Qual a importância da capoeira para o processo de identidade e resistência do povo negro?

Poucos símbolos representam tanto o Brasil quanto a capoeira. Essa mistura de dança, luta, artes marciais e música carrega a cultura do nosso país para o mundo todo. Sendo assim, é importante que os professores de Educação Física incluam essa atividade no planejamento das aulas. Destacamos abaixo alguns aspectos básicos da capoeira. Para saber mais, clique aqui e baixe gratuitamente a nossa aula digital.

História da capoeira

Nem todo mundo sabe que a capoeira nasceu durante a época da escravidão no Brasil. Pesquisas indicam que entre 3 e 5 milhões de africanos foram trazidos para trabalhar à força, principalmente na agricultura, mineração ou com serviços domésticos. A capoeira era, nessa época, uma forma de luta e resistência dos escravos. Estes, proibidos de praticar qualquer tipo de luta pelos senhores de engenho, “disfarçavam” os movimentos de combate com música e dança, criando assim a capoeira.

Origem do termo

Por ser uma expressão cultural transmitida de forma oral por muitas gerações, não se sabe ao certo a origem do termo capoeira. Duas explicações são consideradas as mais prováveis.

A primeira remete ao idioma tupi. “Ka’a” significa mata e puêra significa o que foi. Os escravos que escapavam das propriedades rurais muitas vezes se escondiam em áreas de mata rasteira, de agricultura índigena.

A segunda explicação vem de um cesto chamado de capoeira no qual os escravos transportavam mercadorias para os centros comerciais da época. Alguns historiadores acreditam que, neste trajeto, os escravos praticavam a mistura de dança e luta, que terminou apelidada com o nome do cesto.

Proibição da capoeira

Em 11 de outubro de 1890, já após a Proclamação da República, decreta-se proibida a capoeira, sob pena de prisão de dois a seis meses para os praticantes, e o dobro para os líderes da atividade. Caso o capoeirista fosse estrangeiro, seria deportado depois de cumprida a pena. Os chamados “capoeiras” eram considerados marginais.

Apenas em 1935 a capoeira sai da ilegalidade, sendo considerada posteriormente parte da Educação Física e em seguida modalidade desportiva. Em 2014, a UNESCO reconheceu a capoeira como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

A importância da música

Qualquer pessoa que já tenha assistido a uma roda de capoeira sabe a importância e a força que a música possui. Normalmente, vem acompanhada de cantos (solos ou em coro), palmas e instrumentos. Os principais são o berimbau, pandeiros e atabaque. Veja aqui como construir um berimbau com material reciclado. É este instrumento que comanda o ritmo e o tipo de capoeira que será jogado.

A música pode ser composta por pequenas estrofes e refrões rápidos, ou ter longas narrativas lentas, conhecidas como ladainha. A temática é muito variada, e pode contar histórias de capoeiristas famosos, hábitos de antigos escravos, cotidiano de pessoas humildes no Brasil… Veja abaixo um exemplo com a letra da música.

Tipos de capoeira

Apesar de existirem muitos estilos de capoeira, são dois os mais conhecidos:

Capoeira Angola: estudos indicam que o nome vem do porto de Angola, principal ponto de embarque dos escravos africanos. Para os portugueses, todos os escravos trazidos da África eram chamados de angolanos. É uma estilo mais lento, com movimentos praticados perto do solo, muito sutis. O mestre mais famoso da capoeira angola é Pastinha, que em 1941 fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola (CECA), no Largo do Pelourinho, em Salvador.

Qual a importância da capoeira para o processo de identidade e resistência do povo negro?

Capoeira Regional: este estilo foi criado pelo Mestre Bimba, originalmente com o nome “luta regional baiana”. A capoeira regional tem fortes elementos de artes marciais nos seus movimentos. É um jogo mais rápido, cheio de fundamentos próprios e ordens de aprendizado, a famosa “sequência de ensino”.

Veja um exemplo de sequência e uma imagem de Mestre Bimba abaixo.

Qual a importância da capoeira para o processo de identidade e resistência do povo negro?

Qual a importância da capoeira para o processo de identidade e resistência do povo negro?

Como ensinar na Educação Física

Existem muitas formas de ensinar a capoeira na aula de Educação Física. Em comum entre todas, está a importância de falar da história e cultura por trás deste esporte, além de garantir que os alunos façam os movimentos de forma segura.

O Impulsiona preparou um passo a passo com fotos e vídeos para ajudar os professores a introduzirem a capoeira no planejamento de aulas. No material, você também vai descobrir como construir um berimbau com materiais reciclados. Para fazer o download gratuito deste PDF, clique aqui.

Desde o s�culo XVI, milhares de africanos deixaram for�adamente o seu continente em dire��o ao Brasil para o trabalho escravo. O tr�fico negreiro provocou um dos maiores deslocamentos populacionais da hist�ria da humanidade, pois o Brasil hoje concentra a maior popula��o negra fora do continente africano. Apesar da domina��o e explora��o sobre esses sujeitos, existem marcas de sua presen�a na identidade hist�rica e cultural brasileira.

Mesmo com todas as barbaridades em que os negros foram submetidos durante o processo de escravid�o no Brasil, percebe-se que n�o abandonaram sua identidade e cultura, chegando a transmiti-la para seus descendentes e influenciando na constru��o da identidade brasileira. Mesmo sob condi��es subumanas os africanos e afro-brasileiros n�o perderam sua identidade e deixaram registradas manifesta��es culturais que s�o muito importantes para a hist�ria brasileira. Durante o processo de escravid�o, sua cultura negada e suprimida mantiveram vivas suas tradi��es chegando a reproduzir e deixar marcas e uma delas � a capoeira.

Para os africanos escravizados em nossas terras, a dan�a e a m�sica sempre tiveram uma fun��o social e religiosa. Durante esse per�odo, a popula��o negra tinha sua liberdade restrita s� podendo recorrer ao canto e � dan�a para manter viva sua cultura e identidade. Atrav�s da mistura com outros povos e culturas, estilos musicais e dan�as ricas em espontaneidade foram surgindo e penetraram tamb�m todo o interior do pa�s, uma delas � a capoeira. A capoeira � um exemplo das marcas deixadas pelos africanos no pa�s e a cultura negra faz parte de nossa hist�ria.

De acordo com Areias (1983), a capoeira foi criada em terras brasileiras por africanos, tendo, assim, uma origem afro-brasileira, por�m sua origem ainda � muito discutida. Para Rego (1968, p.31), “tudo leva a crer que seja uma inven��o dos africanos no Brasil, desenvolvida por seus descendentes afro-brasileiros, tendo em vista uma s�rie de fatores colhidos em documentos escritos”. O autor chega a essa conclus�o tendo em vista tamb�m o seu conv�vio com capoeiras que vivem na Bahia.

A import�ncia que a capoeira e o negro tiveram na constitui��o do Brasil � imensur�vel. Fizeram a hist�ria e s�o parte dela, mesmo com todos os problemas enfrentados, como mis�ria, pobreza e preconceito, e acima de tudo sem o apoio do Estado

O presente estudo intenciona analisar a influ�ncia da cultura africana na forma��o da identidade brasileira especificamente a partir da capoeira. A pesquisa busca uma discuss�o onde a identidade negra na capoeira possa ser pensada ou mesmo repensada como produto de contatos e mistura de ra�as, j� que nos dias atuais essa valoriza��o cultural est� se perdendo. A quest�o principal � identificar se a valoriza��o da influ�ncia africana a partir da capoeira � fator positivo no combate ao racismo, tendo em vista a percep��o que esses indiv�duos capoeiras t�m sobre as heran�as africanas arraigadas em seu cotidiano.

Para tanto, identificaremos a quest�o da constru��o da identidade a partir de Hall (2000) e Carvalho (2015), destacando a import�ncia da cultura para a forma��o da identidade. Ap�s, analisaremos os primeiros registros iconogr�ficos, o nascimento de uma nova tradi��o da capoeira (1930-1940) e o processo de folcloriza��o e esportiza��o (1950-1970), al�m do parecer que registrou a capoeira como patrim�nio cultural do Brasil. Relacionaremos a discuss�o de identidade e a capoeira a partir das colabora��es de Areias (1983), Rego (1968) e Sodr� (2002). Ao final, destacaremos como a capoeira � fundamental na valoriza��o do negro e de sua hist�ria em nosso pa�s.

A CAPOEIRA NA CONSTRU��O DA IDENTIDADE NEGRA NO BRASIL

Presente na hist�ria do Brasil h� muito tempo, a capoeira foi tratada de maneira secund�ria nas pesquisas por um longo per�odo, passando a figurar como objeto privilegiado de reflex�o somente nas �ltimas d�cadas, “alguns autores se debru�aram sobre a pr�tica da capoeira no s�culo XIX, focando seus estudos principalmente sobre o Rio de Janeiro, cidade que, juntamente com Salvador e Recife, era um dos cen�rios mais importantes da capoeiragem no Brasil naquele momento” Fonseca (2009, p.18). Hoje, encontramos um n�mero significativo de trabalhos, que abordam a capoeira em sua especificidade, tamb�m a relacionando com conceitos como mem�ria, tradi��o e identidade. Entre esses trabalhos, destacaremos os de Santos (2004), Fonseca (2009) e Costa (2007).

A primeira autora discute a capoeira e a constru��o da identidade �tnico cultural em Salvador/BA, refletindo-a como uma pr�tica cultural do per�odo da escravid�o do negro no Brasil, com ra�zes africanas, mas que foram reelaboradas em solo brasileiro. Apresenta-nos a capoeira como pr�tica cultural que � espa�o de educa��o, de afirma��o e constru��o da identidade. “� afirma��o, pois apesar de ser um movimento, est� ligada a heran�a cultural africana e constru��o pela forma��o da identidade no processo das contradi��es hist�ricas” (SANTOS, 2004, p. 49-50).

Santos (2004) trata em sua pesquisa da identidade �tnico cultural, considerando que a identidade produzida no grupo de capoeira parte de pressupostos �tnicos (re) elaborados historicamente em Salvador. Dessa forma, discute a pr�tica pedag�gica desses grupos e considera uma a��o transformadora, onde o objetivo �ltimo de um grupo de capoeira � formar o capoeirista, Santos (2004). Assim delimita os grupos de capoeira como espa�o educativo, onde h� sele��o de conte�dos, procedimentos metodol�gicos e avalia��o do que o indiv�duo est� aprendendo de capoeira.

A sociedade brasileira apresenta tr�s matrizes culturais: a ind�gena, a africana e a ocidental, os grupos �tnicos africanos conseguiram reelaborar sua heran�a cultural nesse quadro de tens�es, onde a escravid�o e o racismo reinavam. Dentro dessas matrizes culturais se encontram os maiores debates sobre a origem da capoeira: africana, brasileira ou ind�gena. H� autores que defendem as singularidades, e ao longo do s�culo XX foram surgindo vers�es de origem da capoeira como afro-americana e afro-brasileira. Santos (2004) compartilha da ideia de origem da capoeira afro-brasileira a partir dos argumentos de Soares (2002), onde a capoeira se estabelece enquanto uma reelabora��o de manifesta��es culturais ancestrais feitas por africanos em territ�rio brasileiro.

A capoeira passa por v�rios momentos em sua hist�ria em terra brasileira, sendo considerado um ato criminoso em 1890 e alvo de discuss�es de intelectuais no s�culo XX, quando discutem a sua pr�tica como elemento da cultura brasileira questionando as suas origens e defendendo ser um esporte nacional. A partir da� deixa de ser ilegal e passa a ser praticada inclusive pela classe m�dia, o que antes n�o acontecia, pois era vista como ambiente de marginalidade. Segundo Santos (2004, p. 48), “as contradi��es impl�citas na constru��o da hist�ria da capoeira produzem uma identidade amb�gua, a identidade do negro capoeirista que lutou e usou como resist�ncia e a do malandro, vagabundo e desocupado”. A prele��o sobre o malandro � ideol�gica, constru�da em uma vis�o preconceituosa, pois em grande maioria os capoeiristas eram trabalhadores.

O per�odo de coloniza��o do Brasil deixou marcas profundas nos negros escravizados e percebemos que ainda existem resqu�cios desse processo, como o racismo e o preconceito. Foi atrav�s de muitas lutas e resist�ncia que preservaram suas tradi��es e recriaram ou reelaboraram suas pr�ticas culturais. Por isso Santos (2004, p.49-50) fala em seu trabalho sobre constru��o/afirma��o de identidade, pois:

� constru��o por entendermos a forma��o da identidade na din�mica das contradi��es hist�ricas: se num certo momento foi preciso ir para o confronto at� mesmo f�sico, em outro foi necess�rio recuar, camuflar as pr�ticas culturais. � afirma��o porque, apesar de ser movimento, est� profundamente ligada a heran�a africana. Assim, � que trabalhamos com o bin�mio constru��o/afirma��o. Ele expressa tens�o, movimento, processo.

No in�cio do s�culo XX com o mito da democracia racial, a capoeira adquire status nacional e passa a ter uma maior aceita��o, chegando a ser autorizado pelo Estado o funcionamento da academia do Mestre Bimba, em 1937, representante da capoeira regional. A capoeira regional de Mestre Bimba se contrapunha a capoeira Angola de Mestre Pastinha, pois incorporava elementos estranhos � cultura estritamente africana, sendo um projeto mesti�o, ao contr�rio da capoeira Angola que mantinha seus elementos originais e reafirmava seus valores. Apesar das contradi��es, as duas formas influenciavam o negro em sua redefini��o social no pa�s.

Sobre os conflitos de tradi��o na capoeira, especificamente a partir das tend�ncias Angola e Regional em 1930, cabe uma an�lise do trabalho de Fonseca (2009). A mem�ria � tratada no sentido da compreens�o de como os mestres de capoeira constroem e recuperam seu passado, formando assim fronteiras identit�rias dos diversos grupos organizados, tendo em seu trabalho como principal fonte a hist�ria oral. Segundo Fonseca (2009), “por mais que praticantes e pesquisadores usualmente falem em capoeira no singular, ela se configura como um campo bastante heterog�neo, subdividida em diversos grupos e estilos”. Cada mestre traz consigo um estilo e linhagem diferente e exerce a lideran�a do seu grupo, traz consigo pr�ticas diferentes dos demais, destacando assim a pluralidade dessa arte e delimitando tamb�m as fronteiras identit�rias dos grupos em que pertencem.

Assim como Santos (2004) retrata em seu trabalho, Fonseca (2009, p.36) discute minunciosamente em seu primeiro cap�tulo os caminhos que a capoeira trilhou no Brasil, desde quando era tratada como crime e marginalizada, at� virar produto de exporta��o e atrair estrangeiros para o pa�s em busca da arte, como afirma:

Presente em mais de 150 pa�ses, a capoeira �, hoje, um produto de exporta��o, trazendo milhares de estrangeiros todos os anos para o Brasil. Oferecida em creches, escolas, academias e clubes, a capoeira aparece como uma atividade em plena expans�o na sociedade brasileira, muitas vezes colocada como diferencial e servindo de chamariz em muitos desses locais. Por�m, se atualmente � lugar comum pensar na capoeira como uma atividade amplamente praticada e bem recebida em diversos espa�os, em outros momentos hist�ricos do nosso pa�s n�o era essa a rela��o existente.

Faz parte da mem�ria dos capoeiristas o per�odo de discrimina��o e persegui��o que sofreram no Brasil e com muita luta e resist�ncia que conquistaram a posi��o atual em que se encontra. Todo o desenvolvimento e transforma��o da capoeira no pa�s gerou um interesse de grupos que disputam a mem�ria da capoeira aut�ntica, representada pelos Mestres Bimba e Pastinha, de acordo com Fonseca (2009), “somente mestres reconhecidos como detentores de um saber aut�ntico, ou seja, herdeiros de tradi��es reconhecidas enquanto leg�timas, s�o chamados a ministrar palestras pelo Brasil e pelo exterior”. Dessa forma, esses mestres difundem pr�ticas e mem�rias tipicamente brasileiras e que fazem parte da identidade do nosso povo.

A import�ncia do conceito de mem�ria no estudo da Capoeira dentro do trabalho do autor diz respeito ao caso de existir poucos registros escritos sobre a capoeira, assim a hist�ria oral � respons�vel pela transmiss�o dos saberes, pr�ticas, ritos, movimentos e m�sicas dessa arte. Fonseca realizou pesquisas e entrevistas com mestres do Rio de Janeiro para saber como eles interpretam o passado e como constroem certas mem�rias, s�o vistos dentro de seus grupos como porta-vozes e exercem um papel de lideran�a, onde suas falas e decis�es s�o legitimadas. Percebe-se nas entrevistas que mesmo alguns mestres n�o terem conclu�do seus estudos, julgam de extrema import�ncia a vida escolar e incentivam seus alunos � conclu�-los. Tamb�m nas entrevistas surge o empasse entre a Capoeira Angola e Regional, alguns deles como Mestre Vilmar 65, n�o concorda com a divis�o da capoeira, afirmando que “essa cis�o somente enfraquece a capoeira, ainda para Vilmar, a capoeira � uma s�, n�o cabendo esta divis�o j� que cada pessoa jogaria de maneira diferente, conforme um jeito muito espec�fico que ultrapassa qualquer escola” (FONSECA, 2009, p. 103-104).

Os mestres t�m tamb�m, como foi verificado, a consci�ncia da influ�ncia que exercem na vida dos seus alunos, assim fazem mem�ria da import�ncia que os seus antigos mestres tiveram para eles, como afirma a autora:

Igualmente, no momento atual, � valorizado o mestre que foi formado, que teve sua personalidade influenciada e, muitas vezes determinada, por um mestre cultuado hoje em dia. Para al�m dessas constru��es, as rela��es mestre/ disc�pulos na capoeira s�o, de fato, comumente muito estreitas. A ideia, sendo comum em praticamente todos os grupos e escolas, da capoeira como filosofia de vida, faz com que os mestres encarnem n�o s� uma pessoa experiente em rodas de capoeira e que seria especialista em golpes, t�cnicas e especificidades da pr�tica. Eles passam a ser, principalmente, pessoas que conquistaram uma sabedoria de vida diferenciada e, portanto, teriam uma grande “mal�cia” no jogo da capoeira (FONSECA, 2009, p.121).

Al�m disso, � importante que os mestres consigam congregar e tornar fieis seus alunos para que eles fa�am hist�ria dentro de seu grupo, levando seu nome para outros espa�os na sociedade. Por isso, a figura do mestre de capoeira reflete tanto respeito e s�o fundamentais para a efetiva��o de um grupo, adquirindo assim caracter�sticas pr�prias e uma identidade. Os alunos precisam ter tamb�m uma admira��o pelo seu mestre, dessa forma ele mant�m sua autoridade, o exemplo � a melhor forma de garantir essa valoriza��o dos mesmos.

Ainda que exista a pluralidade dentro da capoeira, n�o se pode retirar a import�ncia de seus praticantes para sua consolida��o no Brasil e tamb�m para se tornar uma manifesta��o cultural que ganhou espa�o inclusive internacionalmente. Criou-se dentro dessa relev�ncia, uma disputa entre os grupos para uma maior visibilidade dos mesmos, uma busca incessante pela coloca��o de capoeira aut�ntica, notada e valorizada no pa�s e no exterior.

Por Costa (2007), a capoeira j� � analisada atrav�s de uma �tica do trabalho, como uma produ��o humana e tamb�m atrav�s de sua rela��o com a educa��o, especificamente a Educa��o F�sica. Na sua rela��o com o trabalho o autor cita os estere�tipos criados no Brasil sobre as atividades desenvolvidas pelas pessoas, onde os que lidam com o intelecto e a ci�ncia s�o considerados mais importantes e as atividades relacionadas ao fazer pr�tico considerado menos importante. Por�m o autor argumenta que:

Todo trabalho � importante, pois implica, como foi mencionado, em primeira e �ltima inst�ncia, a humaniza��o dos indiv�duos. Todo trabalho � uma a��o cultural e toda a cultura � trabalho, pois ambos s�o inerentes ao Homem, que somente assim pode ser chamado, porque, ao modificar conscientemente a natureza, produzindo trabalho e cultura, se torna humano. (COSTA, 2007, p.75).

O homem, nesse contexto do trabalho e cultura, cria e recria. Assim ocorreu com os negros escravizados no Brasil, “ao mesmo tempo em que tinham sua cultura negada e suprimida, n�o perderam totalmente sua identidade, expressa na for�a de cria��o de uma das manifesta��es da cultura popular mais importante na e para a hist�ria da nossa terra – a capoeira” (COSTA, 2007, p. 76).

Durante o processo de escravid�o, os africanos trazidos ao Brasil como escravos viviam em condi��es subumanas, e mesmo com todas as repress�es deixaram suas marcas e influenciaram na forma��o do povo brasileiro. Neste contexto de explora��o de for�a de trabalho surge a capoeira, mesmo com muitas discuss�es a cerca de sua origem, se africana, ou brasileira, ou afro-brasileira, o que n�o pode � deixar que sua import�ncia seja questionada, pois faz parte da nossa cultura. No in�cio a pr�tica da capoeira era uma forma de resist�ncia �s condi��es impostas a eles, muitos anos depois pode ser considerada uma afirma��o de sua cultura.

Ap�s a aboli��o da escravid�o, muitos negros sem perspectivas de trabalho e de uma vida fora das senzalas, continuaram em seus respectivos trabalhos. Os que sa�ram foram jogados �s margens da sociedade e da� vem o estere�tipo de que a capoeira � uma atividade de marginais, vagabundos e desocupados. Por�m eles se mantiveram firmes e estabelecendo sua cultura e tentando desconstruir essas vis�es preconceituosas, principalmente em alguns Estados, como afirma Costa (2007, p.89):

No Rio de Janeiro, no Recife e na Bahia, a capoeira seguia sua hist�ria, e seus praticantes faziam a sua pr�pria. Originavam-se de v�rias partes das cidades, das �reas urbanas e rurais, das classes mais abastadas �s mais humildes, de pessoas de origem africana, afro-brasileira, europeia e brasileira, inserindo-se em v�rios setores e exercendo v�rias atividades de trabalho, profiss�es e of�cios.

No s�culo XX, como conta o autor, os mestres de capoeira passam a vender sua for�a de trabalho no campo educacional, onde ele denomina de “pedagogiza��o” da capoeira. O primeiro mestre a cobrar pelos seus ensinamentos e formar turmas organizadas, com hor�rios determinados foi Bimba, isso ap�s a cria��o da Capoeira Regional. Na d�cada de 30 abriu uma escola para o ensino de capoeira, chamada “O clube de uni�o em Apuros”, da� por diante a capoeira vem sendo ressignificada constantemente, influenciada pelas �reas de Educa��o F�sica, do esporte e outros. Sua arte foi crescendo e chamando a aten��o, atraindo assim novos olhares para a pr�tica da capoeira, vindo atualmente a ser objeto de estudo para muitos acad�micos e tendo inclusive um reconhecimento mundial.

A CONSTRU��O DA IDENTIDADE

A pesquisa intenciona analisar a influ�ncia da cultura africana na forma��o da identidade brasileira especificamente a partir da capoeira. Para tanto, identificaremos a quest�o da constru��o da identidade a partir de Hall (2000) e Carvalho (2015), destacando a import�ncia da cultura para a forma��o da identidade. O surgimento de novas identidades � acompanhado do decl�nio das velhas identidades, que por muito tempo estabilizaram o mundo social. Afinal, "a sociedade n�o �, como os soci�logos pensaram muitas vezes, um todo unificado e bem delimitado, uma totalidade, produzindo-se atrav�s de mudan�as evolucion�rias a partir de si mesmas" (Hall, 2006 p. 17). Hoje, vivemos em uma sociedade de conting�ncias. Isso significa que h� diversas formas de se relacionar, v�rias combina��es que podem ser feitas diferentes das j� feitas.

Na obra em quest�o, Hall (2006) trabalha com tr�s concep��es de identidade, sendo elas sobre o indiv�duo do Iluminismo, o indiv�duo Sociol�gico e o P�s-moderno. Ele destaca que a primeira concep��o fala sobre um indiv�duo centrado, unificado, e tipicamente cartesiano, sendo o centro de tudo, principalmente destacando a quest�o da raz�o humana; o segundo fala sobre um indiv�duo social, destacando as rela��es humanas e a forma��o da identidade a partir do di�logo do eu com o mundo exterior a mim; e o terceiro sendo o indiv�duo provis�rio, inst�vel, em constante forma��o, sendo hoje o que n�o necessariamente ser� amanh�.

Sobre o sujeito do iluminismo, destaca-se a seguinte afirma��o do autor: "O centro essencial do eu era a identidade de uma pessoa. Direi mais sobre isto em seguida, mas pode-se ver que essa era uma concep��o muito "individualista" do sujeito e de sua identidade” (Hall, 2006, p. 11).

Sobre o sujeito sociol�gico, destaca-se:

De acordo com essa vis�o, que se tornou a concep��o sociol�gica cl�ssica da quest�o, a identidade � formada na "intera��o" entre o eu e a sociedade. O sujeito ainda tem um n�cleo ou ess�ncia interior que � o "eu real", mas este � formado e modificado num di�logo cont�nuo com os mundos culturais "exteriores" e as identidades que esses mundos oferecem (...). A identidade, ent�o, costura (ou, para usar uma met�fora m�dica, "sutura") o sujeito � estrutura. Estabiliza tanto os sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam, tornando ambos reciprocamente mais unificados e prediz�veis (Hall, 2006, p.11)

No entanto, Hall destaca que o pr�prio processo de identifica��o do indiv�duo sociol�gico impulsiona a compreens�o da identidade p�s-moderna, pois a proje��o cultural tem o mundo exterior cada vez mais provis�rio, vari�vel e problem�tico. Assim, destaca sobre o sujeito p�s-moderno que esse "sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que n�o s�o unificadas ao redor de um "eu" coerente. Dentro de n�s h� identidades contradit�rias, empurrando em diferentes dire��es, de tal modo que nossas identifica��es est�o sendo continuamente deslocadas". (Hall, 2006 p.13)

A modernidade tardia gerou impactos sobre a identidade cultural, pois as sociedades modernas est�o em constante mudan�a. Com o sujeito moderno veio um individualismo diferente do que era vivido nas sociedades pr�- modernas. O Humanismo e o Iluminismo trouxeram um status diferente ao homem, onde se tem uma representa��o como o autor coloca de o “indiv�duo soberano” (Hall, 2006 p. 25). O homem passa a ser visto como agente de mudan�a, tendo suas capacidades exaltadas e se tornando figuras importantes neste processo de transforma��es. Neste sentido Hall (2006 p. 30) destaca:

Emergiu, ent�o, uma concep��o mais conceitual do sujeito. O indiv�duo passou a ser visto como mais localizado e “definido” no interior dessas grandes estruturas e forma��es sustentadoras da sociedade moderna. Dois importantes eventos contribu�ram para articular um conjunto mais amplo de fundamentos conceptuais para o sujeito moderno. O primeiro foi a biologia darwiniana. O sujeito humano foi “biologizado” – a raz�o tinha uma base na Natureza e a mente um “fundamento” no desenvolvimento f�sico do c�rebro humano. O segundo evento foi o surgimento das Ci�ncias Sociais.

A identidade, assim como a cultura est� sempre em processo de forma��o, dessa forma pode-se afirmar que “a identidade � realmente algo formado, ao longo do tempo, atrav�s de processos inconscientes, e n�o algo inato, existente na consci�ncia no momento do nascimento” (Hall, 2006 p. 38). Ou seja, deve-se falar de um processo de identifica��o n�o como algo acabado, mas em andamento, pois h� uma busca constante em preencher o que ainda n�o est� completo e inteiro em n�s buscando elementos do nosso exterior. Existe a tentativa de se criar mundos est�veis, mas sempre existem significados que s�o exteriores e que n�o temos controle sobre eles, assim subverter�o nossas tentativas.

A cultura sempre esteve como objeto de debate, por�m no s�culo XX vem a ser mais referenciada, as Ci�ncias Humanas e Sociais reconhecem h� tempos a sua import�ncia. Para as Ci�ncias Humanas no estudo das artes, das linguagens, das ideias filos�ficas, nas Ci�ncias Sociais, para a Sociologia em especial, pois � fator diferencial na “a��o social”. Segundo Hall (1997), toda a��o social � “cultural”, e todas as pr�ticas sociais expressam ou comunicam um significado e, neste sentido, s�o pr�ticas de significa��o.

Uma “revolu��o cultural” vem acontecendo na sociedade moderna, onde a revolu��o da informa��o e o interc�mbio de culturas favorecem as trocas de informa��o, conhecimento e ideias. No s�culo XX, a ind�stria cultural � mediadora de muitos processos dessa tal revolu��o. Os produtos que circulam fazem parte de um mercado global, onde um grande contingente de pessoas tem acesso. Por�m esses produtos dispon�veis por essa revolu��o n�o podem ser equiparados a conquistas de outros momentos hist�ricos, como o Renascimento italiano, por exemplo.

Devido a essas transforma��es h� uma tend�ncia de homogeneizar a cultura, tornando assim o mundo um lugar �nico, onde n�o haveria caracter�sticas pr�prias de grupos sociais que seriam assim distintos. Por�m Hall (1997, p.03) ressalta que “as consequ�ncias desta revolu��o cultural global n�o s�o nem t�o uniformes nem t�o f�ceis de ser previstas da forma como sugerem os homogeneizadores mais extremados”. O autor salienta que existem pontos negativos desse processo, como a exporta��o cultural do ocidente que � bem mais desenvolvido do ponto de vista tecnol�gico, interferindo na defini��o do modo de vida das outras na��es.

A cultura necessita da diferen�a, assim todas as transforma��es da revolu��o cultural acarretar�o em uma ressignifica��o e em novas identifica��es, n�o necessariamente em uma cultura homog�nea.

O resultado do mix cultural, ou sincretismo, atravessando velhas fronteiras, pode n�o ser a oblitera��o do velho pelo novo, mas a cria��o de algumas alternativas h�bridas, sintetizando elementos de ambas, mas n�o redut�veis a nenhuma delas — como ocorre crescentemente nas sociedades multiculturais, culturalmente diversificadas, criadas pelas grandes migra��es decorrentes de guerras, mis�ria e das dificuldades econ�mica do final do s�c. XX. (HALL, 1997 p. 03)

A revolu��o cultural gerou mudan�as globais, inclusive em forma de resist�ncia, como � o caso do fundamentalismo isl�mico no Oriente M�dio, por�m atingiu tamb�m o que o autor denomina de microcosmo, ou seja, a vida cotidiana das pessoas. O trabalho sempre fez parte do ser humano e percebe-se transforma��es consider�veis nesse campo, como exemplifica Hall (1997, p. 04), “o decl�nio do trabalho na ind�stria e o crescimento dos servi�os e outros tipos de ocupa��o, com seus diversos estilos de vida, motiva��es, ciclos vitais, ritmos, riscos e recompensas”. Essas transforma��es variam de um espa�o geogr�fico para outro, mas n�o deixa de existir, s�o perpassadas pela quantidade de informa��o que recebemos e assim geram ressignifica��es nas diversas culturas, afinal a cultura est� em tudo.

A express�o “centralidade da cultura” indica aqui a forma como a cultura penetra em cada recanto da vida social contempor�nea, fazendo proliferar ambientes secund�rios, mediando tudo. A cultura est� presente nas vozes e imagens incorp�reas que nos interpelam das telas, nos postos de gasolina. Ela � um elemento chave no modo como o meio ambiente dom�stico � atrelado, pelo consumo, �s tend�ncias e modas mundiais (Hall, 1997, p. 05).

A cultura n�o � algo secund�rio, mas sim fundamental, inclusive interfere na identidade e na subjetividade das pessoas. A identidade � formada culturalmente, Hall (1997, p.08) salienta que “a identidade emerge, n�o tanto de um centro interior, de um eu verdadeiro e �nico, mas do di�logo entre os conceitos e defini��es que s�o representados para n�s pelos discursos de uma cultura”. Dessa forma s� � poss�vel pensar as identidades sociais atrav�s da cultura.

Elas s�o o resultado de um processo de identifica��o que permite que nos posicionemos no interior das defini��es que os discursos culturais (exteriores) fornecem ou que nos subjetivemos (dentro deles). Nossas chamadas subjetividades s�o, ent�o, produzidas parcialmente de modo discursivo e dial�gico. Portanto, � f�cil perceber porque nossa compreens�o de todo este processo teve que ser completamente reconstru�da pelo nosso interesse na cultura; e por que � cada vez mais dif�cil manter a tradicional distin��o entre interior e exterior, entre o social e o ps�quico, quando a cultura interv�m.

Os aspectos epistemol�gicos s�o analisados na obra em quest�o e denominado “virada cultural”, onde um novo olhar sobre a cultura � desenvolvido, especificamente no que se refere a linguagem. Hall (1997, p. 10) destaca que “a virada cultural est� intimamente ligada a esta nova atitude em rela��o � linguagem, pois a cultura n�o � nada mais do que a soma de diferentes sistemas de classifica��o e diferentes forma��es discursivas aos quais a l�ngua recorre a fim de dar significado �s coisas”. Portanto esse termo est� ligado � produ��o do conhecimento, j� que pela linguagem e as representa��es que novas pr�ticas v�o surgindo e sendo colocadas em funcionamento.

A “virada cultural” provocou mudan�as nas disciplinas tradicionais das Ci�ncias Sociais, colocando-a de forma mais ampla em institui��es e pr�ticas que se forem analisadas tradicionalmente n�o fazem parte do que o autor chama de “esfera cultural”. Assim, Hall (1997) argumenta que toda pr�tica social tem sua dimens�o cultural, mesmo as pr�ticas econ�micas ou pol�ticas, pois possuem seus significados e est�o “dentro do discurso”. Dessa forma, “toda pr�tica social tem condi��es culturais ou discursivas de exist�ncia”. (Hall, 1997 p. 14)

Analisando v�rios aspectos culturais o autor chega ao embate cultura e poder, devido � dimens�o que os debates sobre a cultura chegaram � que surge a interrogativa de quem regula as pr�ticas culturais. Hall (1997, p. 15) coloca que “a cultura e a mudan�a cultural s�o determinadas pela economia, pelo mercado, pelo Estado, pelo poder pol�tico ou social, no sentido forte da palavra (isto �, a forma da cultura � determinada por for�as externas � cultura — econ�micas ou pol�ticas)”. � importante analisar quem est� por tr�s da regula��o da cultura porque ela interfere efetivamente na vida do homem, assim o senso cr�tico precisa ser colocado em pr�tica para analisar esse jogo de poder que influenciam as pr�ticas culturais da sociedade.

Carvalho (2015) trabalha o conceito de identidade partindo da defini��o da palavra, que, portanto seria algo imut�vel, pr�prio, algo sempre id�ntico. Aborda tamb�m o conceito de individual e coletivo, acreditando n�o ser poss�vel separar identidade individual e coletiva, pertencemos a grupos com caracter�sticas e tradi��es com prot�tipo de identidade coletiva, dessa forma, h� influ�ncia na forma��o da nossa identidade individual, da nossa personalidade. Por�m, “at� mesmo as identidades nacional, �tnica, racial, familiar, de classe ou g�nero, por mais dadas e “naturais” que pare�am, podem, no extremo, ser renegadas ou substitu�das em virtude das experi�ncias, op��es e escolhas de cada indiv�duo ao longo de sua trajet�ria de vida em sociedade”. (Carvalho, 2015 p. 05)

O desejo de perman�ncia est� ligado ao conceito de identidade, da� surgem as crises de identidade. Fatores externos podem abalar, amea�ar esse desejo de perman�ncia, podendo surgir assim o essencialismo identit�rio, que Carvalho (2015, p. 07) define “por fixar ou congelar a identidade em alguma qualidade do indiv�duo ou grupo, tomada como uma ess�ncia, de car�ter imut�vel e autorreferencial. � a manifesta��o mais extrema do desejo de perman�ncia”. Dessa forma, pode existir um essencialismo de car�ter hist�rico, caracterizado por um passado comum, congelado, e biol�gico, onde o conceito de identidade se apoia em crit�rios raciais, sexuais etc.

O essencialismo identit�rio ao fixar valores essenciais � indiv�duos ou grupos pode provocar diversos tipos de racismo. Carvalho (2015, p. 08) afirma que “o racismo e o fundamentalismo s�o filhos diretos dos essencialismos identit�rios”. Os estudiosos sobre identidade tendem a negar o essencialismo por se caracterizar em uma estagna��o da identidade, impossibilitando se encontrar uma verdadeira identidade, preferem caracterizar a identidade como um processo em constru��o e n�o algo r�gido e absoluto.

As identidades culturais n�o s�o r�gidas nem, muito menos, imut�veis. S�o resultados sempre transit�rios e fugazes de processos de identifica��o. Mesmo as identidades aparentemente mais s�lidas, como a de mulher, homem, pa�s africano, pa�s latino-americano ou pa�s europeu, escondem negocia��es de sentido, jogos de polissemia, choques de temporalidades em constante processo de transforma��o, respons�veis em �ltima inst�ncia pela sucess�o de configura��es hermen�uticas que de �poca para �poca d�o corpo e vida a tais identidades. Identidades s�o, pois, identifica��es em curso. (SANTOS, 2003, p. 135 apud CARVALHO, 2015, p.09).

Os processos de forma��o de identidade “s�o fruto, na falta de outra express�o, de uma rela��o dial�tica entre perman�ncia e mudan�a” (Carvalho, 2015, p. 10). Dessa forma, um tende a estabilizar e outro a desestabilizar a identidade. Existe tamb�m a alternativa de haver uma perman�ncia no processo de mudan�a, um n�cleo est�vel, o que o autor denomina de “marcador-mestre”, podendo ser a cor, a etnia, a cultura, etc.

Dentro do conceito de identidade tamb�m encontramos a diferen�a, chamada nesse contexto de alteridade, que seria ent�o a qualidade do outro, do que � diferente de n�s. Carvalho (2015, p. 12) define que “� o que ocorre quando afirmamos algo do tipo sou brasileiro, branco, conservador, cat�lico e homem, enquanto ela � argentina, negra, progressista, evang�lica e mulher. Entretanto, por detr�s de toda afirma��o (o que sou) encontra-se invariavelmente uma nega��o ou diferencia��o (o que n�o sou)”. Nesses processos de identifica��o e diferencia��o, sempre h� compara��es entre caracter�sticas pr�prias e alheias, refor�ando a rela��o entre identidade e alteridade.

Carvalho (2015) se refere � caracter�stica das identidades, propriamente da identidade cultural como constru��o, mesmo com a presen�a do essencialismo identit�rio:

Mesmo a perspectiva do essencialismo identit�rio – que tende a conceber a identidade com algo dado, acabado, fixo, natural, pr�-determinado – � questionada, nesse aspecto, mediante o argumento de que todo essencialismo seria ele pr�prio uma constru��o sociocultural, edificado dentro das rela��es sociais e n�o antes ou fora delas. Nesse sentido, ressaltar a identidade como constru��o � colocar em relevo seu contexto ou car�ter processual, hist�rico e social; � destacar tamb�m os atores-sujeitos que as constroem, que as criam e recriam continuamente – da� serem sempre provis�rias e contingentes –, conforme seus objetivos, expectativas, fantasias, necessidades, receios e temores. (CARVALHO, 2015, p. 15)

O autor em quest�o destaca sobre a identidade negra, abrangendo a quest�o de qual seria a matriz determinante na constru��o dessa identidade, devido a pluralidade cultural existente nesse processo. Nesse sentido conclui que “quer se trate de identidade negra, identidade racial, identidade �tnica, identidade �tnico-racial, identidade afro-brasileira ou identidade nacional, n�o importa, todas elas tendem a compartilhar certas caracter�sticas comuns que caracterizam as identidades” (Carvalho, 2015, p. 34).

A CAPOEIRA NO BRASIL

Compreendendo a identidade como algo em constante constru��o, analisaremos os primeiros registros iconogr�ficos, o nascimento de uma nova tradi��o da capoeira (1930-1940) e o processo de folcloriza��o e esportiza��o (1950-1970), al�m do parecer que registrou a capoeira como patrim�nio cultural do Brasil. J� ressaltamos que no per�odo da Primeira Rep�blica a capoeira era considerada crime, por�m no momento hist�rico brasileiro denominado Era Vargas (1930-1945) h� a inclus�o da capoeira nos curr�culos escolares e tamb�m uma ressignifica��o da mesma. Segundo Costa (2007, p. 61) � uma “�poca determinante do envolvimento da capoeira com a formula��o de uma nova concep��o de corpo, de atividade f�sica e de Homem, para a nossa sociedade”.

No in�cio da d�cada de 1940 a capoeira foi sistematizada como gin�stica e o respons�vel por esse projeto � Inezil Penna Marinho, com a colabora��o de outros professores e de Ant�nio Batista Pinto (Mestre Zulu). De acordo com Costa (2007), nessa ocasi�o surgem no Rio de Janeiro v�rias obras que tentam desvincular a imagem da capoeira com o universo marginal. Em outros estados, como na Bahia isso tamb�m ocorre, onde “o desenvolvimento dessas a��es tem como ponto de partida os anos de 1938 a 1942, com a �nfase e o incentivo �s atividades f�sicas do ent�o governador Landulfo Alves de Almeida” (Costa, 2007, p. 68). Entretanto, na Bahia, s�o os pr�prios profissionais e ligados a capoeira que s�o os autores dessas modifica��es, e � no estado baiano que a tentativa de criar uma gin�stica nacional ganha for�a, influenciados por Mestre Bimba e sua Luta Regional Bahiana.

No entanto, a capoeira ainda era proibida por lei. Somente em 1941 libera-se a pr�tica da capoeira, mas com controle do Estado e em lugares determinados. Esse foi um ato interessante para o governo naquele contexto hist�rico. Costa (2007, p. 69) ressalta:

A revolu��o de 1930, que tinha � frente Get�lio Vargas, tomou como miss�o a reorganiza��o do pa�s, embora, para isso, precisava de apoio popular. Por isso, seu governo resolve libertar as v�lvulas de escape do povo discriminado e sofrido, ou seja, suas manifesta��es, ao mesmo tempo em que exerce certo controle da situa��o, estabelecendo regras e normas a serem cumpridas para a sua realiza��o.

A capoeira, assim, poderia ser praticada, mas desvinculada de atos considerados marginais. Poderia tamb�m ser apresentada em festas populares e folcl�ricas, como luta somente em ambientes fechados e por pessoas “de bem”, e assim se tornara esporte nacional. Mestre Bimba se apresenta em 1953 para Get�lio Vargas, ent�o Presidente da Rep�blica e ele na ocasi�o ressalta a capoeira como sendo “o �nico esporte verdadeiramente nacional” (Costa, 2007, p. 71). As inova��es da Regional ressignificavam a capoeira e se adequavam as imposi��es do Estado Novo:

Al�m do envolvimento da capoeira como um todo, compreendemos que mais precisamente a Regional foi atingida em cheio, porque, nessa �poca, Mestre Bimba e essas modifica��es se constitu�ram no centro das aten��es. Mas se faz importante destacar que a Capoeira Angola tamb�m sucumbiu, embora de forma diferenciada, aos constantes processos da dial�tica cultural.

Reis (1997 apud Costa 2007) “acredita que tanto a Regional de Bimba quanto a Angola de Pastinha foram ressignificadas a partir do que ela chama de movimento de transforma��o da capoeira em esporte branco, a partir do projeto da gin�stica brasileira”. � importante salientar tamb�m que a Educa��o F�sica esteve influenciando a capoeira desde as pr�ticas ligadas �s for�as armadas, que dominavam os m�todos de gin�stica. Por�m, o mestre Bimba decide que a capoeira n�o necessitava desses m�todos e retoma as aulas, atrav�s da pr�pria Capoeira.

Contudo, posteriormente, podemos perceber que outros mestres da mesma �poca de Bimba, j� no final da d�cada de 60, utilizavam m�todos gin�sticos para ministrarem suas aulas de capoeira e descobrimos tamb�m que as aulas de Bimba, mais uma vez, foram envolvidas indiretamente por esses m�todos. Realmente, a Capoeira Regional foi influenciada pela sociedade da �poca, atrav�s dos m�todos de gin�stica, e Mestre Bimba, mesmo n�o concordando, acabou de um modo ou de outro, permitindo essa interfer�ncia, embora esse procedimento retarde a aula propriamente de capoeira. (COSTA, 2007, p. 73)

Em 1941 Mestre Pastinha legaliza a sua escola de capoeira. Ele a chama de Centro Esportivo e deixa claro que atrav�s de sua capoeira denominada Angola, manteria uma tradi��o aut�ntica, enquanto esporte. Segundo ele, o angoleiro deveria “conhecer o ritual, saber brincar e ser malicioso muito mais do que ter uma simples efici�ncia marcial dos golpes” (Fonseca, 2009, p. 66). Diferenciava-se assim da Regional que, para ele, era puramente marcial.

No Brasil entre 1930 e 1940 surge intelectuais com interesses em pesquisas sobre as manifesta��es culturais, entre eles Jorge Amado, Gilberto Freyre e �dison Carneiro. H� assim uma nova vis�o em rela��o a cultura afro-brasileira, onde s�o mais discutidas em Congressos, nas universidades e em todo �mbito social, inclusive �dison Carneiro foi um dos que organizaram o II Congresso Afro-Brasileiro em 1937. Esses acontecimentos eram importantes para o povo negro, era uma forma de protestar e reivindicar em favor de suas manifesta��es culturais, nesse per�odo a visibilidade na imprensa ganha uma dimens�o maior tamb�m, pode-se afirmar isso pela grande quantidade de dados encontrados no momento.

No Brasil, houve um processo de reordenamento das pr�ticas de capoeira nas d�cadas de 1950 e 1960. Nesse per�odo in�meros capoeiristas baianos se deslocam para o sudeste, principalmente para S�o Paulo de Rio de Janeiro. “Essa migra��o resultou em uma mistura de estilos de jogo, originando o que tem se convencionado chamar de Capoeira Contempor�nea” (Fonseca, 2009, p. 73), sendo uma mistura das capoeiras Angola e Regional, com as capoeiras jogadas em S�o Paulo e Rio de Janeiro, denominadas capoeira de rua. A capoeira esporte, debatida no in�cio do s�culo XX, tem seu auge em 1960 e 1970, modificando as rela��es no seu interior. Foi um per�odo importante para seus praticantes que procuravam uma afirma��o social e tamb�m legitim�-la no sudeste brasileiro.

Nas d�cadas de 1960 e 1970 surge a proposta de criar uma capoeira de padr�o �nico, procuraram dar �nfase a Capoeira esporte, e enquadrar o capoeirista como atleta. Relacionando esse fato como o momento hist�rico brasileiro, encontramos a liga��o com o regime militar, vigente de 1964 a 1985. “Os militares procuravam valorizar as escolas de capoeira que buscavam se organizar dentro de padr�es esportivos, como por exemplo, fazendo uso de uniformes e organizando campeonatos” (Fonseca, 2009, p. 80). Em 1972, a capoeira foi reconhecida como esporte, em uma portaria expedida pelo MEC.

O objetivo da Cole��o Dossi�s dos Bens Culturais Registrados (Brasil, 2008) � tornar conhecidos e reconhecidos, como Patrim�nio Cultural Brasileiro, os bens registrados de car�ter imaterial. O 12� volume dessa cole��o diz respeito �s caracter�sticas das Rodas de Capoeira e o Of�cio dos Mestres de Capoeira, ressaltando essa manifesta��o cultural em territ�rio nacional. A arte da capoeira e tamb�m a sabedoria dos seus mestres s�o patrim�nios vivos e s�o passados de gera��o em gera��o, por�m mesmo com reconhecimento inclusive internacional, os mestres enfrentam dificuldades e at� mesmo o esquecimento.

O dossi� tem o intuito de justificar a import�ncia da capoeira como patrim�nio cultural do Brasil e assim possui tr�s linhas fundamentais: a pesquisa historiogr�fica, o trabalho de campo e a abordagem de temas relacionados � capoeira. O trabalho procura discutir o hist�rico da capoeira e descrever sua pr�tica e suas particularidades, a Roda de Capoeira e o Of�cio dos Mestres de Capoeira foram reconhecidos como patrim�nio cultural brasileiro por meio da inscri��o no Livro de Registro das Formas de Express�o e no Livro de Registro dos Saberes, volume primeiro, respectivamente, do Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional, em 21 de outubro de 2008, conforme decis�o proferida na 57� Reuni�o do Conselho Consultivo do Patrim�nio Cultural, realizada no dia 15 de julho de 2008 (Brasil, 2008, p. 17).

A capoeira � uma manifesta��o cultural que tem caracter�stica de multiplicidade, envolve luta, dan�a e jogo. “Dessa forma, mant�m liga��es com pr�ticas de sociedades tradicionais, nas quais n�o havia a separa��o das habilidades nas suas celebra��es, caracter�stica inerente � sociedade moderna” (Brasil, 2008, p. 19). Os seus praticantes tem prioridades diferentes, alguns com interesse cultural, outros esportivos. Mas mesmo assim a diversidade n�o � deixada de lado. Devido a essa diversidade que � dif�cil delimitar as origens da capoeira em aspectos geogr�ficos, culturais e tamb�m etimol�gicos.

A capoeira est� presente como uma manifesta��o cultural importante at� hoje, devido ao aprendizado repassado pelos mestres de gera��o em gera��o. Vale ressaltar que nesse longo processo ela se modificou, incorporou novas caracter�sticas e se ressignificou tamb�m. Atualmente est� presente em v�rios segmentos em nossa sociedade, abrangendo espa�os antes n�o alcan�ados. O Parecer do Iphan reconhece como patrim�nio imaterial brasileiro, devido a sua import�ncia para a constru��o da identidade do nosso povo, seu hist�rico afirma o seu valor para nossa cultura e h� a necessidade de reconhecimento oficial da import�ncia da capoeira pelo Estado Brasileiro.

ALGUMAS CONSIDERA��ES: A CULTURA AFRICANA NA FORMA��O DA IDENTIDADE BRASILEIRA ATRAV�S DA CAPOEIRA

Ap�s identificarmos a quest�o da constru��o da identidade, destacando a import�ncia da cultura para a forma��o da identidade, analisando tamb�m os primeiros registros iconogr�ficos, o nascimento de uma nova tradi��o da capoeira (1930-1940) e o processo de folcloriza��o e esportiza��o (1950-1970), al�m do parecer que registrou a capoeira como patrim�nio cultural do Brasil, temos subs�dios necess�rios para relacionarmos a discuss�o de identidade e a capoeira a partir das colabora��es de Areias (1983), Rego (1968) e Sodr� (2002), procurando destacar como a capoeira � fundamental na valoriza��o do negro e de sua hist�ria em nosso pa�s.

A condi��o de mercadoria em que os negros foram submetidos durante o processo de escravid�o n�o foi suficiente para apagar da mem�ria sua cultura e dessa forma reafirmaram sua identidade diante de tantas atrocidades em que eram subjugados. Sodr� (2002, p.153) afirmou que o escravo passava pelo processo de transforma��o e apropria��o cultural, ao se colocar em um novo espa�o (terra), criando novas formas de identifica��o e pertencimento, por meio de rela��es hist�ricas e sociais vivenciadas em “outro” contexto. “O carnaval, o futebol, as festas religiosas, foram jogos que os negros tomaram aos portugueses para constituir lugares de identidade e transa��o social”.

No fosso da escravid�o encontramos os primeiros passos da capoeira no Brasil, vista como luta/dan�a, viveu um processo hist�rico marcado por in�meras persegui��es, gerando assim grandes embates na busca pela liberta��o de um povo que muito sofreu com o regime da escravid�o (Areias, 1984), criando a capoeira para dar um significado � produ��o dos sentidos do negro. Percebe-se que mesmo com todo esse hist�rico a capoeira influenciou na forma��o da identidade do povo brasileiro, por um per�odo foi vista como uma manifesta��o cultural de marginais, mas a duras penas afirmou sua tradi��o e conquistou seu espa�o, inclusive internacional. A valoriza��o da influ�ncia africana a partir da capoeira � fator positivo no combate ao racismo, pois os capoeiras t�m consci�ncia sobre as heran�as africanas arraigadas em seu cotidiano.

As manifesta��es culturais negras, principalmente no que se trata da capoeira, at� ent�o negadas e perseguidas, passam a ser incorporadas como contribui��o para a cultura brasileira a partir do s�culo XX. Deixam assim de fazer parte de um grupo �tnico espec�fico e de espa�os delimitados para fazer parte do patrim�nio cultural brasileiro e se espalhar pelos cinco continentes. Dessa forma tem influenciado no combate ao racismo, que ainda existe muito em nossa sociedade, mas j� houve v�rias conquistas no que diz respeito � valoriza��o da cultura afro-brasileira, um exemplo � o reconhecimento da capoeira como integrante da cultura brasileira.

De acordo com Rego (1968), levando em considera��o fatores colhidos em documentos escritos, di�logos e conv�vio com antigos capoeiras, tudo leva a crer que a capoeira seja uma inven��o dos negros africanos no Brasil. Analisando tamb�m as circunst�ncias do surgimento da capoeira, Areias (1984, p. 156) afirma que os negros, por n�o possu�rem armas suficientes para se defender, quase nem mesmo armas convencionais da �poca, precisaram adquirir uma forma de enfrentar as armas inimigas assim “utilizando se das estruturas das manifesta��es culturais trazidas da �frica como brincadeiras, competi��es, etc. que l� praticavam em momentos cerimoniais e ritual�sticos (…) os negros criam e praticam uma luta de autodefesa para enfrentar o inimigo”.

Independente de sua origem a capoeira ocupa uma posi��o de grande import�ncia nas sociedades contempor�neas, atrav�s de suas atividades permite a constru��o de identidades coletivas e identidades nacionais al�m do processo de socializa��o de grupos sociais. Compreendendo identidade enquanto um processo de identifica��o em curso, submetido a todas as conting�ncias da contemporaneidade, a capoeira no Brasil pode ser pensada e repensada como produto de contatos e mistura de ra�as, constituinte da identidade dos negros e, portanto, fundamental no fortalecimento da cultura africana em par�metro nacional, regional e local, j� que nos dias atuais essa valoriza��o cultural est� se perdendo e precisa se estabelecer nessas atividades que s�o muito al�m do que um esporte.

Qual é a importância da capoeira para os negros?

A capoeira foi declarada patrimônio imaterial da humanidade em 2014 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Ela representa a resistência dos escravos à bruta violência a que eram submetidos em tempos coloniais e imperiais no Brasil.

Qual é a relação da capoeira com a resistência dos negros?

A capoeira surge no Brasil por meio dos negros escravizados trazidos da África como um mecanismo de luta e resistência. Muito utilizada no embate direto com capatazes, capitães do mato e feitores, tanto em momentos de negação aos castigos, quanto para momentos de fuga, ela foi essencial na defesa militar dos quilombos.

Qual a importância da capoeira para a formação da identidade do povo brasileiro?

De acordo com a Unesco, a capoeira é símbolo da resistência negra no período da escravidão, e seu reconhecimento reforça a relevância de uma das manifestações populares mais expressivas da cultura brasileira e valoriza a influência da herança africana na nossa cultura.

Por que a capoeira foi uma forma de resistência?

A capoeira foi declarada patrimônio imaterial da humanidade em 2014 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Ela representa a resistência dos escravos à bruta violência a que eram submetidos em tempos coloniais e imperiais no Brasil.