Os termos políticos esquerda e direita surgiram no século XVIII, durante a Revolução Francesa e, desde então, foram se tornando mais complexos e recebendo nuances a ponto de hoje serem usados no plural: esquerdas e direitas. Show
Para entender esses termos, é importante esclarecer três coisas importantes: 1° – Esquerda e direita não são partidos políticos e nem dizem respeito a uma classe social determinada. 2° – Os dois termos são contrapostos e divergentes e, por isso, são excludentes. Isso significa que nenhum movimento pode ser ao mesmo tempo de direita e de esquerda. 3° – Ambos só podem existir na coexistência, isto é, só existe a direita se existir a esquerda, e vice-versa. O que significa que direita e esquerda são típicos de regimes democráticos. Se um for eliminado o que resta é radicalismo, extremismo, a antidemocracia, a ditadura totalitária.
CONTEÚDO
Origem dos termos esquerda e direitaOs termos esquerda e direita nasceram durante a Revolução Francesa, mais precisamente no dia 11 de setembro de 1789. Naquele dia, os membros da Assembleia Constituinte, reunidos para deliberar sobre o poder de veto de Luís XVI, sentaram-se espontaneamente de ambos os lados do presidente:
Dessa distribuição dos deputados por afinidades originou-se a separação entre direita, considerada conservadora ou reacionária, e esquerda, considerada reformista ou revolucionária, marcadores que ainda pontuam a vida política de todas as democracias do mundo. Assembleia Constituinte, reunida em 11 de setembro de 1789, na França, deu origem ao tradicional marcador político Direita e Esquerda. Na Assembleia de 1789, a composição social dos deputados de cada Estado estava longe de ser uma representação coesa de cada ordem. Entre os monarquistas, sentados à direita, a maioria era de nobres provincianos pobres. Os representantes do Terceiro Estado, sentados à esquerda, eram homens abastados – advogados, médicos, homens de negócio e até nobres “esclarecidos”, escolhidos por sua eloquência e cultura. Portanto, já na sua origem, Direita e Esquerda não correspondiam a um determinado grupo social, como ainda hoje não correspondem. As mudanças da esquerda e direita no séc. XIXNo século XIX, os impactos sociais causados pela Revolução Industrial trouxeram novas ideias e reivindicações. O liberalismo, o nacionalismo, o socialismo, o anarquismo e o marxismo deram outra configuração para a esquerda e a direita, e ambas mudaram conforme o momento. Na França, por exemplo, a principal discussão entre a esquerda e direita era o regime político e essa discussão marcou a linha entre as duas correntes. A defesa da República e da Constituição foi, inicialmente, pauta da esquerda. Tempos depois, essa pauta adquiriu novas nuances conforme o contexto histórico. O quadro abaixo, elaborado pelo historiador de Direito, Philippe Fabry, mostra como a ideia de república, monarquia e Constituição foi ganhando novos contornos de 1789 a 1900. Na França, ao longo do século XIX, a principal discussão entre a Esquerda e Direita foi sobre o regime político. Outros exemplos, também na França, mostram como esquerda e direita defenderam e mudaram de posição sobre educação, pena de morte e divórcio, conforme as demandas da época:
Esquerda e Direita no Brasil ImperialNo Brasil Imperial, a esquerda e a direita estiveram representadas pelos partidos Liberal e Conservador, respectivamente. Conforme observou Ilmar Mattos, ambos divergiam sobre o papel do Legislativo e, sobretudo, do Poder Moderador. Posicionavam-se, assim, a grosso modo, à esquerda (Partido Liberal) e à direita (Partido Conservador) nos moldes do século XIX. Contudo, em relação ao direitos de propriedade e às hierarquias sociais, ambos compartilharam do mesmo princípio conservador e suas atuações políticas nem sempre se pautaram por coerência, como se observa nos acontecimentos abaixo citados:
Liberais e conservadores, no Brasil Imperial, atuaram mais ao sabor das circunstâncias do que em nome de princípios políticos. O avanço da direita no séc. XXAs décadas de 1920 e 1930 viram o fortalecimento da direita em boa parte do mundo e, em muitos países, a implantação de governos de extrema-direita como foram as ditaduras da Espanha, Portugal, Áustria, Brasil (o Estado Novo de Getúlio Vargas), o fascismo na Itália (1922) e o nazismo na Alemanha (1933). Nos Estados Unidos, a organização de extrema direita Ku Klux Klan expandiu e se fortaleceu nessa mesma época. Veio a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e a derrota do nazi-fascismo, levando também à queda de muitos governos de direita (no Brasil, o Estado Novo foi derrubado em 1945). A direita parecia ter desaparecido, ou pelo menos ter enfraquecido. Muitos se perguntavam: “Ainda existe a direita?” Seguiu-se a Guerra Fria quando o mundo foi dividido em dois polos: de um lado, o bloco capitalista liderado pelos Estados Unidos e, de outro, o bloco soviético, pela União Soviética (URSS). Durante esse período os termos direita e esquerda ganharam forte conotação ideológica e de confronto político: no Ocidente capitalista, qualquer pensamento ou ação de tendência esquerdista era rotulado de “comunista” e considerado algo perigoso que deveria ser extirpado. Esquerda e comunismo eram, então, entendidos como sinônimos (o que é uma simplificação e erro conceitual). No final do século XX, com o colapso do bloco soviético, muitos passaram a se perguntar: “Quem ainda acredita no comunismo?” “Ainda existe a esquerda?” Alguns cientistas políticos teceram fortes críticas aos termos esquerda e direita afirmando que eles perderam seu significado no mundo moderno. Para Sartori, por exemplo, os termos esquerda e direita são caixas vazias, cujo conteúdo pode ser descarregado com o passar do tempo. O pensador italiano Norberto Bobbio afirmou que, depois da dissolução da União Soviética (1991), surgiram algumas linhas que apontavam para o fim da dicotomia direita-esquerda e perda de influência dessa polaridade. “Direita e esquerda ainda existem? E se existem ainda, e estão em campo, pode-se dizer que perderam completamente o significado? E se ainda têm um significado, qual é ele?” – perguntou em 1994 (BOBBIO, 2011, p. 46). Os termos direita e esquerda, contudo, não desapareceram. Eles continuam sendo usados como marcadores políticos e ganharam complexidade e maior abrangência, como veremos a seguir. Esquerda e direita no cenário político atualCharge de Angeli. Os termos esquerda e direita continuam tendo pleno uso na linguagem política. Eles servem como marcadores políticos que indicam tendências ideológicas e partidárias e permitem combinar outras dimensões abrangendo aspectos econômicos, sociais, culturais e até morais. E o que pretende a esquerda e a direita? Quais as diferenças entre elas? As principais diferenças entre esquerda e direita dizem respeito ao papel do Estado e aos direitos do cidadão, como mostra a tabela abaixo. A tabela serve como referência para indicar as diferenças básicas entre esquerda e direita. Contudo, as características listadas para uma e para outra tendência não são rígidas, elas podem se misturar criando uma meia-esquerda e uma meia-direita. Daí falarmos em outras subdivisões: centro-esquerda, centro-direita, extrema esquerda e extrema direita. Essas subdivisões abrangem um espectro político, econômico e social mais diverso que vai dos moderados aos extremistas e radicais (na ponta do esquema), dos democratas aos antidemocratas. Os opostos extremistas (extrema esquerda e a extrema direita) têm em comum a antidemocracia; ambos são ditatoriais, não permitem a alternância entre esquerda e direita. Cada subdivisão tem uma compreensão diferente sobre igualdade, liberdade, papel do Estado, política econômica e social e outros temas. Criou-se um consenso que nesses eixos estão distribuídas as seguintes tendências políticas:
É devido a essas diferentes tendências que se costuma falar em esquerdas e direitas, no plural, para ser referir aos dois eixos políticos. A tabela abaixo, traz mais informações e distinções entre essas tendências. Esquerda e direita sob perspectiva sócio-econômica Novamente, é importante lembrar que essas distinções são apenas referenciais. Podem ocorrer novas composições entre elas que acabam gerando outras tendências. Aliás, é comum um político ou um partido deslocar-se mais à direita ou à esquerda e esse deslocamento ser chamado de direitismo ou esquerdismo. Além das distinções apontadas, as esquerdas e a direitas têm uma pauta moral específica onde defendem valores diferentes. São valores de cada uma:
Concluindo, “direita” e “esquerda” não são conceitos absolutos. São conceitos relativos. (…) Não são palavras que designam conteúdos fixados de uma vez para sempre. Podem designar conteúdos conforme os tempos e as situações. (…) O fato da direita e esquerda representarem uma oposição quer simplesmente dizer que não se pode ser simultaneamente de direita e de esquerda. Mas não diz nada sobre o conteúdo das duas partes contrapostas. A oposição permanece, mesmo que os conteúdos dos dois opostos possam mudar.” (BOBBIO, 2011, p. 107-108) Fonte
O que é ser de direita na política?No espectro político, a direita descreve uma visão ou posição específica que normalmente aceita a hierarquia social ou desigualdade social como inevitável, natural, normal ou desejável. Esta postura política geralmente justifica esta posição com base no direito natural e na tradição.
O que é ser de esquerda na política?No espectro político, a esquerda se caracteriza pela defesa de uma maior igualdade social. Normalmente, envolve uma preocupação com os cidadãos que são considerados em desvantagem em relação aos outros e uma suposição de que há desigualdades injustificadas que devem ser reduzidas ou abolidas.
Quem é do PT é de esquerda?O Partido dos Trabalhadores (PT) é um partido político brasileiro de centro-esquerda à esquerda.
O que é extrema direita ou esquerda?Definição e análise comparativa
A Enciclopédia da Política: A Esquerda e a Direita afirma que a política de extrema-direita inclui "pessoas ou grupos que defendem opiniões extremas nacionalistas, xenófobas, racistas, fundamentalistas religiosas, ou outras opiniões reacionárias".
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