Qual a importância do gás natural da Bolívia para o Brasil?

e&e No 51

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Textos para Discuss�o:

O G�s Natural na Bol�via: Riscos e Oportunidades

Petr�leo no Brasil  

Artigo:

Balan�o de Carbono: A Contabilidade das Emiss�es nas Metodologias �Top-Down� Estendida (�Top-Bottom�) e �Bottom-Up�

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Qual a importância do gás natural da Bolívia para o Brasil?

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Texto para Discuss�o:

O G�s Natural na Bol�via: Riscos e Oportunidades

Carlos Feu Alvim

 e Jos� Israel Vargas

Introdu��o

A recente crise institucional da Bol�via que culminou com a ren�ncia do segundo presidente em dois anos, e gerou mudan�as institucionais na �rea de petr�leo e g�s (que supostamente a originaram) reavivou os receios do Brasil quanto � confiabilidade do abastecimento de g�s natural daquele pa�s.

Eletricidade e g�s natural (GN) guardam entre si algumas semelhan�as: S�o dif�ceis de armazenar e necessitam de uma conex�o estreita entre o produtor e o consumidor final. S�o, al�m disso, energ�ticos praticamente limpos, de uso cada vez mais adequado ao consumo urbano.

Contrariamente a estes insumos, todos os outros l�quidos (como petr�leo e derivados) ou s�lidos (como carv�o mineral) s�o pass�veis de transporte armazenamento relativamente f�ceis.[1]

Esta liga��o umbilical entre produtor e consumidor cria inevit�vel depend�ncia que pode provocar a supera��o de receios m�tuos[2].

Tal comportamento tem sido confirmado pela experi�ncia internacional. Exemplo not�vel desta �estabilidade� foi revelado pelo fornecimento de energia da Central de Cahora Bassa em Mo�ambique. Durante os anos em que existiram, neste pa�s, um regime comunista e de predomin�ncia negra e, na �frica do Sul, o seu inimigo visceral capitalista, branco e racista o abastecimento el�trico n�o foi interrompido por raz�es pol�ticas. Outros exemplos s�o as liga��es de g�s natural estabelecidas entre a antiga Uni�o Sovi�tica e a Europa Ocidental a despeito da guerra fria e entre a L�bia de Kadafi e a It�lia, participe da atual Uni�o Europ�ia.

O pr�prio fornecimento de g�s natural da Bol�via para a Argentina se deu sem maiores percal�os durante duas d�cadas. Mesmo ap�s haver a Argentina se tornado auto-suficiente em g�s natural e seu contrato de importa��o ter sido encerrado em 1992, continuou havendo a compra do g�s boliviano por este pa�s at� que o Brasil pudesse absorver o excedente. Esperava-se, inclusive, que a revers�o de fluxo no gasoduto propiciasse ao Brasil a importa��o do g�s argentino via Bol�via. Deve-se lembrar, no entanto, que havia interesse dos organismos financeiros internacionais para que fosse preservado o que se considerava constituir �a maior fonte de receita legal da Bol�via�. Ademais, o interesse dos EUA em que fosse assegurada � Bol�via receita do g�s era uma garantia para a obten��o de financiamentos para o empreendimento.

O G�s Natural da Bol�via

A efetiva��o do Acordo que possibilitou � Petrobr�s importar g�s da Bol�via provocou, na ocasi�o, aceso debate na empresa. A oposi��o ao acordo era expressa atrav�s da AEPET (Associa��o de Engenheiros da Petrobr�s) cujas principais alega��es foram: a Bol�via n�o teria reservas de g�s provadas; o Brasil teria muito g�s a descobrir e, finalmente, a Bol�via n�o seria confi�vel. Um grupo t�cnico dentro da empresa[3], coordenado por Jos� Fantine (na ocasi�o Superintendente de Planejamento) estudou todos os aspectos t�cnicos e estrat�gicos do assunto. Segundo este engenheiro, foi obtida a aprova��o dos gerentes de primeira linha e da diretoria sem nenhuma press�o indevida. A oposi��o da AEPET apresentava ainda aspectos pol�ticos e ideol�gicos relacionados com o eventual rompimento do monop�lio interno de petr�leo j� que a futura companhia exploradora do gasoduto teria obrigatoriamente participa��o de s�cios estrangeiros. A entrada da Petrobras na explora��o (que levou a descobertas de grande vulto) e conseq�ente produ��o na Bol�via foi uma a��o posterior em fun��o da privatiza��o do setor ali ocorrida. Assim, passaram a existir dois neg�cios de vulto: a produ��o de g�s (que agora sofre nova nacionaliza��o e taxa��o) e a importa��o do g�s.

Os acontecimentos recentes na Bol�via j� tiveram reflexo na confian�a em futuros projetos o que estaria motivando a Petrobr�s a rever o projeto do gasoduto do nordeste (Gasene) bem como outros investimentos em termel�tricas e em instala��es industriais. A experi�ncia hist�rica faz esperar, no entanto, que a m�dio e longo prazos as dificuldades geradas pela atual situa��o pol�tica boliviana sejam superadas. Por outro lado, a avalia��o da Petrobr�s parece ser de que a taxa��o boliviana n�o elimina a rentabilidade do empreendimento j� realizado naquele pa�s e o volume de g�s j� inventariado garantiria o abastecimento pelo tempo necess�rio para amortizar os investimentos j� realizados.

 Pesaria na decis�o do novo governo da Bol�via, a ser eleito ainda em 2005, o fato do g�s natural ser (dados de 2004) respons�vel por 29% do valor das exporta��es da Bol�via. A eleva��o do pre�o corrente do petr�leo e do g�s natural no mercado internacional e o aumento na produ��o boliviana de g�s devem elevar a import�ncia relativa desta receita. A hip�tese de um governo constitu�do na Bol�via interromper o abastecimento para o Brasil �, pois, considerada pouco prov�vel. Por outro lado, um governo mais est�vel tender� tamb�m a encontrar uma solu��o em que o pre�o acertado n�o desestimule a demanda e logo os investimentos futuros.

Vale lembrar que nas condi��es mais adversas existem riscos inerentes ao sistema de transporte usual (gasoduto), seja resultante de causas naturais e t�cnicas ou de atos de sabotagem. Com efeito, a defesa de uma instala��o que se estende por milhares de quil�metros (557km na Bol�via) contra atos de guerra � virtualmente invi�vel.

Embora a hip�tese pare�a pouco prov�vel nem tenha havido amea�a real ao abastecimento nos acontecimentos recentes[4], torna-se indispens�vel uma an�lise da vulnerabilidade do Brasil frente � redu��o ou � interrup��o do abastecimento de g�s boliviano, tanto para prevenir suas eventuais conseq��ncias como para orientar o pr�prio planejamento energ�tico.

G�s Natural na Am�rica do Sul e Central e a Disponibilidade do G�s da Bol�via

Alguns elementos dessa an�lise imp�em-se nesta abordagem inicial. Desde logo, devem-se considerar os dados referentes ao GN na Am�rica do Sul e Central[5] potencialmente interessantes para a an�lise do problema e que est�o resumidos na Tabela 1.

Tabela 1: GN na Am�rica do Sul e Central em 2004  (bilh�o de m3)                         

Reserva

Partici-
pa��o

Produ��o

Anual

Consumo

Anual

Produ��o -
Consumo

R/P

Unidade

109 m3

109 m3/
ano

109 m3/
ano

109 m3/
ano

anos

Argentina

605

8,5%

44,9

37,9

7,0

13,5

Bol�via

890

12,5%

8,5

1,4

7,1

104,7

Brasil

326

4,6%

11,1

18,9

-7,8

29,4

Chile

8,2

-8,2

Col�mbia

110

1,5%

6,4

6,3

0,1

17,2

Equador

0,1

-0,1

Peru

246

3,5%

0,9

-0,9

Trinidad
Tobago

533

7,5%

27,7

11,3

16,4

19,2

Venezuela

4219

59,4%

28,1

28,1

0,0

150,1

Outros Am. do
Sul e Central

170

2,4%

2,5

4,9

-2,4

68,0

Total Am. do
Sul e Central

7099

100,0%

129,1

117,9

11,2

55,0

Fonte BP (http://www.bp.com)

O exame preliminar sobre a disponibilidade do GN da Bol�via deve-se levar em conta alguns pontos cruciais enumerados a seguir:

A capacidade de produ��o da Bol�via considerando suas reservas. Tomando-se uma raz�o reserva/produ��o prudente de 20 anos, chega-se a um potencial de produ��o nesse pa�s de 44 bilh�es de m3/ano baseado nas reservas conhecidas. Uma avalia��o das reservas prov�veis pode levar a valores superiores. Deste ponto de vista, existe uma oferta que viabiliza a importa��o de g�s daquele pa�s em horizonte de tempo adequado.

Os concorrentes do Brasil para o g�s da Bol�via:

1.       Bol�via - Naturalmente, a pr�pria Bol�via ter� prioridade no uso de seu g�s. Seu consumo de energia prim�ria comercial em 2002 (dados IEA) era equivalente a 4,8 bilh�es de m3/ano dos quais 27% verdadeiramente em GN. Supondo que a participa��o do GN na matriz boliviana atingisse 55% (caso atual da Argentina) ter-se-ia um consumo limite de 2,4 bilh�es de m3. ou de 2,8 bilh�es no ano de 2004 (admitindo-se um incremento de 8%). Se a atividade econ�mica dobrar em dez anos (crescimento de 7% ao ano do PIB) e a demanda energ�tica acompanhar esse crescimento, o consumo boliviano ser� apenas de cerca de 5 bilh�es de m3/ano, restando pois um potencial de exporta��o de cerca de 40 bilh�es de m3/ano.

2.       Argentina - Nos anos noventa, como se viu anteriormente, a Argentina se considerava um exportador de g�s natural para as d�cadas seguintes. Sua infra-estrutura foi, especialmente preparada para isso, estabelecendo-se liga��es com o Chile e o Brasil. No entanto, a Argentina apresenta raz�o reserva/produ��o j� pr�xima do limite m�nimo estrategicamente aceit�vel de dez anos. Os planos de livre exporta��o da Argentina surgiram na expectativa � afinal n�o concretizada � de que a privatiza��o ocorrida conduzisse a um r�pido aumento das reservas. Sendo assim, o mais prov�vel � que a Argentina se concentre nos pr�ximos anos no atendimento de suas pr�prias necessidades e ao cumprimento (se poss�vel) dos contratos de exporta��o j� firmados. A inusitada participa��o do GN em sua matriz energ�tica, leva a considerar que existe margem para alguma redu��o no ritmo crescimento da demanda de GN na Argentina verificado nos �ltimos anos. A Figura 1 resume a situa��o da Argentina. Pode-se observar que nos �ltimos 20 anos sua reserva n�o sofreu acr�scimo significativo, ao passo que a produ��o e o consumo cresceram sistematicamente.

Qual a importância do gás natural da Bolívia para o Brasil?

Figura 1: Reservas, produ��o, consumo e reserva/produ��o da Argentina

3.       Chile e outros pa�ses da Am�rica do Sul - Note-se, desde logo, que o Chile � inteiramente dependente do GN importado da Argentina. Al�m disso, apresenta uma participa��o importante do GN em sua matriz energ�tica (29%). Tendo em vista a aus�ncia de produ��o pr�pria, seu consumo anual deve ser suprido por seus vizinhos a menos de venha a recorrer � importa��o do GN liquefeito (criog�nico). Para o abastecimento no Continente as reservas do Peru s�o a op��o mais evidente (afora a Bol�via). Esta circunst�ncia o torna particularmente vulner�vel �s atuais press�es da Bol�via que usa o GN como instrumento da projetada reconquista de seu acesso ao mar. As necessidades anuais do Chile s�o atualmente de cerca de 8 bilh�es de m3/ano. O terceiro pa�s em demanda potencial na Am�rica do Sul � a Col�mbia; atualmente, sua produ��o � suficiente apenas o atendimento de sua demanda interna.  Para o futuro, a Col�mbia poderia dispor do GN dos vizinhos Peru e Venezuela havendo, para este �ltimo, a necessidade de superar os problemas pol�ticos que hoje ocorrem entre os dois pa�ses.

4.       EUA e outros pa�ses desenvolvidos � A barreira da dist�ncia que limita o com�rcio de GN para pa�ses mais afastados ser� vencida na medida em que o pre�o do GN transportado na forma liquefeita em navios criog�nicos tornar-se vi�vel. A prop�sito, note-se que, a partir de 2003, o pre�o do GN importado pelo Jap�o (CIF) colocou-se abaixo do pre�o m�dio praticado nos EUA para g�s encanado.[6] No caso da Am�rica do Norte, as reservas conhecidas de GN s�o similares �s da Am�rica do Sul para uma demanda potencial pelo menos dez vezes maior. Os EUA j� importam GN criog�nico de Trinidad Tobago (13,1 bilh�es de m3/ano em 2004)[7]. A possibilidade de exportar GN para os EUA est� sendo considerada pela Bol�via, mas esbarra na dificuldade de n�o dispor de um porto. Ali�s, um dos problemas que levou o Presidente Meza � ren�ncia foi a feroz oposi��o popular a um acordo da Bol�via com o Chile para exportar o GN utilizando um porto daquele pa�s.[8] Deve ser notado, no entanto, que por mais que se reduza o custo da criogenia e do transporte, ele sempre ser� maior do que o correspondente ao transporte por um gasoduto para o Brasil ou Argentina. Assim a op��o boliviana pela criogenia sempre vai perder para a op��o Brasil, pois, a pre�os finais iguais, restar� uma renda menor para a Bol�via. A outra op��o existente para a exporta��o de g�s para destinos distantes � sob a forma de combust�veis l�quidos (gasolina, diesel, nafta e outros derivados) a partir do g�s natural pelo processo GTL (Gas-to-Liquids)[9]. Este processo, no entanto, dever� ser adotado, em primeiro lugar, em pa�ses onde praticamente inexiste op��o econ�mica para o uso do GN associado produzido.

Impacto da redu��o ou supress�o da importa��o do g�s boliviano pelo Brasil

No ano de 2004, a depend�ncia do GN importado era de 37% em rela��o � oferta interna bruta[10]. A evolu��o da depend�ncia � mostrada na Figura 2.

Qual a importância do gás natural da Bolívia para o Brasil?

Figura 2: Depend�ncia externa do GN importado relativa � oferta interna bruta.

(Dados do Balan�o Energ�tico Nacional do Minist�rio das Minas e Energia - BEN/MME 2005)

Na Tabela 1, foi mostrado que o Brasil det�m, no momento, s� 4,6% da reserva conhecida na Am�rica Latina. Poder contar com uma fonte externa de GN canalizado �, em princ�pio, uma vantagem comparativa frente a outros pa�ses que n�o deve ser negligenciada. Em face da dist�ncia entre a Venezuela e as regi�es de maior consumo potencial no Brasil, a Bol�via, por suas reservas e localiza��o, apresenta-se como a melhor op��o. Recorda-se que o g�s natural substitui, com menor impacto no meio ambiente, outras fontes de calor, sendo uma alternativa para v�rias aplica��es do petr�leo cuja participa��o na matriz energ�tica mundial j� parece estar em decl�nio. As reservas do Brasil, mostradas na Figura 3, n�o admitem grande expans�o a m�dio prazo. Com efeito, embora a raz�o reserva/produ��o venha, h� quase duas d�cadas, mantendo-se no n�vel de 30 anos, a raz�o reserva/consumo j� era, em 2004, de 17 anos. Ou seja, para que haja uma expans�o sustentada da participa��o do GN na matriz energ�tica brasileira com base na produ��o exclusivamente nacional, seria necess�rio um incremento significativo nas reservas locais.

Qual a importância do gás natural da Bolívia para o Brasil?

Figura 3: Evolu��o da Produ��o, Reserva, e Demanda de GN no Brasil.

Como a taxa de utiliza��o deve crescer nos pr�ximos anos, n�o contar com o g�s natural da Bol�via n�o parece ser uma boa op��o estrat�gica para o Brasil.

A produ��o, transforma��o e  utiliza��o do G�s Natural em 2004 aparecem contabilizadas, na Tabela 2, conforme dados do BEN/MME 2005. De uma oferta total de cerca de 25 bilh�es de m3, 8 bilh�es foram importados. Ap�s a reinje��o em po�os de petr�leo e subtra�da a fra��o n�o aproveitada (queima nas plataformas de petr�leo) a oferta interna bruta � um pouco inferior a 20 bilh�es de m3/ano. Em n�meros aproximados, deduzidos 1,5 bilh�o para outras transforma��es (principalmente de compostos l�quidos), sobram 18,5 bilh�es para outros usos sendo que 4,5 bilh�es s�o utilizados para a gera��o de eletricidade e 14 bilh�es se destinam ao consumo final.

Tabela 2: Produ��o, Transforma��o e Uso do GN no Brasil em 2004

G�S
 NATURAL

G�S NAT
 �MIDO

G�S NAT
SECO   

milh m3

milh m3

milh m3

    PRODU��O

16971

16971

0

    IMPORTA��O

8086

0

8086

  OFERTA TOTAL                  

25057

16971

8086

    EXPORTA��O

0

0

0

    N�O APROVEITADA

-1669

-1669

0

    REINJE��O

-3616

-1300

-2316

  OFERTA INTERNA BRUTA         

19772

14002

5770

TOTAL TRANSFORMA��O

-5708

-12376

6668

    REFINARIAS DE PETR�LEO

0

0

0

    PLANTAS DE G�S NATURAL

-935

-11700

10765

    CENTRAIS. ELET. SERV. P�BLICO

-3438

0

-3438

    CENTRAIS ELET. AUTOPRODUTORAS

-1155

-496

-659

    OUTRAS TRANSFORMA��ES

-180

-180

0

    PERDAS DISTRIB. ARMAZENAGEM  

-352

-142

-210

CONSUMO FINAL                

13665

1416

12249

 CONSUMO FINAL N�O ENERG�TICO

838

0

838

 CONSUMO FINAL ENERG�TICO

12827

1416

11411

  SETOR ENERG�TICO

3168

1416

1752

  RESIDENCIAL                  

206

0

206

  COMERCIAL                    

245

0

245

  P�BLICO

54

0

54

  AGROPECU�RIO

2

0

2

  TRANSPORTES - TOTAL          

1580

0

1580

    RODOVI�RIO

1580

0

1580

  INDUSTRIAL - TOTAL           

7572

0

7572

    CIMENTO                      

23

0

23

    FERRO GUSA E A�O

1064

0

1064

    FERRO LIGAS

1

0

1

    MINERA��O E PELOTIZA��O

260

0

260

    N�O FERROSOS E OUT. METALURG.

514

0

514

    QU�MICA

2344

0

2344

    ALIMENTOS E BEBIDAS          

558

0

558

    T�XTIL

339

0

339

    PAPEL E CELULOSE             

521

0

521

    CER�MICA

872

0

872

    OUTRAS IND�STRIAS

1076

0

1076

Gera��o eletricidade (GWh)

19264

2291

16973

 Gera��o servi�o p�blico de eletricidade (GWh)

14681

0

14681

 Gera��o autoprodutores de.eletricidade (GWh)

4583

2291

2292

Fonte BEN/MME 2005

A importa��o de GN seco (8 bilh�es de m3/ano) destina-se a este mercado cerca de 18,5 bilh�es de m3 para consumo final e gera��o de eletricidade. Ou seja, na hip�tese de corte de suprimento do g�s boliviano, ter-se-ia que proceder � redu��o superior a 40% neste tipo de consumo. Para o futuro, parece importante o desenvolvimento de alternativas de g�s n�o associado nacional ou de outras proced�ncias (como o Peru e at� criog�nica) capazes de suprir � pelo menos parcialmente - eventuais faltas.

Uma quest�o importante � que transcende o objetivo deste trabalho � � o dimensionamento da demanda futura brasileira e a administra��o da explora��o das reservas nacionais que leve em conta a disponibilidade das fontes externas. Na situa��o atual, em termos de energia prim�ria, a participa��o do GN na matriz brasileira � de 9% da energia comercial (dados de 2004) enquanto que a m�dia mundial � de 24 %. Ou seja, uma participa��o da mesma ordem no Brasil corresponderia a um consumo de aproximadamente 50 bilh�es de m3/ano ou cerca de 140 milh�es de m3/dia.  Recentemente a e&e (No. 49) projetou o crescimento energ�tico para o per�odo 2000-2035 no Brasil com metodologia baseada no conceito de energia equivalente para um cen�rio moderado de crescimento econ�mico. O crescimento do consumo energ�tico seria  de 4,7% ao ano. Supondo o mesmo crescimento da demanda potencial de g�s natural e que a participa��o na matriz atingisse a m�dia mundial, a demanda brasileira seria de 65 bilh�es de m3/ano em 2010 e poderia chegar a superar 140 bilh�es em 2020. Se as reservas brasileiras estiverem no limite estimado de 1,5 trilh�es de m3 (reservas descobertas e a descobrir) parece conveniente e prudente poder usar reservas externas dos vizinhos.

Alternativas de Contingenciamento do GN

Na hip�tese de uma poss�vel interrup��o do GN boliviano, as medidas poss�veis s�o basicamente as de aumentar a oferta ou restringir a demanda. Como a maioria do GN produzido no Brasil � de g�s associado � produ��o de petr�leo, a possibilidade de aumentar rapidamente a oferta interna � reduzida. N�o existe tamb�m infra-estrutura adequada ao armazenamento de g�s ou � importa��o do GN liquefeito. A margem de manobra para o aumento da oferta � limitada, mas certamente existe. Em uma aproxima��o grosseira n�o se deve esperar um acr�scimo superior a 1 bilh�o de m3/ano.

An�lise preliminar indica que existe um grande potencial de substitui��o nas refinarias (consumo anual de 3 bilh�es de m3). O setor transporte absorve cerca de 1,5 bilh�o de m3, contudo a maioria da frota de ve�culos, poderia voltar a funcionar com o combust�vel tradicional. A gera��o de eletricidade corresponde a 4,5 bilh�es de m3. Por um tempo limitado e em ocasi�es de reservas adequadas de �gua, uma redu��o no volume da gera��o el�trica nas usinas de GN seria fact�vel. No setor industrial (respons�vel por cerca de 7,5 bilh�es de m3/ano) � certamente poss�vel identificar oportunidades de substitui��o que minimizariam a restri��o da oferta.[11]

Todas as substitui��es mencionadas, com poucas exce��es, implicar�o algum custo financeiro e/ou ambiental. No entanto, uma interrup��o tempor�ria no abastecimento de GN boliviano n�o causaria problemas incontorn�veis. Por outro lado, � sempre bom contar com alternativas � importa��o j� que isto tamb�m minimiza o risco de um eventual boicote por motivos pol�ticos.

Na an�lise da e&e n� 49 sobre o Setor El�trico, ficou claro o papel regulador das usinas t�rmicas no funcionamento do sistema de gera��o de eletricidade face �s oscila��es do regime de chuvas. Com a crescente participa��o do g�s natural na gera��o de eletricidade (Figura 4), este tipo de regula��o do sistema el�trico corre o risco de impactar negativamente o setor g�s. Assim, j� existe no sistema energ�tico brasileiro clara necessidade de regula��o do abastecimento de GN ainda n�o adequadamente equacionada. Como a oferta tende a ser r�gida (g�s associado + importa��o no processo �take or pay�) a regula��o teria que ser feita na demanda. Isto pode ser realizado com a contrata��o de demanda do tipo interrupt�vel. Seria, pois, muito interessante para o sistema energ�tico contar com instala��es capazes de operar com outros combust�veis.

Qual a importância do gás natural da Bolívia para o Brasil?

Figura 4: Usos de GN na gera��o de energia el�trica no Brasil, n�o estando inclu�do na figura o GN reinjetado e n�o utilizado (Dados BEN/MME 2005).

Para o futuro, seria desej�vel uma regula��o na oferta (GN nacional n�o associado e de outros pa�ses) para estabilizar o sistema.

Conclus�o

Os exemplos hist�ricos de outros pa�ses mostram que a rela��o de depend�ncia m�tua entre o pa�s produtor e o consumidor tende a n�o afetar o com�rcio de energia, mesmo na hip�tese de exist�ncia de conflito entre as partes (o que n�o � o caso de Brasil e Bol�via). A interrup��o de abastecimento de GN configura assim uma possibilidade remota.

A an�lise preliminar aqui realizada parece indicar que existe margem � pelo menos por tempo limitado � para absorver uma interrup��o de fornecimento de g�s externo com preju�zos aceit�veis.

A importa��o de GN da Bol�via (a pre�os adequados) � a op��o mais indicada no �mbito regional para complementar a produ��o brasileira, a vista das reservas nacionais at� agora conhecidas.

Uma an�lise dos poss�veis pa�ses concorrentes pelo GN boliviano indica que o Brasil desfruta de posi��o privilegiada tendo em vista o volume que � capaz de absorver e a disponibilidade de uma rede de gasodutos pr�prios.

A regula��o do mercado de GN nacional � mesmo na aus�ncia de cortes de fornecimento � deveria ser objeto de uma an�lise estrat�gica que tenha presente a possibilidade de varia��es significativas na demanda de GN para a gera��o de eletricidade em um sistema predominantemente h�drico, que j� n�o disp�e de regula��o plurianual anteriormente existente. � desej�vel montar para o GN (e tamb�m para a eletricidade) um sistema provido de capacidade para tolerar varia��es de oferta e demanda de maneira a atender as circunst�ncias clim�ticas, energ�ticas e tamb�m pol�ticas.

O Brasil foi, durante d�cadas, uma ilha energ�tica em rela��o a seus vizinhos. A integra��o da Am�rica do Sul na �rea de energia vem progredindo lentamente e o gasoduto Bol�via/Brasil � um passo importante na boa dire��o. Essa integra��o pode trazer benef�cios m�tuos, mas vem, obrigatoriamente, acompanhada de complica��es geopol�ticas que s�o inerentes ao papel principal do Brasil no continente.

� bom lembrar que continua fazendo falta ao Brasil um planejamento energ�tico de longo prazo que integre todas as fontes de energia. � medida que a integra��o continental for se aprofundando, tornar-se-� necess�rio incluir neste planejamento o interc�mbio energ�tico com os vizinhos. Estudos para prevenir e enfrentar conting�ncias devem ent�o ser uma atividade cont�nua.


 


[1]Para o g�s natural existe a possibilidade do transporte na forma l�quida, em baixas temperaturas, usando navios criog�nicos. O custo deste tipo de transporte tem dificultado seu uso que correspondia, em 2004, a 7% do consumo mundial e 26% da exporta��o mundial (http://www.bp.com). Sessenta por cento desse tipo de exporta��o � dirigida a pa�ses como Jap�o e Cor�ia para os quais n�o existe outra op��o de abastecimento de g�s.

[2] � inevit�vel que ainda que subsista alguma desconfian�a quando a transa��o envolve pa�ses cujas institui��es (ou situa��es s�cio-pol�ticas) s�o particularmente inst�veis. Esta desconfian�a - que existiria em qualquer contrato de suprimento de insumos estrat�gicos � �, no entanto, atenuada e n�o agravada pelo tipo de liga��o existente .

[3] Denominado �Grupo 1�.

[4] Assinala Jos� Fantine (atualmente Coordenador Executivo do Espa�o de Centros de Excel�ncia), que em nenhum momento da recente crise na Bol�via discutiu-se a interrup��o do contrato de fornecimento do g�s para o Brasil ou majora��o do seu pre�o. Em discuss�o estava o encarecimento do g�s ofertado internamente pelo aumento dos impostos. Mas esse aumento n�o tem como ser repassado para o importador (a Petrobras), pois o pre�o do g�s � regulado por contrato. A amea�a de interrup��o do fluxo do gasoduto ocorreu por bloqueio de estradas impedindo a sa�da de l�quidos produzidos nas plantas de g�s natural, o que acabaria por levar ao esgotamento dos espa�os para armazen�-los, obrigando a paralisa��o da produ��o de g�s natural. Vitoriosa a eleva��o das taxas, diminui o lucro das operadoras locais, dentre elas a Petrobras, mas isso nada tem a ver com o fornecimento do g�s para o gasoduto.

[5]  A inclus�o da Am�rica Central, de pouca import�ncia pr�tica para o abastecimento do Brasil, se deve � agrega��o dos dados na fonte.

[6] Muito embora contratos de longo prazo influenciem os pre�os do GN importado pelo Jap�o, o fato configura a viabilidade pr�tica deste tipo de importa��o com os pre�os atuais de petr�leo.

[7] Os EUA j� iniciaram uma corrida para construir terminais que poderiam atender a m�ltiplas importa��es.

[8]Na Am�rica Latina � a Venezuela (e n�o a Bol�via) o fornecedor �bvio de GN criog�nico para os EUA j� que disp�e das maiores reservas . Evidentemente as condi��es pol�ticas atuais entre os governos Bush e Chaves n�o favorecem este entendimento.

[9] Embora a tecnologia GTL  n�o seja  �massificada� e dominada comercialmente,. � fato que se pode produzir diesel e outros derivados a um custo menor do que o do petr�leo (menor do que 40 us$/barril j� em derivado de primeir�ssima qualidade a partir de um g�s ao custo da produ��o na Bol�via). Assim, uma pr�xima rota para os donos de g�s � se associar para produzir diesel, gasolina, ou querosene de jato ou petroqu�micos. As primeiras plantas em escala comercial est�o entrando em opera��o e v�rias empresas dominam inteiramente a tecnologia

[10]Em rela��o � oferta total (produ��o + importa��o) a depend�ncia era de 30% j� em rela��o ao g�s natural para uso final e na gera��o de eletricidade a depend�ncia era de 44%.

[11] Apenas para ilustrar uma hip�tese de contingenciamento poder-se-ia pensar em 0,5 bilh�o de incremento da produ��o, redu��o de 1,5 bilh�o de uso veicular, 2 bilh�es nas refinarias e 2,5 bilh�es na produ��o de eletricidade e 1,5 bilh�o de  na ind�stria (total de 8 bilh�es de m3/ano)

Qual é a importância do gasoduto Brasil

Para o Brasil, o Gasbol representava o passo definitivo para a diversificação de sua matriz energética na direção da intensificação do uso do gás natural. Para a Bolívia, no entanto, a entrada em operação do gasoduto possuía uma importância e uma dimensão estratégica muito maiores.

Por que o Brasil importa gás natural?

O consumo de gás natural no Brasil cresceu 22% no ano de 2018, contra um aumento da produção nacional da ordem de 7%, o que obrigou a Petrobras a importar mais GNL para atender o mercado.

Para que serve o gás da Bolívia?

Destaca-se que o Gasbol exerce papel importante na arrecadação tributária do Mato Grosso do Sul. Isso porque todo o ICMS arrecadado com a importação do gás fica com o estado.

Quanto o Brasil importa de gás da Bolívia?

Quem está de olho no gás boliviano Em julho, foi a vez da CDGN, subsidiária do grupo MDC, anunciar um contrato para importação de até 4 milhões de m³/dia.