Para defender seu posicionamento, a autora desse texto utilizou a apresentação de dados históricos.

Aprenda todos os passos necessários para mandar super bem na redação e alcançar a nota 1000!

A dissertação argumentativa é o gênero textual abordado pela maioria dos vestibulares. No ENEM, ela possui um grande peso para os candidatos que visam a entrar na universidade. Dessa forma, conhecer suas características é fundamental, assim como entender que para conquistar uma redação nota mil é necessário seguir um conjunto de estratégias.

Nesse post, veremos que para tirar nota 1000 na redação devemos entender sua estrutura, ter um bom repertório, planejar o texto e, principalmente, ter o hábito de escrever frequentemente. É claro que não poderíamos deixar de ressaltar a importância da leitura e da análise de textos exemplares.

A dissertação argumentativa

Argumentar: Termo derivado do latim “argumentum”, a argumentação consiste no ato de convencer, comprovar uma proposição ao interlocutor, no intuito de corroborar com aquilo que foi proferido.

Demonstrar a sua opinião sobre um determinado tema a fim de validar as suas ideias a outra pessoa pode ser um tipo de argumento.

Dissertar: Trata-se de expor e discutir ideias, tem o foco na informação; é fazer juízo sobre um determinado assunto e se posicionar diante dele, e para isso é preciso apresentar argumentos com criticidade e usando da persuasão e do convencimento.

Características da dissertação argumentativa

O texto dissertativo-argumentativo busca defender uma posição (“tese”) acerca de um tema e sustentá-la com bons argumentos.

Vamos ver algumas das principais características desse gênero textual?

a) Estrutura específica: Introdução + Desenvolvimento + Conclusão

b) Linguagem objetiva e impessoal: A defesa do ponto de vista deve ser feita de maneira clara, objetiva e impessoal. Isso significa que devemos evitar o uso da primeira pessoa e construções como “do meu ponto de vista”, “na minha opinião”, etc. Além disso, argumentos pautados na subjetividade não são bem vistos.

c) Coerência e coesão: Para o texto fazer sentido e alcançar o objetivo comunicativo, é necessário que haja coerência entre as ideias, de forma que elas não sejam contraditórias nem desconexas. Além disso, as partes do texto devem estar conectadas a partir de recursos linguísticos (principalmente as conjunções) para que ele seja fluido e claro.

Veja mais sobre as características gerais da dissertação.

Estrutura do texto dissertativo argumentativo


  1. Introdução: O objetivo do parágrafo introdutório é contextualizar o leitor e apresentar o ponto de vista que será defendido ao longo do texto (“tese”). Para que isso aconteça, o parágrafo deve conter os dois aspectos anteriormente mencionados:

  2. Contextualização: é a explicitação do tema, ressaltando a relevância da questão em debate. Essa função é importante, uma vez que é a partir dela que o enunciador revela para a banca ter compreendido integralmente a proposta.

Essa é a parte expositiva do parágrafo introdutório, por isso, existem algumas estratégias para torná-la mais interessante e atrativa.

  1. Apresentação literal/tradicional do tema

  2. Apresentação histórica do tema

  3. Apresentação cultural (referência a músicas, filmes, séries, personagens e afins)

  4. Apresentação jornalística (referência a notícias ou fatos que tenham a ver com o tema)

  5. Apresentação por citação filosófica

  6. Apresentação literária (referência à Literatura e obras literárias)

Obs.: Procure ao máximo evitar construções com formato clichê, como “Desde a Antiguidade, o homem (...)” ou “A humanidade, desde os primórdios, (...)”. Esse tipo

de alusão, além de desgastada, não revela qualquer tipo de base cultural do aluno, já que as referências são extremamente genéricas ou inexatas.

  • Tese: A sugestão de uma abordagem para o tema, especificando qual o ponto de vista a ser defendido ao longo do texto, ou seja, sua tese.

Existem dois tipos de tese:

  1. Analítica (ou organizadora): é o modelo em que o autor deixa explícito quais argumentos serão abordados no desenvolvimento.

  2. Sintética (sugestiva): é o modelo em que o autor apenas deixa claro seu posicionamento sem dar “spoiler” sobre quais argumentos usará para defendê-lo.

Veja exemplos de tese analítica e sintética, respectivamente:

Tema: A importância da leitura

Certa vez, Paulo Freire, importante educador e filósofo brasileiro, destacou a necessidade de a

leitura ser um ato de amor. Em outra ocasião, Jorge Luis Borges, poeta argentino, apontou o ato de ler como uma forma de felicidade. De fato, durante séculos, tal atividade foi fonte de conhecimento e desenvolvimento da sociedade, trazendo importantes ensinamentos a quem a tinha como um hábito. Entretanto, nos dias de hoje, tal avidez tem perdido seu espaço no meio social, vítima de uma falta de incentivo por parte dos setores responsáveis por criá-lo (1) e do próprio mercado, que desestimula um hábito crucial na vida da população (2).

Tema: Deve haver limites para a liberdade de expressão?

A eleição presidencial de 1989 ficou marcada pelo fervoroso embate entre os candidatos Brizola e Maluf. As ofensas herdadas do período ditatorial permaneceram ao longo de todos os encontros e chegaram à boca do povo. 25 anos depois, nada foi diferente: os debates presidenciais mostraram o quanto as palavras podem definir posições, e, desta vez, não chegaram só à boca do povo, mas também aos dedos, às redes sociais. Diante da falta de respeito em qualquer assunto e local, é válido refletir: há mesmo limites na liberdade de expressão no mundo de hoje?

  1. Desenvolvimento: O objetivo do parágrafo é fundamentar o ponto de vista defendido na tese. Para isso, construímos um tópico frasal (período que apresenta a ideia central do parágrafo de desenvolvimento) e, em seguida, fazemos o aprofundamento utilizando evidências (dados, estatísticas, argumentos de autoridade) e estratégias argumentativas (confronto de ideias, contraste, dialética, encadeamento, exemplificação, entre outras).

Vejamos um exemplo:

Tema: Os efeitos da alimentação irregular no Brasil

“Em primeiro lugar, é importante analisar o sucesso de uma refeição nada benéfica. Vítima da aceleração do mundo moderno, a alimentação tem se resumido a produtos industrializados e aos famosos fast-foods, não tão saudáveis e pouquíssimo nutritivos. Adaptando a ideia de modernidade líquida de Zygmunt Bauman, parece que, hoje, o prazer imediato e o pouco cuidado com o futuro têm sido prioridade na vida do indivíduo brasileiro, que, em todo o tempo, prefere o mais rápido – e, de certa forma, mais saboroso – e deixa de lado o que pode, de fato, alimentá-lo. Diante deste fator, surgem diversas consequências que evidenciam ainda mais as características do mundo atual.”

  1. Conclusão: Esse é o último parágrafo do seu texto, no qual você retomará a tese e colocará sua(s) proposta(s) de intervenção (no caso do ENEM) ou fará uma reflexão recapitulando o que foi dito ao longo do texto (demais vestibulares). Lembre-se de que a circularidade do texto é importante. Dessa forma, é super interessante que você feche seu texto fazendo referência a algo que utilizou ao longo dele, como por exemplo um filósofo que apareceu no seu desenvolvimento, ou ao filme que você utilizou na contextualização.

Para entendermos melhor a avaliação de uma proposta de intervenção, veja um fragmento de conclusão, com atribuição de nota 1000 sobre o tema “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet” presentes na Cartilha do Participante 2019.

“Torna-se evidente, portanto, a complexa situação que envolve a manipulação do indivíduo com a seleção de dados na rede virtual. Para amenizar o quadro, cabe ao Poder Legislativo reformular o Marco Civil, que é responsável por regularizar o uso do meio digital. Essa medida deverá ocorrer por intermédio da inclusão de uma cláusula a qual irá reforçar os limites no controle dos conteúdos expostos, de forma a ampliar o espectro de escolhas do usuário. Tal ação objetiva impedir que a internet seja utilizada para a moldagem de comportamentos.”

Veja tudo o que o INEP fala sobre a redação do ENEM clicando aqui

Repertório para tirar 1000 na redação

Para garantir uma boa argumentação, você deve apresentar um bom repertório que demonstre seu domínio sobre o tema proposto. Dessa forma, é importante:

  • Estar atualizado sobre dados e acontecimentos

  • Ter o hábito de leitura

  • Fazer associações a outras áreas do conhecimento (Sociologia, História, Geografia, Literatura, etc.)

  • Anotar possíveis citações filosóficas que possam ser utilizadas

  • Estar informado sobre os possíveis eixos temáticos (política, meio ambiente, educação, saúde, etc.)


Planejamento textual para a redação

É fundamental planejar o texto antes de, propriamente, escrevê-lo. Veremos, a seguir, as etapas de um eficiente planejamento textual.

  1. Interpretação da frase-tema: Dê atenção total a cada uma das palavras que compõem o tema. A banca teve cerca de um ano para pensar na proposta e, se aquelas palavras foram utilizadas, cada uma delas desempenha uma função específica dentro do contexto. Para que a apreensão dos sentidos da proposta seja completa – impedindo que ocorra fuga ao tema – esses sentidos específicos devem ser inter-relacionados para a composição do todo.

  2. Listagem de ideias, exemplos, referências e argumentos: Em síntese, nesta etapa você deve elencar em uma folha de ‘rascunho’ toda e qualquer referência que sobrevier acerca do tema abordado. É o que chamamos de brainstorm – tempestade cerebral. Esse trabalho possui dupla função: primeiro, impedir que uma boa ideia seja esquecida no momento de escritura do texto; segundo, permitir ao candidato que suas referências sobre o tema sejam mais bem visualizadas e, com isso, a organização das mesmas possa ser mais eficiente.

  3. Organização e seleção das ideias: Neste momento, você já “passou para o papel” todo o seu conhecimento sobre a proposta de tema. Como você está bem preparado, as referências são muitas e é praticamente impossível que todas elas façam parte do texto final, sob pena de este tornar-se muito superficial. Por isso, deve-se proceder à seleção das melhores ideias, organizadas e associadas entre si, de modo a que a máxima coerência possível seja obtida.

  4. Roteiro da redação: Trata-se do último momento pré-textual. Depois de todo o processo anterior, você já deve ter percebido que alguns “parágrafos” começam a se definir. Agora, é necessário preparar as linhas gerais da introdução, a ordem mais adequada para os parágrafos argumentativos que vão compor o desenvolvimento e o encaminhamento da conclusão. Somente depois de observadas essas quatro etapas é que o candidato deverá começar a escrever.

Somente depois de observadas essas quatro etapas é que o candidato deverá começar a escrever. Lembre-se: quanto mais tempo for investido no planejamento do texto, menos tempo será gasto na escritura propriamente dita. Isso porque um texto bem planejado “flui” muito mais do que aquele feito “na hora” - em que o aluno acaba “empacando” inúmeras vezes.

Análise da banca

Conhecer a banca que avalia o nosso texto é fundamental para entender exatamente o que devemos fazer e o que não pode ser feito no texto. Vamos entender como funciona a correção da redação no ENEM? Lembre-se de que cada competência é pontuada entre 0 e 200 pontos.

  • Competência I: Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa.

Aqui, o corretor irá avaliar se você domina a norma culta da língua. Isso não significa que você tenha que utilizar palavras e construções extremamente rebuscadas, mas sim respeitar as regras gramaticais e evitar coloquialismos/traços de oralidade.

  • Principais erros: marcas de oralidade, erros de ortografia, regência verbal e nominal, concordância verbal e nominal, acentuação e pontuação.

  • Competência II: Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.

Aqui, três critérios serão avaliados. Primeiramente, você deve demonstrar que compreendeu a proposta temática e escrever sobre o tema proposto. Além disso, deve fazer referências interdisciplinares para sustentar seu ponto de vista. Por fim, deve respeitar as características estruturais do texto dissertativo argumentativo.

  • Principais erros: tangenciar o tema, não atendendo a todos os comandos propostos; não utilizar recursos de interdisciplinaridade ou utilizá-los de maneira insuficiente e desconexa; demonstrar pessoalidade, não desenvolver o texto em 4 ou 5 parágrafos.

  • Competência III: Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.

Aqui, sua argumentação será avaliada. O corretor estará atento às estratégias argumentativas que você utilizou para defender a sua tese e como organizou suas ideias.

  • Principais erros: Utilizar argumentos dentro do senso comum, ficar preso aos textos de apoio, apresentar os argumentos de maneira superficial, contraditória e sem embasamento.

  • Competência IV: Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.

Aqui, o corretor avaliará se você é capaz de conectar bem as partes do seu texto, fazendo bom uso de recursos coesivos. Para isso, é importante que você tenha um bom repertório de conjunções e que evite repetir palavras e termos desnecessariamente.

  • Principais erros: repetições desnecessárias, ausência de conectivos, uso exagerado de conectivos, empregar conectivos de maneira incorreta em relação ao valor semântico que eles desempenham.

  • Competência V: Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.

A banca do ENEM exige que o aluno apresente, pelo menos, uma proposta de intervenção para a problemática que foi colocada como tema. Dessa forma, para fazer uma proposta de intervenção eficiente, devemos estar atentos a 4 elementos que devem ser comtemplados por ela:

  1. Agente (Quem?): Governo, ONG´s, Mídia, Indivíduos, Família, Escola e Sociedade. É muito importante especificar cada um desses segmentos.

  2. O que será feito?

  3. Como será feito?

  4. Efeito (Por que deve ser feito?)

  5. Principais erros: Não detalhar suficientemente a(s) proposta(s), estar preso ao senso comum e propor intervenções que não dialoguem com o que foi problematizado ao longo do texto.

Perguntas mais frequentes: como tirar nota mil da redação?


  • O título, no ENEM, é obrigatório?

Resposta: Não.

  • Podemos escrever com letra “de forma”?

Resposta: Sim. No entanto, tente sempre diferenciar letras maiúsculas de minúsculas.

  • Posso usar primeira pessoa do plural?

Resposta: Sim. No entanto, só em contextos que denotem coletividade.

  • É possível colocar a proposta de intervenção no desenvolvimento?

Resposta: Sim. No entanto, não é ideal. É natural que ela apareça na conclusão.

  • Posso fazer referência a músicas no texto?

Resposta: Sim, contanto que esteja bem associada à argumentação.

  • Posso fazer mais de uma proposta de intervenção?

Resposta: Sim, mas é importante se preocupar mais com o detalhamento e qualidade do que com a quantidade.

Exemplos de textos exemplares: redações nota mil

Uma das melhores estratégias para melhorar a escrita é ler textos exemplares e identificar neles características que os fizeram ser ideais.

Vejamos, a seguir, dois modelos de redação que alcançaram nota máxima em 2018 e foram divulgados na Cartilha do Participante em 2019. Busque identificar neles o que vimos ao longo desse post:

PROPOSTA DE REDAÇÃO

A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

Texto 1: Redação de CAROLINA MENDES PEREIRA

Em sua canção “Pela Internet”, o cantor brasileiro Gilberto Gil louva a quantidade de informações disponibilizadas pelas plataformas digitais para seus usuários. No entanto, com o avanço de algoritmos e mecanismos de controle de dados desenvolvidos por empresas de aplicativos e redes sociais, essa abundância vem sendo restringida e as notícias, e produtos culturais vêm sendo cada vez mais direcionados – uma conjuntura atual apta a moldar os hábitos e a informatividade dos usuários. Desse modo, tal manipulação do comportamento de usuários pela seleção prévia de dados é inconcebível e merece um olhar mais crítico de enfrentamento.

Em primeiro lugar, é válido reconhecer como esse panorama supracitado é capaz de limitar a própria cidadania do indivíduo. Acerca disso, é pertinente trazer o discurso do filósofo Jürgen Habermas, no qual ele conceitua a ação comunicativa: esta consiste na capacidade de uma pessoa em defender seus interesses e demonstrar o que acha melhor para a comunidade, demandando ampla informatividade prévia. Assim, sabendo que a cidadania consiste na luta pelo bem-estar social, caso os sujeitos não possuam um pleno conhecimento da realidade na qual estão inseridos e de como seu próximo pode desfrutar do bem comum – já que suas fontes de informação estão direcionadas –, eles serão incapazes de assumir plena defesa pelo coletivo. Logo, a manipulação do comportamento não pode ser aceita em nome do combate, também, ao individualismo e do zelo pelo bem grupal.

Em segundo lugar, vale salientar como o controle de dados pela internet vai de encontro à concepção do indivíduo pós-moderno. Isso porque, de acordo com o filósofo pós-estruturalista Stuart-Hall, o sujeito inserido na pós-modernidade é dotado de múltiplas identidades. Sendo assim, as preferências e ideias das pessoas estão em constante interação, o que pode ser limitado pela prévia seleção de informações, comerciais, produtos, entre outros. Por fim, seria negligente não notar como a tentativa de tais algoritmos de criar universos culturais adequados a um gosto de seu usuário criam uma falsa sensação de livre arbítrio e tolhe os múltiplos interesses e identidades que um sujeito poderia assumir.

Portanto, são necessárias medidas capazes de mitigar essa problemática. Para tanto, as instituições escolares são responsáveis pela educação digital e emancipação de seus alunos, com o intuito de deixá-los cientes dos mecanismos utilizados pelas novas tecnologias de comunicação e informação e torná-los mais críticos. Isso pode ser feito pela abordagem da temática, desde o ensino fundamental – uma vez que as gerações estão, cada vez mais cedo, imersas na realidade das novas tecnologias –, de maneira lúdica e adaptada à faixa etária, contando com a capacitação prévia dos professores acerca dos novos meios comunicativos. Por meio, também, de palestras com profissionais das áreas da informática que expliquem como os alunos poderão ampliar seu meio de informações e demonstrem como lidar com tais seletividades, haverá um caminho traçado para uma sociedade emancipada

Fonte

Texto 2: Redação de LUISA SOUSA LIMA LEITE

A Revolução Técnico-científico-informacional, iniciada na segunda metade do século XX, inaugurou inúmeros avanços no setor de informática e telecomunicações. Embora esse movimento de modernização tecnológica tenha sido fundamental para democratizar o acesso a ferramentas digitais e a participação nas redes sociais, tal processo foi acompanhado pela invasão da privacidade de usuários, em virtude do controle de dados efetuado por empresas de tecnologia. Tendo em vista que o uso de informações privadas de internautas pode induzi-los a adotar comportamentos intolerantes ou a aderir a posições políticas, é imprescindível buscar alternativas que inibam essa manipulação comportamental no Brasil.

A princípio, é necessário avaliar como o uso de dados pessoais por servidores de tecnologia contribui para fomentar condutas intolerantes nas redes sociais. Em consonância com a filósofa Hannah Arendt, pode-se considerar a diversidade como inerente à condição humana, de modo que os indivíduos deveriam estar habituados à convivência com o diferente. Todavia, a filtragem de informações efetivada pelas redes digitais inibe o contato do usuário com conteúdos que divergem dos seus pontos de vista, uma vez que os algoritmos utilizados favorecem publicações compatíveis com o perfil do internauta. Observam-se, por consequência, restrições ao debate e à confrontação de opiniões, que, por sua vez, favorecem a segmentação da comunidade virtual. Esse cenário dificulta o exercício da convivência com a diferença, conforme defendido por Arendt, o que reforça condutas intransigentes como a discriminação.

Em seguida, é relevante examinar como o controle sobre o conteúdo que é veiculado em sites favorece a adesão dos internautas a certo viés ideológico. Tendo em vista que os servidores de redes sociais como “Facebook“ e “Twitter” traçam o perfil de usuários com base nas páginas por eles visitadas, torna-se possível a identificação das tendências de posicionamento político do indivíduo. Em posse dessa informação, as empresas de tecnologia podem privilegiar a veiculação de notícias, inclusive daquelas de procedência não confirmada, com o fito de reforçar as posições políticas do usuário, ou, ainda, de modificá-las para que se adequem aos interesses da companhia. Constata-se, assim, a possibilidade de manipulação ideológica na rede.

Portanto, fica evidente a necessidade de combater o uso de informações pessoais por empresas de tecnologia. Para tanto, é dever do Poder Legislativo aplicar medidas de caráter punitivo às companhias que utilizarem dados privados para a filtragem de conteúdos em suas redes. Isso seria efetivado por meio da criação de uma legislação específica e da formação de uma comissão parlamentar, que avaliará as situações do uso indevido de informações pessoais. Essa proposta tem por finalidade evitar a manipulação comportamental de usuários e, caso aprovada, certamente contribuirá para otimizar a experiência dos brasileiros na internet.

Fonte

Com todas essas dicas fica mais fácil alcançar o tão sonhado 1000 na sua redação do ENEM, não é mesmo? Para acessar outros materiais sobre o assunto, clique aqui!