulacro. No simulacro, que � a imita��o em ato, forma-se uma ponte entre formas concretas de significar e representar e n�veis semi�ticos de representa��o. Essa � a forma pela qual a crian�a se desloca da intelig�ncia pr�ticaou das situa��es para a intelig�ncia verbal ou representativa.

Dos 3 aos 6 anos, no est�gio personal�stico, aparece a imita��o inteligente, a qual constr�i os significados diferenciados que a crian�a d� para a pr�pria a��o. Nessa fase, a crian�a est� voltada novamente para si pr�pria. Para isso, a crian�a coloca-se em oposi��o ao outro num mecanismo de diferenciar-se. A crian�a, mediada pela fala e pelo dom�nio do �meu/minha�, faz com que as id�ias atinjam o sentimento de propriedade das coisas. A tarefa central � o processo de forma��o da personalidade. Aos 6 anos a crian�a passa ao est�gio categorial trazendo avan�os na intelig�ncia. No est�gio da adolesc�ncia, a crian�a volta-se a quest�es pessoais, morais, predominando a afetividade. Ainda conforme GALV�O, � nesse est�gio que se intensifica a realiza��o das diferencia��es necess�rias � redu��o do sincretismo do pensamento. Esta redu��o do sincretismo e o estabelecimento da fun��o categorial dependem do meio cultural no qual est� inserida a crian�a.

4. TEORIA DO DESENVOLVIMENTO DE LEV S. VYGOTSKY

Para Vygotsky, a crian�a nasce inserida num meio social, que � a fam�lia, e � nela que estabelece as primeiras rela��es com a linguagem na intera��o com os outros. Nas intera��es cotidianas, a media��o (necess�ria interven��o de outro entre duas coisas para que uma rela��o se estabele�a) com o adulto acontece espontaneamente no processo de utiliza��o da linguagem, no contexto das situa��es imediatas.

Essa teoria ap�ia-se na concep��o de um sujeito interativo que elabora seus conhecimentos sobre os objetos, em um processo mediado pelo outro. O conhecimento tem g�nese nas rela��es sociais, sendo produzido na intersubjetividade e marcado por condi��es culturais, sociais e hist�ricas.

Segundo Vygotsky, o homemse produz na e pela linguagem, isto �, � na intera��o com outros sujeitos que formas de pensar s�o constru�das por meio da apropria��o do saber da comunidade em que est� inserido o sujeito. A rela��o entre homem e mundo � uma rela��o mediada, na qual, entre o homem e o mundo existem elementos que auxiliam a atividade humana. Estes elementos de media��o s�o os signos e os instrumentos. O trabalho humano, que une a natureza ao homem e cria, ent�o, a cultura e a hist�ria do homem, desenvolve a atividade coletiva, as rela��es sociais e a utiliza��o de instrumentos. Os instrumentos s�o utilizados pelo trabalhador, ampliando as possibilidades de transformar a natureza, sendo assim, um objeto social.

Os signos tamb�m auxiliam nas a��es concretas e nos processos psicol�gicos, assim como os instrumentos. A capacidade humana para a linguagem faz com que as crian�as providenciem instrumentos que auxiliem na solu��o de tarefas dif�ceis, planejem uma solu��o para um problema e controlem seu comportamento. Signos e palavras s�o para as crian�as um meio de contato social com outras pessoas. Para Vygotsky, signos s�o meios que auxiliam/facilitam uma fun��o psicol�gica superior (aten��o volunt�ria, mem�ria l�gica, forma��o de conceitos, etc.), sendo capazes de transformar o funcionamento mental. Desta maneira, as formas de media��o permitem ao sujeito realizar opera��es cada vez mais complexas sobre os objetos.

Segundo Vygotsky, ocorrem duas mudan�as qualitativas no uso dos signos: o processo de internaliza��o e a utiliza��o de sistemas simb�licos. A internaliza��o � relacionada ao recurso da repeti��o onde a crian�a apropria-se da fala do outro, tornando-a sua. Os sistemas simb�licos organizam os signos em estruturas, estas s�o complexas e articuladas. Essas duas mudan�as s�o essenciais e evidenciam o quanto s�o importantes as rela��es sociais entre os sujeitos na constru��o de processos psicol�gicos e no desenvolvimento dos processos mentais superiores. Os signos internalizados s�o compartilhados pelo grupo social, permitindo o aprimoramento da intera��o social e a comunica��o entre os sujeitos. As fun��es psicol�gicas superiores aparecem, no desenvolvimento da crian�a, duas vezes: primeiro, no n�vel social (entre pessoas, no n�vel interpsicol�gico) e, depois, no n�vel individual (no interior da crian�a, no n�vel intrapsicol�gico). Sendo assim, o desenvolvimento caminha do n�vel social para o individual.

Como visto, exige-se a utiliza��o de instrumentos para transformar a natureza e, da mesma forma, exige-se o planejamento, a a��o coletiva, a comunica��o social. Pensamento e linguagem associam-se devido � necessidade de interc�mbio durante a realiza��o do trabalho. Por�m, antes dessa associa��o, a crian�a tem a capacidade de resolver problemas pr�ticos (intelig�ncia pr�tica), de fazer uso de determinados instrumentos para alcan�ar determinados objetivos. Vygotsky chama isto de fase pr�-verbal do desenvolvimento do pensamento e uma fase pr�-intelectual no desenvolvimento da linguagem.

Por volta dos 2 anos de idade, a fala da crian�a torna-se intelectual, generalizante, com fun��o simb�lica, e o pensamento torna-se verbal, sempre mediado por significados fornecidos pela linguagem. Esse impulso � dado pela inser��o da crian�a no meio cultural, ou seja, na intera��o com adultos mais capazes da cultura que j� disp�e da linguagem estruturada. Vygotsky destaca a import�ncia da cultura; para ele, o grupo cultural fornece ao indiv�duo um ambiente estruturado onde os elementos s�o carregados de significado cultural.

Os significados das palavras fornecem a media��o simb�lica entre o indiv�duo e o mundo, ou seja, como diz VYGOTSKY (1987), � no significado da palavra que a fala e o pensamento se unem em pensamento verbal. Para ele, o pensamento e a linguagem iniciam-se pela fala social, passando pela fala egoc�ntrica, atingindo a fala interior que � pensamento reflexivo.

A fala egoc�ntrica emerge quando a crian�a transfere formas sociais e cooperativas de comportamento para a esfera das fun��es ps�quicas interiores e pessoais. No in�cio do desenvolvimento, a fala do outro dirige a a��o e a aten��o da crian�a. Esta vai usando a fala de forma a afetar a a��o do outro. Durante esse processo, ao mesmo tempo que a crian�a passa a entender a fala do outro e a usar essa fala para regula��o do outro, ela come�a a falar para si mesma. A fala para si mesma assume a fun��o auto-reguladora e, assim, a crian�a torna-se capaz de atuar sobre suas pr�prias a��es por meio da fala. Para Vygotsky, o surgimento da fala egoc�ntrica indica a trajet�ria da crian�a: o pensamento vai dos processos socializados para os processos internos.

A fala interior, ou discurso interior, � a forma de linguagem interna, que � dirigida ao sujeito e n�o a um interlocutor externo. Esta fala interior, se desenvolve mediante um lento ac�mulo de mudan�as estruturais, fazendo com que as estruturas de fala que a crian�a j� domina, tornem-se estruturas b�sicas de seu pr�prio pensamento. A fala interior n�o tem a finalidade de comunica��o com outros, portanto, constitui-se como uma esp�cie de �dialeto pessoal�, sendo fragmentada, abreviada.

A rela��o entre pensamento e palavra acontece em forma de processo, constituindo-se em um movimento cont�nuo de vaiv�m do pensamento para a palavra e vice-versa. Esse processo passa por transforma��es que, em si mesmas, podem ser consideradas um desenvolvimento no sentido funcional. VYGOTSKY (op.cit.) diz que o pensamento nasce atrav�s das palavras. � apenas pela rela��o da crian�a com a fala do outro em situa��es de interlocu��o, que a crian�a se apropria das palavras, que, no in�cio, s�o sempre palavras do outro. Por isso, � fundamental que as pr�ticas pedag�gicas trabalhem no sentido de esclarecer a import�ncia da fala no processo de intera��o com o outro.

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Segundo VYGOTSKY (1989), a aprendizagem tem um papel fundamental para o desenvolvimento do saber, do conhecimento. Todo e qualquer processo de aprendizagem � ensino-aprendizagem, incluindo aquele que aprende, aquele que ensina e a rela��o entre eles. Ele explica esta conex�o entre desenvolvimento e aprendizagem atrav�s da zona de desenvolvimento proximal (dist�ncia entre os n�veis de desenvolvimento potencial e n�vel de desenvolvimento real), um �espa�o din�mico� entre os problemas que uma crian�a pode resolver sozinha (n�vel de desenvolvimento real) e os que dever� resolver com a ajuda de outro sujeito mais capaz no momento, para em seguida, chegar a domin�-los por si mesma (n�vel de desenvolvimento potencial).

5. O INTERACIONISMO E A MEDIA��O DAS NOVAS TECNOLOGIAS NA PRODU��O DO CONHECIMENTO ESCOLAR

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A integra��o de novas tecnologias nas escolas precisa dar �nfase na import�ncia do contexto s�cio-hist�rico-cultural em que os alunos vivem e a aspectos afetivos que suas linguagens representam. O uso de computadores como um meio de intera��o social, onde o conflito cognitivo, os riscos e desafios e o apoio rec�proco entre pares est� presente, � um meio de desenvolverculturalmente a linguagem e propiciar que a crian�a construa seu pr�prio conhecimento. Segundo RICHTER (2000), as crian�as precisam correr riscos e desafios para serem bem sucedidas em seu processo de ensino-aprendizagem, produzindo e interpretando a linguagem que est� al�m das certezas que j� tem sobre a l�ngua.

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Vygotsky valoriza o trabalho coletivo, cooperativo, ao contr�rio de Piaget, que considera a crian�a como construtora de seu conhecimento de forma individual. O ambiente computacional proporciona mudan�as qualitativas na zona de desenvolvimento proximal do aluno, os quais n�o acontecem com muita freq��ncia em salas de aula �tradicionais�. A colabora��o entre crian�as pressup�e um trabalho de parceria conjunta para produzir algo que n�o poderiam produzir individualmente.

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A zona de desenvolvimento proximal, comentada anteriormente, possibilita a intera��o entre sujeitos, permeada pela linguagem humana e pela linguagem da m�quina, for�a o desempenho intelectual porque faz os sujeitos reconhecerem e coordenarem os conflitos gerados por uma situa��o problema, construindo um conhecimento novo a partir de seu n�vel de compet�ncia que se desenvolve sob a influ�ncia de um determinado contexto s�cio-hist�rico-cultural. Wallon tamb�m acredita que o processo de constru��o do conhecimento passa por conflitos, momentos de crises e rupturas.

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A colabora��o em um ambiente computacional torna-se vis�vel e constante, vinda do ambiente livre e aberto ao di�logo, da troca de id�ias, onde a fala tem papel fundamental na aplica��o dos conte�dos. A intera��o entre o parceiro sentado ao lado, entre o computador, os conhecimentos, os professores que seguem o percurso da constru��o do conhecimento, e at� mesmo os outros colegas que, apesar de estarem envolvidos com sua procura, pesquisa, navega��o, prestam aten��o ao que acontece em sua volta, gera uma grande equipe que busca a produ��o do conhecimento constantemente. Atrav�s disso tudo a crian�a ganhar� mais confian�a para produzir algo, criar mais livremente, sem medo dos erros que possa cometer, aumentando sua auto-confian�a, sua auto-estima, na aceita��o de cr�ticas, discuss�es de um trabalho feito pelos seus pr�prios pares.

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As novas tecnologias n�o substituem o professor, mas modificam algumas de suas fun��es. O professor transforma-se agora no estimulador da curiosidade do aluno por querer conhecer, por pesquisar, por buscar as informa��es. Ele coordena o processo de apresenta��o dos resultados pelos alunos, questionando os dados apresentados, contextualizando os resultados, adaptando-os para a realidade dos alunos. O professor pode estar mais pr�ximo dos alunos, receber mensagens via e-mail com d�vidas, passar informa��es complementares para os alunos, adaptar a aula para o ritmo de cada um. Assim sendo, o processo de ensino-aprendizagem ganha um dinamismo, inova��o e poder de comunica��o at� agora pouco utilizados.

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As crian�as tamb�m podem utilizar o E-mail para trocar informa��es, d�vidas com seus colegas e professores, tornando o aprendizado mais cooperativo. O uso do correio eletr�nico proporciona uma rica estrat�gia para aumentar as habilidades de comunica��o, fornecendo ao aluno oportunidades de acesso a culturas diversas, aperfei�oando o aprendizado em v�rias �reas do conhecimento.

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O uso da Internet, ou seja, o hiperespa�o, � caracterizado como uma forma de comunica��o que propicia a forma��o de um contexto coletivizado, resultado da intera��o entre participantes. Conectar-se � sin�nimo de interagir e compartilhar no coletivo. A navega��o em sites transforma-se num jogo discursivo em que significados, comportamentos e conhecimentos s�o criticados, negociados e redefinidos. Este jogo comunicativo tende a reverter o �monop�lio� da fala do professor em sala de aula.

6. CONSIDERA��ES FINAIS

Desta forma, a implanta��o de novas tecnologias na escola deve ser mediada por atitudes pedag�gicas que permitam formar o cidad�o que ocupar� seu lugar neste novo espa�o. As tecnologias, dentro de um projeto pedag�gico inovador, facilitam e estimulam o processo de ensino-aprendizagem. Neste sentido, a hiperm�dia introduz a interatividade no aprendizado, propiciando o di�logo ativo com o mundo do conhecimento, apresentando informa��es atrav�s de um cont�nuo canal de escolhas individuais. Ela nos permite navegar e determinar os caminhos a seguir de acordo com nossos interesses e nosso pr�prio ritmo. Enfim, � descoberta, � pesquisa, � conhecimento, � participa��o, sensibilizando assim, para novos assuntos, novas informa��es, diminuindo a rotina e nos ligando com o mundo, trocando experi�ncias entre si, conhecendo-se, comunicando-se, enfim, educando-se.

RICHTER (op.cit.), ao referir-se ao interacionismo, observa a necessidade de se dar �nfase � intera��o conversacional entre as crian�as, para terem, com isso, acesso a input significativo e compreensivo (agir sobre uma mensagem para verificar o que entendeu sobre determinado assunto), com vistas � chegarem � negocia��o de sentidos (expressar e esclarecer inten��es, pensamentos, opini�es). Atrav�s dessa negocia��o de sentidos, a crian�a poder� produzir uma nova mensagem sobre o que realmente entendeu (output).

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Portanto, � no ensino fundamental que deve come�ar o processo de conscientiza��o de professores e alunos no sentido de buscar e usar a informa��o, na dire��o do enriquecimento intelectual, na auto-instru��o. Isso significa que n�o podemos admitir, nos tempos de hoje, um professor que seja um mero repassador de informa��es. O que se exige, � que ele seja um criador de ambientes de aprendizagem, parceiro e colaborador no processo de constru��o do conhecimento, que se atualize continuamente.

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Quais as principais contribuições da teoria de Wallon para a educação?

Wallon trouxe importantes contribuições sobre o desenvolvimento infantil, destacando os comportamentos e pensamentos singulares que o caracterizam. Sua compreensão é da criança como uma “pessoa completo”, constituída partir de três campos funcionais: a dimensão afetiva, a cognitiva e a motora.

O quê Wallon defende na educação?

Para Wallon, professores e alunos são mutuamente afetados no processo de formação, onde desenvolvimento cognitivo é, também, ampliação dos afetos e da capacidade de expressar sentimentos. O desafio do afeto é compartilhado entre todos os sujeitos, no ambiente escolar.

Quais as principais ideias de Henri Wallon sobre aprendizagem e desenvolvimento humanos?

Wallon propõe estágios de desenvolvimento, assim como Piaget, porém, ele não é adepto da idéia de que a criança cresce de maneira linear. O desenvolvimento humano tem momentos de crise, isto é, uma criança ou um adulto não são capazes de se desenvolver sem conflitos.

Quais são as principais ideias de Wallon?

Nela, propõe que o desenvolvimento seja estudado de maneira integrada, englobando a afetividade, a motricidade e a inteligência enquanto campos funcionais nos quais se distribui a atividade infantil, bem como os diferentes momentos de sua evolução psíquica (estágios do desenvolvimento), numa perspectiva abrangente e ...