Quais eram as características da cidade do Rio de Janeiro antes das reformas urbanas e sanitárias?

A ocorrência dos fatos históricos pode ser compreendida de formas diferentes, segundo o interesse daqueles que a observa. Em algumas situações, os alunos não possuem a condição necessária para compreender essa possibilidade múltipla de perceber o passado. Geralmente, tal dificuldade se relaciona com a pressão exercida pelas provas e a experimentação de processos avaliativos mais conservadores, que acabam transformando o livro didático em uma fonte de conhecimento inquestionável.

Mediante o impasse, o professor pode transformar esse hábito comum oferecendo aos seus alunos a oportunidade de avaliar o passado por meio de suas fontes mais diversas. Um bom caso em que isso pode ser aplicado se dá nas discussões que levantam as transformações urbanas experimentadas na cidade do Rio de Janeiro. No começo do século XX, em plena República Velha, a antiga capital do país sofreu uma série de intervenções em seu traçado.

Antes de trabalhar os impactos trazidos por essa intervenção, exponha aos alunos uma interessante descrição em que é possível notar a situação da cidade antes das reformas. Para tanto, indicamos a fala do jornalista Luiz Edmundo, que, nos fins do século XIX, realizou a seguinte declaração sobre a capital federal na publicação “O Rio de Janeiro dos meus tempos”:

“A cidade é um monstro onde as epidemias se albergam dançando ‘sabats’ magníficos, aldeia melancólica de prédios velhos e alçapados, a descascar pelos rebocos, vielas sórdidas cheirando mal”

Em uma breve avaliação, os alunos poderão ver que o Rio de Janeiro era tomado por uma série de problemas de ordem sanitária e urbana. Sem dúvida, a necessidade de se melhorar a cidade se fazia cada vez mais urgente. Contudo, não podemos deixar de apontar que em meio a essa desordem havia diversas pessoas que habitavam estes prédios, casas e cortiços de precária situação. Por fim, fica a questão: como resolver as mazelas da cidade levando em conta a população que ocupa esses espaços?

Lançando essa questão à turma, o professor coloca seus alunos na condição de intérpretes dos eventos históricos. Antes de mostrar os demais documentos a serem trabalhados, deixe que os alunos exponham as possíveis soluções a esse impasse. Passado esse momento, coloque em evidência outros dois documentos que revelam as diferentes formas que o processo de reurbanização foi observado.

Primeiramente, mostre a seguinte notícia escrita por Olavo Bilac à Revista Kosmos em 1904:

“Há poucos dias as picaretas, entoando um hino jubiloso, iniciaram os trabalhos da construção da Avenida Central, pondo abaixo as primeiras casas condenadas”

Logo em seguida, antes de qualquer discussão, trabalhe com a seguinte informação veiculada pelo Jornal do Comércio, naquele mesmo ano:

“No Largo do Depósito, onde já chegavam as forças em seu avanço, travava-se um tremendo tiroteio. Numerosos mortos e feridos. Notabilizou-se pela sua bravura um negro de porte e musculatura de atleta – Pata Negra. Era o chefe da sedição no bairro.”

Agora, retomando as duas exposições, busque apontar aos alunos sobre como a reorganização do espaço público carioca foi interpretado de formas distintas. No depoimento de Bilac, as obras são elogiadas como uma manifestação de progresso nítido. Tomando essa única fala como referência, compreenderíamos que o processo de modernização foi benéfico e recebido de maneira positiva.

Contudo, ao focar o último relato, podemos ver que as obras envolviam o desmanche dos lares da população que ali morava. Além disso, notamos que o governo adotou um posicionamento autoritário que acabou resultando em uma situação de conflito direto. Com isso, o professor pode informar que a revolta no Largo do Depósito foi somente a primeira de várias situações de conflito.

Relacionando o trabalho com o estudo da República Velha, os alunos podem compreender que o autoritarismo e o desmando eram práticas comuns na época. Paralelamente, tentando relacionar o tema com questões presentes, o professor pode requerer um trabalho de pesquisa onde os alunos recolham notícias referentes a processos de desocupação ou movimentos populares que lutam pelo direito à moradia.

Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Modernização do Rio de Janeiro foi inspirada em Paris. A reforma ampliou ruas, construiu praças e demoliu os cortiços.

No começo do século XX, o Rio de Janeiro era a capital do país e vivia um período de transformações. A nova imagem do Rio era planejada por Pereira Passos, prefeito da cidade, que queria dar ao Brasil características mais modernas, fugindo da visão de atraso, de país escravocrata. O prefeito se inspirou em Paris para fazer as reformas urbanísticas no Rio, construindo praças, ampliando ruas e criando estruturas de saneamento básico. Entre as principais heranças da gestão Passos estão o Theatro Municipal, o Museu Nacional de Belas Artes e a Biblioteca Nacional.

Quais eram as características da cidade do Rio de Janeiro antes das reformas urbanas e sanitárias?
Reforma urbana modifica centro do Rio de Janeiro, Teatro Municipal foi uma das novidades (Foto: Reprodução)

Incentivado pelo presidente Rodrigues Alves, Pereira Passos começou as reformas em 1903. O presidente levantou os recursos e o prefeito pôde realizar as obras, a higienização ficou nas mãos do médico Oswaldo Cruz, diretor do Serviço de Saúde Pública. A reforma urbana carioca foi inspirada na reforma feita em Paris no século XIX, entre 1853 e 1870. Em sua gestão, Passos modernizou a Zona Portuária, criou a Avenida Central, hoje Rio Branco, a Avenida Beira-Mar e a Avenida Maracanã.

A reforma Pereira Passos buscou adaptar a cidade também para os automóveis. É nesse período que o Rio de Janeiro vê a chegada da energia elétrica e a reorganização do espaço urbano carioca. O prefeito proibiu ainda a atuação de ambulantes. 

Dos cortiços ao Morro da Providência: mudança representada na novela Lado a Lado
Foi nessa época que muitas favelas surgiram. Com a destruição dos cortiços, parte das pessoas foi para a periferia da cidade e a outra parte subiu o morro, formando favelas. O caso foi, inclusive, retratado na novela Lado a Lado, da Rede Globo, em que vários personagens foram forçados a deixar o cortiço e partiram para o Morro da Providência. Nos cortiços, os moradores sofriam com a falta de higiene, que causava várias doenças. A situação continuou ruim no morro, sem saneamento básico ou qualquer auxílio do governo. 

A novela apresentava também o preconceito que as pessoas que moravam nas favelas viviam, como a segregação social era presente no começo do século XX. Também é possível ver o preconceito com a cultura africana, em especial a capoeira, a prática era tratada como crime pela polícia. 

Fontes:
G1
Officina da História
Lado a Lado – Mudança no Rio de Janeiro
Lado a Lado – Morro da Providência
Arquitetônico

Quais eram as características do Rio de Janeiro antes das reformas urbanas?

As características da cidade do Rio de Janeiro antes das reformas executadas tratavam-se de ruas mais largas, maior cuidado com a limpeza e coleta do lixo na região central, bem como uma arquitetura ao estilo francês.

O que foi a reforma urbana na cidade do Rio de Janeiro?

A reforma urbana ocorrida na cidade do Rio de Janeiro no início do século XX – mais especificamente entre 1903/1906 – foi fruto de uma ação conjunta entre as esferas de poder federal e municipal, que teve como principais responsáveis políticos o presidente Francisco de Paula Rodrigues Alves e o prefeito Francisco ...

Quais reformas foram feitas na cidade do Rio de Janeiro?

Com plenos poderes dados pelo presidente Rodrigues Alves, Passos promoveu uma profunda reformulação urbana, cujos principais exemplos foram a construção da Avenida Central, a reforma do porto e a iluminação pública. Construíram-se luxuosos palacetes, praças e jardins no lugar de 600 edificações.

Quais eram os objetivos da reforma urbana do Rio de Janeiro?

Resposta verificada por especialistas. A reforma de Pereira Passos no Rio de Janeiro tinha como objetivo modernizar a cidade, acabar com os cortiços, alargar as ruas e estabelecer a higienização local, com saneamento básico e recolhimento de lixo.