Quais os principais desafios a implementação de estratégias?

David Kallás, professor do Insper e coordenador do Centro de Estudos em Negócios (CENeg), aborda desafios e caminhos para as empresas neste período de crise

Seguindo os esforços conjuntos de toda a Comunidade Insper para mitigar o impacto do vírus Covid-19, estamos publicando uma série de entrevistas com professores, gestores e diretores para abordar ações realizadas pela nossa escola, além de dicas e orientações nas mais diversas áreas para colaborar com a superação dos desafios deste período.

Na entrevista a seguir, David Kallás, professor do Insper e coordenador do nosso Centro de Estudos em Negócios (CENeg), aborda questões relevantes quando pensamos nos desafios a serem enfrentados pelas empresas no ponto de vista da estratégia:

1) No ponto de vista da estratégia, quais os principais desafios trazidos para as empresas com a crise gerada pelo novo coronavírus?

O principal desafio é o de planejar e executar a estratégia em tempos de incertezas. Ainda não sabemos qual será o impacto da pandemia, e muito menos a sua duração. Para tanto, o executivo deverá exercitar, em seu mais alto nível, a flexibilidade e capacidade de reação.

2) É possível desenvolver um planejamento estratégico neste momento? Caso positivo, como?

Aqui, creio que se deve separar em dois níveis de planos, a saber:

a) curto prazo (até o final da crise – hoje penso que esse prazo não deve acabar antes do final de 2020): nesse momento, todos os esforços devem estar focados na gestão da crise. De forma geral, os planos devem se concentrar em temas como (1) o que fazer para cuidar do capital humano, (2) como gerenciar o caixa e o capital de giro, (3) como cuidar da marca e da reputação e (4) como garantir a cadeia de fornecimento durante a crise

b) médio e longo prazos (após o final da crise, com toda a população imunizada ou vacinada): aqui já é possível, sim, antecipar quais mudanças acontecerão no contexto de negócio. Quais setores serão profundamente impactados? Quais mudanças de comportamento serão irreversíveis? Nesse horizonte de tempo, é possível, sim, planejar eventuais mudanças no modelo de negócios da organização (ou em parte do modelo). Se a sua organização está em um desses setores impactados, aqui cabe uma reflexão de cenários e possíveis movimentos estratégicos de ataque ou defesa a esses cenários. Penso que setores como educação e serviços de saúde são dois exemplos onde a mudança será radical.

3) Em relação à cadeia de fornecedores: é possível antecipar possíveis impactos?

Sim. Talvez não dê mais tempo de “antecipar” os impactos, pois eles já devem estar ocorrendo. Mas é possível traçar estratégias para minimizá-los. Aqui, a duração da pandemia é crucial, pois eventuais paralizações na produção de fornecedores, em seus diversos tiers (fornecedores de primeira, segunda, terceira ordem ou mais) podem gerar quebras na produção. Por outro lado, a queda brusca da demanda em alguns setores pode contrabalancear essa perda de fornecimento. No pior dos casos, o problema se dará somente em um dos lados (só na oferta ou, pior, só na demanda), impactando níveis de estoques. Nesse ponto, os executivos devem desenvolver alternativas de logística, como desenvolvimento de outros modais e fornecedores, além de recalcular os níveis de estoque necessários para suportar a crise.

4) Sobre a relação com funcionários, quais são as melhores estratégias para as empresas neste momento?

O momento é de construir fortes vínculos com os funcionários e trazer a eles segurança nesses momentos de angústia. Em primeiro lugar, vem a proteção da saúde. Recomenda-se obedecer critérios de segurança, orientar as equipes, isolar grupos de risco e buscar alternativas como as de home office para os que puderem trabalhar dessa forma. Comunicação transparente, e de mão dupla, é fundamental. É a hora de aflorar o lado humano e exercer empatia, reconhecendo que não está sendo fácil para ninguém.

5) A crise gerada pelo coronavírus pode trazer oportunidades estratégicas para as empresas? Caso positivo, quais?

Para algumas empresas, sim. Durante a crise, fornecedores de insumos e serviços essenciais terão excesso de demanda. Outras empresas podem desenvolver soluções criativas para problemas que surgem com o isolamento social. E, após o fim da crise, com eventuais mudanças de comportamentos e padrões, surgirão também oportunidades para as empresas que reagirem mais rapidamente.

David Kallás é sócio da KC&D, UPF e JBJ Partners, empresas de consultoria em gestão e estratégia. É professor no Hospital Israelita Albert Einstein e no Insper, onde acumula a coordenação do Centro de Estudos em Negócios. É Vice-Presidente da Anefac – Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. É doutor em estratégia pela pela FGV/EAESP, mestre e graduado em administração pela FEA/USP. Possui artigos publicados em diversos periódicos nacionais e internacionais, e autor em 4 livros sobre gestão e estratégia.

Quais são os desafios para estratégia?

Quais são as principais dificuldades para a implementação da gestão estratégica em uma organização?

Quais são os desafios da gestão estratégica nos dias atuais?

Quais os fatores estão relacionados a implementação das estratégias?