Quem foi Tupac Amaru e o que ele defendia?

Em 24 de setembro de 1572 Tupac Amaru era esquartejado pelos espanhóis. Dois séculos depois, um descendente seu honraria a profecia de que Tupac Amaru ressuscitaria.

Tupac Amaru foi o último rei dos incas, que durante quarenta anos lutou nas montanhas do Peru. Em 1572, quando o sabre do carrasco partiu-lhe o pescoço, os profetas indígenas anunciaram que algum dia a cabeça se juntaria ao corpo.

E se juntou. Dois séculos depois, José Gabriel Condorcanqui encontrou o nome que o esperava. Convertido em Tupac Amaru, ele encabeçou a mais numerosa e perigosa rebelião indígenas da história das Américas.

Os Andes arderam. Desde a cordilheira até o mar levantaram-se as vítimas do trabalho forçado nas minas, nas fazendas e nas oficinas. De vitória em vitória, o menu colonial era ameaçado pelos sublevados que avançavam, num ritmo imparável, percorrendo rios, subindo montanhas, atravessando vales, povo atrás de povo. E estiveram a ponto de conquistar Cuzco.

A cidade sagrada, o coração do poder, estava aí: desde as alturas, era possível ver, era possível tocar.

Haviam passado dezoito séculos e meio, e se repetia a história de Espártaco, que teve Roma ao alcance da mão. E tampouco Tupac Amaru decidiu atacar. Tropas indígenas, a mando de um cacique vendido, defendiam o Cuzco, cidade sitiada, e ele não matava índios: isso não, isso nunca. Bem sabia que era necessário, que não havia outra alternativa, mas…

Enquanto ele duvidava, que sim, que não, que quem sabe, os dias e as noites passaram, e os soldados espanhóis, muitos, bem armados, iam chegando de Lima.

Em vão, enviava desesperadas mensagens sua mulher, Micaela Bastidas, que comandava a retaguarda:

— Tu tens que me tirar das tristezas…
— Eu já não tenho paciência para aguentar tudo isso…
— Te dei bastantes advertências…
— Se tu queres nossa ruína, pode por-se a dormir…

Em 1781, o chefe rebelde entrou em Cuzco. Entrou acorrentado, apedrejado, insultado.

Chuva

Na câmara de torturas, o enviado do rei interrogou-o.

— Quem são os seus cúmplices? — ele perguntou.

E Tupac Amaru respondeu:

— Aqui não há mais cúmplices que você e eu. Você, enquanto opressor, e eu, enquanto libertador, merecemos a morte.

Foi condenado a morrer esquartejado. Ataram-no a quatro cavalos, braços e pernas em formato de cruz, e não se partiu. As esporas rasgavam os ventres dos cavalos, que em vão puxavam, e não se partiu.

Teve que recorrer ao machado do carrasco.

Era um meio-dia de sol feroz, tempo de longa seca no vale de Cuzco, mas o céu ficou negro de pronto, rompeu-se e descarregou uma chuva dessas que afogam o mundo.

Também foram esquartejados os outros chefes e chefas rebeldes, Micaela Bastidas, Tupac Catari, Bartolina Sisa, Gregoria Apaza… E seus pedaços foram distribuídos pelos povos que haviam sublevado, foram queimados e suas cinzas jogadas ao ar, para que deles não sobre memória.

Fonte: Espejos — Una historia casi universal (2008), p. 162-163, Eduardo Galeano


O Peru foi palco de repetidas revoltas indígenas durante todo o século XVIII, culminando em 1780, na maior de todas, liderada por Túpac Amaru, um descendente real inca.

Quem foi Tupac Amaru e o que ele defendia?

Túpac Amaru (1740-1781), nascido com o nome de.José Gabriel Condorcanqui, em 1780 ele tomou o nome do último imperador inca, Túpac Amaru,

Nascido no Peru, em 1740, com o nome de José Gabriel Condorcanqui em uma família de descendência real inca, ele herdou terras, gado e uma tropa de mulas que usava no transporte de mercadorias. Em 1780, Condorcanqui tomou o nome do último imperador inca, Túpac Amaru, e iniciou um movimento, inicialmente pacífico, em favor de reformas que melhorassem a vida e o trabalho dos nativos.

A população do Vice-reinado do Peru era, então, composta por 58% de índios, 20% de mestiços e escravos e 12% de brancos (espanhóis e descendentes de espanhóis). Essa minoria controlava a vida econômica e política do país. Os indígenas, a principal mão de obra, eram empregados nas plantações, nas minas e nas tecelagens onde eram forçados a trabalhar em um regime de exploração conhecido como mita.

Túpac Amaru apresentou uma petição junto ao governo para que os indígenas fossem liberados do trabalho obrigatório das minas. Denunciou os riscos a que estavam submetidos (desmoronamentos e intoxicação de gases), a exploração desumana de mulheres, crianças e anciãos forçados a trabalhar sem descanso e gravemente doentes pelo mercúrio usado nas minas. A audiência de Lima, composta na maioria por encomenderos e donos de minas, sequer se dignou a escutar ao pedido do inca.

Túpac Amaru partiu, então, para uma ação mais radical e preparou a insurreição. Tendo iniciado perto de Cuzco, em novembro de 1780, o movimento logo se alastrou por grande parte do Peru. Além da própria causa, a rebelião fortaleceu-se pela extensa rede de parentesco de Túpac Amaru e suas ligações com o comércio e o transporte regional – condições que garantiram o recrutamento de milhares de indígenas.

Quem foi Tupac Amaru e o que ele defendia?

Trabalho na mina de Potosi, gravura de Theodore De Bry, 1596.

Os rebeldes assaltaram depósitos e armazéns, tomaram armas de fogo e grande quantidade de munição. Crianças e anciãos prepararam armas brancas e flechas envenenadas. Por onde passava, o exército de Túpac Amaru abolia a escravidão, a mita e a cobrança de impostos.

Em 18 de novembro de 1780, em Sangarará, as forças rebeldes entraram em combate contra o exército espanhol e o derrotaram. A vitória encorajou os rebeldes. Cerca de 100 mil indígenas em uma extensão de 1500 km se dispuseram a seguir Túpac Amaru.

A gravidade da situação levou os vice-reis de Lima e de Buenos Aires a unirem suas forças formando um exército de 17 mil homens fortemente armados.

Túpac Amaru buscou apoio dos criollos, tentando convencê-los a se unirem ao movimento e lutar contra os espanhóis. Os proprietários nascidos na América, contudo, não tinham interesse em um movimento que libertava a mão de obra que exploravam. As ideias de Túpac Amaru eram revolucionárias demais para eles e, assustados com a dimensão da revolta, os criollosaliaram-se aos espanhóis em defesa de suas propriedades.

O exército dos vice-reis levou adiante uma campanha de terror contra a população nativa saqueando aldeias e assassinando indiscriminadamente todos seus habitantes. O resultado foi a fuga de muitos indígenas e a deserção de grandes fileiras do exército rebelde.

Quem foi Tupac Amaru e o que ele defendia?

Carta de Túpac Amaru escrita com seu sangue depois de ser torturado na prisão em Cuzco.

Na noite de 5 de abril de 1781, ocorreu a batalha final, em Checacupe, em que milhares de indígenas foram massacrados.  Túpac Amaru foi feito prisioneiro e, durante dias, foi torturado para revelar os nomes de outros chefes rebeldes. Manteve-se calado até o fim.

Em 17 de maio de 1781, Túpac Amaru foi condenado à morte sofrendo uma das execuções mais cruéis da História. Primeiro, obrigaram-no a presenciar a tortura e morte de sua mulher, filhos e amigos. Depois, teve suas pernas e braços amarrados em quatro cavalos para ser esquartejado vivo. Não chegaram, contudo a concluir a execução e decidiram decapitá-lo, cravar a cabeça em uma lança e enviar seus quatro membros às cidades onde ele havia lutado.

A repressão aos rebeldes continuou por mais um ano. Chefes indígenas foram brutalmente executados e seus seguidores perseguidos até a morte. Implantaram-se então algumas reformas institucionais, entre as quais, a extinção da encomienda – medida que objetivava mais o fortalecimento do domínio espanhol do que o bem-estar dos indígenas.

Quem foi Tupac Amaru e o que ele defendia?

Execução de Túpac Amaru, óleo sobre tela.

História Animada Tupac Amaru

Tupac Amaru II – O el anuncio de una gran revolución

Vocabulário

 Mita: forma de trabalho existente entre os incas e que foi usada pelos espanhóis resultando em trabalho forçado de indígenas nas minas, lavouras e obras públicas em troca de um pagamento ínfimo em moedas, tecidos ou bebida alcoólica.

Encomendero: colono espanhol autorizado pelo governo a utilizar indígenas nas minas ou fazendas e exigir-lhes tributos em gênero (milho, batata, ovos, peixe, sal, tecidos, porcos, aves etc). Em troca, o encomendero devia oferecer instrução religiosa, comida e proteção aos indígenas “encomendados”, o que nem sempre acontecia.

Criollos: colonos brancos nascidos na América; entre eles, muitos eram mestiços, isto é, tinham antepassados nativos. Eram proprietários de terras e minas, mas não participavam das decisões políticas que ficavam nas mãos dos espanhóis.

Fonte

LYNCH. John. As origens da independência da América espanhola. In: BETHEL, Leslie (org.). História da América Latina. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado; Brasília: Fundação Alexandre Gusmão, 2001, v. 3.

Quem foi Tupac Amaru e o que ele defendia?

Tupac Amaru foi um líder curaca que se rebelou junto à elite crioula, contra a colonização espanhola. Amaru nasceu em Cusco, Peru, em 19 de março de 1742, com o nome de José Gabriel Condorcanqui Nogueira. Posteriormente, passou a se chamar Tupac Amaru II, se declarando herdeiro do líder Tupac Amaru do século XVI.

Quais foi o motivo da revolta de Tupac Amaru?

As causas imediatas da revolta de Tupac Amaru terão sido a visita em 1780 ou inspeção efetuada por José António de Areche e as reformas fiscais por ele introduzidas nestes territórios, às quais se opunha a população indígena, que se confrontava também com os corregedores e pedia a abolição do trabalho forçado nas minas ...

Qual foi a importância de Tupac Amaru para?

Tupac Amaru II foi uns dos maiores líderes incas, responsável por organizar uma rebelião contra o extermínio indígena no século XVIII. O peruano também possibilitou a independência da America Espanhola, pois seu principal objetivo era defender a condição de herdeiro da civilização inca.

Quem foram os Tupac Amaru?

Túpac Amaru (1545 - Cusco, 24 de setembro de 1572) foi o quarto e último imperador inca de Vilcabamba. Filho de Manco Inca (também conhecido como Manco Capac II), foi feito sacerdote e guardião do corpo de seu pai.