A mão que aplaude é a mesma mão que vaia

" A mão que aponta é a mesma que... Djeikon hodjeiky

A mão que aplaude é a mesma mão que vaia

" A mão que aponta é a mesma que vai aplaudir depois, esses tais dias difíceis não me impedem de progredir..."

Se você prestou atenção no título do texto, existem três possibilidades no momento. Você:

A) Entendeu a referência e deu risada;

B) Não entendeu a referência e acha que eu estou maluco;

C) Não achou erro no título (leia de novo).

Pra quem não entendeu, a frase é de uma das figuras mais folclóricas do futebol nordestino, Carlinhos Bala, que numa entrevista pós-jogo demonstrou sua frustração com a torcida que pegou no seu pé, mesmo sendo um ídolo.

Mas o que Carlinhos Bala, o rei de Pernambuco, tem a ver com o Liverpool?

Enquanto eu assistia Bayern e Real Madrid disputarem a primeira partida de seu confronto na semifinal da Champions League, após alguns cochilos rápidos durante o jogo, me dei conta da grandeza do que havia presenciado no dia anterior.

Os dois gols da Roma foram um desserviço ao jogo em si e tiraram um pouco do gosto da vitória na hora, mas uma vez que os ânimos se acalmaram e colocando o jogo na Alemanha, resultado e performances, em contexto, fica claro que o que Klopp e seus comandados fizeram em Anfield foi algo extremamente especial e que dificilmente acontecerá de novo se tratando de uma semifinal europeia. Nós os atropelamos! Durante 60 minutos de partida, o futebol apresentado pelo Liverpool beirou a perfeição. Poucos times na história seriam capazes de parar Salah, Firmino e companhia naquele espaço de tempo. Você poderia colocar qualquer um pela frente, eles seriam despachados com êxito.

Há quem diga que muitos times/treinadores não cederiam dois gols tendo um 5 à 0 no placar, mas quantos teriam uma vantagem dessa pra defender, em primeiro lugar? A última vez que José Mourinho teve 5 gols de vantagem sobre um time foi em Janeiro de 2015, por exemplo. Guardiola goleou muitos times, mas nenhuma vez fez 5 gols nessas circunstâncias. O único time a marcar 5 gols numa semifinal de Champions League antes de terça-feira havia sido o Ajax de 95, contra o Bayern de Munique. O time que foi a campo aquele dia continha: Van Der Sar, Reiziger, Danny Blind, Bogarts, Frank Rijkaard, Ronald De Boer, Seedorf, Jari Litmanen, Mark Overmars, George e Kanu. No banco, Davids e Kluivert eram opções. Vejam o tamanho de alguns nomes desse time! No dia 24 de Abril de 2018, nós repetimos o feito, até então único, de um time dessa qualidade! Não é algo que acontecerá tão cedo.

Os dois gols sofridos foram, sim, desnecessários, mas é apenas uma nota de rodapé numa grande noite no Anfield. Poucas vezes esse gramado presenciou uma performance ofensiva tão completa! Nem mesmo nos anos de glória de Shankly e Paisley se via 5 gols numa semifinal com uma performance tão dominante. Pode-se dizer que Klopp deveria ter fechado a casa com 5–0 no placar, mas ele também poderia ter se fechado com 3–0 e um ou dois gols deles seriam muito mais devastadores, afinal correríamos esse risco de qualquer jeito — basta lembrar que recuar, colocar um terceiro zagueiro e se defender contra o West Brom no fim de semana não funcionou. O alemão instalou uma filosofia de futebol de alto risco e alta recompensa, e é o que nos fez chegar até esse ponto, pra começar. Se é assim que jogaremos, que seja. É muito mais gratificante que o jogo chato que vimos no dia seguinte. Ajustes podem, e devem, ser feitos, mas nesse meio tempo não existe motivo para não apreciar o que vem sendo feito.

Querendo ou não, os tentos de Dzeko e Perotti deram ao time Romanista uma esperança, algo para se segurar e fazê-los acreditar e por isso devemos, sim, ser cautelosos, mas isso não significa que não podemos estar confiantes. Eles já fizeram essa remontada na fase anterior, mas adivinha? Nós também defendemos uma vantagem de três gols fora de casa, contra um time melhor que o de Di Francesco! Eles podem repetir o feito, mas nós também.

Se alguém dissesse que o Liverpool estaria a 90 minutos de uma final de Champions League, com três gols de vantagem contra um time inferior, a mentalidade da torcida seria de extrema confiança.

Viajaremos para a Itália e, diferente do Barcelona, jogaremos pela vitória. Com alto risco, mas mirando na alta recompensa. No melhor estilo Jurgen Klopp, que é o que nos trouxe até aqui. A mão que aplaude o futebol ofensivo brilhante do alemão é a mesma que vaia quando o risco parece desnecessário e se queremos ver mais exibições como essa, temos que aceitar o risco que, eventualmente, vem com elas. Abracem esse time, suas forças e suas fraquezas, pois só temos mais uma parada nos impedindo de desembarcar em Kiev e isso, por si só, vale qualquer risco do mundo.

Up the risky Reds!