Que solução ética a psicanálise propõe para o poder do id e superego?

Grátis

52 pág.

Que solução ética a psicanálise propõe para o poder do id e superego?

Eeep Leonel De Moura Brizola

  • Denunciar


Pré-visualização | Página 18 de 22

a sociedade. 
O que a psicanálise propõe é uma nova moral social que harmonize, tanto quanto for 
possível, os desejos inconscientes, as formas de satisfazê-los e a vida social. Essa moral, 
evidentemente, só pode ser realizada pela consciência e pela vontade livre, de sorte que a 
psicanálise procura fortalecê-las como instâncias moderadoras do id e do superego. Somos 
eticamente livres e responsáveis não porque possamos fazer tudo quanto queiramos, nem 
porque queiramos tudo quanto possamos fazer, mas porque aprendemos a discriminar as 
fronteiras entre o permitido e o proibido, tendo como critério ideal a ausência da violência 
interna e externa. 
 
 
9º Ética ou filosofia moral: natureza, dever, desejo e vontade CHAUÍ, Unidade 8, capítulo 6, p.310-331 
 
Unidade 8 - O mundo da prática 
Capítulo 24 - A liberdade 
A liberdade como problema 
A torneira seca 
(mas pior: a falta 
de sede) 
 
A luz apagada 
(mas pior: o gosto 
do escuro) 
 
A porta fechada 
(mas pior: a chave 
por dentro). 
Este poema de José Paulo Paes nos fala, de forma extremamente concentrada e precisa, do 
núcleo da liberdade e de sua ausência. O poeta lança um contraponto entre uma situação 
externa experimentada como um dado ou como um fato (a torneira seca, a luz apagada, a 
porta fechada) e a inércia resignada no interior do sujeito (a falta de sede, o gosto do 
43 
 
escuro, a chave por dentro). O contraponto é feito pela expressão “mas pior”. Que significa 
ela? Que diante da adversidade, renunciamos a enfrentá-la, fazemo-nos cúmplices dela e é 
isso o pior. Pior é a renúncia à liberdade. Secura, escuridão e prisão deixam de estar 
fora de nós, para se tornarem nós mesmos, com nossa falta de sede, nosso gosto do escuro 
e nossa falta de vontade de girar a chave. 
Um outro poema também oferece o contraponto entre nós e o mundo: 
Mundo mundo vasto mundo, 
Se eu me chamasse Raimundo 
Seria uma rima, não seria uma solução. 
Mundo mundo vasto mundo, 
Mais vasto é meu coração. 
Neste poema, Carlos Drummond de Andrade, como José Paulo Paes, confronta-nos com a 
realidade exterior: o “vasto mundo” do qual somos uma pequena parcela e no qual estamos 
mergulhados. Todavia, os dois poemas diferem, pois em vez da inércia resignada, estamos 
agora diante da afirmação de que nosso ser é mais vasto do que o mundo: pelo nosso 
coração – sentimentos e imaginação – somos maiores do que o mundo, criamos outros 
mundos possíveis, inventamos outra realidade. Abrimos a torneira, acendemos a luz e 
giramos a chave. 
Embora diferentes, os dois poemas apontam para o grande tema da ética, desde que esta 
se tornou questão filosófica: O que está e o que não está em nosso poder? Até onde de 
estende o poder de nossa vontade, de nosso desejo, de nossa consciência? Em outras 
palavras: Até onde alcança o poder de nossa liberdade? Podemos mais do que o mundo ou 
este pode mais do que nossa liberdade? O que está inteiramente em nosso poder e o que 
depende inteiramente de causas e forças exteriores que agem sobre nós? Por que o pior é a 
falta de sede e não a torneira seca, o gosto do escuro e não a luz apagada, a chave 
imobilizada e não a porta fechada? O que depende do “vasto mundo” e o que depende de 
nosso “mais vasto coração”? 
Essa mesma interrogação, embora não explicitada nesses termos, encontra-se presente no 
que escreveu o poeta Vicente de Carvalho em “Velho tema”: 
Só a leve esperança, em toda a vida, 
Disfarça a pena de viver, mais nada, 
Nem é mais a existência, resumida, 
Que uma grande esperança malograda. 
 
O eterno sonho da alma desterrada, 
Sonho que a traz ansiosa e embevecida, 
É uma hora feliz, sempre adiada 
E que não chega nunca em toda a vida. 
 
Essa felicidade que supomos, 
Árvore milagrosa que sonhamos 
Toda arreada de dourados pomos 
 
Existe, sim: mas nós não a alcançamos, 
Porque está sempre apenas onde a pomos 
E nunca a pomos onde nós estamos. 
O poeta contrasta a “esperança malograda” de felicidade e a felicidade que “existe, sim”, 
mas que não alcançamos porque “nunca a pomos onde nós estamos”, embora esteja 
“sempre apenas onde a pomos”. Nossa alma fica desterrada no sonho, exilada do real, 
porque incapaz de reconhecer que a felicidade não é uma árvore distante, situada em algum 
lugar não localizável do vasto mundo, mas está em nós, em nossa “leve esperança”, em 
nosso mais vasto coração, dependendo apenas de nós mesmos, “porque está sempre 
apenas onde a pomos”. 
Porta fechada, vasto mundo, árvore milagrosa: a felicidade parece depender inteiramente 
do que se encontra fora de nós. 
Chave por dentro, coração mais vasto, estar sempre apenas onde a pomos: a felicidade 
parece depender inteiramente de nós. 
Seja de modo pessimista (como em José Paulo Paes e Vicente de Carvalho), seja de modo 
44 
 
otimista (como em Carlos Drummond), os três poetas nos colocam diante da liberdade 
como problema. Filosoficamente, este se apresenta sob a forma de dois pares de opostos: 
1. o par necessidade-liberdade; 
2. o par contingência-liberdade. 
Torneira seca, luz apagada, porta fechada: a realidade é feita de situações adversas e 
opressoras, contra as quais nada podemos, pois são necessárias. Vasto mundo: se a 
realidade natural e cultural possui leis causais necessárias e normas-regras obrigatórias, se 
tanto as leis naturais como as leis culturais não dependem de nós, se sermos seres naturais 
e culturais não depende de nós, se somos seres naturais e culturais cuja consciência e 
vontade são determinadas por aquelas leis (da Natureza) e normas-regras (da Cultura), 
como então falar em liberdade humana? A necessidade que rege as leis naturais e as 
normas-regras culturais não seria mais vasta, maior e mais poderosa do que nossa 
liberdade? O que poderia estar em nosso poder? 
Árvore milagrosa: se a felicidade e o bem são milagres, então são puro acaso, pura 
contingência e não resta senão o jogo interminável entre a “leve esperança” e a “grande 
esperança malograda”. Se o mundo é um tecido de acasos felizes e infelizes, como esperar 
que sejamos sujeitos livres, se tudo o que acontece é imprevisível, fruto da boa e da má 
sorte, de acontecimentos sem causa e sem explicação? Como sermos sujeitos responsáveis 
num mundo feito de acidentes e de total indeterminação? Se tudo é contingência, onde 
colocar a liberdade? 
O par necessidade-liberdade também pode ser formulado em termos religiosos, como 
fatalidade-liberdade, e em termos científicos, como determinismo-liberdade. 
Necessidade é o termo empregado para referir-se ao todo da realidade, existente em si e 
por si, que age sem nós e nos insere em sua rede de causas e efeitos, condições e 
conseqüências. 
Fatalidade é o termo usado quando pensamos em forças transcendentes às nossas e que 
nos governam, quer o queiramos ou não. 
Determinismo é o termo empregado, a partir do século XIX, para referir-se à realidade 
conhecida e controlada pela ciência e, no caso da ética, particularmente ao ser humano 
como objeto das ciências naturais (química e biologia) e das ciências humanas (sociologia e 
psicologia), portanto, como completamente determinado pelas leis e causas que 
condicionam seus pensamentos, sentimentos e ações, tornando a liberdade ilusória. 
O par contingência-liberdade também pode ser formulado pela oposição acaso-liberdade. 
Contingência ou acaso significam que a realidade é imprevisível e mutável, impossibilitando 
deliberação e decisão racionais, definidoras da liberdade. Num mundo onde tudo acontece 
por acidente, somos como um frágil barquinho perdido num mar tempestuoso, levado em 
todas as direções, ao sabor das vagas e dos ventos. 
Necessidade, fatalidade, determinismo significam que não há lugar para a liberdade, porque 
o curso das coisas e de nossas vidas já está fixado, sem que nele possamos intervir. 
Contingência e acaso significam que não há lugar para a liberdade, porque não há curso 
algum das coisas e de nossas vidas sobre o qual pudéssemos intervir.

Qual a solução ética a psicanálise propõe para o poder do id e do superego?

Que solução ética a psicanálise propõe para o poder do id e do superego? RESPOSTA: Nossa psique é um campo de batalha inconsciente entre desejos e censuras. O id ama o proibido; o superego quer ser amado por reprimir o id.

Qual a importância da ética na psicanálise?

A ética da psicanálise é a ética do bem dizer, ou seja, é a palavra que produz um efeito operatório no tratamento. Cada interpretação reconduz o sujeito à escolha de seu desejo e de seus modos de gozo, levando em conta que a ética da psicanálise é manter a estrutura de falta do inconsciente.

O que vem a se configurar a ética da psicanálise?

A ética da psicanálise propõe ao analista acolher, mas nunca responder, à demanda que lhe é dirigida pelo analisando. Demanda que é sempre de amor. A psicanálise implica em renúncia à sugestão e o que pode ser chamado de neutralidade não se resume à indiferença e nem exclui uma intervenção mais ativa.

O que é ser ético para Freud?

A partir de seu estudo, Freud percebeu que os sentimentos éticos e a consciência moral não são uma disposição inata do homem – são construídos a partir de uma necessidade de convivência em comunidade para controle das forças da natureza e da agressividade humana, esta tida por pelo autor como uma disposição inata.