Medalhas de ouro, prata e bronze que serão entregues aos atletas das Olimpíadas (Foto: Reprodução/Tokyo 2020) O maior triunfo de um atleta que disputa as Olimpíadas ou as Paraolimpíadas é conquistar uma medalha. A premiação deste ano, porém, é um pouco diferente. O Comitê Organizador dos Jogos enfatiza a todo o tempo que o tema desta edição é a sustentabilidade, e eles aplicaram o conceito em diversas áreas e artigos do evento, o que inclui as sonhadas medalhas. O prêmio concedido aos atletas campeões foi produzido a partir de pequenos dispositivos eletrônicos, como celulares e jogos portáteis usados, coletados de variados pontos do Japão. “Este projeto faz de Tóquio 2020 o primeiro na história dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos a envolver cidadãos na produção de medalhas e a fabricá-las com material reciclado”, disse o Comitê em um artigo. Foram usados na produção o ouro, prata e bronze presentes nas mais de 78.985 toneladas de materiais coletados. De acordo com o site AS, um iPhone, por exemplo, tem cerca de 0,034 gramas de ouro e o mesmo de prata, além de 15 gramas de cobre – os elementos necessários para desenvolver os artigos. Com o processo, cerca de cinco mil medalhas foram desenvolvidas, cada uma tem 8,5 centímetros de diâmetro. Quer conferir os conteúdos exclusivos de Época NEGÓCIOS? Tenha acesso à versão digital. Dispositivos como celulares e computadores foram desmontados no Japão para reutilizar ouro, prata e bronze, presentes em componentes como as placas de circuito. Smartphones e PCs possuem pequenas quantidades dos metais utilizados nas medalhas em suas placas-mães, que são a base para conectar outros itens, por exemplo. Para conseguir fazer aproximadamente 5.000 medalhas para os Jogos, a organização do evento precisou recolher uma quantidade enorme de lixo eletrônico. Medalhas das Olimpíadas de Tóquio de frente — Foto: Divulgação/Tokyo 2020 Foram mais de 6 milhões de telefones celulares usados e mais de 78 toneladas de computadores, tablets, monitores e outros aparelhos antigos ou quebrados. Isso porque a quantidade de metal presente em um único aparelho é muito pequena, como explica Tereza Cristina Carvalho, membro do Instituto dos Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) e pesquisadora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). "É uma quantidade muito pequena de ouro e de cobre [nos aparelhos]. Esse volume vem diminuindo gradativamente com o avanço da tecnologia porque os metais são recursos não renováveis. Então, as empresas vêm desenvolvendo tecnologia para fazer as conexões com a quantidade cada vez menor deles", disse ao G1. Celulares antigos coletados pela organização dos Jogos de Tóquio 2020 — Foto: Divulgação/Tokyo 2020 As medalhas pesam praticamente meio quilo, mas a composição de cada uma varia:
Parte de trás das medalhas das Olimpíadas de Tóquio — Foto: Reprodução/Tokyo 2020 As coletas foram realizadas nas lojas da NTT DoCoMo, principal operadora de celular país. Além disso, mais de 90% das autoridades municipais em todo o país (um total de 1.621) atuaram como pontos de entrega de dispositivos eletrônicos. Os dispositivos foram recolhidos entre abril de 2017 e março de 2019 em mais de 18.000 locais espalhados pelo Japão. No total, foram extraídos a partir do lixo eletrônico:
As medalhas das Paralimpíadas de Tóquio: prata e bronze de frente, enquanto a de ouro exibe a parte de trás — Foto: Divulgação/Tokyo 2020 Como funciona a reciclagem eletrônica?O processo de aproveitamento não é simples, segundo a engenheira do IEEE, já que as placas de circuito impresso são feitas de sílica e outros materiais. "Existe uma técnica de transformar aquilo em pó, triturando a placa. Depois, por meio de decantação [método de separação de misturas heterogêneas] é possível separar os metais. Mas não é uma coisa fácil", disse ela. Após essa separação, os metais são levados para fornalhas que os derretem para ganharem novos moldes e usos. Antes de tudo isso, porém, é preciso desmontar os aparelhos eletrônicos. E tudo é feito de forma manual, já que computadores, celulares e outros dispositivos não possuem projetos padronizados. Desmontagem de celulares para a fabricação das medalhas dos Jogos Olímpicos de Tóquio — Foto: Divulgação/Tokyo 2020 Mineração urbanaA iniciativa dos Jogos vai ao encontro de uma tendência de atenção ao lixo eletrônico. Segundo Tereza Cristina Carvalho, alguns países já utilizam a "mineração urbana". "Em vez de retirar os metais das minas, em um processo tradicional, eu retiro do resíduo eletrônico e reaproveito", explicou. A organização do evento afirmou que a iniciativa buscou "envolver o público nos preparativos para os Jogos de Tóquio 2020 e ao mesmo tempo aumentar a conscientização sobre a gestão sustentável dos recursos". "Dentro de tudo isso existe de um conceito chamado de economia circular. E a mineração urbana é uma das coisas que mais mostram a eficiência dela. Fazendo a reutilização dos seus próprios materiais eletrônicos, ao invés de importar, você usa o que tem em casa", completou Tereza. Lixo eletrônico no Brasil e no mundoSegundo um relatório mais recente da Organização das Nações Unidas (ONU), 53,6 milhões de toneladas desse tipo de resíduo foram geradas em todo o mundo em 2019 – um aumento de 21% em 5 anos. A maior parte dele é gerado justamente na Ásia (cerca de 24,9 milhões de toneladas). O levantamento da ONU indica que o Brasil é o líder na produção de resíduo eletrônico na América Latina. Por ano, é produzida 1,5 milhão de toneladas de lixo, com apenas 3% dele coletado de maneira adequada. Um decreto de 2020 estabeleceu no Brasil uma meta para a coleta de lixo eletrônico: 400 cidades devem ter serviços de logística reversa (o processo de gerenciamento dos produtos após o fim do seu ciclo de vida) até 2025 e cada um desses municípios deve instalar um ponto de coleta a cada 25 mil habitantes. A Abree (Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos) possui uma página para que as pessoas consultem os locais de recebimento de lixo eletrônico mais próximos. |