Qual a cidade brasileira que tem mais negros?

Em apenas sete cidades brasileiras a população negra apresenta alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), segundo estudo recém-concluído pelo economista Marcelo Paixão, professor da UFRJ e coordenador do Observatório Afrobrasileiro. O IDH é o indicador que mede as condições de vida com base na esperança de vida, na escolaridade e na renda média dos habitantes. Com informações do Censo 2000, do IBGE, o pesquisador conseguiu calcular o IDH dos negros em 4.605 dos 5.507 municípios existentes no país até então. Para os brancos, há cálculos para 5.202 cidades, em 1.591 o IDH supera 0,8, o que revela alto desenvolvimento.

O resultado do IDH varia de zero a um. Quanto mais próximo de um, maior a qualidade de vida. Nas cidades onde foi possível calcular o IDH dos que se declaram pretos e pardos, somente 7,6% têm alto ou médio-alto desenvolvimento humano, ou seja, IDH superior a 0,7. Quando se considera o IDH dos autodeclarados brancos, a proporção chega a 62,68%.

Para Marcelo Paixão, os indicadores municipais atestam que a desigualdade racial no Brasil se dá não apenas no plano nacional, mas também dentro das regiões, dos estados e das cidades.

"Ter tão poucos municípios com IDH alto para a população negra é outra prova do tamanho da desigualdade brasileira e um incentivo para que a questão racial passe a integrar a agenda dos prefeitos," diz o pesquisador.

Os dados de Paixão revelam ainda que só em 13 cidades brasileiras o IDH dos negros supera o dos brancos, conforme informou Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO. Todos os municípios são de médio ou médio-baixo desenvolvimento humano (IDH de 0,5 a 0,7) e ficam nas regiões Norte e Nordeste. A maior distância entre o IDH dos dois grupos é de 0,073.

A ministra Matilde Ribeiro, titular da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), ligada à Presidência da República, não se surpreendeu com os resultados da pesquisa:

"Esses dados confirmam o quadro de pobreza e miserabilidade da população negra do país. Por mais que haja uma parcela dos negros brasileiros incluídos nas camadas mais altas da sociedade, esse quadro não condiz com a situação da maioria dessa população, que historicamente está à deriva no acesso à cidadania."

Das sete cidades onde os negros têm alto IDH, três ficam em Goiás. Das capitais brasileiras, somente Brasília, Goiânia e Vitória estão na lista. A capital paulista sequer aparece na lista dos 30 maiores IDHs entre os negros, embora São Caetano do Sul tenha o mais alto IDH para o grupo (0,833). O indicador médio para o Brasil é de 0,792, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).

A cidade do Rio de Janeiro aparece em 29 na lista dos 30 maiores IDHs da população negra. No estado, o município mais bem colocado é Niterói, 11 do ranking. Não por acaso, a antiga capital fluminense tem o terceiro mais alto IDH médio do país, segundo o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil da ONU. A cidade, explica o historiador Cesar Onorato, professor da UFF e presidente do Observatório Urbano da Uerj, sempre contou com boa oferta de serviços públicos e, após a inauguração da Ponte Rio-Niterói, nos anos 70, passou a atrair famílias da classe média carioca, com alto nível de renda e escolaridade.

"Nas três últimas décadas, Niterói se caracterizou como cidade de classe média. O nível educacional e de renda dos habitantes a diferencia de outras cidades. Além disso, tem uma tradição fortemente mestiça, porque a região abrigou aldeias indígenas e muitos escravos. Isso explica o IDH alto da população preta e parda," analisa Onorato, morador da cidade.

O professor teme, contudo, que a cidade saia do próximo Censo Demográfico com o mesmo IDH. Segundo ele, nos últimos anos, Niterói tem enfrentado problemas sérios de desordem urbana, com uma migração intensa de população mais pobre de cidades vizinhas. Com isso, diz, o IDH médio pode cair.

Nada que preocupe o carioca Max Lopes, carnavalesco da Mangueira. Nascido e criado na Tijuca, ele escolheu viver em Niterói 23 anos atrás. Acha que a cidade preserva características que a metrópole onde cresceu já não exibe, como solidariedade, limpeza urbana, boa convivência entre os moradores, praias limpas. No momento, Max está de mudança de Camboinhas para Itaipu, também na Região Oceânica.

"O Rio está ficando mais Rio aqui. O ar que se respira aqui é outro. Niterói é mais inclusivo. Não tenho dúvida de que a desigualdade social aqui é menor. Meu único problema é que os niteroienses querem eu volte para a Viradouro," brinca.

(O Globo)

À primeira vista São Paulo é apenas um emaranhado de concreto, envolto de cinza, com cheiro de xixi e barulho de buzinas e do acelera e freia dos carros. Mas um olhar mais apurado por essa cidade faz os viajantes se apaixonarem. Tem museus, tem shows, tem festas de ruas, tem coisas de graça, tem diversidade e riqueza cultural. Quem vem visitar a cidade não se arrepende e sai com gosto de quero mais.

Além de não ser um destino de turismo óbvio e, por isso, foi considerada a cidade mais subestimada do mundo, São Paulo não é o primeiro lugar quando se pensa em afroturismo no Brasil. Mas a capital paulista é um dos lugares mais interessantes para estar em contato com a cultura e história negra. Já ouvi até de guias experientes que aqui não tinha muito o que conhecer quando o assunto é história e cultura negra. A verdade é que cerca de 32% das pessoas se declaram de cor preta e parda em São Paulo, o que significa que são cerca de 4 milhões de negros na cidade (a população total é de 12 milhões). Em Salvador, cerca de 80% dos 3,5 milhões se declaram negros. Então, a capital baiana percentualmente tem mais negros, mas São Paulo tem mais numericamente, mas assim como muitas cidades teve a negritude apagada do seu contexto urbano, principalmente no centro.

Mas quem vem a São Paulo surpreende-se com a variedade de programações. Segue o roteiro do Guia Negro:

1 – Centro

Na República, é onde está a maior parte dos novos migrantes africanos, uma pequena África. Por lá, tem a Galeria do Reggae e a Galeria Sampa, que são reduto da nova migração africana, onde pode ser encontrada comida, salões de cabeleireiro, produtos ligados ao reggae e tabacaria. O samba rock, ritmo preto paulistano, é praticado na rua na região da galeria, principalmente na Rua Dom José de Barros, onde fica a Galeria Olido.

Os tecidos africanos podem ser comprados na Rua Barão de Itapetinga, com a Avenida Ipiranga. Há ainda lugares como a Liberdade, que não tem essa narrativa contada como deveria, mas é palco da #caminhadasaopaulonegra e tem placas do Pelourinho, do Largo da Forca e a Capela dos Aflitos, onde as pessoas negras eram, pela ordem, torturadas, mortas e enterradas nos séculos 18 e 19.

2 – Escola de Samba 

No Bixiga, tem a escola de samba Vai Vai que tem ensaios aos domingos. Há outras escolas de samba tradicionais com foco na negritude como Camisa Verde e Branco, Nenê da Vila Matilde, Rosas de Ouro, entre outras.

3 – Sambas

Nas sextas-feiras, há o tradicional Samba da 13, no Bixiga, em frente a Igreja Nossa Senhora da Achiropita, das 19h às 22h. A rua lota.

O Samba da Laje acontece na Vila Santa Catarina e é uma roda de samba com feijoada. Todo segundo domingo do mês. O Samba da 27 acontece todos os domingos a partir das 16h no Grajau, na zona sul.

4 – Museu Afro

O Museu Afro Brasil é o melhor sobre diáspora do mundo e o centro de culturas negras Jabaquara, na região sul, tem atividades frequentes. Custa apenas R$ 6. Aos sábados tem entrada gratuita. O Museu Afro Brasil fica no Parque Ibirapuera, na Av. Pedro Alvares Cabral, s/n, próximo ao Portão 10, em São Paulo. Abre de terça a domingo, das 10h às 17h (permanência até às 18h).

5 – O que comer na capital da gastronomia

Para comer indico, o Rap Burguer, que serve hamburgueres saborosos com nome de rappers importantes na famosa Rua Augusta e reúne pessoas negras descoladas. O Biyouz, restaurante africano, abriu em 2007 e oferece pratos de diferentes países do continente na República e na Bela Vista. O Congolinaria serve comida vegana vindo do Congo. O Atrium Restaurante serve comida a quilo na região da Rua Augusta, na Bela Vista, e é gerenciado e tem chefs negras. O Mama africa Labonnebouffe oferece comida camaronesa no Tatuapé. O Jerkis é o primeiro a trazer comida do caribe, mais especificamente, da Jamaica para São Paulo.

6 – Religiosidade

A Irmandade dos Homens Pretos construiu Igrejas Nossa Senhora Rosário dos Pretos na Penha, zona leste, e no Largo Paissandu, no centro. Ambas têm missa com cultura afro. Além de vários terreiros espalhados pela cidade.

7 – Festas

De festa, é importante ficar de olho na Batekoo cena LGTQIA+e periférica, na Discopedia, que toda terça-feira das 19h às 23h traz rap, hip hop e funk e pretos descolados para a cena. Na Afrojamsp encontro de músicos que ocorre uma vez por mês. A festa Amem é um coletivo formado por artistas pretes LGBTQIA+ inserido na comunidade Ballroom e movimento Aids. A festa Vibe traz a os nos anos 90 de volta e o ragga como atração principal. A Bandula é organizada pelo coletivo Netos da África.

8 – Centros culturais

O Centro de Culturas Negras do Jabaquara (zona sul), o Quilombaque (Perus, noroeste da cidade), o Centro Cultural do M’Boi Mirim. A Agência Popular Solano Trindade realiza atividades culturais na região do Campo Limpo e Capão Redondo, na zona sul.

A programação do Sesc que tem unidades espalhadas por toda a cidade também trazem diferentes shows, oficinas, peças de teatro e rodas de conversa. Há sempre presença de artistas negros e preços acessíveis ou entrada franca.

9 – Slam/Sarau

Entre os saraus, destaque para Cooperifa, no Jardim Guarujá, na zona sul, que ocorre todas as terças-feiras das 19h às 22h. O Slam da Guilhermina, que é uma batalha de poesias que acontece toda última sexta-feira de cada mês ao lado do Metrô Guilhermina-Esperança, do lado esquerdo ao sair da catraca. O Sarau do Vinil que ocorre toda última quinta do mês na Vila Joaniza (zona sul), das 19h às 22h.

10 – Aparelha Luzia

O Aparelha Luzia (Rua Apa, 78 – Campos Elíseos) é um quilombo urbano que funciona como centro cultural com festas, exposições, lançamentos de livros, filmes e peças e funciona de quinta a domingo das 19h à 00h. No sábado para domingo, as festas entram madrugada a dentro. Em setembro abre a casa Preta Hub e funcionará como um espaço colaborativo de afroempreendedores.

Qual a cidade brasileira que tem mais negros?

E se ainda não podemos fazer turismo, não custa sonhar e deixar essas dicas. E você o que indica em São Paulo e com o que se surpreendeu?

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Qual a cidade mais negra do mundo?

Salvador é considerada a cidade mais negra do mundo, fora da África.

Qual a cidade brasileira que tem o maior número de negros e afrodescendentes?

De acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 75% dos habitantes são negros. Salvador é o verdadeiro centro da cultura afro-brasileira.

Qual é a porcentagem de negros no Rio de Janeiro?

Lista de unidades federativas do Brasil por porcentagem de raça.

Quantos negros têm em São Paulo?

Segundo os dados do Censo Demográfico de 2010 (IBGE), a população da cidade de São Paulo era de 11.253.503 habitantes. Desses, aproximadamente 37% (4.164.504 habitantes) pertenciam à população autodeclarada negra (pretos e pardos).