Por que Portugal foi o pioneiro nas Grandes Navegações do século 15 e 16?

Mestrado em História (UDESC, 2012)
Graduação em História (UDESC, 2009)

Publicado em 04/02/2021

Ouça este artigo:

O pioneirismo português no período das grandes navegações que ocorreu na Era dos Descobrimentos, tem relação com alguns fatores, tais como a formação do Estado Moderno Português a partir de 1385, a influência da presença islâmica na Península Ibérica e a conquista de Ceuta em 1415, o primeiro território português fora da Europa, além do território privilegiado que Portugal ocupava na Europa.

Os portugueses foram pioneiros em criar uma outra categoria, que foi amplamente disseminado pela Europa séculos mais tarde, o Estado Moderno Absolutista. A unificação de Portugal passou pelo processo de disputas territoriais com os muçulmanos que ocupavam aquela região em 1125, por um grupo de portugueses (católicos) liderados por D. Afonso, que criou a dinastia de Borgonha. Um Estado Nacional Moderno tem características únicas, tais como um território nacional, uma língua nacional, símbolos nacionais (hino, bandeira, cetro, coroa, etc.) e um exército nacional. O Estado português se efetiva em 1385 pela dinastia de Avis, tendo a centralização política nas mãos dos reis e por consequência o controle de toda unidade nacional. É nesse período, por exemplo, que os portugueses desenvolvem sua literatura própria, com o livro de Luís de Camões “Os Lusíadas” de 1572, que conta a história de Portugal por meio de poemas decassílabos tornando-se um símbolo nacional.

Os oito séculos de ocupação dos povos islâmicos na Península Ibérica (do século VIII ao século XIV) fez com que os portugueses se desenvolvessem na álgebra e na astronomia, por exemplo. Essas habilidades fizeram com que os portugueses pudessem desenvolver nas construções de naus e aprenderam a utilizar equipamentos como o astrolábio (invenção grega), o quadrante, a bússola (invenção chinesa), a balestilha e as cartas náuticas, que serviam para dar maior precisão durante navegação. As caravelas, muito utilizadas pelos portugueses, também foram influenciadas pela ciência islâmica, e graças a esse tipo de nau, os portugueses puderam aproveitar melhor os ventos podendo se locomover com maior facilidade. Mesmo com todos os avanços científicos e tecnológicos trazidos pelos islâmicos, os portugueses investiram muito dos seus esforços para expulsá-los do seu território ou até convertê-los ao catolicismo. Esse movimento de conquista dos portugueses ocorreu em toda a Península Ibérica, onde os espanhóis também expulsaram os islâmicos ou os converteram ao catolicismo. Esses indivíduos mudavam de nome e sobrenome, e ficavam conhecidos como cristãos novos. As conquistas desse território total, tanto para Portugal como para Espanha, que ocorreu em 1492, onde a presença islâmica ficou apenas nas técnicas ensinadas para a navegação.

Em 1414 os portugueses dominaram a cidade de Ceuta no norte da África, onde ficavam um importante entreposto comercial, dando aos portugueses mais vantagens no pioneirismo nas navegações. Com a queda de Constantinopla em 1453 as especiarias começaram a faltar na Europa, dando maiores incentivos para os portugueses buscarem novas rotas para conseguir esses insumos. A busca por metais precisos nesse período, também favoreceu o pioneirismo português. O ouro e a prata, principalmente eram cobiçados e o seu acúmulo significava riqueza para o Estado Moderno. A motivação religiosa, também impulsionou os portugueses para o pioneirismo, pois a Igreja Católica patrocinou muitas das incursões no além-mar para conquistar novos devotos ao catolicismo. Esta medida está relacionada diretamente com as novas políticas propostas pela Contrarreforma em 1545.

O pioneirismo português nas navegações se mostrou extremamente eficiente nos séculos XV e XVI, os portugueses conseguiram contornar o Périplo africano em 1487, quando Bartolomeu Dias ultrapassa o Cabo das Tormentas que se tornou da Boa Esperança após o feito que atualmente é a Cidade do Cabo na África do Sul. Desta forma, o navegador português abriu os caminhos para a navegação para a Índia. Os portugueses tiveram conquistas de territórios em praticamente todos os continentes do Globo, exceto a Oceania, tais como o Brasil, Angola, Goa (Índia), Macau (China) e Timor-Leste (Leste asiático), são alguns exemplos da colonização, resultado direto da expansão portuguesa. Além da língua portuguesa esses países e regiões, possuem muitas identificações com Portugal, tais como a arquitetura e a alimentação.

Leia também:

  • Descobrimentos portugueses
  • História das navegações

Referências:

NOVAES, Adauto. A descoberta do homem e do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/historia/pioneirismo-portugues/

Grandes Navegações é o nome dado ao processo de exploração e navegação do Oceano Atlântico encabeçado pelos portugueses a partir do século XV.

Por que Portugal foi o pioneiro nas Grandes Navegações do século 15 e 16?
O processo das Grandes Navegações possibilitou a existência da expedição portuguesa liderada por Pedro Álvares Cabral, que chegou ao Brasil em 1500.*

As Grandes Navegações, também conhecidas como Expansão Marítima, foram o processo de exploração e navegação do Oceano Atlântico que se iniciou no século XV e estendeu-se até o século XVI. Nesse período, os europeus descobriram novos caminhos marítimos para alcançar a Ásia. Além disso, chegaram pela primeira vez a terras até então desconhecidas por eles, como o continente americano, local ao qual chegaram em 1492.

Acesse também: Conheça a história de quando a Espanha tomou controle das colônias portuguesas

Resumo

As Grandes Navegações foram o processo de exploração do Oceano Atlântico realizado pioneiramente por Portugal no século XV e acompanhado por outros países europeus ao longo do XVI. Levaram a uma série de “descobrimentos” por parte dos europeus e resultaram, por fim, na chegada europeia ao continente americano em 1500.

Por meio das Grandes Navegações, iniciou-se a colonização da América e consolidou-se a passagem da Idade Média para a Idade Moderna.

Grandes navegações portuguesas

Por que Portugal foi o pioneiro nas Grandes Navegações do século 15 e 16?

Padrão dos Descobrimentos, monumento construído em Lisboa em homenagem ao período das Grandes Navegações.

Quando o assunto são as Grandes Navegações, o pioneirismo português sempre se destaca. Foi a partir do exemplo dado por Portugal que outros países da Europa, como Espanha e França, lançaram-se à navegação e exploração do Oceano Atlântico. O pioneirismo português foi resultado de uma série de condições que permitiram a esse pequeno país da Península Ibérica lançar-se nessa empreitada.

Na época, Portugal reunia condições políticas, econômicas, comerciais e geográficas que tornaram possível seu papel pioneiro. O resultado disso foi a “descoberta” de diversos locais desconhecidos pelos europeus, além da abertura de novas rotas e o surgimento de novas possibilidades de comércio. Para os portugueses, todo esse processo culminou na chegada da expedição de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, em 1500.

Alguns fatores explicam esse pioneirismo de Portugal:

  • Monarquia consolidada;

  • Território unificado;

  • Investimento no desenvolvimento de conhecimento náutico;

  • Interesse da sociedade na expansão do comércio;

  • Investimentos estrangeiros no comércio;

  • Posição geográfica.

No século XV, Portugal era uma nação politicamente estável. Essa estabilidade foi garantida pela Revolução de Avis, realizada entre 1383 e 1385. Com isso, Portugal teve melhores condições para investir no desenvolvimento do comércio e da tecnologia náutica. Em comparação, as nações vizinhas (Espanha, França e Inglaterra) ainda procuravam estabilidade política nesse mesmo período.

Outro fator era a questão territorial, uma vez que o território português já havia sido consolidado desde o século XIII, quando a região de Algarve foi reconquistada dos mouros (muçulmanos que invadiram a Península Ibérica no século VIII). Os vizinhos espanhóis, por exemplo, só garantiram certa unificação territorial no final do século XV.

Em relação à tecnologia e ao conhecimento náutico, existem muitos historiadores que atribuem uma grande importância à Escola de Sagres, centro de estudos construído por infante D. Henrique em Algarve. Nesse local, promoviam-se pesquisas de desenvolvimento de melhores técnicas de navegação. Novos estudos, porém, levaram alguns historiadores a questionar a existência e a importância dessa escola no pioneirismo de Portugal.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Outro fator importante foi a relevância comercial assumida por Portugal por volta do século XV. Essa importância e vocação comercial dos portugueses resultaram da influência dos mouros no período em que dominaram a Península Ibérica. Por fim, há que se destacar que Lisboa havia recebido grandes investimentos de comerciantes genoveses, que estavam interessados em transformar a cidade em um grande centro comercial.

Havia ainda a questão geográfica: Portugal estava posicionado mais a oeste que qualquer outra nação europeia. Além disso, era o país europeu mais próximo da costa oeste do continente africano. Isso fazia de Portugal ponto de partida para expedições que buscavam uma nova rota para alcançar a Índia e o tão valorizado comércio das especiarias.

A soma de todos esses fatores fez com que Portugal tivesse as condições necessárias para ser a nação pioneira das Grandes Navegações, processo que resultou em grandes “descobertas”:

  • 1415: conquista de Ceuta, no norte da África;

  • 1418: chegada à Ilha da Madeira;

  • 1427: chegada a Açores;

  • 1434: travessia do Cabo Bojador;

  • 1488: travessia do Cabo da Boa Esperança;

  • 1499: descobrimento de um novo caminho para a Índia;

  • 1500: chegada ao Brasil.

Grandes navegações espanholas

Ao longo de todo o século XV, a Espanha, nação vizinha de Portugal, assistiu à expansão marítima conduzida pelos portugueses. A Espanha manteve-se alheia a esse processo até, praticamente, o final do século XV. Isso ocorreu porque a nação espanhola, durante toda parte desse século, teve como grande prioridade garantir a expulsão dos mouros – o que foi concluído somente em 1492. Além disso, politicamente falando, a Espanha só atingiu certa estabilidade com o casamento dos monarcas Fernando e Isabel, em 1469.

Acesse também: Saiba mais sobre o processo de conquista da América Espanhola

O investimento em expedições marítimas só foi possível depois da conquista de Granada, cidade ao sul da Espanha, em 1492. A primeira expedição espanhola foi liderada pelo genovês Cristóvão Colombo. Nela, três embarcações (Niña, Pinta e Santa María) saíram da Espanha visando a alcançar a Ásia. No entanto, essa expedição alcançou a região das Bahamas, no continente americano, em 12 de outubro de 1492.

Consequências

As Grandes Navegações conduziram uma série de mudanças que já estavam em curso na Europa desde o século XII. Com esse processo, a Europa iniciou sua passagem para a Idade Moderna e deu prosseguimento ao fortalecimento do comércio e da moeda, garantindo, assim, o mercantilismo, práticas econômicas que fizeram a transição do feudalismo para o capitalismo.

As Grandes Navegações foram responsáveis por transformar Portugal na maior potência do mundo durante os séculos XV e XVI, por meio do grandioso império ultramarino formado pelos portugueses. Assim, Portugal estabeleceu colônias em diferentes partes do mundo: América do Sul, África e Ásia.

*Créditos da imagem: Neftali e Shutterstock


Aproveite para conferir nossa videoaula relacionada ao assunto:

Por Daniel Neves Silva

Por que Portugal foi o pioneiro nas navegações do século 15 e 16?

- Localização geográfica privilegiada de Portugal, com presença de litoral atlântico que favoreceu a navegação. - Investimentos da burguesia portuguesa na navegação marítima, pois esta tinha interesses comerciais, principalmente voltados para o negócio lucrativo das especiarias.

Por que Portugal se tornou pioneiro nas grandes navegações?

O primeiro motivo que levou os portugueses ao empreendimento das Grandes Navegações foi a progressiva participação lusitana no comércio europeu no século XV, em razão da ascensão de uma burguesia enriquecida que investiu nas navegações no intuito de comercializar com diferentes partes do mundo.

Como se explica o pioneirismo de Portugal?

O pioneirismo português nas grandes navegações marítimas - que culminaram nas descobertas de novas terras, na expansão do comércio e na propagação da fé cristã - se iniciou em 1385, data da subida ao trono de dom João 1º, conhecido como Mestre de Avis. O reinado de dom João inaugurou em Portugal a dinastia de Avis.