A COVID-19 tem apresentação clínica variável. Não há características clínicas específicas que possam distingui-la de outras infecções respiratórias virais. Ela pode se apresentar tanto de forma leve (aproximadamente 80% dos casos) como de forma grave (15%), com a minoria do total de casos evoluindo com necessidade de cuidados intensivos (5%) [1,2]. De acordo com estudos já publicados, os sinais e sintomas mais comuns são febre e tosse seca. Outros sintomas de frequência variável incluem anosmia, disgeusia, fadiga, anorexia, dispneia, expectoração, calafrios, cefaleia, dor de garganta, mialgias, rinorreia, congestão nasal, náuseas, diarreia, dor abdominal, tontura, sensação de pressão/dor torácica e conjuntivite [1,2,3,4]. Embora casos assintomáticos tenham sido descritos na literatura, sua frequência ainda é incerta. Uma revisão sistemática encontrou prevalência de 16% de infecções assintomáticas (com uma variação nos estudos de 6 a 41% [5]. Porém, considerando que o contexto de testagem da maioria dos países não envolve assintomáticos de forma regular, mais dados são necessários para o entendimento da prevalência deste grupo [3]. A maioria dos casos assintomáticos descritos em estudos estava no período de incubação e desenvolveu algum sintoma nos dias subsequentes [1,3]. No quadro abaixo está a frequência de apresentação dos principais sintomas descritos em revisões sistemáticas e metanálises publicadas até o momento: [6,7,8]. Quadro 1. Sinais e sintomas da COVID-19.
Fonte: TelessaúdeRS-UFRGS (2020), adaptado de Zhu et al (2020), Mao et al (2020) e Tong, Wong e Zhu (2020). Dados nacionais, levantados no primeiro mês da pandemia, são similares aos encontrados na literatura internacional, mas com maior incidência de sintomas de vias aéreas superiores. Em pacientes não hospitalizados, foram encontrados os seguintes achados: tosse (73,7%), febre (68,8%), coriza (37,4%), dor de garganta (36,2%) e dispneia (5,6%); e entre hospitalizados: febre (81,5%), tosse (79,8%), coriza (31,1%), dor de garganta (26,1%) e dispneia (26,1%) [9]. Apesar de a febre ser o sinal mais comum, pode ser baixa (< 38ºC) em até 20% dos pacientes e se apresentar dias após o início do quadro clínico. Em um estudo chinês com 1099 pacientes, 44% deles não tinha febre no momento da admissão hospitalar, mas 89% a desenvolveram ao longo da internação [10]. Além disso, em estudos envolvendo mais de 6 mil pacientes ambulatoriais, chama a atenção a menor prevalência de febre – entre 34 e 40% – levantando a hipótese de menor ocorrência do sinal em pacientes menos graves [11,12]. Pacientes idosos ou com comorbidades podem ter apresentação tardia de febre e sintomas respiratórios [3]. Dispneia, um marcador de gravidade, apresenta tempo médio de estabelecimento de 5 a 8 dias a partir do início dos sintomas [3]. Idosos tendem a apresentar mais frequentemente dispneia comparados com pacientes mais jovens [2]. Anosmia e disgeusia (alterações do olfato e paladar) vêm se somando às evidências como sintomas comuns em pacientes com COVID-19 [4]. Em revisão sistemática avaliando pacientes ambulatoriais e hospitalizados, a prevalência de anosmia variou nos estudos em torno de 52,7%, enquanto a de disgeusia 43,9% [8]. Considerando estudos com pacientes ambulatoriais, esses sintomas podem ter prevalência ainda maior (podendo ser superior a 70%) e preceder outras manifestações clínicas, sugerindo que tais sintomas são preditores fortes de resultado positivo para COVID-19 [11,12,13]. Outros sintomas de vias aéreas superiores também são descritos com menor frequência (rinorreia em 7,3% e congestão nasal em 3,7% dos pacientes) [6,14]. Sintomas gastrintestinais foram avaliados em revisão sistemática envolvendo mais de 6 mil pacientes, tendo prevalência de 15% em pacientes com COVID-19. Diarreia, náuseas e anorexia foram os sintomas mais comuns encontrados. Pacientes podem apresentar tais sintomas como manifestação inicial da doença, com aumento do tempo até o diagnóstico. Pacientes com manifestações clínicas gastrointestinais tiveram em geral mais complicações, risco aumentado de SRAG e quadros mais severos da doença [7]. Manifestações cutâneas como erupções maculopapulares, rash, petéquias, urticária, vesículas e livedo reticular transitório foram descritas em pacientes com COVID-19. Lesões roxo-avermelhadas distais nos dedos, similares ao eritema pérnio, também foram encontradas, principalmente em crianças e adultos jovens com doença leve. Já lesões isquêmicas distais e rash maculopapular foram vistos em pacientes com doença mais grave. São necessários mais dados para entender a relação e qual envolvimento cutâneo na COVID-19 [15]. Manifestações neurológicas também foram associadas à COVID-19, sobretudo em pacientes mais graves. Além da perda do olfato e paladar, cefaleia e tontura, complicações como delirium, encefalopatia, acidente vascular cerebral, síndrome de Guillain-Barré e meningoencefalite são descritas em estudos observacionais [16,17]. Conjuntivite foi descrita em metanálise envolvendo estudos com 1167 pacientes, com prevalência de 1,1% em pacientes com COVID-19. Quadros mais severos tendem a ter apresentação mais frequente deste sintoma (3% de pacientes).[18] O período de recuperação da COVID-19, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, é de cerca de duas semanas para infecções leves e de três a seis semanas para doença grave. Referências:
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