Qual é a relação que a história do filme O quarto de Jack tem com o mito da caverna?

Platão narra uma história alegórica chamada de Mito da Caverna ou Alegoria da Caverna em sua obra mais complexa, A República. O diálogo travado entre Sócrates, personagem principal, e Glauco, seu interlocutor, visa a apresentar ao leitor a teoria platônica sobre o conhecimento da verdade e a necessidade de que o governante da cidade tenha acesso a esse conhecimento.

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Tópicos deste artigo

  • 1 - O que o Mito da Caverna diz?
  • 2 - A República - o livro em que está contido o Mito da Caverna
  • 3 - Conclusões acerca do Mito da Caverna
  • 4 - Mito da Caverna visto nos dias de hoje

O que o Mito da Caverna diz?

No texto, Sócrates fala para Glauco imaginar a existência de uma caverna onde prisioneiros vivessem desde a infância. Com as mãos amarradas em uma parede, eles podem avistar somente as sombras que são projetadas na parede situada à frente.

As sombras são ocasionadas por uma fogueira, em cima de um tapume, situada na parte traseira da parede em que os homens estão presos. Homens passam ante a fogueira, fazem gestos e passam objetos, formando sombras que, de maneira distorcida, são todo o conhecimento que os prisioneiros tinham do mundo. Aquela parede da caverna, aquelas sombras e os ecos dos sons que as pessoas de cima produziam era o mundo restrito dos prisioneiros.

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Repentinamente, um dos prisioneiros foi liberto. Andando pela caverna, ele percebe que havia pessoas e uma fogueira projetando as sombras que ele julgava ser a totalidade do mundo. Ao encontrar a saída da caverna, ele tem um susto ao deparar-se com o mundo exterior. A luz solar ofusca a sua visão e ele sente-se desamparado, desconfortável, deslocado.

Aos poucos, sua visão acostuma-se com a luz e ele começa a perceber a infinidade do mundo e da natureza que existe fora da caverna. Ele percebe que aquelas sombras, que ele julgava ser a realidade, na verdade são cópias imperfeitas de uma pequena parcela da realidade.

O prisioneiro liberto poderia fazer duas coisas: retornar para a caverna e libertar os seus companheiros ou viver a sua liberdade. Uma possível consequência da primeira possibilidade seria os ataques que sofreria de seus companheiros, que o julgariam como louco, mas poderia ser uma atitude necessária, por ser a coisa mais justa a se fazer.

Platão está dispondo, hierarquicamente, os graus de conhecimento com essa metáfora e falando que existe um modo de conhecer, de saber, que é o mais adequado para se pensar em um governante capaz de fazer política com sabedoria e justiça.

Qual é a relação que a história do filme O quarto de Jack tem com o mito da caverna?

Os prisioneiros tinham acesso somente às sombras projetadas na parede da caverna.

A República - o livro em que está contido o Mito da Caverna

A República é, talvez, a obra mais complexa e completa de Platão. Composto por dez livros, a obra fala sobre as várias formas de governo e política para chegar ao modelo político ideal, segundo Platão. Para chegar à formulação de sua teoria, o filósofo passou por elementos característicos da vida humana, como a estética, a arte e o conhecimento humano (que é discutido no livro VII, o mesmo livro em que se encontra a Alegoria da Caverna).

O longo diálogo narra a trajetória de Sócrates buscando estabelecer, teoricamente, como seria o governo perfeito. O conhecimento é, para Platão, o elemento primordial de um bom governante. Por isso, no livro VII de A República, Platão afirma que o filósofo deve ser como o prisioneiro liberto da caverna. Essas características são fundamentais para o governante: a busca pela verdade.

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Conclusões acerca do Mito da Caverna

A metáfora proposta pela Alegoria da Caverna pode ser interpretada da seguinte maneira:

  1. Os prisioneiros: os prisioneiros da caverna são os homens comuns, ou seja, somos nós mesmos, que vivemos em nosso mundo limitado, presos em nossas crenças costumeiras.

  2. A caverna: a caverna é o nosso corpo e os nossos sentidos, fonte de um conhecimento que, segundo Platão, é errôneo e enganoso.

  3. As sombras na parede e os ecos na caverna: sombras e ecos nunca são projetados exatamente do modo como os objetos que os ocasionam são. As sombras são distorções das imagens e os ecos são distorções sonoras. Por isso, esses elementos simbolizam as opiniões erradas e o conhecimento preconceituoso do senso comum que julgamos ser verdadeiro.

  4. A saída da caverna: sair da caverna significa buscar o conhecimento verdadeiro.

  5. A luz solar: a luz, que ofusca a visão do prisioneiro liberto e o coloca em uma situação de desconforto, é o conhecimento verdadeiro, a razão e a filosofia.

Mito da Caverna visto nos dias de hoje

Trazendo a Alegoria da Caverna para o nosso tempo, podemos dizer que o ser humano tem regredido constantemente, a ponto de estar, cada vez mais, vivendo como um prisioneiro da caverna, apesar de toda a informação e todo o conhecimento que temos a nossa disposição.

As pessoas têm preguiça de pensar. A preguiça tornou-se um elemento comum em nossa sociedade, estimulada pela facilidade que as tecnologias nos proporcionam. A preguiça intelectual tem sido, talvez, a mais forte característica de nosso tempo. A dúvida socrática, o questionamento, a não aceitação das afirmações sem antes analisá-las (elementos que custaram a vida de Sócrates na antiguidade) são hoje desprezados.

A política, a sociedade e a vida comum deixaram de ser interessantes para os cidadãos do século XXI que apenas vivem como se a própria vida tivesse importância maior que a preservação da sociedade. As notícias falsas estão enganando cada vez mais pessoas que não se prestam ao trabalho de checar a veracidade e a confiabilidade da fonte que divulga as informações.

As redes sociais viraram verdadeiras vitrines do ego, que divulgam a falsa propaganda de vidas felizes, mas que, superficialmente, sequer sabem o peso que a sua existência traz para o mundo. A ignorância, em nossos tempos, é cultivada e celebrada.

Quem ousa opor-se a esse tipo de vida vulgar, soterrada na ignorância, presa na caverna como estavam os prisioneiros de Platão, é considerado louco. Os escravos presos no interior da caverna não percebem que são prisioneiros, assim como as pessoas que estão presas na mídia, nas redes sociais e no mar de informações, muitas vezes desinformantes, da internet, não percebem que são enganadas.

Vivemos na época do predomínio da opinião rasa, do conhecimento superficial, da informação inútil e da prisão cotidiana que arrasta as pessoas, cada vez mais, para a caverna da ignorância.

Por Francisco Porfírio
Professor de Filosofia

Que relação existe entre o filme O Quarto de Jack e A Filosofia?

O ambiente do filme O Quarto de Jack Não é só o quarto físico, mas toda a forma como a mãe prepara o filho para o mundo externo. Neste sentido, há uma relação com a filosofia do Mito ou Alegoria da Caverna (Platão, em “A República”). A mãe reporta ao filho que “existe um mundo maior lá fora“.

Qual a mensagem que o filme O Quarto de Jack passa?

O filme se divide em duas partes, dentro e fora do quarto, prisão e liberdade. Tudo o que Joy queria era sair do quarto e voltar para a família e quando isso acontece, ela não se vê feliz, entra em depressão profunda e tenta suicídio. Esse momento do filme representa as nossas fantasias de liberdade.

O que é real na história do quarto de Jack?

O Quarto de Jack foi inspirado em um terrível caso real que chocou o mundo em 2008. Na Áustria, um homem chamado Josef Fritzl manteve por 24 anos sua filha Elisabeth Fritzl em cativeiro no porão de sua casa localizada em Amstetten, no norte do país.

Como o contexto de Jack influencia a vivência de sua infância?

Sob a tutela de sua mãe, que durante seus primeiros cinco anos de vida foi a única pessoa com a qual teve contato direto, Jack acredita que o quarto em que vive é o mundo inteiro, e sua atitude infantil, alegre, em relação a essa realidade terrível, é uma perspectiva única desse ambiente e de sua história.